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  • Do microfone à militância: Hip Hop contra o PL dos estupradores

    Do microfone à militância: Hip Hop contra o PL dos estupradores

    Como a cultura Hip Hop se posiciona contra a criminalização do aborto e defende os direitos das mulheres em um contexto de crescente conservadorismo no legislativo.

    A aprovação relâmpago da urgência do Projeto de Lei 1904/2024, que equipara o aborto em certas circunstâncias ao homicídio, provocou um intenso debate no Brasil.

    Esse projeto, se aprovado, aumentará drasticamente as penas para médicos e mulheres envolvidas em abortos que não sejam em casos de anencefalia, tratando essas ações com a mesma severidade de homicídios. A votação foi marcada por controvérsias, com acusações de irregularidades no processo legislativo e protestos de parlamentares da oposição.

    O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), autor do projeto, contou com o apoio da bancada evangélica para impulsionar a proposta. Caso aprovado, ele vai alterar quatro artigos do Código Penal, transformando atos que atualmente não são crimes ou têm penas menores em crimes com punições severas, de seis a 20 anos de prisão.

    O presidente Lula criticou duramente o projeto, chamando-o de “insanidade”. Ele ressaltou a incoerência de punir uma mulher estuprada que realiza um aborto com uma pena maior do que a aplicada ao estuprador. “Eu sou contra o aborto. Entretanto, como o aborto é a realidade, a gente precisa tratar o aborto como questão de saúde pública. Eu acho que é insanidade alguém querer punir uma mulher numa pena maior do que o criminoso que fez o estupro. É no mínimo uma insanidade isso”, disse Lula.

    O deputado Max Maciel, do PSOL de Brasília, criticou duramente o “PL dos Estupradores”, destacando que a proposta não contribui para o combate à violência contra a mulher, mas sim para a sua criminalização. “O Brasil sempre inova e traz coisas que às vezes nem imaginaríamos”, disse.

    Maciel argumentou que o projeto de lei, ao invés de focar na identificação e punição dos agressores, acaba por punir as vítimas, destacando que muitas mulheres já enfrentam dificuldades em acessar o aborto legal e sofrem hostilidade. “Essa pauta moral conservadora não traz benefício nenhum para a sociedade. Esse não é um Brasil em que podemos acreditar“, concluiu.

    Este posicionamento reforça a necessidade de tratar o aborto como uma questão de saúde pública, refletindo a opinião de 87% dos brasileiros que acreditam que mulheres vítimas de estupro devem ter a opção de abortar, segundo pesquisa do Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva.

    O papel do Hip Hop

    O Hip Hop brasileiro tem um histórico de se engajar em questões sociais e políticas, e a questão do aborto não é exceção. Em 2005, o projeto “Hip Hop Mandando Fechado em Saúde e Sexualidade” reuniu diversas lideranças do movimento para discutir os direitos reprodutivos das mulheres. Por meio do RAP, o projeto buscou introduzir reflexões sobre aborto, interferência religiosa, gravidez na adolescência e violência de gênero e sexual.

    Esse projeto, dirigido por mim, resultou em um álbum com 10 músicas, assinado por importantes produtores musicais da cena. Duas composições deste álbum merecem destaque pela forma como abordam o tema do aborto.

    Quem paga por isso?

    A canção “Quem Paga Por Isso?” de Cacau Amaral, Negra Rô, Mad e Paulinho Shock, critica as desigualdades sociais e raciais no acesso ao aborto seguro e legal.

    A letra destaca a realidade enfrentada por mulheres negras e pobres, enfatizando a necessidade urgente de mudanças nas políticas públicas.
    A narrativa contrasta as experiências de duas mulheres, Maria e Mariana, ilustrando a desigualdade social. Enquanto Mariana, de classe média, tem acesso a métodos seguros, Maria enfrenta condições precárias e perigosas. A música critica os governantes e o sistema de saúde pela falta de apoio institucional para essas mulheres.

    Relato

    A composição “Relato” de Rúbia Fraga (RPW) e Tyeli Santos narra o sofrimento de uma mulher que enfrenta as consequências de um aborto clandestino. A letra critica o sistema de saúde e a sociedade por sua falta de empatia e suporte às mulheres em situações vulneráveis, além de questionar o papel da igreja e do Estado na garantia dos direitos das mulheres.

    A música aborda a influência da religião e a culpa religiosa, destacando a pressão moral imposta pelas doutrinas religiosas. “Relato” levanta questões críticas sobre julgamento, culpa, direitos das mulheres e a responsabilidade do Estado e da religião em assegurar o bem-estar e a dignidade das pessoas.

    Desafio do Hip Hop em um cenário conservador

    Embora o Hip Hop historicamente tenha sido uma voz poderosa de resistência e conscientização, parte do movimento atual tem se mostrado conservadora e inerte diante dessas questões. No entanto, figuras influentes continuam a usar suas plataformas para se posicionar contra o PL dos Estupradores, defendendo a liberdade e os direitos das mulheres. Filipe Ret usou suas redes para se posicionar contra o PL dos Estupradores, defendendo a liberdade e os direitos das mulheres.

    Flávia Souza, atriz, diretora e rapper do Rio de Janeiro, critica duramente a hipocrisia em torno do debate sobre o aborto.

    “Esses caras aí que se dizem contra o aborto, quando é com as suas filhas, eles vão lá, fazem aborto num bom hospital, seguro e fica tudo bem. Quem mais sofre são as meninas e as mulheres negras, a população pobre, que é a maioria, a população negra, a gente não tem como negar isso. E mais, a gente sabe que é a mulher negra que é assediada até por ter um corpo mais volumoso. A gente já é assediada desde os cinco, sete anos, até por uma questão de uma estrutura de um país racista, que vê o corpo da mulher negra como um objeto de desejo. Então eu acho um absurdo essa PL. Quem acaba sendo criminalizada é a menina, que pode acabar sendo presa no lugar do estuprador e tendo que conviver com uma situação (de gravidez) que não cabe pela questão da idade. Então eu acho muito absurdo e bato na tecla que quem paga é a gente: a mulher.”

    Elza Cohen, fotógrafa, artista visual e ativista na cultura Hip Hop, também se posiciona contra o projeto de lei, destacando seu impacto desproporcional nas populações vulneráveis.

    “Nós mulheres não podemos aceitar esse passo atrás dessa PL do absurdo! Essa PL é criminosa e representa mais uma violência contra as mulheres e meninas. E o alvo maior já sabemos que são as meninas pobres, negras e indígenas. É um projeto que criminaliza meninas menores de idade, enquanto protege o estuprador, isso é repugnante! Quando nós mulheres, deveríamos estar lutando por mais direitos na sociedade, agora temos que lutar para parar esse retrocesso? Criança não é mãe, estuprador não é pai. Liberdade para as mulheres e meninas.”

    Claudia Maciel, da Construção Nacional do Hip-Hop, enfatiza a necessidade de acolhimento e não-criminalização das vítimas.

    ”Em um contexto em que se pretende equiparar o aborto a um crime de homicídio punindo meninas, adolescentes e mulheres que em sua maioria são negras, e que, a pena pela interrupção da gravidez é maior que a do estuprador, o Mulherismo AfriKana, as mulheres negras do Hip Hop compreendem que essas vítimas precisam ser acolhidas, escutadas e não-criminalizadas.”

    Gil Souza, editor do site Hip-Hop Bocada Forte, também expressa sua indignação.

    “Sou totalmente contra a PL, ela é um absurdo. É mais uma violência que se baseia no fundamentalismo religioso de pessoas que se dizem ‘cristãs’.”

    Enquanto a luta pela descriminalização do aborto e pela proteção dos direitos reprodutivos das mulheres continua, a cultura Hip Hop tem o potencial de ser uma poderosa ferramenta de resistência e conscientização, capaz de influenciar mudanças significativas na sociedade. Esta é uma causa que merece o apoio contínuo e a voz forte da cultura Hip Hop.

    Referências Bibliográficas:
    1. Projeto Hip Hop Mandando Fechado em Saúde e Sexualidade (CEMINA, REDEH e Secretária Especial de Políticas para as Mulheres – SPM).
    https://open.spotify.com/intl-pt/album/6grLeAELpt482Chl2Cizq9?si=k5x_z3gvSMCydEaOrE Geyg
    2. Percepções sobre direito ao aborto em caso de estupro (Locomotiva / Instituto Patrícia Galvão, março de 2022).
    https://assets-institucional-ipg.sfo2.digitaloceanspaces.com/2022/03/IPatriciGalvao_Locomot ivaPesquisaDireitoobortoemCasodeEstuproMarco2022.pdf
    3. PL 1904/2024 – Projeto que equipara aborto de gestação acima de 22 semanas a homicídio.
    https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2425262&filenam e=PL%201904/2024

  • Mujica, o ex presidente do Uruguai, um exemplo para nós !!

    Mujica, o ex presidente do Uruguai, um exemplo para nós !!

    Em tempos em que a política tem se mostrado um assunto espinhoso, onde o sujo fala do mal lavado, vale a pena lembrar boas experiências em nossa conturbada América Latina. Podemos citar um senhor que com sua simplicidade e boa vontade, mostrou que quase 100% dos intelectuais tendem a complicar assuntos que só precisam um primeiro passo e por a cara à tapa e assumir posições e buscando uma melhoria para a coletividade, um viva para esse velhinho que é no mínimo foda !! Saca só, José “Pepe” Mujica , ele começou causando barulho, quando ele ao assumir o governo abriu mão da mordomia no qual teria direito, e abriu mão de 90% de seu salário, por volta de 12.000 R$, e não quis morar na residência oficial, e continua morando em sua chácara, e ainda dirige um fusca azul 1978, e sua residência possui apenas um quarto. Mas o mais importante foi seu legado e suas conquistas que abrem um precedente importante para nossa região. O Uruguai: Aprovou a lei que permite a união de pessoas do mesmo sexo,aprovou a lei de venda da canábis (maconha) para fins terapêuticos e muitos cidadãos obtiveram o direito de cultivar pequenas quantidades para consumo próprio, aceitou refugiados da prisão de Guantánamo (Prisão norte americana em Cuba), recebeu refugiados da guerra civil na Síria, facilitando o ingresso no Uruguai, aprovou a Lei de meios, no qual se pretende evitar que um grupo detenha o monopólio das comunicações, as mulheres uruguaias podem interromper a gravidez de forma segura e legal até a 12ª semana de gestação. Com certeza esse velhinho já nos deixou um aprendizado que com certeza vale mais que 1000 teses e conceitos, que não levam a nenhum resultado prático.
    Independente de julgamentos, o que realmente importa é trazer certas questões que querendo ou não fazem parte da sociedade para uma aplicação real, esse tiozão nos mostrou que se pode alterar uma realidade sem hipocrisia e promessas fajutas, valeu mujica.

  • Licença Para Matar [Do Ventre Pra Fora]

    Licença Para Matar [Do Ventre Pra Fora]

    É a minha opinião:

    Contradição…
    A que luta para que vó, mãe, tenham direito a vida,
    É a mesma que quer licença para ser homicida,
    Dum embrião.

    De véspera morrem os perus,
    Não dar a luz… Seja talvez a melhor decisão.
    Carrasco já não usa capuz,
    Cytotec, cadeira elétrica ou cruz… Qual método mais eficaz de execução?
    Para aplicar contra o filho do que estupra.
    Poda o bastardo antes que ele cresça, feito bonsai,
    Pelo crime horrendo do seu pai,
    Não dê-lhe oportunidade de pedir desculpas…

    Mas o que falar da que pouco se preocupa… “É sujeito homem, transo ou não”?
    Quando devia decidir não decidiu,
    DIU,
    Ou outra forma de prevenção.
    Depois não há discurso que sustenha,
    Nem agora.
    Lei Maria Da Penha?
    É do ventre para fora.

    É! Possivelmente não existiria,
    Glória, Ângela, Carolina e outras tantas Marias… Na constelação.
    Se a senhora sua mãe fizesse o que desse na telha,
    E optasse por não tê-la… Você também apoiaria a decisão?
    Presumo que não… No meu caso porem, até que não seria má ideia,
    Menos um questionador parido,
    Expelido,
    Feito diarreia.

    Mas só que Dona Evanil mesmo solteira criou três,
    Fez… Das tripas coração.
    Sou prova viva que a irresponsabilidade nossa ou de vocês,
    Não é desculpa não.
    Mas depois ela se empenha,
    Não agora.
    Lei Maria Da Penha?
    É do ventre para fora.

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