A recente crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, deflagrada pela ameaça de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, reacendeu debates sobre soberania, justiça e geopolítica — e o hip hop brasileiro, mais uma vez, mostra-se um dos espaços mais potentes para elaborar, denunciar e mobilizar diante de tensões políticas globais.
O estopim da crise foi o anúncio do ex-presidente norte-americano, em julho de 2025, de que aplicaria tarifas pesadas ao Brasil alegando “emergência econômica” e “ameaça à segurança nacional”. Nos bastidores, no entanto, Trump deixou claro que o verdadeiro motivo era a suposta perseguição política contra Jair Bolsonaro, condenado em segunda instância por crimes cometidos durante seu mandato. A influência direta do filho do ex-presidente, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, atualmente nos EUA, levantou suspeitas de uma articulação externa para desestabilizar o governo brasileiro.
Apesar do discurso beligerante de Trump, setores estratégicos como Embraer, suco de laranja e fertilizantes foram poupados das tarifas. Mas produtos como café, carne bovina e manufaturados de médio porte, fundamentais para a economia de estados como Minas Gerais e Mato Grosso, foram atingidos em cheio. A reação do governo brasileiro foi imediata: abertura de processo na OMC, aceno de retaliação comercial e mobilização de apoio popular.

Em meio à tensão, uma frase ganhou força nas redes: “Sorte a nossa que temos o Rico, nosso Presidente Baixadense.” A declaração faz referência carinhosa ao presidente Lula, apelidado em comunidades da Baixada Fluminense de “Rico”, em reconhecimento à sua postura firme frente às pressões norte-americanas e sua conexão com as bases populares. Em um momento de instabilidade econômica e ameaças externas, a confiança em uma liderança alinhada ao povo virou símbolo de resistência.
E é nesse mesmo território da resistência que o hip hop brasileiro se posiciona com vigor. Nas quebradas, rodas culturais e palcos independentes, a movimentação artística começa a traduzir a crise em poesia, beats e narrativas.
Os artistas do topo da cena — com alcance nacional e internacional — têm a possibilidade de ampliar esse debate por meio de músicas, videoclipes e campanhas públicas. Ainda que poucos tenham se posicionado diretamente até agora, a expectativa é de que nomes como Emicida, Djonga, Criolo e Drik Barbosa utilizem suas redes e seu prestígio para denunciar o colonialismo econômico e valorizar a produção brasileira.
Já os artistas de base, atuando em coletivos de favela, sarais e escolas, vêm reagindo com mais rapidez. Grupos da Baixada, do Capão Redondo e do Nordeste têm criado rodas de rima com temáticas como “soberania”, “café encarecido”, “agro é luta” e “Bolsonaro na fuga”. Beatmakers sampleiam falas de autoridades e discursos de Lula, transformando o caos político em trilha sonora da insatisfação popular.
Mais do que apenas protesto, essa movimentação mostra que o hip hop continua sendo um radar do Brasil real — aquele que sente no bolso e na pele as decisões tomadas nos gabinetes de Brasília ou na Casa Branca. As oficinas de rap em escolas públicas, os versos improvisados em praças e os beats feitos com celular ainda são, como sempre, ferramentas de formação crítica e construção de futuro.
Essa nova crise, embora nascida de tensões políticas internacionais, reforça o quanto a cultura de periferia é central para entender e enfrentar o cenário. E se é verdade que o Brasil está sob ataque de narrativas externas, também é fato que, nas periferias, brotam as defesas mais criativas e contundentes.
Nesse enredo de disputa comercial, sabotagem política e reações populares, o hip hop não é só trilha sonora: é protagonista. E, como dizem nas ruas, “sorte a nossa que temos o Rico, nosso Presidente Baixadense” — e sorte maior ainda que temos a cultura viva para nos lembrar quem somos.