terça-feira, 16 abril, 2024

Homem que é homem não chora!

Era onze de junho de dois mil e quatorze em mais uma manhã no Rio de Janeiro. Mais de um mês depois, não me recordo fielmente do passo a passo da minha rotina nesse dia, mas na rotina, algumas coisas são comuns: Pela manhã meu filho mais velho, com vinte anos, dorme porque trabalha no terceiro turno do shopping da cidade; Meu filho caçula tem seus olhos fixados diante da TV; Meu adolescente de quinze anos está no cursinho… Eu?! Faço café, tomo café, verifico emails, atualizo as redes sociais e preparo o almoço ao mesmo tempo em que discuto ideias profissionais com um marido que quase nunca dorme.

Nesse instante, me pego pensando na rotina do Matheus Alves dos Santos, de 14 anos. Como era a rotina desse jovem?! Como era a rotina da família desse jovem?! De onde ele vinha, pra onde ele ia?! Quais eram o seus sonhos?! Ele sonhava?!

“Eu vim e botei o fuzil na cara dele.”

No que será que o jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos acreditava?! Tinha religião?!


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Em que ano escolar o jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, estava?!

“A gente nem começou a bater em vocês ainda e já tão chorando?”

Mesmo dentro da caçamba, o jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, esperava sair daquela situação e por fim ouvir mais os conselhos dos pais?! Seus pais lhe davam conselhos?!

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Quem era Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, além de humano?! Humanos, quando diante do medo, do pavor, da morte, da covardia, não devem chorar?!

“Tá chorando porra?! Seja homem porra!”

E a mãe do jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, pode chorar?! E eu, posso?!

 
“É melhor correr, que lá vem o camburão
É matar ou morrer! São quatro contra um!
Eu me rendo! Bum! Clá! Clá! Bum! Bum! Bum!
Boi, boi, boi da cara preta, pega essa criança com um tiro de escopeta
Calibre doze na cara do Brasil
Idade catorze estado civil morto
Demorou, mais a sua pátria mãe gentil conseguiu realizar o aborto.”
Gabriel o Pensador – Quabra Cabeças (1997)

Não. Eu não sou a favor do aborto, em hipótese alguma. Mas essa, já seria uma outra conversa. Hoje eu quero apenas convidar você, amigo(a) leitor(a), a refletir sobre a desumanidade a qual estamos imersos ultimamente.

Desde quando elegemos uns aos outros capazes de dispor da vida uns dos outros?! Desde quando elegemos como heróis os vilões?! Desde quando matar tem significados variantes?! O que diferencia um “bom” matador de um “mau” matador?!

AOS HIPÓCRITAS ACHO IMPORTANTE FRISAR:

– O MATHEUS NÃO TINHA PASSAGEM PELA POLÍCIA.
– O JOVEM QUE SOBREVIVEU, TINHA.
– O TERCEIRO JOVEM, FOI CAPTURADO APENAS POR QUE ESTAVA OLHANDO A CENA – FOI LEVADO APENAS PRA LEVAR UM SUSTO – SOBREVIVEU, MAS NUNCA MAIS FOI VISTO.

Lamento profundamente pela morte do jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos… Lamento profundamente pela mãe, pelos familiares e pelos amigos do jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos… Lamento profundamente pela espécie monstruosa que os Cabos Lima e Magalhães se tornaram… Lamento profundamente pela mãe, pelos familiares e pelos amigos desses algozes… Mas sabe do que eu mais lamento?! Pela petrificação e inércia diante dessa barbárie diária, que tem dizimado a raça humana em todos os cantos deste planeta.

Link: http://www.vagalume.com.br/gabriel-pensador/patria-que-me-pariu.html#ixzz38EqTHz00

 

Sobre Cristiane de Oliveira

Produtora Cultural, Head na Agência #TudoNosso, CupCake Designer na CupCake da Cris, mãe, mulher, escorpiana e absolutamente mutante nesse mundo de imperfeições.

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01 comentário

  1. Texto excelente e tocante, Cristiane.
    Lamento contigo.
    E retificando com licença poética a letra do Frejat: Esse meu rosto vermelho e molhado NÃO é só dos olhos pra fora! Todo mundo sabe que a humanidade chora.
    Que Deus nos guarde e livre do mal sempre. Do mal intencionado, do mal treinado, mal qualificado, mau elemento, do mau sujeito, do mau samaritano e do mau pastor. Que Deus seja conosco nessa empreitada louca de continuarmos vivos. Amém!

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