quinta-feira, 25 abril, 2024

Duas mil pessoas em sintonia no beco

Um festival organizado por jovens da Baixada Fluminense reuniu mais de 2000 pessoas para ouvir música durante nove horas em uma rua de Nova Iguaçu. Simples assim!!!

Não tenho como não falar do B_eco Festival em minha coluna, pois três dias já se passaram, mas a emoção não.

Quando ouvi falar a primeira vez a respeito do festival foi há cerca de um mês, logo após saber da festa que o meu mano – e parceiro musical – Marcão Baixada estava planejando, a “Bang Bang”. Dias depois comecei a ver a divulgação do “B_eco”, mas me confundi, achando que era tudo a mesma coisa. No fundo até era, mas não era. Entende?

Outro dia o Rodrigo Caetano me ligou pedindo uma orientação a respeito de equipamentos pra festa, foi então que eu vi que realmente uma festa não tinha a ver com a outra… mas tinha.

Quando aprofundei mais pra saber do que se tratava, soube que o Wesley Brasil também estava na jogada, bem ali na linha de frente. Depois soube que a Karina Vasconcelos também estava. E por fim entendi que o festival era uma união das festas (e figuras) mais tops do pedaço: Musicação na Pista – a festa de rap mais badalada de Nova Iguaçu, do meu “novamente” parceiro DMT, Laranja Mecânica – conhecida no meio indie iguaçuano, Bang Bang – o tiroteio musical do Marcão Baixada, Wobble que recebeu o título de melhor festa pelo Prêmio Noite Rio, Guetho – difusora da musica eletrônica criada nas periferias – e Bazinga – que faz uma mistura indie e pop sob festas temáticas do universo da série americana “The Big Bang Theory”.

Semanas atrás, entre uma mensagem e outra, recebi o convite do Marcão Baixada para fazer duas músicas com ele durante a festa, a ideia era o bonde do #ComboIO (DMA, Marcão Baixada, Léo da XIII e DJ Léo Ribeiro) se apresentar.

Nessa altura do campeonato, 10 em cada 10 posts nas redes sociais tinha algo sobre o #B_eco, todo mundo comentava, e a festa já havia dado certo antes mesmo de acontecer.

No dia da festa, fiz questão de chegar ao meio dia em ponto, pra não perder nem um momento. Fui com o Léo da XIII. Abri mão de almoçar com minha família para conferir a festa desde o começo (essa atitude me custou caro depois).

Ao chegar, já me deparei com Wesley Brasil correndo pra um lado e o Rodrigo Caetano correndo para o outro, num pique frenético. Haviam pouquíssimas pessoas, mas eu tinha certeza que a festa ia bombar. Fui recepcionado por Marcão Baixada e Danielle Seguer. O Samuca Azevedo já estava pronto – e disposto – para fazer as fotos para Hulle Brasil.

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DMA, Nyl e Léo da XIII

 

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Bruno, Fernanda, DMA e Ébano

 

Aos poucos foram chegando alguns manos como Luiz Claudio, Nyl MC, Romildo e tantos outros. O calor infernal nos levava ao bar frequentemente e logo que a cerveja fazia efeito as músicas começavam a soar como conhecidas. Funk, Trap e Rock se misturavam e a galera curtia tudo, enquanto trocava ideia. Eu observava como as pessoas chegavam vestidas e se comportavam, e tenho certeza que estava sendo observado também, mas todo mundo se respeitava e tentava entender a mistura de estilos.

Derrepente o “boom”.

A festa estava LOTADA e eu nem havia percebido de onde tinha vindo tanta gente. Quando eu reparei estava no BackStage trocando altas ideias com o segurança, minutos antes do show do Marcão Baixada. Quando subi ao palco vi uma nuvem de gente. A galera do rap estava com o umbigo colado no palco, cantando junto, fortalecendo (e tem gente que diz que o rap da Baixada não é unido). Quando entrei pra cantar, fiz o meu possível, que naquele momento não era muito, por isso não lembrava da letra, o álcool já estava fazendo o seu trabalho, nem posso colocar a culpa no nervosismo, até poderia culpar a emoção, pois fui muita, em altas doses cavalares.

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Público do festival

 

A sorte é que o #ComboIO já ensaiou tanto, que as músicas já saem de forma orgânica, às vezes usando alguns sinônimos, às vezes alguns trechos de silêncio, mas a parada sempre flui. E fluiu. Como tudo fluía naquele dia. O universo conspirava a favor. Eram duas mil pessoas na mesma sintonia naquele “beco”.

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DMA, Léo da XIII, Luiz Claudio e Samuca Azevedo

 

Mas o ápice da festa foi quando um temporal sem precedentes deu as caras. Árvores se dobravam de forma aterrorizadora por causa do forte vento. A água caía com força do céu, e descia a rua fazendo uma espécie de cachoeira. Foi quando todos, inclusive eu, pensaram que a festa havia chegado ao fim. Por causa da forte chuva o som teve que ser desligado, mas o povo não parava de dançar, pular, gritar, se abraçar, se beijar… eu nunca tinha visto aquilo na minha vida.

Estávamos embaixo da marquise, ao lado da Casa de Cultura. Conversava com o André Viana, com o DMT (que posicionou o seu carro de uma forma que pudéssemos continuar curtindo um som). Acredito que logo depois fui embora, porque as minhas lembranças do “B_eco Festival” terminam aqui.

Só sei que essa festa me aproximou de uma galera aparentemente “muito” diferente e me motivou bastante. Agora vamos aguardar a segunda edição.

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Se você quiser conferir tudo o que leu, pode dar uma olhada na cobertura que a Hulle Brasil fez, pelas lentes de Samuca Azevedo e Beatriz Dias: http://bit.ly/EventosHulle

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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