No dia 27 de dezembro, o Quilombo Enraizados celebrou mais uma edição do “Dia da Rima”, um evento que já se consolidou como um marco na cena cultural da Baixada Fluminense. Há mais de dez anos, o encontro reúne MCs, beatmakers, cantores e poetas para uma celebração de fim de ano repleta de música, criatividade e colaboração.
Este ano, o evento contou com cerca de 20 participantes ativos, incluindo cantores e poetas, além dos tradicionais MCs e beatmakers. Como sempre, o “Dia da Rima” trouxe momentos de surpresa e inovação, com a dinâmica de sorteio dos grupos e beats. Contudo, essa dinâmica gerou momentos de tensão e emoção, já que alguns convidados ainda não haviam chegado na hora dos sorteios, enquanto outros exigiam que seus nomes estivessem garantidos na lista.
As regras do “Dia da Rima” são projetadas para instigar a criatividade dos participantes e desafiá-los a sair de suas zonas de conforto. Esse propósito se mostrou essencial, mesmo diante das tensões iniciais. A proposta do sorteio de grupos e beats tem como objetivo criar combinações inéditas, forçando os artistas a colaborarem com pessoas e estilos que não conhecem, o que resulta em uma produção mais rica e diversa.
Outro ponto de tensão foi a seleção dos beats. Alguns participantes queriam ouvir mais opções antes de se comprometerem, mas a organização manteve o foco no caráter desafiador do evento. Os beats foram disponibilizados de forma limitada justamente para estimular escolhas rápidas e intuitivas, alinhadas ao espírito colaborativo e experimental do “Dia da Rima”.
Apesar das tensões iniciais, o evento foi um sucesso. A liderança de Dudu de Morro Agudo, Átomo e Dorgo foi essencial para manter a harmonia e garantir que todos os participantes tivessem a chance de brilhar. Dudu também foi responsável pela gravação das faixas produzidas durante o evento, marcando uma nova fase, em que todas as músicas gravadas serão registradas e lançadas, preservando os direitos dos artistas.
O “Dia da Rima” também se consolidou como uma grande celebração de fim de ano para os Enraizados. Além da música, houve comida e bebida, com destaque para o churrasco preparado pelo chef Samuka Azevedo, que contribuiu para criar um ambiente acolhedor e festivo.
Um dos momentos mais marcantes foi a audição do disco “DMÁtomo 2024”, uma parceria entre Dudu de Morro Agudo e Átomo, com produção de Eric Beatz. As faixas do disco, que será lançado no dia 31 de dezembro em todas as plataformas digitais, captaram a essência de um hip hop experimental, ao mesmo tempo em que exploraram novas sonoridades e temas.
O evento também marca o início dos projetos do Enraizados para 2025, que incluem residências artísticas e formações voltadas para a música e o mercado. Essa visão de futuro reforça o compromisso do Quilombo Enraizados com a cultura e a criatividade como ferramentas de transformação social.
No próximo dia 26 de outubro, a partir das 18h, o Quilombo Enraizados será palco de dois lançamentos que celebram a trajetória e a resistência da cultura hip hop na Baixada Fluminense. O evento contará com a exibição do aguardado documentário “Mães do Hip Hop – 15 Anos Depois” e do videoclipe “Reflexões que ainda me tiram o sono”, de Dudu de Morro Agudo.
Documentário “Mães do Hip Hop – 15 Anos Depois”
O documentário “Mães do Hip Hop – 15 Anos Depois” é uma continuação de um projeto iniciado em 2010, dirigido por Dudu de Morro Agudo e Janaina Refem, que retratava a rotina de jovens envolvidos com o hip hop e a percepção de suas mães sobre a importância dessa cultura na educação de seus filhos. Agora, 15 anos depois, o filme revisita esses artistas e suas mães, abordando as transformações que ocorreram em suas vidas pessoais e na evolução da prática do hip hop no cenário da Baixada. O documentário, que tem direção de Átomo Pseudopoeta, revela não apenas as conquistas e desafios enfrentados, mas também o impacto duradouro do hip hop na formação da identidade desses jovens.
Videoclipe “Reflexões que ainda me tiram o sono”
Por sua vez, o videoclipe “Reflexões que ainda me tiram o sono”, de Dudu de Morro Agudo, apresenta uma mensagem poderosa sobre as microviolências diárias enfrentadas por pessoas negras no Brasil. A composição foi criada como parte da disciplina Psicologia da Arte, ministrada por Zoia Prestes durante seu doutorado em Educação na UFF, e foi apresentada em uma conferência sobre Vygotsky em Moscou, no final do ano passado. Dudu utiliza os princípios de Vygotsky para produzir uma obra de arte que se conecte às vivências de pessoas pretas, reforçando a importância do aquilombamento como forma de resistência e autocuidado coletivo.
Um Marco para a Cultura Hip Hop
O evento promete ser um marco para a cultura hip hop da região, proporcionando reflexões profundas sobre racismo, resistência e a relevância da cultura como ferramenta de transformação social. Além das exibições, a programação contará com um pocket show de Dudu de Morro Agudo, intervenções poéticas de Duduzinho e discotecagem de DJ Imperatriz, entre outras atividades culturais.
SAIBA MAIS:
Onde: Quilombo Enraizados – Rua Presidente Kennedy, 41, Morro Agudo, Nova Iguaçu, RJ
Quando: 26 de outubro de 2024
Horário:
Lançamento do Documentário “Mães do Hip Hop” – 18h
Lançamento do Videoclipe “Reflexões que ainda me tiram o sono” – 20h
No último dia 10 de agosto, o Quilombo Enraizados recebeu os artistas chilenos Egrosone (rapper) e Mauro QuJota (produtor musical) para participar do Acampamento Musical, um intercâmbio musical promovido pelo Instituto Enraizados. Esse evento reúne rappers e beatmakers para colaborar na criação de uma música inédita.
Além de Egrosone e Mauro QuJota, o encontro contou com a presença de artistas renomados como DJ Dorgo, Kr7, Baltar, Jovem RD, Kall Gomes, Lisa Castro, Átomo, Ninja, Rico Mesquita, Aclor e o beatboxer chileno WallBeats. Juntos, eles produziram uma faixa que será lançada nos canais da Hulle Brasil e do Instituto Enraizados.
Esse intercâmbio é fruto de uma parceria de duas décadas entre os Pontos de Cultura Trocando Ideia e Enraizados, representados por Fabiana Menini e Dudu de Morro Agudo. O objetivo é fortalecer os laços culturais entre as instituições FlowRida e Instituto Enraizados. Como parte desse esforço, artistas brasileiros estão se preparando para viajar ao Chile e participar do “Festival Estilo & Mensaje”, que será realizado em Santiago no final de outubro. Em contrapartida, os artistas chilenos foram convidados para a próxima edição do “Festival Caleidoscópio”, prevista para acontecer em Morro Agudo em 2025.
Festival Estilo & Mensaje
O Festival Estilo & Mensaje é um evento cultural de destaque em Santiago, Chile, que celebra a cultura hip hop e suas diversas expressões, incluindo rap, breakdance, graffiti e DJing. O festival oferece uma plataforma para artistas, especialmente jovens, mostrarem seu talento e se conectarem com o público e outros criadores. Além das apresentações artísticas, o festival inclui workshops, palestras e debates focados no desenvolvimento da cultura hip hop e na reflexão sobre questões sociais e políticas relevantes para as comunidades urbanas. O Estilo & Mensaje desempenha um papel crucial na cena cultural de Santiago, sendo um ponto de encontro para artistas, ativistas e entusiastas do hip hop de toda a América Latina.
Festival Caleidoscópio
O Festival Caleidoscópio é um evento multicultural anual realizado desde 2015 em Morro Agudo, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. O festival promove a formação profissional e de público, fomenta a cultura local e incentiva a produção artística na região. Com uma abordagem colaborativa que funde arte e ativismo, o evento incita reflexões sobre desigualdade social e outras questões cruciais no Brasil. O festival apresenta uma ampla variedade de manifestações culturais, incluindo música, dança, teatro, artes visuais, cinema e literatura.
Um dos pilares do Festival Caleidoscópio é o CPPEC (Curso Prático de Produção de Eventos Culturais), que oferece formação técnica, profissional e artística para jovens periféricos. Os participantes desenvolvem habilidades práticas em produção cultural, culminando na realização de três microprojetos e do festival, que tem duração de 12 horas. O evento alinha-se com sete dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável(ODS) da ONU, promovendo segurança pública, economia, qualidade de vida e valorização da cultura local. Como motor de desenvolvimento social, econômico e cultural para a Baixada Fluminense, o festival conta com o apoio de diversas instituições e empresas.
Para saber mais sobre as instituições envolvidas, acesse os links abaixo:
Ícones do rap que moldaram e influenciaram gerações na cultura hip-hop global.
A relação entre Public Enemy e Wu-Tang Clan é uma parte importante da história do hip-hop, marcada pelo respeito mútuo entre os dois grupos mais icônicos do gênero.
Public Enemy, formado em Long Island, Nova York, nos anos 80, é considerado um dos pioneiros do hip-hop político e consciente. Com sua abordagem única de letras carregadas de críticas sociais e políticas, eles se destacaram não apenas como músicos, mas como ativistas político-culturais. Public Enemy teve um impacto significativo na cena hip-hop, não apenas por sua música, mas também por sua mensagem e postura militante.
Por outro lado, o Wu-Tang Clan, originário de Staten Island, Nova York, é conhecido por sua abordagem crua e autêntica no hip-hop. Com uma mistura distinta de letras afiadas, batidas cruas e uma mitologia única em torno de sua identidade de grupo, o Wu-Tang Clan rapidamente se estabeleceu como uma força inovadora no mundo do rap dos anos 90.
A relação entre esses dois grupos é multifacetada. Primeiramente, há uma conexão geográfica, já que ambos são originários de Nova York, especificamente da região metropolitana. Isso os coloca dentro do mesmo cenário musical e cultural em evolução.
Além disso, há um reconhecimento recíproco entre os dois grupos. Public Enemy, com sua abordagem politicamente consciente, ajudou a pavimentar o caminho para artistas como Wu-Tang Clan, que também incorporaram elementos de consciência social em suas músicas, embora de uma maneira diferente. Wu-Tang, por sua vez, foi uma força disruptiva no cenário do hip-hop, trazendo uma nova energia e estética que influenciou muitos artistas, incluindo membros do Public Enemy.
Em suma, a relação entre Public Enemy e Wu-Tang Clan é marcada por uma mistura de respeito. Ambos os grupos desempenharam papeis significativos na evolução do hip-hop e continuam a ser reverenciados como pilares do gênero. Chuck D, como membro do Public Enemy, e RZA, como membro e produtor principal do Wu-Tang Clan, representam dois pilares distintos da cultura hip-hop. Embora não tenham necessariamente trabalhado juntos em um projeto específico, é claro que ambos têm respeito mútuo e admiração pelo trabalho um do outro.
Este artigo baseia-se em conhecimento geral e, portanto, não inclui citações específicas. No entanto, a seguir, são apresentadas algumas referências bibliográficas relevantes que podem ser utilizadas para explorar a influência e a importância de Public Enemy e Wu-Tang Clan na cultura hip-hop. Estas obras oferecem um contexto aprofundado sobre a evolução do hip-hop, destacando a contribuição significativa dos dois grupos:
1. Chang, Jeff. “Can’t Stop Won’t Stop: A History of the Hip-Hop Generation”. St. Martin’s Press, 2005.
2. George, Nelson. “Hip Hop America”. Viking Penguin, 1998.
3. Dyson, Michael Eric. “Know What I Mean? Reflections on Hip-Hop”. Basic Civitas Books, 2007.
4. Light, Alan. “The Vibe History of Hip-Hop”. Three Rivers Press, 1999.
Paulo Gabriel Queiroz Pereira, conhecido como GB Montsho, tem 23 anos de idade, iniciou no RapLab em 2016, com 15 anos de idade. Morou em Nova Iguaçu, Pavuna, e atualmente reside em Anchieta. É estudante de Letras na UFRRJ, em Nova Iguaçu, onde faz parte do diretório estudantil. Além disso, é rapper e poeta.
GB tornou-se uma figura central em minha pesquisa porque, além de ser um jovem que está há quase uma década participando do RapLab, esteve presente em 130 dos 150 encontros que realizamos, sendo responsável por trazer muitos dos jovens participantes, incluindo os outros dois personagens com quem conversei: Debrah e Jatobá. Minha conversa com GB ocorreu em 31 de março de 2024 e está transcrito abaixo.
GB Montsho duranta apresentação no evento Baixada Rap Festival, onde foi o campeão.
Fale um pouco sobre você? Bom, sou GB Montsho, tenho 23 anos e nasci em Nova Iguaçu, mas atualmente moro em Anchieta.
Acredito que hoje sou alguém que busca apenas viver tranquilo, tá ligado? Sou um cara que faz seus corres na política, faço parte do movimento negro e também do movimento estudantil. Além disso, sou estudante de Letras na UFRRJ, trabalho na área de revisão de texto e faço parte do diretório estudantil da minha universidade.
Além disso, dedico parte do meu tempo à escrita de poesias.
Mas na prática, eu quero estar movimentando pessoas, para que possamos alcançar uma vida tranquila para todos. Porque acredito que não podemos simplesmente ignorar. A gente não consegue mais passar batido hoje. São vários atravessamentos.
E a escolha que fiz de ser um cara do hip-hop, que busca conscientização, faz com que esses atravessamentos doam mais. Eles se tornam mais evidentes, pois não há como ser do hip-hop e não mudar sua maneira de agir perante o mundo. Não apenas em pensamento, mas também em seu comportamento nas ruas. É uma parada que te persegue. Acho que eu sou um cara normal, um estudante, um trabalhador.
Um estudante que se esforça para conseguir se manter na universidade, enfrentando muitas dificuldades. Que está indignado e deseja ter uma vida normal. Que não é essa vida que está colocada aí pras pessoas.
Você se lembra da primeira vez que participou do RapLab?
A primeira vez foi em 2016, na Arena Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, eu tinha 15 anos.
E como é que você ficou sabendo da atividade?
Foi através do Inbute. Eu lembro que comecei a querer fazer rap aos 14 anos, então me juntei com a galera que tinha um grupo de rap de São João de Meriti. Fui a um evento na Pavuna, que ocorreu no Museu do Graffiti lá.
Se não me engano, o RapLab era às quartas-feiras, e o evento era às terças. O Inbute disse que haveria algo na Arena na quarta-feira, e eu comecei a participar.
Por acaso foi quando a gente estava para fazer o rap “Rio 2017”, um rap que fizemos em 2016, falando sobre 2017. Se eu não me engano era um rap de um projeto específico.
Naquele dia, conheci muita gente, o Marcão (Baixada) estava indo para o RapLab, o Léo da XIII, a rapaziada toda. E esse RapLab foi mais cheio, porque era uma parada da Casa Fluminense, era um projeto específico.
A partir daí eu estava sempre presente. Toda quarta-feira que tinha RapLab na Arena, eu estava lá.
O que te motivou a frequentar o RapLab com tanta assiduidade naquela época e a continuar indo?
Pra mim, especificamente, foi primeiro o lance da experiência, porque eu já tinha interesse em fazer rap. Não entendia exatamente para que o RapLab era voltado, por exemplo.
O RapLab, na maioria das vezes, é feito com a galera mais crua do rap do que com quem de fato faz a parada. Eu não sabia exatamente o que era, mas sabia que era uma parada de desenvolvimento do rap, que era de graça, e que tinha a possibilidade de eu me desenvolver em alguma coisa, de gravar música e tal.
Só que quando eu chego lá e vejo uma rapaziada que entendia da parada, aí eu falo: – ‘Mano, vou continuar vindo nessa parada aqui’.
Primeiro, porque era legal, isso era um elemento. Nessa época, eu estava morando na Pavuna com a minha mãe, e aí, na quarta-feira à noite, eu não tinha nada para fazer, então era algo para eu fazer ali. Era uma galera legal, e fazendo rap.
Como eu queria viver disso, na época queria ser rapper, queria ser famoso, toda essa história. Porque a gente achava que ia começar a fazer rap e deslanchar. Eu achava que a galera tinha muito para ensinar, e tinha mesmo. Lembro que quando o Marcão (Baixada) ministrava as oficinas, ele dava várias dicas de como encaixar o flow na música, aquelas coisas que eu não sabia. Acho que essas coisas, principalmente, fizeram com que eu continuasse.
Como foi que você começou a participar desse projeto durante a pandemia? Primeiro foi essa parada do Jatobá, porque mandei mensagem no grupo em que ele estava. Lembro que o Dorgo me enviou uma mensagem falando sobre um projeto. O Dorgo me disse assim: – ‘Pô, mano, a gente queria fazer com adolescentes, de 15 a 20 anos.’ Então, mandei nos grupos, e foi nessa que veio o Jatobá.
Só que lembro que eu fazia os corres das cestas básicas e vivia no Quilombo Enraizados durante o dia. Como era pandemia e eu não tinha internet em casa, usava a internet do Enraizados. E assim fui ficando.
Lembro que eu era o único que fazia o RapLab de dentro da sala com vocês. Eu ia para o Enraizados para participar do RapLab. Não participava de casa.
E aí foi indo, tá ligado?
GB Montsho, Baltar e Dorgo, durante os encontros do RapLab.
E aí você foi ficando?
É… Eu fui ficando. Primeiro, porque acho que durante a pandemia houve o ponto alto do lockdown. Conforme ele foi se afrouxando, porque as pessoas precisavam trabalhar e várias outras coisas nesse sentido.
A cabeça das pessoas foi ficando muito loucas também, né? E tem isso, eu não ia simplesmente, mas eu participava presencialmente também.
Isso se devia à nossa troca de ideias antes do RapLab. Às vezes começávamos trocando ideias antes do RapLab, depois íamos para o RapLab, e depois a troca de ideias continuava.
Às vezes, essa troca de ideias se estendia até tarde. Lembro que era uma correria para pegar o último ônibus, porque os horários dos ônibus estavam limitados até as 21h30, devido à pandemia.
Acho que esse espaço para trocar ideias era muito interessante, porque a gente ficava filosofando. Era mais do que apenas discutir sobre rap. Houve dias em que, conforme o lockdown foi afrouxando e as mentes das pessoas ficavam agitadas, as coisas voltavam ao normal. Tive a sensação de que a participação no RapLab diminuiu. Então, íamos atrás das pessoas, e elas voltavam a frequentar novamente.
Mas esvaziava de novo. Nos dias em que estava mais vazio, às vezes a gente nem conseguia fazer rap. Mas tínhamos a troca de ideias, que era como filosofia, mas a gente podia falar sobre… sei lá, por que Malcolm X não escreveu um livro?
Falar de coisas profundas e até de uma coisa completamente “não profunda”, e falando de forma profunda de uma coisa “não profunda”. Então, eu acho que era uma coisa que deixava sempre as ideias fluindo ali.
Acho que também era uma espécie de ócio criativo, porque normalmente não temos tempo para pensar. Parece que quando estamos pensando, refletindo, maquinando algo, não estamos fazendo nada de concreto, estamos desperdiçando tempo que poderia ser utilizado para produzir algo material.
Para algumas pessoas, produzir pensamentos não é o mesmo que produzir algo material, sabe? E acredito que o RapLab era uma forma de conseguirmos produzir pensamentos sem nos sentirmos culpados.
Porque todos nós tínhamos várias coisas para fazer, mas no RapLab, acreditávamos que estávamos produzindo algo, que estávamos fazendo rap e, ao mesmo tempo, essa produção era a troca de ideias.
E não necessariamente algo muito bom surgiria dessa troca de ideias. Isso também era algo incrível. Porque não precisávamos necessariamente fazer um rap excelente em cada RapLab. Só precisávamos fazer as palavras rimarem uma com a outra, e isso já era suficiente. Mas a partir daí, várias outras ideias muito boas surgiam.”
GB Montsho se apresentando no Festival Caleidoscópio.
Dentre os 156 encontros, três temas foram os mais discutidos. O terceiro lugar ficou com a ‘questão racial’, algo relacionado à questão racial. Foram cerca de 20 encontros em que falamos sobre esse assunto. O segundo lugar foi ‘resistência’. E o primeiro lugar, correspondendo a dois terços dos encontros, foi sobre ‘luta de classes’. Por que você acha que discutimos tanto sobre luta de classes durante esse período?”
Eu até pensei que o primeiro lugar seria a questão racial, mas faz sentido ela estar em terceiro, especialmente devido à composição da galera que frequentava o RapLab. Havia muitas pessoas negras, mas era um grupo bastante diverso.
Uma coisa se destacava em relação à outra, mas as questões estavam interligadas.
E eu acho que o motivo de termos falado tanto de “luta de classes” foi justamente porque era uma coisa que unificava geral.
Como as histórias com o Jatobá. A gente vinha com um papo e o Jatobá vinha com uma reflexão totalmente diferente, da vivência dele em Rocha Miranda. E aí tinha isso, a galera da Baixada tinha outra ideia.
Por exemplo, o Dorgo e o Baltar eram de Morro Agudo; eu era do Carmari, e estava frequentemente em Morro Agudo; tinha a RVN, que era de Xerém; o Jatobá, de Rocha Miranda; o PS, de Saquarema.
Só que essa questão de ser pobre era o que impactava a todos, inclusive para manter a estrutura do RapLab funcionando. Quantas vezes foi difícil realizar o encontro porque a internet do Jatobá estava ruim?
Então, acho que isso também mostra que era uma galera muito consciente de todo o contexto em que vivíamos. Conseguíamos entender que havia um motivo para as coisas acontecerem daquela forma. Não éramos uma galera acomodada com a ideia de ser pobre. Compreender que éramos pobres porque, por exemplo, a qualidade dos alimentos que consumíamos era muito ruim, era apenas reconhecer o óbvio.
Eu acho que também éramos uma galera sedenta por conhecimento, que pensava: – ‘Ah, sou pobre, mas por que sou pobre? O que eu posso fazer a partir do momento em que entendo como pobre?’
E é por isso que acho que faz sentido esse top 3 dos temas: luta de classes, resistência e a questão racial.”
O que é formação política, no seu entendimento?
Então, no meu entendimento, acredito que a formação política segue o mesmo caminho do letramento racial. Não apenas no que diz respeito à questão racial, é claro, mas considero que alguém que possui letramento racial também possui uma formação política em relação a essa questão.
Uma pessoa com letramento racial sabe que é negro, reconhece as injustiças raciais que enfrenta e entende que o sistema pode não ser favorável a ela. Isso é parte do letramento racial.
Por outro lado, alguém com formação política não só vai entender essas coisas, como vai ser um sujeito ativo. Não vai somente entender que é negro e que enfrenta injustiças, mas vai procurar se mobilizar com outras pessoas ao seu redor, trocar ideias e trabalhar em conjunto para encontrar maneiras de combater o racismo.
Se tornará um sujeito ativo, buscando articular formas de mudar essa situação. E eu acredito que isso está totalmente relacionado ao estudo da questão racial, por exemplo, ter conhecimento de causa. Não basta apenas confiar na própria experiência; para ter formação política, é essencial compreender também as vivências das pessoas ao redor.
Para isso, é preciso minimamente ouvir, ler, conviver com pessoas diferentes que possam contribuir com essa formação ao longo da vida.
Além disso, esse processo não acontece de uma hora para outra. Não basta frequentar um curso de formação política e se considerar formado. É um processo contínuo de aprendizado, de entender outras perspectivas, de conhecer mais.
Dudu de Morro Agudo e GB Montsho durante esta conversa.
Você mencionou algo aqui certa vez que realmente me deixou intrigado, e desde então tenho refletido sobre isso com frequência: o que é exatamente a Educação Clandestina?
A Educação Clandestina é uma forma de educação não formal. Fico pensando que é chamada de clandestina porque, de certa forma, é oculta ou restrita. Não é oficialmente proibida ou institucionalmente reprimida nos dias de hoje. Não há proibição oficial de adquirir livros de autores como Clóvis Moura ou Abdias do Nascimento.
Mas, ao mesmo tempo, em algum momento, já foi assim. Certos tipos de estudos que realizamos já foram considerados subversivos. Acredito que é nesse sentido que se encaixa o conceito de Clandestino.
Apesar de precisarmos de um ensino formal devido à estrutura do sistema em que vivemos, onde é necessário ter uma formação formal para conseguir um bom emprego e desenvolver uma carreira, o conceito de Clandestino permanece relevante.
Pois, para conseguirmos nos desenvolver enquanto seres humanos, precisamos da educação clandestina, pois o ensino formal tem suas limitações e ele é historicamente negado para nós. Na escola, aprendemos a ler, porém não desenvolvemos plenamente habilidades como raciocínio crítico e interpretação dos significados implícitos. Acredito que isso é função da educação clandestina, e eu acredito que essa educação clandestina precisa ser desenvolvida entre nós.
Eu penso muito sobre a educação popular, especialmente sobre aqueles que utilizam métodos freirianos para alfabetização. Acho isso uma coisa incrível. Embora eu já tenha lido sobre Paulo Freire, nunca havia presenciado na prática o processo de alfabetização, a galera alfabetizar um pedreiro falando sobre ele ser pedreiro, os caras falam de reforma agrária.
O que você diria para um jovem para participar de uma atividade do RapLab?
É desafiador, porque acredito que depende do contexto em que eu estaria com esse jovem.
Penso que o RapLab cumpre diferentes funções sociais. Ele proporciona um espaço de socialização, onde as pessoas podem trocar ideias e fazer amizades.
Além disso, serve como um espaço de educação, ensinando fundamentos básicos para aqueles que desejam se tornar MCs. É impressionante como o RapLab consegue ensinar fundamentos básicos de como ser um MC que faz total diferença.
Se observarmos as pessoas que passaram pelo RapLab, como o Inbute, por exemplo, podemos perceber que a maneira como elas trabalham na música hoje é completamente diferente daquelas que não passaram pelo projeto.
Porque essas pessoas tiveram uma rede de outras pessoas que ensinaram como fazer rap, como mardar um flow, e isso não era a função do RapLab, não está no programa do RapLab fazer isso. Mas as pessoas fazem. Você consegue aprender outras coisas, porque você não vai se prender só naquilo que é o objetivo central, tem outras coisas que atravessam.
Acho que depende muito de onde esse jovem vem. Mas, de modo geral, eu diria que o RapLab é um lugar onde ele pode aprender de uma maneira muito diferente da escola. No RapLab, o aprendizado não é abordado da mesma forma que na escola. Ele vai ter gosto por aprender, tá ligado? E ele vai trocar ideia com gente que é igual a ele, o que torna a experiência divertida.
Não é um aprendizado chato. Muitos jovens associam educação à chatice. Eles pensam: – “Vou para a escola, que chato”. No entanto, no RapLab, a mentalidade é diferente: “Cara, vou lá aprender e isso vai ser muito legal, além de estar com uma galera bacana”.
GB nos encontros para a gravação das músicas do RapLab
Como você convenceria a diretora de uma escola? Você usaria os mesmos argumentos que usou com o estudante?
Então, para a diretora, acho que já vai ser diferente.
Para a direção de uma escola, o RapLab representa uma oportunidade valiosa para enriquecer a experiência educacional dos alunos. Primeiramente, muitas escolas enfrentam limitações no acesso a atividades culturais, e isso faz falta no currículo de formação de um estudante.
E eu acho que só esse elemento já é o suficiente para uma pessoa querer ir RapLab na sua escola. O RapLab é uma iniciativa que aglutina todos os estudantes. Onde todos os estudantes tem oportunidades de aprender conforme o seu tempo. Desde os mais reservados e tímidos até os mais extrovertidos e barulhentos, o RapLab consegue alcançar todos os alunos.
Quando estamos envolvidos no RapLab e percebemos que há um aluno mais retraído, conseguimos incentivá-lo a participar através da atmosfera criada no ambiente, estimulando-o a se expressar.
Eu não me lembro de um RapLab em que alguém não tenha falado; pode ter ocorrido, mas não me recordo. E o que aquela pessoa diz, as outras não encaram como algo determinante, entende? Porque o RapLab não busca ser certo ou errado, ele simplesmente existe. Portanto, as pessoas se sentem mais à vontade para expressar suas opiniões, pois há espaço para o contraditório.
Existe espaço para você dizer que essa parede é azul, outro afirmar que é amarela, e ainda outro argumentar que é vermelha, e então discutir sobre isso. Por essa razão, acredito que o RapLab é capaz de reunir todos os tipos de estudantes, desde os mais agitados até os mais reservados, desde aqueles com dificuldades de alfabetização até os que têm mais facilidade nessa área. o RapLab consegue aglutinar todos eles.
Isso já é argumento suficiente para um diretor querer o RapLab em sua escola.
Raulf Henrique Gomes Jatobá, de 20 anos, é natural de Rocha Miranda, situada na Zona Norte do Rio de Janeiro. Iniciou no RapLab em 2020, aos 16 anos de idade. Destacou-se como um dos participantes mais assíduos, participando de aproximadamente 90 encontros de um total de 150.
É importante ressaltar que sua participação no projeto teve início a partir do trigésimo encontro. Atualmente, ele se identifica como Jatobá.
Tive uma conversa com ele em 28 de março de 2024, de cerca de 40 minutos, discutindo sua participação no RapLab durante o período da pandemia.
Convidei-o para revisitar comigo esse período, visando ajudar-me a responder algumas questões para minha tese de doutorado, principalmente relacionadas ao conceito de formação política e o papel do RapLab nesse processo, contudo a conversa abriu caminho para diversas reflexões.
A seguir, trago uma transcrição de nossa conversa, destacando os pontos abordados por Jatobá.
Para iniciar a conversa, perguntei como ele tomou conhecimento dos encontros do RapLab durante a pandemia.
Em seguida, explorei qual encontro teve o maior impacto nele, falamos sobre o tema mais recorrente “a luta de classes” e, finalmente, sobre sua compreensão sobre o que é formação política.
Ilistração de Jatobá gerada via software de edição de imagens.
Como você ficou sabendo dos encontros do RapLab durante a pandemia?
Eu sempre fiz parte do movimento estudantil. Na época, o GB (Montsho) estava envolvido também. Ele acabou me convidando para o RapLab. Como eu já estava envolvido com arte e cultura, me interessei.
Acreditei que poderia ser interessante. Ele tinha mandado pra rapaziada do coletivo. Tanto é que, na época, veio o Lil, o Paulo, o Santoro, uma rapaziada assim. Quando ele (GB Montsho) )divulgou pra mim, eu achei que fosse algo pontual. Que era uma oficina e acabou. Acreditei que não fosse algo que tivesse uma continuidade, assim, toda semana, sabe?
Depois que eu fui entender que fazia parte de algo maior, que havia outras ações também, tá ligado? Foi quando eu conheci o Enraizados e todo mundo que é de lá.
Qual foi sua primeira impressão quando foi convidado para participar? Como você interpretou o convite inicial? Pode descrever a sua impressão sobre a dinâmica das atividades e o objetivo por trás delas?
Eu achei que era uma oficina que ia morrer ali. Que não teria outras edições, uma continuidade, sabe? Achei bem interessante, acho que por causa da organicidade de como tudo se dava, em cada dinâmica, e essa sensação também de que você está sendo representado mesmo que não escolha a frase [do rap] necessariamente.
Porque às vezes a tua ideia gerava uma reflexão, e a outra pessoa dava uma palavra, e uma terceira pessoa pegava essa palavra e criava uma frase. Essa sensação de um pensar coletivo. De uma reflexão coletiva. De um espaço para troca. Uma troca natural. Eu acho que esse ritual semanal foi pra mim o grande diferencial, esse rolê da continuidade.
Porque querendo ou não, não é que uma oficina pontual não seja efetiva, ela tem a sua relevância, mas a continuidade dá espaço para essa formação mais aprofundada. É como quando você planta algo, qualquer coisa que seja. Não é do dia pra noite que vai florescer. Tem que plantar, ficar regando, regando, regando todo dia.
Acho que isso tem a ver com esse lance de formação política, no sentido de que é uma parada que está em constante construção. E nunca vai chegar ao ponto final, é sempre continuidade.
Muitas pessoas que participaram do RapLab durante a pandemia foram apenas duas ou três vezes, sem continuar tanto. O que te motivou a participar de tantos encontros do RapLab?
Eu acho que, sendo muito sincero, a principal coisa que eu vi ali naquele momento e não vi em outro lugar durante toda a minha vida em que eu já trabalhei com arte, com cultura, foi ali, onde mais percebi a essência do hip-hop, porque para mim a essência do hip-hop é a coletividade, é entender que somos um coletivo, entende?
O hip-hop surge no meio de várias brigas de facção e usa a arte e a cultura simplesmente como uma forma de explicar que a gente não precisa ficar se matando. A gente consegue ver quem é melhor, digamos assim, por meio da arte. Um batalhando contra o outro de diferentes formas. Aí vem vários fundamentos, desde as batalhas às festas.
Várias batalhas de MC, de dança, de Bboy. Eu acho que esse espaço coletivo é útil para que possamos entender as nossas diferenças. E a partir dessas diferenças entender que tem uma coisa ali que une a gente.
A partir desse coletivo, construir conhecimento, gerar arte, diversão, tá ligado?
Eu acho que esse é o principal potencial do Rap Lab. Esse é um espaço orgânico, uma parada que se tu olhar de fora, sem entender a profundidade dele, vai pensar que é simplesmente uma troca de ideia de maluco, que no final os caras fazem um rap. Mas o bagulho tem várias trocas, várias produções de conhecimento.
Eu estava numa fase de reflexão e compreendi que as coisas surgem da troca de ideias, de descobrir, na verdade, essa potência da troca de ideias, que é algo muito menosprezado, considerando o que é geralmente valorizado como cultura. Essa troca de ideias é vista como uma sub-epistemologia, digamos assim.
E é algo muito comum no cotidiano das periferias, das favelas, a troca de ideia é uma das coisas mais presentes ali. E geralmente é a principal terapia.Por isso, às vezes, o RapLab era justamente esse espaço para mim também. Como o RapLab tinha essa questão de você escolher o tema, eu pensei que era uma oportunidade de expressar as coisas que estavam presas na cabeça há anos. Coisas que nunca tive oportunidade de desabafar, de trocar ideias mais profundas com alguém, ainda mais para desenvolver em rap.
Quanto ao rap, já era algo que eu estava com “sangue no olho”, fazendo todo dia. Uma coisa que eu amava fazer. Então, acho que essa própria experiência de fazer um rap coletivo já é muito massa, porque eu sempre fiz sozinho. Então, a experiência de fazer algo coletivo, pra mim era muito incrível.
Eu nunca tinha pisado no estúdio. A primeira vez que eu pisei pra gravar foi no Enraizados, a partir do RapLab. Depois eu fui em outro estúdio para gravar uma cypher, mas mesmo assim, pra ser muito sincero, de lá pra cá ainda não é uma vivência que eu tenho. Porque pra escrever eu preciso de um papel e caneta, e hoje em dia nem do papel e caneta, com o celular eu consigo escrever tranquilo.
Mas pro estúdio já demanda uma outra condição financeira, um outro investimento, um outro recurso para estar no estúdio, de você ter um beat. E se você está indo pro estúdio, você já pensa em lançar música. Então, você precisa ter algum produtor pra mixar, masterizar, é outro rolê de investimento também.
Flávia e Jatobá durante a atividade “Acampamento Musical”, no Quilombo Enraizados
Qual dos encontros do RapLab mais te marcou? Se não me engano, fizemos 156 encontros. Você consegue lembrar de algum que te marcou especialmente? Vamos refletir sobre isso por um momento.
Tiveram vários encontros que me marcaram, vários que foram muito legais, aquelas trocas que davam vontade de ficar ali umas cinco horas trocando ideia. Nem dava vontade de nem fazer o rap. Mas a gente ainda tinha um cronograma, um horário ali para cumprir.
Mas teve um específico que eu acho que foi um dos que mais me marcou, que foi um rap que fizemos só com gírias. Porque é algo que desde cedo, desde pequeno, sempre esteve presente em todos os espaços que frequentei. Sempre teve esse aspecto de ter um linguajar diferente, esse linguajar que é visto como um sublinguajar, digamos assim, uma sublinguagem, é visto como menor.
Então fizemos um rap só com gírias, uma música inteira usando apenas gírias. Cada verso tinha uma gíria. Fizemos isso porque a Olga, quando chegou nos encontros, não entendia o que era “ainda”, ou algo assim. Então decidimos fazer uma música para ensinar para a Olga.
Por que você acha que a maioria das conversas no RapLab se concentrava tanto na questão da luta de classes?
Porque não tem como não falar. São coisas que constituem, fundamentalmente, a nossa identidade social. Então elas vão estar presentes ali. São coisas que a gente lida direto, todo dia. E quando falo “a gente”, tô falando da periferia, do pobre, do trabalhador, quem tá nesse espaço de marginalização.
Mas dentro disso tem vários outros recortes que foram abarcados em cada edição (do RapLab) específica. Teve edição que a gente tinha um recorte mais de pessoas pretas, tinha outras edições que a gente falava de outros recortes, como a realidade da mulher, disso e daquilo, dessa intersecção entre vários recortes sociais.
A gente foi construindo essa troca que acaba sendo plural, no sentido de que envolve pessoas com diferentes realidades, identidades sociais. E de certa forma, acredito que isso tenha sido espontâneo também. Acredito muito nisso, porque o tema era escolhido na hora. Por não ser algo pré-estabelecido, do tipo “o tema vai ser esse e pronto”.
Se fosse assim, acho que dificilmente teria participado de tantas edições, se já houvesse um tema pré-definido. Às vezes estou num dia em que estou muito inclinado a falar sobre algo específico, e se surgir outro tema com o qual não estou conectado naquele momento, já não me interesso tanto. Acredito que essa flexibilidade seja importante também.
Por exemplo, esse RapLab específico das gírias, onde fizemos um rap usando apenas gírias, eu acho que marcou porque em qualquer espaço que eu estivesse, sempre me vi sendo visto como uma pessoa diferente, olhado de forma diferente, como se as pessoas dissessem “olha aquele cara ali, falando estranho”.
Então ver isso partindo de outra rapaziada, fazendo isso junto também, e ver isso no produto final, foi bom. Acho que outra parada que eu gostei foi a leveza desse assunto. Como a gente sempre falava sobre luta em toda edição, chegava um momento em que a gente pensava: “Pô, só estamos falando sobre isso, vamos abordar algo que seja nosso, algo que a gente não precise ficar batendo neurose.”
Foi uma questão mesmo de afirmação nesse sentido, sabe? E não deixa de ser luta no sentido de você reafirmar o modo de fala que já tem uma contundência só por existir. Eu lembro que era uma letra que falava de várias coisas, falava de marcar com a mina, não sei mais o que. Falava várias coisas de uma forma muito orgânica, porque tinha um menino que estava paquerando uma menina de Manaus e trouxe essa discussão pro RapLab.
Jatobá e outras participantes do CPPEC durante a produção do Sarau Poetas Compulsivos, no Quilombo Enraizados.
O que você entende por formação política?
Eu acredito que a formação política é uma parada que é continuada, ela nunca termina, ela tem um momento tipo de um start inicial. Eu acredito que esse momento é justamente quando a gente desperta esse senso crítico em relação ao mundo.
A gente desperta essa indignação com o mundo, que a gente percebe as coisas que acontecem, então a gente se entende como um ser político. Entende que o político não é simplesmente a parada chata que a gente tem que ir de 4 em 4 anos votar, digo, de dois em dois, no caso.
Que é muito mais um rolê que é feito no dia-a-dia. Eu acho que essa virada de chave pra mim foi quando eu entendi a micropolítica como muito mais presente e eficaz do que a macropolítica. E eu acho que também a micropolítica me fez acreditar na política de certa forma. A gente é irrelevante pro macro, a gente não tem força, a gente é impotente pra mudar alguma coisa.
O próprio RapLab é um ótimo exemplo de micropolítica. Esse processo de despertar a consciência, de gerar um senso crítico, promover uma produção de conhecimento, a troca de ideia, a reflexão sobre determinados assuntos e pautas, esse desenvolvimento interno. Isso porque o público principal do Rap Lab era muito jovem.
Esse papo de autoconhecimento, todo esse desenvolvimento pessoal, ao gerar isso em cada indivíduo, esse conhecimento que se desenvolvia organicamente a cada semana, é um ótimo exemplo de micropolítica.
Outro exemplo de micropolítica é a leitura de um texto teatral em grupo, ou então um sarau. São atividades que não necessariamente precisam estar ligadas à arte, mas fazem parte do cotidiano. Por exemplo, um evento beneficente na comunidade, como um corte de cabelo grátis, isso é micropolítica. São várias ações que ocorrem fora do contexto geral, macro.
Enquanto os políticos podem fazer mudanças que afetam a vida de todos com uma simples canetada, com a micropolítica você vai cultivando aos poucos, movimentando gradualmente e despertando essa percepção do que é essa formação política também.
Porque formação política parte do ponto que você se entende como ser político. Então, eu acho que quando você se entende como ser político, tu entende que, primeiro precisa entender o que aconteceu na história, no passado, para não repetir as mesmas besteiras que ocorreram. Entender o contexto de tudo, entender o contexto atual, e ser visionário no sentido de entender para onde as coisas estão caminhando também. Se está caminhando para tal lado, entender que alguns caminhos não são interessantes, então é necessário tentar mudar a nossa direção. Acho que é nesse sentido.
Você já usou o RapLab fora do nosso grupo? Se sim, onde e como foi essa experiência?
Já utilizei o RapLab, não de forma literal, mas naquela ideia da antropofagia cultural, de me inspirar em certos aspectos do RapLab. Por exemplo, na metodologia das oficinas que eu dou atualmente pelo “VidArtEducação”, elas partem de um caminho que foi influenciado pelo RapLab em vários aspectos.
Além disso, ao longo dos últimos sete anos, tive outras influências neste percurso artístico e cultural, mas o RapLab foi uma das mais significativas.
Qual é a atividade que você está realizando hoje? Quem é o Raulf atualmente?
Eu sou graduando em Filosofia, estou no quinto período no Pedro II e sou um artista múltiplo. A primeira coisa que eu penso é que sou um artista múltiplo. Que se eu começar a destrinchar, digo que faço isso e faço aquilo, as pessoas começam a rir, porque acham que não é possível.
Jatobá gravando nos encontros do RapLab.
Até que ponto o RapLab foi importante para transformar Raulf em Jatobá?
Eu sou uma pessoa que acredita profundamente no rolê do “efeito borboleta”. Então, cada coisinha que está envolvida na minha história, na minha trajetória, constitui o que eu sou hoje.
No final das contas, é sempre sobre o pequeno, sobre a relevância do pequeno. E não no pequeno no sentido de menosprezar, mas pelo contrário, de potencializar aquilo, de entender a importância do pequeno diante da conjuntura como um todo.
Eu tenho certeza, não é uma especulação, que se não fosse pelo RapLab eu não seria quem eu sou hoje, não teria a mesma profundidade em relação à minha arte, à escrita, a tudo, da construção que eu tenho hoje. Contribuiu demais nessa produção de conhecimento, a produção da cosmopercepção, de mundo, de tudo.
Muitas vezes, o que faz a pessoa querer estar no RapLab também é a troca de corredor, que é para além da atividade em si. Que seria toda a relação de afeto que tem entre eu e tu, o Dorgo, o Baltar, eu e todos na comunidade do Enraizados, que construímos ao longo do tempo.
Acredito que, querendo ou não, afeto também é uma palavra-chave nesse contexto como um todo. Só consigo ser afetado pelo conhecimento, por aquela informação, ou qualquer coisa que seja, a partir do momento em que há afeto envolvido. Acreditando muito nesse conceito do efeito borboleta, no qual pequenas ações têm grandes repercussões, o RapLab contribuiu significativamente para transformar quem eu era na pessoa que sou hoje.
Jatobá e demais participantes do Acampamento Musical, no Quilombo Enraizados.
Em vez de perguntar o que o RapLab significa para você, gostaria que você me mostrasse como você convidaria um jovem amigo ou amiga para participar do RapLab.
Uma pessoa que está na mesma realidade que eu. Primeira coisa, pergunto a ela se já produziu uma música ou se já se imaginou produzindo uma. Depois, eu conto que o RapLab é literalmente uma atividade na qual, a partir de uma troca de ideias, nós vamos produzir uma música e, no final, ela sairá sendo co-autora dela.
Eu diria: “E aí, tropa, tá ligado, bora? O bagulho é tranquilão, tu vai chegar lá, você pode inclusive escolher o tema que a gente vai trocar ideia. Chega lá, troca ideia, depois tem vários momentos da dinâmica, tu vai falar umas palavras, depois vai falar uns versos e no final vai sair uma música”.
Aí o maluco vai falar: – “Pô, mentira!!! Como assim, cara?”
Eu acho que hoje em dia isso é um pouco menos, mas historicamente foi muito construída essa ideia em relação à arte, quem produz isso tem dom, já nasce com esse bagulho, essa elitização partia muito desse discurso. Eu acho que a ideia é quebrar com isso de uma forma que seja orgânica, que seja simples, demonstrado que dá pra fazer.
Essa é a forma mais simples e direta também de quebrar com esse paradigma.
É uma música com a mesma potência das músicas que são “estouradas”; muitas vezes, o que difere é o dinheiro investido na divulgação, no marketing, etc., e não a qualidade do produto cultural em si.
Para convencer uma diretora de escola, você utilizaria os mesmos argumentos?
Eu acredito que de uma pessoa pra outra já é outro discurso, porque cada pessoa é única, cada pessoa tem uma particularidade que você tem que ir naquela particularidade da pessoa, não tem como você generalizar. Eu acho que, inclusive, esse é um dos maiores problemas da educação como um todo.
Acho que a forma que eu chegaria nessa diretora, primeiro dando a entender pra ela o que aquilo poderia agregar na escola dela, de uma forma geral. Mas antes disso eu tenho que entender também com o que ela se preocupa, se ela está preocupada realmente com o desenvolvimento dos estudantes, ou se ela está preocupada com outras coisas.
Vou falar que o RapLab é uma metodologia de ensino que acredita na construção coletiva, na participação de todos, até mesmo aqueles alunos que são mais difíceis, aqueles alunos que costumam não participar das atividades.
É um ambiente de troca e de protagonismo do educando num processo de ensino-aprendizagem, onde eles contribuem para construção de um produto artístico-cultural, que é uma música, um rap, que vai ser construído no final e gravado.
Ressaltar a ressonância que essa atividade terá naquela turma específica, e cada estudante compreenderá também que, para além daquele momento específico, terá a oportunidade de construir isso em outros momentos, podendo dar continuidade ao processo. É importante que o estudante compreenda a construção do conhecimento e perceba a importância de sua presença na sala de aula, participando ativamente do processo. Ele se afetar e afetar os outros, em relação a essa troca.
De dar mais espaço e abertura para o professor, permitindo que ele absorva ideias que antes talvez fossem bloqueadas.
Entender também a atmosfera que o RapLab transmite, de ser uma atividade para todos, pois é coletiva. Não seria possível limitá-la a um grupo específico, e acredito que muitas das falhas das atividades propostas pela escola, pelo sistema educacional tradicional, estão justamente nisso. Elas são direcionadas para uma camada específica, para os alunos que são “nerds” e gostam daquilo, mas nem todos têm esse interesse.
Sobre Jatobá:
https://www.instagram.com/jatobrabo
https://instabio.cc/jatobrabo
Em uma vibrante iniciativa que promete deixar uma marca duradoura na cena cultural de Salvador, o Colégio Estadual Ypiranga, situado no bairro Dois de Julho, será o epicentro de um projeto notável que busca transformar vidas através do Hip Hop. No dia 16 de março de 2024, das 14h30 às 16h, trinta crianças e adolescentes terão a oportunidade de mergulhar nas múltiplas facetas da Cultura Hip Hop, graças a um evento financiado pela Bolsa Estímulo Escola Criativa Boca de Brasa.
Workshops Pioneiros
Este projeto, que busca romper barreiras e inspirar a juventude local, contará com workshops simultâneos liderados por renomados artistas e educadores da cena Hip Hop. França Mahin, poeta, dançarino, MC e arte educador, conduzirá o workshop “O que é Hip Hop”, explorando as ferramentas de transformação e os elementos fundamentais de ritmo e poesia. O tema central, “Protagonismo e Resistência”, destaca a importância do indivíduo na moldagem da transformação social.
Ao mesmo tempo, Barbara Mello, também conhecida como Felina, integrante do Coletivo Pixa e graduanda em Artes Visuais na UFBA, guiará o workshop de Grafite, explorando a liberdade e a expressão informativa através dessa forma única de arte urbana.
Os entusiastas do Breakdance terão a chance de aprender com Marcola, estudioso desde 2009, que compartilhará sua experiência autodidata em diversas técnicas, como hip hop, house e danças afro urbanas, durante o workshop de BreakDance. Sua trajetória reflete um compromisso constante com a diversidade e excelência na formação artística.
Evento Final Imperdível
No dia seguinte, 17 de março, das 15h às 17h, o Coreto Largo Dois de Julho será o palco para apresentações fascinantes. Os participantes dos workshops exibirão o resultado de seus esforços, incluindo uma Batalha de Rima, recital poético, breakdance e a criação de um mural de grafite no espaço público. O evento é aberto ao público, oferecendo à comunidade a oportunidade de vivenciar a expressão artística desses jovens talentosos e celebrar a Cultura Hip Hop.
Oportunidade de Engajamento Comunitário
A comunidade local é convidada a se envolver nas atividades do projeto, proporcionando uma alternativa construtiva para lidar com questões sociais. Além disso, a iniciativa prevê a produção de um mini documentário, registrando todo o processo criativo, garantindo que as contribuições individuais e coletivas sejam eternizadas.
Expansão do Impacto
O projeto inovador, viabilizado pela Bolsa Estímulo Escola Criativa Boca de Brasa, não se limita ao Colégio Ypiranga. A equipe organizadora já planeja estender essa experiência enriquecedora para outros alunos da instituição e para diferentes instituições educacionais, buscando ampliar o alcance e promover a Cultura Hip Hop em diversas comunidades.
Nova Iguaçu, 13 de dezebmro de 2023 – O Ministério da Cultura, por meio da Portaria MinC nº 103, de 12 de dezembro de 2023, anunciou hoje a prorrogação do prazo de inscrições para o Edital de Premiação – Construção Nacional da Cultura Hip-Hop 2023.
A Ministra de Estado da Cultura, Margareth Menezes, fundamentando-se nas atribuições conferidas pela Constituição Federal e no Decreto nº 11.336, de 1º de janeiro de 2023, considerou a necessidade de assegurar uma distribuição mais equitativa dos recursos, garantindo uma representação cultural justa em todo o país.
A prorrogação se deve à busca pelo equilíbrio na distribuição estadual e regional dos recursos, visando promover maior participação e representação em todas as categorias, especialmente nas Instituições privadas sem fins lucrativos (com CNPJ) e Grupos/Coletivos/Crews (sem CNPJ), em conformidade com o princípio da ampla concorrência.
Principais Pontos da Portaria:
1. Reabertura do prazo de inscrições para o Edital de Premiação – Construção Nacional da Cultura Hip-Hop 2023.
2. Novo prazo até o dia 25 de dezembro de 2023, às 23h59 – horário de Brasília.
3. A medida busca garantir representatividade cultural e equidade na distribuição de recursos.
4. A Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
O Ministério da Cultura incentiva todos os interessados a participarem deste importante edital, contribuindo para o fortalecimento e reconhecimento da Cultura Hip-Hop em todo o território nacional.
Para mais informações e orientações sobre o processo de inscrição, consulte o Edital de Seleção Pública MinC nº 10, de 25 de outubro de 2023, disponível no Diário Oficial da União de 26 de outubro de 2023.
### Sobre o Ministério da Cultura
https://www.gov.br/cultura/pt-br
Transformando Arte em Ativismo e Refletindo sobre a Desigualdade Social
Nova Iguaçu, RJ – O Festival Caleidoscópio está de volta em sua nona edição, prometendo uma experiência única que transcende os limites da arte. Este evento, que vai muito além de um festival, se consolida como uma fusão entre arte e ativismo, um espaço transformador que incita a reflexão profunda sobre a persistente desigualdade social no Brasil.
Desde sua estreia em 2015, o Festival Caleidoscópio tem sido um ponto de convergência para jovens artistas negros e periféricos. Ele se destaca ao oferecer um ambiente propício para encontros e expressões, transformando fragmentos individuais em uma imagem coletiva de beleza extraordinária.
A escolha da localização não é acidental. O festival encontra sua casa nos bairros da Baixada Fluminense, com a Praça Armando Pires, em Morro Agudo, Nova Iguaçu, como epicentro de suas atividades. Este local desafia o estigma violento associado a certas áreas, celebrando a arte como contraponto e inspiração para superar desafios.
A programação diversificada do Festival Caleidoscópio é um verdadeiro festim de expressões artísticas. Desde shows, feira criativa, batalhas de MCs, gastronomia de rua, painéis de graffiti, DJs, biblioteca coletiva, saraus de poesia, exposições e até espaço recreativo para crianças – o festival incorpora uma riqueza de experiências que cativam e inspiram os visitantes.
A edição de 2023 tem um significado especial, marcando os 50 anos da cultura hip hop. Este ano, o CaleidoKids será uma das atrações mais aguardadas, oferecendo um espaço dedicado às crianças com brinquedos, livros e atividades diversas, introduzindo os pequenos ao universo hip hop.
O Festival Caleidoscópio sempre ergueu bandeiras significativas. Desde a luta contra o “Extermínio da Juventude Negra” até campanhas pela paz na Baixada Fluminense, o festival se tornou uma voz poderosa em questões sociais.
PROGRAMAÇÃO
– 10:00 – CaleidoKids + Painel de Graffiti + Feira Criativa + Exposições
– 14:00 – PALCO DE CRIA
– 15:45 – DJ
– 16:00 – SLAM MORRO AGUDO
– 17:00 – RODA DE CONVERSAS – 50 ANOS DO HIP HOP – Com Edd Wheeler, Mad, FML, Sandro Pinah e DJ Raffa
– 18:30 – BAILE DA IMPERATRIZ
– 19:30 – BATALHA DE MORREBA (BLOCO 01)
– 20:10 – SARAU POETAS COMPULSIVOS – ABERTURA – Lisa Castro & Átomo Pseudopoeta
– 20:15 – INBUTE POETA
– 20:30 – MICROFONE ABERTO
– 20:45 – ADRIELLE
– 21:00 – YOÚN
– 21:30 – BATALHA DE MORREBA (BLOCO 02)
– 22:00 – MAUI
– 22:30 – BATALHA DE MORREBA (FINAL)
– 22:50 – DJ RAFFA
Com uma programação intensa e diversificada, o Festival Caleidoscópio 2023 promete uma jornada artística e cultural que celebrará a riqueza da Baixada Fluminense e marcará os 50 anos da cultura hip hop. Para mais informações e para se inscrever em atividades, acesse o site oficial do festival: http://www.festivalcaleidoscopio.com.br
SERVIÇO:
Festival Caleidoscópio 202 Data: 07 de outubro de 2023 Local: Praça de Morro Agudo Horário: Das 10:00 às 00:00
Para solicitar entrevistas, mais informações sobre a programação ou imagens em alta resolução, entre em contato com nossa assessoria de imprensa em:
Inspirados pelo movimento do Rio de Janeiro, o Coletivo Vozes da Rua, junto à Comissão de Relações Étnico-Raciais (CRER), do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG subsede sudeste), e ao Kitembo, Laboratório de Estudos da Subjetivdade e Cultura Afro-Brasileira da Universidade Federal Fluminense (UFF), se insere no cronograma de atividades dos “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo” e convida toda a população de Juiz de Fora e região, especialmente do bairro Santa Cândida, para conhecer, refletir e debater a DIVERSIDADE FEMININA NEGRA E PERIFÉRICA.
As atividades previstas no evento são:
Lançamento dos livros “Lelia González: Primavera Para Rosas Negras” e “Beatriz Nascimento Quilombola e Intelectual: Possibilidade nos dias de destruição”, ambos organizados e editados pela União dos Coletivos Pan-Africanistas (UCPA);
Exibição do documentário “Ori”, de Raquel Gerber (com pesquisa e narração da intelectual Beatriz Nascimento);
Roda de conversa com a participação de mulheres negras influentes na cultura e na academia e demais mulheres ligadas à comunidade do bairro. A ideia é fazer a troca de conhecimentos e saberes distintos sobre a diversidade feminina, principalmente negra e periférica;
Convidados:
Coletivo Ocupa Alemão: Favela/Quilombo (Complexo do Alemão/RJ)
União dos Coletivos Pan Africanistas (SP)
Lu Bsbgirl (Campinas/SP)
Jornalista Sandra Martins (UFRJ– Niterói/RJ)
Professora Claudia Lanhi (FACOM/UFJF)
Professora Daniela Auad (FACED/UFJF)
Além, é claro, dos membros do Coletivo Vozes da Rua, da Comissão Relações Étnico-Raciais na Psicologia Sudeste/CRP-MG e do KITEMBO.
SERVIÇO
DIA: 23 de março de 2019
HORÁRIO: 15h
LOCAL: Rua Jorge Raimundo, número 531, São Benedito, Juiz de Fora/MG (Escola Municipal Santa Cândida)
LINHAS DE ÔNIBUS: 422 (desce no ponto final) e 411
Evento no facebook: https://web.facebook.com/events/1150724725106076