quinta-feira, 28 março, 2024

Quem ganha quando o rap não está na TV?

No dia 22 de outubro minha time line do facebook ficou movimentada por conta do programa Profissão Repórter que foi veiculado no  último dia 21 de outubro, na Rede Globo, onde o tema era o sempre polêmico Rap.

Muitas mensagens de protesto foram postadas contra o programa, porém também foram postadas muitas outras mensagens de apoio ao rap, que está cada vez mais presente nas telinhas.

Mas uma pergunta não quer calar:

– Será que o povo do rap dá o devido valor às conquistas que o movimento tem nos grandes meios de comunicação?

Já vi e ouvi críticas ferrenhas ao Programa Esquenta, da Regina Casé, que abriu as portas não só para o rap, mas para toda uma estética totalmente diferente do perfil da emissora. Lembro que no programa já se apresentaram Edi Rock – o que causou um mau estar no fãs do Racionais – e o Emicida algumas vezes.

Em São Paulo tem o Manos e Minas, na TV Cultura, no ar desde 2008, apresentado atualmente pelo MC Max BO, mas que já teve os rappers Rappin Hood e Thaíde no comando. Centenas de MCs já passaram pelo programa, que teve seu fim decretado em 2010, mas devido a muitos protestos nas redes sociais o programa retornou e continua firme até hoje, acompanhando a produção atual da música urbana em suas várias vertentes (rap, funk, soul, reggae, samba, MPB), além de mostrar iniciativas e realizações da cultura de periferia e hip-hop em seus diversos segmentos.

Pioneiro do hip hop no Brasil,Thaíde, que hoje faz sucesso no programa A Liga, da Band, já é um veterano das telinhas, começando na MTV, apresentando o programa “Yo! MTV Raps” e propagando o videoclipe de milhares de grupos do país.

Não posso deixar de citar o MV Bill e a Nega Gizza, com o importante programa Aglomerado, na TV Brasil.

Lembro-me que o Emicida também atuou como repórter do programa Manos e Minas, e o escritor Alessandro Buzo iniciou o seu quadro Buzão Circular Periférico dentro do mesmo programa e por lá ficou durante 03 anos até ser contratado pela Rede Globo, para apresentar um quadro sobre cultura de periferia, o SP Cultura.

Durante os últimos 03 anos, todos os sábados, foi ao ar no SP Cultura alguma iniciativa cultural da periferia de São Paulo e o rap e o hip hop quase sempre estiveram presentes, com seus artistas e toda a sua complexidade. Alessandro Buzo comandava essas visitas com maestria e bom senso, gerando oportunidades e atendendo a todos, na maioria “anônimos”, o que sempre o diferenciou, por exemplo, de programas como o Esquenta, onde o valor maior está entre os já consagrados e famosos.

Há cerca de um mês o quadro saiu do ar. Ninguém sabe se volta ou não. Mas o que realmente me impressionou é que NÃO VI NAS REDES SOCIAIS UM MOVIMENTO #FicaSPCultura, como aconteceu no Manos e Minas.

Algumas pessoas dizem que são contra a Rede Globo e contra o rap na TV, acredito que temos que respeitar os que tem essa opinião.

Mas e os que não são contra? E os que se beneficiaram com os quase 150 quadros que foram ao ar? E as centenas de artistas, de iniciativas, de projetos e de comunidades que ganharam visibilidade justamente porque o quadro era em uma emissora do porte da Rede Globo? Porque esses não iniciaram esse movimento #FicaSPCultura?

Eu, apesar de não morar em São Paulo, assim como muitas outras pessoas pelo Brasil, assisti pela internet cada um dos 147 quadros que foram ao ar e por causa deles aprendi muito sobre a cultura da periferia de São Paulo e seus fazedores. Fico orgulhoso por um cara da periferia e com representatividade dentro do movimento ser o apresentador. Seria um sonho ter um programa parecido aqui no Rio de Janeiro, seria um avanço para periferia, uma grande oportunidade para o hip hop.

Mas e aí, vamos deixar escorrer por nosso dedos um dos canais mais importantes para o hip hop paulista e brasileiro?
Já pararam pra pensar quem realmente ganha quando o rap não está na TV?

SAIBA MAIS:

[yframe url=’https://www.youtube.com/watch?v=-7qIo_aGxWQ’] Veja aqui alguns quadros do SP Cultura com Alessandro Buzo

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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2 comentários

  1. Muito maneira a ideia.

  2. Confesso que esse assunto é polêmico. Sim, é necessário realizar uma apropriação desses mecanismo para disseminar, mas quando esse mesmo sistema de consumo se apropria da cultura periférica e muda o sentido dela? Um abraço e parabéns pelo trabalho!

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