Categoria: Letras (Composições musicais)

  • Escambo [Átomo Pseudopoeta]

    Escambo [Átomo Pseudopoeta]

    Buenos dias, bon jour,
    um tour…
    pela miséria.
    preto versus azul,
    Cabul…
    colônia de férias.
    Brincar de matrix,
    se esquivar da rajada.
    do choro um remix,
    ra! dizer que é risada.

    Cidade maravilha,
    brilha…
    o sol para todos.
    mas só uns nessa ilha,
    tem palmeira por toldo.
    Chá de boldo se brinda,
    sem fazer cara feia.
    engole a seco e ainda,
    diz que saboreia.

    Pra quê educação?
    há pão,
    pra encher a pança.
    Tio Sam faz canção.
    então…
    a gente que dança.
    ritmo de festa,
    sincronismo no passo,
    derrubem a floresta,
    pra termos mais espaço.

    Curtir hit pornô,
    melô…
    proibida.
    lixo a se decompor,
    luxo na avenida.
    s.i.d.a. cidra nas veias,
    festejar revellion.
    enterra ontem na areia,
    limpe o CD-Rom,
    ouço o, ron, ron… do motor,
    doutor fecha o vidro.
    não é por causa da cor,
    dão-te o valor… devido.

    Tem até acrobata,
    no sinal vermelho.
    levem ouro e prata.
    deixem apenas espelho.
    Não pra que se enxergue,
    reflita a respeito.
    pau-brasil leva o jegue,
    dá-se por satisfeitos.
    Perdendo terreno,
    como fosse molambo.
    Nós que agradecemos,
    valeu pelo escambo.

  • Mantra [Lisa Castro]

    Mantra [Lisa Castro]

    O tamanho da sua saia, a cor do seu batom
    O decote da sua blusa, se rebola até o chão
    Se bebe wisk, cerveja, shandon, catuaba
    Se bebe vinho barato só pra afogar as mágoas

    A ideia é essa, pois ser livre é um direto divino
    De corpo, mente e alma repita isso como um hino
    Permita-se e não acumule angustia
    O mundo está doente, cheio de gente injusta

    Seja a cura, seja pura, verdadeira como só
    Você sempre foi e sempre será a melhor
    És mui inteligente, és quem nos dá animo
    Peça fundamental de sobrevivência pra esse mundo insano

    Carrega o peso nas costas pelo fato de ser mulher
    Sem ter e liberdade de ser quem realmente quer
    Esse mundo não te merece tu é boa demais
    Erga sempre a cabeça e não olhe para trás

    E como manta repita cem vezes se necessário
    A culpa não é sua se agiram como otário.

    A CULPA NÃO É SUA SE AGIRAM COMO OTÁRIO
    A CULPA NÃO É MINHA SE AGIRAM COMO OTÁRIO
    A CULPA NÃO É NOSSA SE AGIRAM COMO OTÁRIO
    A CULPA NÃO É SUA SE AGIRAM COMO OTÁRIO

    Se convença na potência de sua existência
    Nessa selva de concreto onde só prezam aparência
    Tu viu o nascimento da morte
    Sentiu que ainda pode ser forte

    Uma junção de furacão, com uma brisa suave
    Ferocidade de leoa e a mansidão das aves, mas a astúcia da serpente
    Só observando os que não querem te ver contente, atente
    Ao que realmente é importante
    Relaxa, unanimidade não é uma constante

    Não deve nada a ninguém, nem satisfação sequer
    Seja o que lhe convém, se curte homem ou mulher
    Eles arrotam moralismo com um misto de cinismo
    Com intenção pura e simples de te levar pro abismo

    Eu sei, tem dias que tá brabo
    Eu sei, tem dias que é complicado
    Só não se perca ao entrar, no fim do túnel há luz
    Me dê a mão pra cruzar esse caminho de cruz

    Dançando e cantando o mantra: Nunca mais volto pro armário
    A culpa não é sua se agiram como otário

  • Alvos [Lisa Castro]

    Alvos [Lisa Castro]

    Tramaram de nos matar
    Combinamos sobreviver
    Aprendendo com os Griot’s como devemos proceder
    Se instrua, se ame, busque suas raízes
    Construa conexão com sua matrizes

    Corpo, alma e mente sã, liberdade do sistema
    Muita fé no amanhã, somos livres de algemas
    Dão a faca e o queijo pra que tu saia do prumo
    Simplesmente estar vivo é nosso sonho de consumo

    A cada 23 minutos é um dos meus que se vai
    Não adianta ir pra igreja e pedir oração ao pai, vai !
    Deus está vendo suas mãos sujas de sangue
    Mas aqui se faz aqui se paga, efeito boomerang

    Cidadão de bem, família tradicional
    Se enquadra no perfil de um exímio boçal
    Raça de sangue sugas, hipócrita racista
    Se nome está anotado bem aqui na minha lista.

    Negra

    Ao genocídio do preto, meu povo grita CHEGA!

  • No balanço do mar [Aclor]

    No balanço do mar [Aclor]

    No balanço do mar, teu olhar me encontrou
    No toque da brisa, teu cheiro me encantou
    Era um axé que o destino soprou
    Na dança da vida, nosso amor se formou

    Foi no encontro de almas, na força do (axé)
    Que a gente se achou, se perdeu, se entregou de (fé)
    Nossos corações batendo no mesmo ritual

    No brilho do sol, tua pele reluz
    No ritmo do atabaque, nossa paixão conduz
    Era um samba, um canto ancestral
    Nosso amor é um guia, é luz sem igual

    Foi no encontro de almas, na força do axé
    Que a gente se achou, se perdeu, se entregou de fé
    Nossos corações batendo no mesmo ritual

    No canto do orixá
    Teu sorriso é meu farol, minha paz, meu lugar
    Num abraço tão profundo, encontro de mar e céu
    Nosso amor é divino, é doce como mel

     Foi no encontro de almas, na força do axé
    Que a gente se achou, se perdeu, se entregou de fé
    Um amor espiritual, um sonho tão real
    Nossos corações batendo no mesmo ritual

  • Estilo Baden Powell [Átomo Pseudopoeta]

    Estilo Baden Powell [Átomo Pseudopoeta]

    Seu nome é Aymé,
    Pensei que era Perfeição.
    (Jah), O exímio luthier,
    A fez todinha a mão.
    Talhada em ébano, ypê,
    Sem plaina e formão.
    Brilha bem mais que paetê,
    Irradiante tal verão
    À flor mais linda do buquê,
    Cantares de Salomão.
    Nada de prancha ou henê,
    Seu crespo salvo e são…
    Amo a trança, o tererê,
    Quanto garbo é do Gabão.
    Um tremendo fuzuê,
    Faz no meu pobre coração.
    AhNaquela do Katinguelê,
    Bem na hora do refrão.
    Haile Selassie,
    Me concedeu essa benção.

    Totalmente à sua mercê,
    Não sei como se diz: “não!”.
    Manja dos paranauê,
    É cachaça com limão.
    Tirei-lhe a saia e o bustiê,
    Toquei seu corpo violão.
    Umedecida de dendê,
    Dedilhei com inspiração.
    Chacoalha feito xequerê,
    Seus quadris vêm e vão…
    Suas partituras eu sei ler,
    Seu gemido uma canção.
    Alto voou como um tiê,
    Tirei seus pés do chão
    Eu sei bem do metiê,
    Essa é a minha profissão.

  • Quanto vale? [Dudu de Morro Agudo]

    Quanto vale? [Dudu de Morro Agudo]

    Desde que me entendo por gente que eles matam a gente
    Violência na terra, fruto de negligência
    Criminalizam o corpo preto historicamente
    Não tem massagem é uma passagem só de penitência

    Nessa viagem eu sou o personagem da resistência
    Porque eu vejo potência no jovem preto desse lugar
    Não vão calar a nossa voz enquanto houver pendência
    Seja qual for o caminho a gente vai cobrar

    A bala que acha se encaixa no corpo mais fraco
    Se aloja na cor do Brasil
    A farda que mata procura o corpo do pardo
    Apaga uma história infantil
    Acorda!!! Amarraram mais quatro
    Pagaram o pato na cidade sem lei
    A corda burguesa que enforca o sonho do pobre
    Balança o filho do rei

    Quanto vale a vida? (Desse lado de cá!)
    Quanto custa a morte? (e quem pode pagar?)
    Segurança pública (Sangue de preto no chão)
    Segurança pública (Corpo preto na prisão)

    Essa violência é tanta e essa negligência espanta
    Tombamos como peças de dominós
    Nesse jogo aqui não tem mão santa
    Nosso grito entala na garganta
    Mas não afeta a esperança
    De nós em nós

    Ná ná ná ná ná ná (scratch)
    Ná ná ná ná ná ná (scratch)
    Segurança pública
    Segurança pública

    Quanto vale a vida? (Desse lado de cá!)
    Quanto custa a morte? (e quem pode pagar?)
    Segurança pública (Sangue de preto no chão)
    Segurança pública (Corpo preto na prisão)

  • Reflexões que ainda me tiram o sono [Dudu de Morro Agudo]

    Reflexões que ainda me tiram o sono [Dudu de Morro Agudo]

    Toda vez que eu deito a mente voa
    Sempre na hora de dormir que os pensamentos vêm
    Nem sempre eu tô pensando em coisa boa
    Às vezes eu só quero é querer bem

    Tô no rap, mas eu podia estar no canto
    Assobiando ou quem sabe encantando alguém
    Alguém que passa a vida inteira pelos cantos
    Achando que não pode contar com ninguém

    Só. Somente às vezes eu me basto,
    Me acho em todos os incômodos de mim
    Às vezes paro, pois só assim não gasto
    Essas frases que há tempos vão afastando do fim

    Eu fabrico lágrimas, saliva e suor,
    Pois páginas molhadas não apagaram a nossa história
    E acredito que o que há de melhor
    ainda está no ponto escuro dessa nossa trajetória

    Eu sei que o estigma machuca
    Assombra os nossos sonhos e interferem em nossas lutas
    Mas também sei, não importa o que façam
    O meu caminho é vasto, olhares não me ameaçam

    A caixa do presente está surrada
    Na sociedade da imagem eu já não valho nada
    A nota zero na planilha do avaliador
    Me fez entender qual era a próxima jogada

    Inacessível eu fico superficial
    Super constrangido dentro desse elevador
    Sou previsível com minha marca social
    Onde a pele grita mais que meu diploma de doutor

    A referência não se apaga como a vela finda
    Pequenos pontos pretos já orbitam o meu mundo
    Esperançar é promessa de coisa linda
    Me arrastando pro futuro e movendo cada segundo

    Como a dor de uma partida e a certeza de um profeta
    Nossa mente se enche como uma mão calejada da lida
    Se o tempo passa e essa ferida não fecha
    É sinal que a nossa luta ainda não foi vencida

    Eu sei que o estigma machuca
    Assombra os nossos sonhos e interferem em nossas lutas
    Mas também sei, não importa o que façam
    O meu caminho é vasto, olhares não me ameaçam

    SAIBA MAIS:

    http://www.linktr.ee/reflexoes.enraizados