Tag: favela

  • A revolução sonora da Rocinha: A história da equipe Status Disco Dance e os bailes que transformaram uma geração

    A revolução sonora da Rocinha: A história da equipe Status Disco Dance e os bailes que transformaram uma geração

    Introdução

    Na vastidão da Rocinha, maior favela da América Latina, uma revolução cultural e musical teve início em 1978, impulsionada pelo som que ecoava das caixas de som da Status Disco Dance.

    Fundada por Ricardo Pereira e seu parceiro Paulo Roberto, conhecido como Beto, a Status Disco Dance não só embalou a vida de milhares de jovens da comunidade, mas também deixou uma marca permanente na história dos bailes populares cariocas. Essa matéria busca resgatar a memória de uma época em que a música, os encontros e a comunidade se uniram para criar um legado que perdura até hoje.

    Rocinha em 1979

    O Início da Jornada

    A história da Status Disco Dance começa com a visão de Ricardo Pereira, que aos 20 anos decidiu criar uma equipe de som que pudesse trazer para a Rocinha o mesmo tipo de som que fazia sucesso nos bailes do Rio de Janeiro. “A Status Disco Dance foi criada em 1978,
    para ser mais exato. Começamos devagar, fazendo as coisas bonitinho. Inicialmente, chamava-se Status Discoteque, mas depois trocamos para Status Disco Dance”, relembra Ricardo.

    O objetivo era claro: levar para a favela o que de melhor havia na música, criando uma alternativa de lazer para os jovens que enfrentavam a dura realidade de viver em uma das áreas mais carentes do Rio de Janeiro.

    Status disco dance 3 Junho de 1984

    Status disco dance – Paulo Roberto (O Beto) em maio de 1981. Salão de Festas no Alto da Boa Vista

    A Criação da Equipe

    O contexto em que a Status Disco Dance nasceu não poderia ser mais desafiador. A Rocinha, conhecida por sua densidade populacional e pela falta de infraestrutura, era também um caldeirão de cultura e resistência.

    “A ideia de criar uma equipe partiu de mim e de um amigo que tenho até hoje, o Paulo Roberto, que a gente chama de Beto. Ele sugeriu: ‘Vamos fazer a nossa equipe, porque o som que está tocando aqui não é o som que toca nos bailes lá fora’. Foi aí que começou a mudança”, explica Ricardo.

    A partir dessa decisão, a dupla começou a construir o que se tornaria uma das mais icônicas equipes de som da história da favela.

    24 de junho de 1986 no antigo barracão do Império da Gávea

    Julho de 1986 – Colégio Paula Brito

    Julho de 1986

    Os Primeiros Passos e os Desafios

    Construir uma equipe de som de sucesso não era uma tarefa fácil. Ricardo e Beto enfrentaram inúmeros desafios, desde a compra de equipamentos até a criação de uma identidade sonora que se destacasse. “Meu único parceiro no desenvolvimento da equipe foi o Beto. Fizemos tudo sozinhos: criamos, compramos materiais, e organizamos os bailes”, conta Ricardo.

    Para garantir que os bailes da Status se diferenciassem, a dupla frequentava regularmente o malódromo, um ponto de encontro icônico no centro do Rio de Janeiro, conhecido por ser o lugar onde os maiores DJs e donos de equipes de som do país adquiriam seus discos importados.

    O Malódromo: O Coração da Música Importada

    Nos anos 80, o malódromo, localizado nas proximidades do Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, era o epicentro do comércio de discos importados no Rio de Janeiro. Ali, vendedores como Machado, mais conhecido como DJ Nazz, operavam verdadeiras lojas a céu aberto, vendendo discos diretamente do chão para quem chegasse primeiro.

    Ricardo relembra a intensidade dessas visitas: “Eu corria muito atrás dos discos. Trabalhava numa empresa e, no meu horário de almoço, ia para as lojas pesquisar”, destaca. Esses discos, que vinham de lugares como Miami e Nova Iorque, eram essenciais para manter a qualidade e a inovação musical dos bailes da Status.

    Esquema de auto-falantes e carimbos da Status Disco Dance.

    O Impacto dos Bailes na Comunidade

    Os bailes da Status Disco Dance rapidamente se tornaram o ponto de encontro preferido dos jovens da Rocinha. Naquela época, a violência e a falta de opções de lazer faziam dos bailes uma válvula de escape crucial. “Naquela época, a Rocinha passava por muita violência e não havia muito o que fazer. A única opção era ir ao baile.

    Os bailes da Rocinha eram tão bons que até hoje encontro pessoas que dizem estar casadas graças ao baile da Status Disco Dance”, diz Ricardo com orgulho.

    Status disco dance

    “Sabe quando uma criança conhece um parque de diversões pela primeira vez? Era assim que eu me sentia na Status Disco Dance”. Ricardo Pereira

    Ricardo Pereira de camisa verde e o DJ Piu, na época o melhor DJ da Rocinha

    Artistas e DJs: A Alma dos Bailes

    O sucesso dos bailes também se deve aos artistas e DJs que passaram pela Status Disco Dance. Além de Ricardo, que comandava as pick-ups, a equipe contava com o talento de DJs como Piu, que era considerado um dos melhores do Rio na época.

    “Além de mim, tinha o DJ Piu, que era praticamente o número 3 dos DJs do Rio de Janeiro na época. Convidamos também o Corello DJ, que fez um show maravilhoso para a gente, além de William DJ (Willian de Oliveira) e DJ Marcão”, lembra Ricardo.

    Os bailes também foram palco para apresentações de artistas consagrados como Paralamas do Sucesso, Silvinho Bláu Bláu, Biquini Cavadão, João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, entre outros que ajudaram a consolidar a Status como um dos principais centros culturais da Rocinha.

    Dj Piu e seu irmão Kinkas da Rua 2 e DJ Wiliam

    DJ Marcão

    Dj Piu

     

     DJ Willian com a camisa da Status

    Quem conhece Willian de Oliveira, conhece também o Willian DJ. Aos sábados e domingos, ao anoitecer, ele se transformava em carregador de caixas e equipamentos de som da equipe Status Disco Dance. Foi essa dedicação que o permitiu entrar para a equipe e, se
    tornar um DJ, passando a comandar os eventos com maestria. Hoje, Willian é uma grande liderança na Rocinha, respeitado por sua trajetória e contribuição à comunidade.

    A Transição Musical

    Ao longo dos anos, a música nos bailes da Status Disco Dance também evoluiu, acompanhando as mudanças na cena musical internacional. “A transição foi muito boa. Começamos com o som do James Brown nos anos 70, passamos pela discoteque, depois para o funk soul, e finalmente, nos anos 80, para o miami bass”, explica Ricardo.

    Essa transição foi importante para manter a relevância da Status e atrair novos públicos, mostrando a capacidade da equipe de se adaptar às novas tendências e manter a animação dos bailes.

    Rádio Imprensa: O Pulso da Cultura Funk

    A expansão da influência da Status Disco Dance não se limitou aos bailes. A partir de 1984, a equipe conquistou as ondas do rádio com dois programas na Rádio Imprensa, uma das emissoras pioneiras no Brasil a dar espaço ao funk carioca. A Rádio Imprensa, que operava na frequência 102,1 MHz, era uma das FMs mais influentes da época, conhecida por ter sido a primeira emissora em frequência modulada instalada na América Latina.

    “Tínhamos dois programas na Rádio Imprensa, de 1984 a 1988. Um era dedicado às músicas dos bailes da Status, das 22h às 23h, e o outro era um programa de flashback, que ia até meia-noite”, conta Ricardo.

    A Rádio Imprensa, fundada em 1955, desempenhou um papel crucial na popularização do funk e de outras vertentes musicais na cidade, abrindo suas portas para locatários como a Status Disco Dance e a própria Furacão 2000.

    O impacto desses programas foi significativo, atraindo patrocínios e consolidando ainda mais a reputação da equipe na Rocinha. “Esses
    programas ajudaram a divulgar os bailes e a fortalecer a marca da Status Disco Dance. Comerciantes locais até queriam que a gente fizesse propaganda para eles”, relembra Ricardo.

    O Fim de uma Era

    Em 1992, Ricardo tomou a difícil decisão de vender a Status Disco Dance, marcando o fim de uma era na Rocinha. “Decidi vender a equipe em 1992. Tinha família e nunca dependi da Status para sustentar meus filhos. Fazia o som como hobby, mas estava vendo meus filhos
    crescerem sem a figura do pai. Por isso, decidi vender tudo”, explica.

    Apesar disso, o legado da Status Disco Dance na Rocinha, continuou a viver através das memórias de quem participou dos bailes. “Até hoje, quando eu vou na Rocinha, encontro pessoas que dizem que conheceram suas esposas nos nossos bailes e estão casadas até hoje”, comenta Ricardo.

    Reflexões Finais

    Olhando para trás, Ricardo Pereira se emociona ao relembrar os momentos vividos com a Status Disco Dance. “Sabe quando uma criança conhece um parque de diversões pela primeira vez? Era assim que eu me sentia na Status Disco Dance”, diz ele.

    A história da Status é um testemunho do poder transformador da música e da cultura popular, especialmente em comunidades como a Rocinha, onde o acesso a espaços de lazer e cultura sempre foi limitado. Hoje, ao revisitar essa trajetória, é possível entender a importância desses movimentos culturais para a formação da identidade de gerações inteiras.

    A história da Status Disco Dance é, acima de tudo, uma história de resistência, criatividade e amor pela música. Ricardo Pereira e Paulo Roberto, com sua visão e determinação, criaram mais do que uma equipe de som; eles criaram um movimento que ressoou por toda a Rocinha e deixou uma marca profunda na cultura popular carioca.

    Para os jovens de hoje, especialmente aqueles que fazem parte da cena do funk e do hip hop, essa é uma história que merece ser conhecida e celebrada, pois é parte fundamental das raízes culturais que ainda sustentam a música nas periferias do Brasil.

    O legado da Status Disco Dance continua vivo, não apenas nas lembranças dos que viveram aquela época, mas também na inspiração que oferece às novas gerações que buscam, através da música, um caminho para transformar suas realidades.

  • ‘Cidade dos Meninos’ é o novo clipe do grupo Malícia Urbana

    ‘Cidade dos Meninos’ é o novo clipe do grupo Malícia Urbana

    Formado por Fael Tujaviu, Kelson da Construção e DJ 2D, o grupo Malícia Urbana, da Zona Norte do Rio de Janeiro, surgiu em 2002, a partir de uma Crew de Grafiteiros, mas o rap só rolou mesmo dois anos depois.

    Sempre com esse estilo contestador, o grupo já lançou alguns webclipes, contudo em ‘Cidade dos Meninos’ arriscaram em um videoclipe com uma mensagem bem mais forte e uma produção de primeira.

    Com a ideia de mostrar a realidade em que vivem a partir de uma ponto de vista bem particular, roteirizaram um clipe recheado de armas – réplicas segundo Fael Tujaviu, mas que com a emoção da letra e imagens bem cortadas, parecem muito armas de verdade.

    Kelson e Fael

    Contudo Fael, ao ser questionado sobre uma possível interpretação dúbia por parte do público, que poderia acusar o grupo de apologia ao crime, ele rebate: – “A gente tem essa preocupação sim, isso foi motivo de muito diálogo entre nós, poderíamos fazer um clipe diferente com certeza, porém agente resolveu botar a cara e usar as imagens pra ilustrar o que estávamos querendo dizer. Nossas crianças estão vendo armas aqui agora, porém não tem nada de arte por trás dessas armas e elas levam eles pro caminho que a nossa arte não quer que ele vá. A gente pretende passar como mensagem é que temos escolhas na vida, independente da nossa situação social, e algumas dessas escolhas nós já sabemos o destino”.

    A ideia de fazer o clipe surgiu em 2014, contudo somente esse ano conseguiram colocar em prática, foram 10 dias de gravação para transformar o roteiro elaborado pelo Coletivo CRUA em realidade, foi um roteiro feito a várias mãos. O coletivo ainda fez uma preparação que transformou os amigos próximos do dos rappers em atores, inclusive a mãe de um deles.

    O clipe tem uma história bem bolada por trás de tudo, uma letra com conteúdo e uma outra vítima que fica em primeiro plano quando o clipe acaba. A mulher. A mãe. A guerreira.

    Cena do videoclipe Cidade dos Meninos
    Cena do videoclipe Cidade dos Meninos

    “Essa é uma história real que se repete frequentemente, já vimos diversas pela cidade. A Mulher, a Mãe, que segura uma barra que ninguém pode imaginar, ela teria que ter um papel de destaque nessa história. O fato de ter muitas cabeças mexendo com o roteiro, e entre essas pessoas homens e mulheres, de experiências diferentes dentro de favela, gerou esse resultado, que o Malícia Urbana curtiu muito”, completa Fael.

    O grupo não pretende deixar o vídeo somente na internet, pois o Coletivo CRUA tem um projeto chamado “Cinegrada”, uma mostra audiovisual, e a ideia é exibir o clipe nas comunidades próximas e onde mais forem chamados.

    Vale a pena ver o vídeo diversas vezes e fazer uma reflexão. Veja e deixe um comentário abaixo.

  • Projeto reunirá artistas para residência na Maré e dará ajuda de custo de R$5 mil

    Projeto reunirá artistas para residência na Maré e dará ajuda de custo de R$5 mil

    “ComPosições Políticas, outras histórias do Rio de Janeiro” é um projeto de construção coletiva de memória visual do Rio de Janeiro por meio da reinterpretação de imagens de acontecimentos recentes que causaram impacto no imaginário carioca, isto é, artistas farão uma releitura, através da sua prática artística, de acontecimentos recentes dentro de favelas e/ou comunidades do Rio de Janeiro, que tiveram grande repercussão na mídia e/ou nas redes sociais.

    Os(as) selecionados(as) participarão de uma residência artística, durante o mês de março, na favela da Maré, e de um seminário. As obras resultantes da residência farão parte de uma exposição itinerante junto a outras obras que dialogam com a temática. Ao total, nove (09) artistas (de qualquer expressão: teatro, artes visuais, música, etc) serão selecionados e ganharão bolsa de R$5.000 cada (incluindo gastos de transporte e alimentação), mais gastos de acomodação na favela de Maré, pois os artistas deverão morar na comunidade durante o mês de imersão.

     

    As inscrições, que vão até o dia 24 de janeiro, serão analisadas por uma comissão de avaliação integrada por três pessoas. Os resultados serão comunicados por e-mail a todas as pessoas inscritas até o dia 31 de janeiro de 2016.

    Como se inscrever?

    Os(as) interessados(as) devem enviar um e-mail para composicoespoliticas@gmail.com com seus dados pessoais: nome e sobrenome, data e lugar de nascimento, endereço de residência e suas áreas de trabalho artístico; uma apresentação sobre você e seu trabalho (até 500 palavras), além de suas motivações para  participar da residência; informação sobre uma ou duas obras que você tenha realizado até a data, e que você ache que tem a ver com o perfil da residência (imagens e textos até 500 palavras e  10MB, incluindo links para vídeos, blogs, etc.); uma breve proposta do que você gostaria de desenvolver na residência (até 800 palavras).

    O proponente deve incluir a imagem, ou as imagens, a partir das quais gostaria de trabalhar, explicando brevemente o porquê da escolha e as possibilidades que vê nelas.  As imagens devem ser de acontecimentos recentes, 2014 e 2015, que causaram impacto no imaginário carioca. Tenha em conta que o que você vai enviar é unicamente uma proposta e que, durante a residência, você poderá alterar ou mudar o projeto inicial caso sinta a necessidade.

     Por último precisa enviar uma declaração de disponibilidade para trabalhar durante o período integral da residência nos horários estipulados (de segunda à sábado, das 10 às 17 horas), e uma declaração do seu interesse em morar na Maré durante o mês de março de 2016.

    Para mais informações:

    http://composicoespolitic.wix.com/historiasrj

    Baixe o edital

    image_pdf

  • Buzo publica entrevista que fez com Bezerra da Silva há dez anos

    Buzo publica entrevista que fez com Bezerra da Silva há dez anos

    Sábado, 22 de Maio de 2004, Alessandro Buzo entrevistou com exclusividade um dos maiores nomes da música popular brasileira.

    Um cara que há anos canta em músicas, reivindicações só vistas em letras de rap, não é a toa que ele se apresentou com Racionais Mcs, Marcelo D2, entre outros nomes importantes da cena. Estamos falando do inigualável Bezerra da Silva, o bom e velho Bezerra, vamos à entrevista…

    Alessandro Buzo: Fale do seu proximo trabalho ?
    Bezerra da Silva: O negocio é o seguinte, aliás ja esta definido, eu sou eveangélico como foi divulgado na imprensa, o mundo ja sabe e eles pensaram que eu não cantaria mais samba, mas eu ja preparei um repertório gospel, por sinal as musicas são muito bem feitas, não tem essa de copiar a Biblia é só se inspirar nela, mas eu continuo gravando o normal também. Agora nós estamos estudando umas propostas porque não quero mais me filiar a gravadora nenhuma.

    Buzo: Quantos anos você tem de carreira ?
    Bezerra: Olha, a minha carreira artistica se divide em duas partes, primeiro eu sou musico e trabalhei 8 anos na TV Globo como percussionista, tocando varios instrumentos de percussão, inclusive bateria, não era só samba, tinha berimbal, zabumba, jango, A go go, taborim, pandeiro, surdo.
    Surdo eu toco sozinho três de uma vez, o falecido Gilberto D’Avilla era o rei do surdo e eu aprendi com ele, depois dessa fase eu fui estudar musica, ai estudei na escola do professor Antonio Joaquim Noglis, a escola dele era no Meier em 1973 , então eu comecei estudar violão, mas acontece que eu estudei 8 anos e mais 2 anos de teoria naquele livro de Maria Luiza de Matos Prioli, ai fiz 3 metodos, o primeiro foi Mateus Carcassi, depois eu fiz 25 estudios melódicos e progressivos e o terceiro método foi escola de targas, para ter a postura do violão, a maneira de se posicionar é o classico, então nessas alturas foram8 anos de escola, depois eu fui estudar harmonia, mas o governo não colaborou com a escola que havia na Lapa (RJ ) e até hoje não finalizei, nesse meio tempo fui aos EUA e comprei um trompete e comecei a estudar, ja estou adiantado, estudei também piano, minha casa parece uma loja de instrumentos, toco de tudo.
    Ai no ano de 1977, quando eu fiz meu primeiro LP que foi “PARTIDO ALTO NOTA 10 -VOL I “, com Genario e Bezerra da Silva, nesse ano me empreguei na TV Globo, eu me achava no Canecão fazedo samba com a falecida Elisete Cardoso, ai então a Globo resolveu fazer uma orquestra de percussão, com a exigenciaque soubessem ler musica, eucomo estava no tereceiro ano ja sabia contar compasso, ai eu trabalhei 8 anos nessa orquestra de 1977 à 1985, quando eu tive que sair pois não dava para conciliar as duas coisas que eram minha carreira na RCA que hoje é BMG e lá gravei 14 discos em 14 anos.

    Buzo: Fale desse periodo ?
    Bezerra: Durante esses 14 anos eu ganhei 10 discos de ouro, 2 de platina e 1 de platina duplo, fora as coletaneas, enfim, são muitos discos, foi quando sai da BMG, fui viajar nos EUA, fiz shows da Florida até Washington, foi uma serie de shows, fui para Angola e fiquei 20 dias fazendo shows por lá, estou de volta ao Brasil e continuo na luta.
    Vou para o independente porque se eu vender 10 é 10, 20 é 20, agora o meu empresário é a minha esposa, Dona Regina do Bezerra a PRIMEIRA DAMA DO SAMBA, ela que toma conta de tudo, inclusive minhas calças, paletos, não precisa nem bolso, ela cuida até do dinheiro e assim eu vivo bem melhor.

    Buzo: Como é ser considerado por sambistas, rappers, roqueiros ?
    Bezerra: Isso é uma dadiva de Deus, porque eu sempre tive na minha concepção que ninguem nasce sabendo nada, começamos aprender com o pai e a mãe, depois a escola e eu tenho comigo que esse negócio de auto didata, não acredito nisso, tudo tem um professor na vida, o unico que sabe sozinho é Deus que eu conheça, eu tenho publico de um a cem anos e de todos os ritmos e a maioria é de pessoal do rock, do rap, toda essa juventude que gosta de mim.

    Buzo: Em que ano você gravou “Assombração de barraco”, pois parece tão atual quando fala de salario defasado, obrigação de votar e politico com conta na Suiça ?
    Bezerra: Esse disco eu gravei em 1992 e se chama PRESIDENTE CAO CAO.

    Buzo: Como esta o governo Lula ?
    Bezerra: O negócio é o seguinte, não sei se vc concorda, porque o negócio é muito bem feito entre eles, porque inventaram essa Historia de democracia para enganar bobo, dentro das regras normais acontece o seguinte, na sua casa sempre tem aquilo de um ser o dono da casa, ou seja, o homem é o responsavel da familia, tudo vem em cima dele que é o dono da casa, o cabeça da familia, mas dentro do sitema democratico vc até deixa sua mulher administrar a casa, mas a ultima palavra é a sua, ai vem aquele provérbio que diz: – Panela que todo mundo mexe, casa que não tem comando, comê que fica ? Todo mundo manda, um vem e põe açucar, outro manda por sal, outro pedra.
    A mesma coisa é na politica, o presidente não pode mandar, é subordinado a congresso, camera dos deputados, senado e a autoridade dele é limitada, ele fica ali só para assinar, eu acredito que aquele jogo é um cao cao, para acabar de atrapalhar vem a imunidade parlamentar, uma porta aberta a corrupção, o cara rouba, rouba e fica com a liberdade e o dinheiro, ai parece aquele negocio de cada um fica com um bocadinho e o povo paga a conta, eu se roubar uma banana vou direto para Bangu 1.

    Buzo: Como vc vê a violencia nos morros do Rio, na musica ëu sou favela” vc diz que a favela é um problema social, é isso ?
    Bezerra: Essa musica é do Noca da Portela e o Mosca eu só interpreto, a favela nunca foi reduto de marginal, só tem povo humilde, marginalizado e essa verdade não sai no jornal, a favela é um problema social e posso falar de cadeira, minha gente é trabalhadeira e nunca teve assitencia social, só vive lá porque para o pobre não tem outro jeito, apenas só tem o direito a um salário de fome e uma vida anormal, e a favela é um problema social.

    Buzo: Quem é malandro e quem é Manê no Brasil ?
    Bezerra: Essa musica é do Neguinho da Beija Flor, então ele disse isso, malandro é malandro, manê é manê e eu digo, o autor é que sabe o que quer dizer, qual é a idéia certa a essa pergunta, então perguntei pra ele, ele lhou para minha cara e começou a rir e eu : – Ai rapaz, tá rindo de quê ?
    E o Neguinho: – Você malandro que é não sabe a resposta ? Então ele falou: – Mas Bezerra, analiza com calma, manê é o povo e malandro são os poderosos, a gente que trabalha e eles que levam o dinheiro, nós somos os manês, ai eu bati palma para o Neguinho da Beija Flor, meus discos são sempre atuais por isso.

    Buzo: Eu tenho 31 anos e sou admirador do seu trabalho desde criança, o seu samba atravessa gerações, o que pensa disso ?
    Bezerra: O que penso é o seguinte, eu não sou compositor, sou interprete e musico, inclusive disse que Deus sabe o que faz, a inteligencia de Deus é infinita, então o que acontece, eu sou musico, cantor, toco todos os instrumentos de percussão, violão, piano, trompete, bateria, zabumba,berimbal, surdo, pandeiro, a go go e vou tocando de tudo, ai vem aquela historia de Deus, se ele me desse o dom de compor, fazer musica bem como eu toco e canto o que ia acontecer, não ia ter pra ninguém, então a vida é uma corrente, um depende do outro, você depende dos outros para tudo que não sabe fazer.
    Eu estou me referindo aos compositores de verdade, ai vc pergunta: – E existe de mentira ?
    Tem, existe compositor, ladrãositor que é que rouba a musica dos outros e tem o que diz: – Só gravo se entrar na perceria, isso é uma quadrilha também e eu não entro nesse jogo sujo, é um regime de coação.
    Compositor no duro, de dez vc tira um o resto desse pessoal tem que falar com Deus, aceite Jesus como salvador.

    Buzo: Suas considerações finais ?
    Bezerra: Eu quero dizer ao mundo e a onde chegar essa entrevista que a humanidade de um modogeral, inclusive meus fãs e as pessoas que gostam de mim que parem um pouco pra pensar e e olhem para natureza e o que acontece no globo terrestre, a desigualdade social.
    O que digo a eles é o seguinte, não é negocio de religião não, aceite Jesus como salvador, sem fanatismo, procura ver o testemunhos, só existe um caminho e Jesus é a porta e quem não aceitar que viva com o Diabo ào tem outro jeito.
    Eu sou evengelico e sou sambista, se soubesse que era tão bom ja tinha aceitado Jesus antes, PAZ AO MUNDO E AO BRASIL QUE ESTA PRECISANDO.

  • Meu Depoimento pra Revista Européia

    Meu Depoimento pra Revista Européia

    Screenshot 2014-06-24 01.21.05

    A Eurocom Magazine,  é uma edição especial da Objectif Grand Paris Nouveau Magazine, foi lançada na MIPIM 2014 (Le marché international des professionnels de l’immobilier), um evento de investidores do mercado imobiliário que acontece todo a ano e atrai empresários de todo o mundo. A Eurocom Magazine trouxe uma série de matérias especiais sobre as 25 maiores cidades do mundo, incluindo o Rio de Janeiro, onde eu dou um depoimento sobre a Cidade Maravilhosa na página 33. Apesar da revista ser bastante técnica, tem sempre um depoimento de algum morador que eles consideram interessante sobre a sua Cidade.

    Quem quiser curtir o documento original, que infelizmente não foi vendido no Brasil, clipei a parte do Rio de Janeiro no meu Blog (http://dumontt.com/clipping/), é só ir lá e conferir.

    Abaixo segue uma versão quase original em português:

    Grande abraço.

    —x—

    O Rio de Janeiro, continua sendo uma Cidade Maravilhosa, cidade que já foi descrita de várias formas, pra vários gostos distintos, retratada e escrita em versos e prosas, mas o que me chama mais atenção sobre essa bela cidade são suas contradições, e é disso que trata essas linhas.

    Terra de rara beleza, cartão postal do Brasil, capital cultural da América Latina, hoje também é a terra dos grandes eventos esportivos e das Manifestações Juvenis. Onde uma das maiores florestas urbanas do Mundo convive pacificamente com a Rocinha, a maior favela da América Latina.

    É hoje uma das Cidades mais caras para se viver, morar e passear, mas que também tem uma rede hoteleira com uma altíssima taxa de ocupação. Onde o Governo promove construções gigantescas para esconder as favelas que estão entre o Aeroporto Internacional do Galeão e o Centro da Cidade, Favelas essas ocupadas constantemente pelas Polícias Militar e Civil do Estado, umas das polícias mais letais do mundo, a PMERJ e a Civil, como são chamadas, por ano, matam mais do que o somatório de todas as polícias de todos os Estados dos USA juntas. Mas a maquiagem do Rio é boa e consegue passar uma imagem de segurança e tranqüilidade para os turistas, graças as Unidades de Polícia Pacificadoras, as chamadas UPPs que empurrou o tráfico de drogas para as periferias, dando ao Rio um ar de limpa e higienizada em relação a segurança pública, a ponto de transformar a favela em atração turística – hoje tem teleférico no Pão de Açucar e na Favela do Alemão, tem visita guiada no morro com direito a baile funk pra turistas.

    A Cidade do Rio de Janeiro consegue assumir um papel singular no imaginário e no coração de cada visitante, cada morador e de cada pessoa que interaja com ela, seja pelo motivo que for: trabalho, lazer, turismo, esporte; Onde o feio e o belo se misturam, com passeatas, ruas históricas e monumentos. Cidade da música, da boemia, do samba e da maior festa popular do mundo, o carnaval. Onde o maior reveillon do mundo é feito nas ruas, na praia, no encontro de todas as raças, todos os credos, todas as cores, todas as riquezas, todas as culturas que se aliam para formar uma outra cultura, uma cultura carioca, com swing e sotaques próprios, de fala chiada e gingado no corpo suado e avermelhado do sol.

    O Rio tem vocação para ser amada, com todas as suas contradições, pois consegue ser cosmopolita sem perder o que tem de mais local, ser grande, conservando as suas diversas culturas, seus grupos informais, seu ar de feriado, mesmo em dia de trabalho. Seu povo contente, risonho, barulhento e feliz, sim, feliz por morar em uma das mais belas cidades do mundo.

  • Talib Kweli veio ao Rio para gravar videoclipe com Seu Jorge

    Talib Kweli veio ao Rio para gravar videoclipe com Seu Jorge

    Depois de Swizz Beatz, é a vez do nova-iorquino Talib Kweli passar pelo Rio de Janeiro. Talib é um dos filhos da aclamada “Golden Era” do Rap norte-americano, tambem integrante do duo Black Star ao lado de Mos Def (que inclusive tocaram na Virada Cultural de SP esse ano) e é considerado um dos rappers mais líricos da atualidade.

    Seu álbum mais recente é o “Prisoner of Conscious”, que contou com a participação de Seu Jorge na música “Favela Love”.

    No último dia 26, Talib avisou pelo twitter:
    “Rock The Bells foi cancelado? Acho que vou ao Rio para filmar “Favela Love” com meu mano Seu Jorge este final de semana”.

    O burburinho nas redes sociais aumentou e na segunda-feira passada, Talib postou uma foto em seu Instagram. A vista para a praia, e a descrição avisam que o rapper estava em Copacabana.

  • Swizz Beatz e sua passagem pelo Rio de Janeiro

    Swizz Beatz e sua passagem pelo Rio de Janeiro

    Beleza, tá todo mundo falando do rolé que a Alicia Keys tá dando aqui no Rio e do show dela no Rock in Rio. Alguns podem não saber, mas o marido dela é nada mais nada menos que Swizz Beatz (GOD DAMMIT!), rapper e produtor, que está por trás das produças de grandes nomes do rap mundial, como Jay-Z, LL Cool J, Busta Rhymes, Gucci Mane, Diddy e Pusha-T; além de ter uma parceria de peso com a marca Reebok, onde o cara tambem assina umas peças pra marca.

    Uma dos recentes trabalhos de Swizz foi a música “Street Knock”, feita em parceria com o nova-iorquino A$AP Rocky.

    Swizz Beatz se encontrou com o renomado grafiteiro brasileiro Marcelo Eco. O rapper esteve com Eco em uma favela e o acompanhou em uma pintura; e ainda usou uma camisa do artista. Se liga nas fotos que ele postou no Instagram:

    swiz-eco1

    swiz-eco

    Agora só falta colar com os rappers e produtores cariocas.

    [+] Swizz Beatz no twitter
    [+] Marcelo Eco no twitter

  • Os reggae man e os vida loka abrindo os caminhos

    Os reggae man e os vida loka abrindo os caminhos

    Quem já ouviu o disco novo do Edi Rock não vai se supreender com essa matéria, mas para os desavisados de plantão, que talvez seja o seu caso, lá vai uma música que certamente irá para o seu Ipod. Sente-se!!!

    Um dia, sabe-se lá por qual motivo e de quem foi a ideia, mas creio que foi do próprio Edi Rock, entraram no estúdio ninguém menos que Falcão (O Rappa), Alexandre (Natiruts) e o próprio Edi Rock (Racionais) e fizeram o som “Abrem-se os caminhos”, que eu chamo de “Os reggae man e os vida loka”. A música é de arrepiar e o refrão fica agarrado no subconsciente, te fazendo cantar até mesmo sem perceber.

    Edi Rock vem com um flow novo, bastante diferente do que nos acostumamos a ouvir nos discos do Racionais. A evolução musical do rapper é notável, tanto na maneira de cantar como em alguma letras do disco. Edi Rock um pouco antes também apresentou uma música em parceria com o Seu Jorge.

    LETRA

    Os reggae man e os vida loka,
    Juntos para todo mundo ver,
    Que a união é o que faz a força,
    Abrem-se os caminhos pra vencer. (2x)

    Desde os tempos do nosso tatatataravô,
    Que eles vem disseminando a discórdia entre os irmãos,
    Técnica avançada de colonizador,
    Colocar um contra o outro pra depois tocar o terror.
    É bom viver, Rocinha e o Morro do Alemão,
    Ceilândia e o Recanto, Itaquera e o Capão,
    Entenderem que matarem uns aos outros,NUNCA, será a solução.
    Mas tretas são tretas, cada qual vai resolver,
    Da forma e no tempo que bem entender.
    Só que talvez isso seja a melhor coisa, pro sistema que controla você.

    Os reggae man e os vida loka,
    Juntos para todo mundo ver,
    Que a união é o que faz a força,
    Abrem-se os caminhos pra vencer.(2x)

    Edi Rock:
    A rima rapaz é o reggae de man,
    É o canto da vida que é loka tambem,
    “Antiga” visão, não troca a missão,
    Chama a mulher pra dançar vem também.
    Descanse as armas nós somos iguais,
    Chega de sangue em capa de jornais,
    Chega de kilo, chega de grama,
    Chega no bang e gangues rivais.
    Bandeira estiada, paz na quebrada
    Quem mata é policia, isso é outra pegada
    Quem é do povo, quem é da massa
    Sabe quem é, e quem vive na raça
    A bala que traça de nunca pro outro,
    Estoura a vidraça, estilhaça o povo
    Mano ta osso, pera um pouco,
    Deixa passar essa brisa de louco…

    Falcão:
    Reggae man e os vida loka,
    Abrindo a cabeça dos cabeça oca,
    E qualquer reclamação pro povo hoje é pouca,
    Aqui tiozinho ninguem dorme de touca.
    Viro as costas, fez humilde doente os viciados,
    Defende os seus interesses de todos os lados,
    Interesse do seu lado eu entendo talvez,
    E pra mim e pro povão bandido o que você fez,
    Do engenho novo até o capão, com certeza ‘pru’ meus irmãos,”terrión”.
    Sim, respeita nossa estrada Natiruts, Edi Rock e O Rappa…ahh aaai.. Aumenta o som.
    Deixe quem fale que bate, deixa quem ja bateu, um dia de frente ‘prum’ bonde, e ai perdeu. (3x) ah ah ah ah uh
    Deixe quem fale que bate, deixa quem fala que ja bateu, um dia de frente pro bonde, ai perdeu.

    Reggae Man e os Vida Loka na moral…
    É tudo, é tudo racional..
    Vida loka uns tem tão pouco…o reggae…
    O bagulho aqui é doido…
    Reggae man…
    Reggae man…
    Vida Loka…
    Vida Loka…
    Vivo pra você ver, a união é o que faz a força, reggae man, reggae man, vida loka.

    Os reggae man e os vida loka,
    Juntos para todo mundo ver,
    Que a união é o que faz a força,
    Abrem-se os caminhos pra vencer.

    Que a rima rapaz, é o reggae de man,
    Que a vida é bandida, que é loka também.

    Eis ai o R-O-C-K em ação,chegando junto, na pista na missão.
    Alexandre DF, RJ Falcão,mais uma união,
    Representando o asfato e o morro na situação negão.

  • Evento na UFRJ debate os aspectos humanos das favelas cariocas

    Evento na UFRJ debate os aspectos humanos das favelas cariocas

    Entre os dias 19 e 21 de maio será realizado no IFCS o colóquio “Aspectos Humanos na Favela Carioca” em comemoração aos 50 anos de publicação do primeiro grande estudo sobre as favelas do Rio de Janeiro – Aspectos Humanos da Favela Carioca – desenvolvido pela SAGMACS (sociedade criada nos anos 1940 pelo frei dominicano Louis-Joseph Lebret) e coordenado pelo sociólogo José Arthur Rios.

    Local: Salão Nobre do IFCS – UFRJ
    Largo de São Francisco, 1, Centro – RJ
    ENTRADA FRANCA
    Para mais informações:

    Tels: 2252-8034 / 2252-8035 – R. 433 (secretaria IFCS).
    E-mail: coloquio.sagmacs@hotmail.com