terça-feira, 10 dezembro, 2024

Regeneração Brasil – Isso a Globo Mostra!

Ontem (22/07) foi ao ar uma cena sensacional da novela Geração Brasil, da TV Globo. Eu não assisti ao capítulo, mas o burburinho foi tanto nas timelines que eu fui ao site gshow.com só para conferir o que gerava o buzz.

Encontrei uma cena linda, com roteiro, técnica e interpretação impecáveis. De um lado, Brian Benson (Lázaro Ramos) e do outro, Matias (Danilo Santos Ferreira). Matias é o primeiro participante de um reality chamado “Geração Nem-nem” sobre jovens que nem estudam e nem trabalham. O jovem passa por uma espécie de reprogramação cerebral, dirigida pelo guru Brian.

Aí é que a coisa fica interessante e faz com que a Globo ganhe mais pontos agora do que com o revolucionário beijo gay de Félix e “Carneirinho” na novela “Amor à Vida”. Desta vez, a abordagem é sobre racismo, educação e preconceito.

O jovem Matias acreditava ser “burro”, inútil. Disse ao guru do “Regenera” que tinha medo de errar a resposta todas as vezes em que a professora perguntava algo, ainda no primário escolar. E pior, acreditava que a sua falta de capacidade intelectual estava relacionada ao fato de ser negro e por ser perseguido por isso.

Brian intervém e diz que isso é um problema social, uma ferida na sociedade, um erro da história. E completa dizendo que nem o fato do presidente dos Estados Unidos ser negro acabou com o preconceito, que é uma luta sem fim.

“Não há nada de errado com você!”

“Brancos geniais também são exceção!”

Dentro da conversa com Brian, Matias descobre que possui um QI de 128 – a partir de 115 é considerado inteligência superior – e que é capaz de muitas realizações. Só não encontrou o foco, ainda. Enfim. Contei apenas metade da cena para não perder a graça. No final há um editorial muito interessante do programa “Geração Nem-nem”. Assista em http://globotv.globo.com/rede-globo/geracao-brasil/t/cenas/v/brian-comeca-a-reprogramacao-de-matias/3515051/

Para finalizar, eu gostaria de dizer que, assim como Matias, existem milhares de jovens brasileiros nas estatísticas dos “nem, nem”, mas que possuem grande potencial intelectual e artístico e que, parte deles, estão, sim, realizando algo importante. E por que razão isso não vem à tona? Ainda procuro por uma resposta plausível para a questão. O meu ponto de vista fica na letra de rap a seguir, uma composição minha e da Cristiane de Oliveira, também colunista deste portal.

 

“Nem, nem”

Nem me deram chance de me explicar direito
Perguntaram errado, respondi de qualquer jeito
Papo de preconceito, não conhecem a real / Especificidade
de um mercado informal

Nem os artistas, nem comerciantes
Nem malabaristas, nem os ambulantes
Nem todos traficam porque estão longe da escola
Nem todos enricam porque sabem jogar bola

Nem todo nordestino é garçom, frentista
Sou paraibano e escolhi ser jornalista
Rapper, repórter, MC
Sem carteira assinada eu já estava por aí

Arrumando uns trocos improvisadamente
Vendi bala no sinal, mas não virei delinquente
De repente estava dando oficina “pros menó”
De rap, hip-hop, e fui ficando melhor
Ainda assim

Dizem que eu não quero nada
Não quero ser padeiro
Nem pedreiro, faxineiro
Meu pai disse pra mim
Quer é melhor ser engenheiro
Acham que sou nem
Nem, nem, nem, nem, nem

Alguma coisa está errada
Para de caô
Eu quero ser doutor
Jamais entregador
Carregador, nem de favor, nem
Nem, nem, nem, nem, nem

Nem me deram chance de me explicar direito
Perguntaram errado, respondi de qualquer jeito
Bato no peito por não ser formalizada
Nem sou faxineira, nem sou empregada

Nem tô desocupada, francamente
Só quero uma oportunidade decente
Curso de atendente ou camareira?
Oferece lá pra “paty” que foi rica a vida inteira

Sem brincadeira, hein, esse curso de operária
Manda pro Leblon, inscreve as milionárias
Serei advogada diante de um júri
E a madame da Delfim, a minha manicure

Nem adianta tentar me convencer
Salário mínimo? Deixa pra você
Faça sua regra, mas seguirei a minha
Pra fazer reclamação, aguarde na linha

Pois não, senhor? Não, senhor.
Aqui não é o setor de pesquisas, senhor.
Não, senhor. O senhor foi transferido para o setor realidade.
Não, senhor. Infelizmente não há como atender à sua solicitação.
Eu vou estar transferindo novamente o senhor para o setor de pesquisas, para que juntos, os senhores possam verdadeiramente atender às nossas demandas.
Por favor, aguarde na linha.

Sobre @PetterMC

Rapper, jornalista, pesquisador e videomaker. Head na Agência #TudoNosso e tutor de projetos de comunicação na Agência de Redes para Juventude. Escreve sua coluna no #PortalEnraizados todas as quartas.

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