Autor: Inbute

  • A importância dos saraus

    A importância dos saraus

    Como artista já tive oportunidade de me apresentar em alguns eventos variados, em sua grande maioria eram rodas culturais, porém em algumas oportunidades fui convidado para cantar ou recitar e inclusive tive a oportunidade de ser o poeta fixo de uma temporada do extinto Sarau do Vulcão, sarau que acontecia num shopping, o que fazia a experiência ser ainda mais interessante.

    No início tive bastante receio, porque na sua maioria o público do sarau não é um público que normalmente pararia para ouvir um rap. Mas ali naquele local, eles prestam atenção nas mensagens, e eu sempre tive a sorte dessas pessoas elogiarem o meu trabalho. Era uma troca de energia bastante interessante.

    No Sarau do Vulcão havia muita interação com o público, um sarau no shopping, além de suas normais adaptações tinha que ser algo mais dinâmico e de certa forma nós conseguimos criar um formato nosso. Ao fim de poesia, música, poesia e assim sucessivamente, rolava uma batalha de conhecimento com bastante interação da plateia sugerindo palavras aleatórias, nessa hora os senhores de idade, as crianças, os jovens paravam pra prestigiar e curtir a vibe.

    O Sarau é um ambiente bem diferente do ambiente do rap, das batalhas, mas de verdade, acho que todo MC deveria ir num sarau recitar seus versos e ver o respeito e a reciprocidade da energia, sairia um artista diferente com certeza.

  • O independente depende de muita gente

    O independente depende de muita gente

     

    Como fazer o corre virar?

    Uma verdade universal imutável, principalmente nesse meio, é que sozinho não se vai a lugar nenhum. Hoje a música é um produto, há uma indústria que move tudo isso e move bastante dinheiro, nada comparado a gringa ainda, porém, o rap está virando algo midiático e lucrativo, mas eu não quero falar sobre as gravadoras, porque afinal, elas na maioria das vezes deixam o artista “confortável” para ter o trabalho somente de escrever.

    Quero falar sobre a galera independente, tem a galera invisível pra cena atual e a galera que conseguiu uma visibilidade sendo independente. Nenhum deles chegou aonde chegou sozinho. Pode ser um artista solo, mas por trás de cada música, tem um time trabalhando em prol daquele artista, coletivos com um só propósito: ir atrás do seu sonho. E assim um artista vem puxando outros e expandindo a cena.

    Cada vez se veem mais coletivos, bancas, etc; todos querem o  seu espaço e elevarem os seus e a sua área, acredito que há lugar pra todos e isso é muito benéfico. A distribuição de tarefas dentro de um coletivo faz o lance ser o mais profissional possível, um mano responsável pela escrita, outro responsável pelo beat, outro pela distribuição nas plataformas digitais, de grão em grão, acredito que esse é o caminho certo para voos maiores.

  • A descentralização do DJ na Cultura Hip Hop

    A descentralização do DJ na Cultura Hip Hop

    No início de tudo, haviam apenas três elementos na cultura Hip Hop, o DJ, o Bboy e o grafiteiro (que era o único que conseguia “andar” sem o DJ), sendo assim, o Disc Jockey é o pilar e responsável pela condução de tudo, do instrumental pro MC versar e pro Bboy dançar. O MC surgiu da necessidade de se ter uma voz representando a cultura, “a voz das ruas”.

    Com o passar do tempo o protagonismo do Hip Hop foi transferido do DJ para o MC sem aviso prévio e os DJs foram perdendo bastante espaço na cena. Os MCs falavam o que o público queria falar e ouvir.

    Atualmente o DJ tem sido colocado como mero coadjuvante, empurrado de canto, para o MC que ganha todos os holofotes, a real é que a cena de hoje não dá o devido valor ao DJ. O DJ vem sendo chamado para tapar o buraco da line up nos eventos, nos flyers dos eventos se veem em destaque fotos e nomes dos MCs como atrações principais e os condutores ficam com menor destaque, induzindo o publico a pensar que sua importância seja menor e isso acaba desencorajando quem pensa em seguir a carreira.

    Obviamente sem o DJ nada flui no evento,  ele é o condutor de tudo e atualmente é muito raro vê-lo no centro do evento, como lhe é de direito. Porém na cultura reggae, mais especificamente no Dub, há um respeito muito grande para com a figura do DJ, ele é tido como um sacerdote que faz a ligação do público com Jah.

    “A cultura sound system é a base de tudo, os bailes eram diferentes […] a galera do Dub chega a ser conservadora, fazem até hoje do mesmo jeito que nos anos 60, no rap o MC aparece bem mais, acontece nas rodas culturais de a galera só ir ver a batalha e meio que ignorar o resto.” Rodrigo Caê (Guetto)

     

  • Baixada Fluminense: Pertencimento é a palavra-chave

    Baixada Fluminense: Pertencimento é a palavra-chave

    Por que a Baixada ainda não é um referencial no rap?

    A constante ebulição de eventos locais e artistas emergentes me faz questionar: Por que a Baixada Fluminense ainda não é vista no seu todo? Sim, existem algumas exceções, alguns artistas que se destacam, mas são muito poucos para a enorme região que representam.

    É muita verdade que, certas vezes, o meio cultural não abraça uma nova iniciativa de cultura local (eu já participei de um sarau, sei do que eu estou falando). Acredito muito nos coletivos e projetos individuais, cada vez mais artistas nossos tem que se destacar realmente, mas uma hora teremos que pensar em algo mais abrangente territorialmente mesmo. É muito legal o Coletivo A, o Coletivo B, mas e a Baixada?

    Você se destaca, cresce como artista e de repente só faz show no Centro?

    O público de lá ao menos sabe de onde você vem?

    Você fala da Baixada nos seus versos?

    No fim das contas é uma questão de pertencimento, essa é a palavra-chave, pertencimento e amor. Por enquanto são pequenos passos, mas já está mais do que na hora de sermos enxergados, não só individualmente, como num coletivo.

    Baixada no Topo.

    Coletivos organizados são tirados como panela.

  • O papel do Mc

    O papel do Mc

    Lembro-me bem quando eu tinha oito anos de idade e conheci a cultura hip hop, o gênero, os instrumentais e a ideologia de todo um movimento eram algo novo e que me encantaram de cara. Com o passar do tempo admirei a forma como os tais MC’s faziam parecer fácil usar rimas para expressar a sua mensagem.

    Ainda moleque, me arrisquei a fazer uns versos e fui me aprofundando nessa arte linda de manusear as palavras, fui bastante influenciado pelos raps de São Paulo, em que Realidade Cruel, Facção Central e Racionais gritavam a verdade das periferias não só do estado, mas de todo o Brasil.

    Fui percebendo a importância daquela figura periférica com o microfone na mão, a empatia do público com as palavras proferidas, sempre fluía uma sintonia mágica e eu admirava aquilo. Certa vez quando fui no show do Neto (Síntese), lembro que ele disse que o MC exerce uma influência muito grande para com os jovens que o cercam. Muita das vezes, o rapaz nem escuta a família e escuta o MC, portanto os artistas tem que se polir.

    O rap é música, o artista tem a liberdade de moldar as palavras a seu bel-prazer, mas antes de qualquer coisa, voltemos a essência do movimento e pensemos nos jovens que a cultura vem agregando a cada dia.

  • Abracem seus artistas locais

    Abracem seus artistas locais

    A Baixada Fluminense vem se mostrando um celeiro de jovens artistas de rap e com os holofotes voltados para a cena é comum vermos cada vez mais eventos de rap, cada dia nasce um MC pelos acessos da Baixada, agora, se ele vai se dedicar e continuar empregando a Profissão MC  é outra história, mas vamos focar nos ditos eventos.

    As tão famosas rodas culturais geralmente funcionam no formato:

    Mestre de Cerimônia + DJ sets + Batalha de MC’s + Pocket show.  

    Porém enfrentamos um grande problema: O PÚBLICO. Sim, o público é alma da roda, o evento foi feito para ele, ele é o jurado das batalhas, grande parte do motivo daquela ocupação ser, na maioria das vezes, em um espaço público. Mas geralmente se a atração da noite é um artista local, a galera não presta a devida atenção no trabalho do amigo.

    Todos pedem por uma intervenção artística, um evento fixo num local, e quando finalmente se movimentam nesse sentido, muitas das vezes, parte do público desrespeita os artistas envolvidos, muitos só estão ali para presenciar a batalha, o foco principal da noite, e quando o artista convidado vai se apresentar, se dispersam e o MC tem que doar sua energia para meia dúzia de pessoas.

    Tudo depende do local, da vibe, mas é uma grande verdade que há um grande desrespeito com os grupos/MC’s desconhecidos da grande mídia que se apresentam em locais públicos. É comum presenciarmos um evento lotado e na hora do show, vermos menos da metade do público interagindo com o artista, isso ainda é triste. Não esperem que o trabalho do artista vire pra a partir de então passar a prestar atenção em seu trabalho, olhe agora, respeite aquele momento em que ele entrega seu trabalho para vocês. A partir do momento em que ele recita seus versos, a canção não é mais dele, retribuam com a energia necessária como um incentivo e façam daquele momento algo bonito, vocês verão os frutos a frente, lembrem-se, digo isso também enquanto artista.

  • O Rap e o Mainstream

    O Rap e o Mainstream

    O rap é preto, o rap é cultura marginal, isso é um fato, porém o rap vem se consolidando cada vez mais no mercado musical. Contratantes, gravadoras estão vendo a expansão do gênero como meio de lucro, pois o rap está sendo aceito nos meios de comunicação, em programas de televisão, novelas, etc.

    Com um público fiel e um possível novo público-alvo se torna interessante fazer parte do “jogo”. Mainstream, amigos, business.

    Porém entra um fator importante, boa parte desse público fiel se apega a raiz, as origens e acreditam que os rappers não devem estar na TV, pois seria sinal de que eles se venderam e não os representam mais.

    Muita das vezes entende-se erroneamente que a nova e a velha escola do rap não se misturam, cada um teve sua ideologia, mas ambos são uma só família, uma só cultura, por isso é de suma importância uma música como “Pragmático”, onde Dexter rima com CHS, Coruja BC1 e ADL, esse intercâmbio só fortalece os laços e mostra pra velha e nova geração de fãs o talento de ambas, assim, perpetuando o respeito pelos trabalhos dos artistas envolvidos.

    As vezes a galera apoia a ida aos meios midiáticos, desde que se mantenha a postura e não os censure, super concordo, se for pra estarmos presentes, que seja para representar tudo aquilo que pensamos (liberdade de expressão). Vocês realmente acreditam que o rap perdeu a essência porque ele vem ganhando o mundo? Vocês acreditam que o rap tem que ser um gênero sempre marginalizado?

    A questão mais que importante de tudo isso é que o rap tem que estar em todos os lugares, com as mais variadas vertentes, tenha seu público fiel e conquiste cada vez mais novos adeptos. Não veja a mídia como um inimigo, mas sim como um instrumento de propagação de trabalho.

  • Por que o Rap está cada vez mais distante do Hip Hop?

    Por que o Rap está cada vez mais distante do Hip Hop?

    A intenção dessa coluna não é polemizar, mas sim causar a reflexão coletiva. Bem, vamos aos fatos:

    Desde o início, a cultura Hip Hop, que possui 4 elementos (DJ, MC, Break e Grafite), teve como um dos seus pilares o respeito; é muito comum ouvir bastante sobre isso nas músicas da velha escola, precisamente nos anos 90 era uma temática muito forte. Durante o passar do tempo, o Hip Hop, mesmo sendo uma subcultura, foi ganhando mais espaço, inclusive os midiáticos. Com uma leva muito grande de grupos e MCs e um mercado favorável para o gênero, o Hip Hop foi sofrendo mutações (não digo que tenha sido uma evolução).

    Sim, já frequentamos meios de comunicação mantendo um discurso “mais conservador”, mas com a crescente exponencial do movimento, é muito comum vermos fãs de artistas e não da cultura e com isso fica cada vez mais comum presenciarmos cenas lamentáveis, como dois negros se digladiando com rimas racistas e a platéia indo a loucura, machismo, homofobia nos versos; tudo isso acaba sendo fruto do distanciamento da origem. Hoje quando um artista bomba, boa parte do público acompanha o trabalho/gênero do mesmo dali pra frente, quando talvez o certo seria olhar pra trás, pelo menos, particularmente, eu busco saber tudo sobre, conhecer os arquitetos, para então formar uma opinião sobre o tal.

    O grande problema está na falta de interesse por conhecimento, a real é que até numa batalha de sangue é necessário conhecimento, ou no mínimo bom senso. Confesso que eu ouço de tudo e gosto muito da variedade rítmica e temática, acredito que podem ser feitas letras sobre tudo, afinal rap é música, rap é poesia e ambas são livres, o rap tem que estar em todos os cantos e também é preciso que continue o rap de mensagem, afinal antes de tudo também é um movimento.

    Enfim, temos liberdade pra compor, sempre vai ter quem goste e quem não goste, mas é bom se lembrar: vamos nos polir antes de soltar uma frase que talvez nos arrependamos.