sexta-feira, 29 março, 2024

Que bom que ela morreu bem.

Olá, boa semana a todos e todas!!! Mais uma coluna, isso significa que as coisas estão dando certo por aqui 🙂 .

Você deve estar se preguntando: – Que frase louca é essa que o Dudu resolveu colocar como título da sua coluna hoje?

Realmente, se estiver fora de contexto, esta frase pode causar estranheza, mas lendo o texto abaixo talvez você entenda bem o que eu quis dizer.

Vamos lá!!!

Antes de ontem sonhei com uma amiga da minha avó, acho que elas eram melhores amigas, ela sempre estava aqui em casa, eram muito próximas, e quando minha avó morreu, ela não perdeu o contato com a minha família, continuou se correspondendo com a minha mãe, mesmo quando foi morar nos EUA.

Há cerca de duas semanas minha mãe me disse que ela havia morrido. Fiquei triste, lógico, porém pensativo.

Ela tinha mais de 90 anos, sem nenhuma doença – a não ser as que vem no pacote da velhice morreu sem dor, sem sofrimento e com a sensação de dever cumprido (assim espero), com filhos, netos e bisnetos criados.

Perdi as contas de quantas pessoas que conheço tiveram mortes trágicas nesses meus 37 anos de vida, um monte de colegas assassinados antes dos 30 anos de idade, muitos morreram antes mesmo de completar 20 anos. Meu pai e minha avó morreram vítimas do câncer, ela com quase 70 e ele com 61 , penso que naturalmente poderiam ter tido pelo menos mais uns 20 anos de vida, mas morreram, com o tanto de sofrimento característico do câncer, contudo o sofrimento não foi um privilégio somente deles, pois toda a minha família e amigos sofremos juntos, cada um de nós.

Certamente, quando ela nasceu, lá por volta de 1925, haviam diversos fatores que poderiam ter interrompido sua vida, mas creio que poucos eram por conta da violência urbana, e isso me fez refletir mais uma vez, é incrível e ao mesmo tempo chocante, pois tem muito tempo que não ouço dizer que uma pessoa conhecida morreu de velhice.

Por isso, quando soube de sua morte falei comigo baixinho: – Que bom que ela morreu bem.

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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