Tag: justiceiros

  • Homem que é homem não chora!

    Homem que é homem não chora!

    Era onze de junho de dois mil e quatorze em mais uma manhã no Rio de Janeiro. Mais de um mês depois, não me recordo fielmente do passo a passo da minha rotina nesse dia, mas na rotina, algumas coisas são comuns: Pela manhã meu filho mais velho, com vinte anos, dorme porque trabalha no terceiro turno do shopping da cidade; Meu filho caçula tem seus olhos fixados diante da TV; Meu adolescente de quinze anos está no cursinho… Eu?! Faço café, tomo café, verifico emails, atualizo as redes sociais e preparo o almoço ao mesmo tempo em que discuto ideias profissionais com um marido que quase nunca dorme.

    Nesse instante, me pego pensando na rotina do Matheus Alves dos Santos, de 14 anos. Como era a rotina desse jovem?! Como era a rotina da família desse jovem?! De onde ele vinha, pra onde ele ia?! Quais eram o seus sonhos?! Ele sonhava?!

    “Eu vim e botei o fuzil na cara dele.”

    No que será que o jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos acreditava?! Tinha religião?!


    20140720_22321520140720_223220

    Em que ano escolar o jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, estava?!

    “A gente nem começou a bater em vocês ainda e já tão chorando?”

    Mesmo dentro da caçamba, o jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, esperava sair daquela situação e por fim ouvir mais os conselhos dos pais?! Seus pais lhe davam conselhos?!

    20140720_223306
    Quem era Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, além de humano?! Humanos, quando diante do medo, do pavor, da morte, da covardia, não devem chorar?!

    “Tá chorando porra?! Seja homem porra!”

    E a mãe do jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, pode chorar?! E eu, posso?!

     
    “É melhor correr, que lá vem o camburão
    É matar ou morrer! São quatro contra um!
    Eu me rendo! Bum! Clá! Clá! Bum! Bum! Bum!
    Boi, boi, boi da cara preta, pega essa criança com um tiro de escopeta
    Calibre doze na cara do Brasil
    Idade catorze estado civil morto
    Demorou, mais a sua pátria mãe gentil conseguiu realizar o aborto.”
    Gabriel o Pensador – Quabra Cabeças (1997)

    Não. Eu não sou a favor do aborto, em hipótese alguma. Mas essa, já seria uma outra conversa. Hoje eu quero apenas convidar você, amigo(a) leitor(a), a refletir sobre a desumanidade a qual estamos imersos ultimamente.

    Desde quando elegemos uns aos outros capazes de dispor da vida uns dos outros?! Desde quando elegemos como heróis os vilões?! Desde quando matar tem significados variantes?! O que diferencia um “bom” matador de um “mau” matador?!

    AOS HIPÓCRITAS ACHO IMPORTANTE FRISAR:

    – O MATHEUS NÃO TINHA PASSAGEM PELA POLÍCIA.
    – O JOVEM QUE SOBREVIVEU, TINHA.
    – O TERCEIRO JOVEM, FOI CAPTURADO APENAS POR QUE ESTAVA OLHANDO A CENA – FOI LEVADO APENAS PRA LEVAR UM SUSTO – SOBREVIVEU, MAS NUNCA MAIS FOI VISTO.

    Lamento profundamente pela morte do jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos… Lamento profundamente pela mãe, pelos familiares e pelos amigos do jovem Matheus Alves dos Santos, de 14 anos… Lamento profundamente pela espécie monstruosa que os Cabos Lima e Magalhães se tornaram… Lamento profundamente pela mãe, pelos familiares e pelos amigos desses algozes… Mas sabe do que eu mais lamento?! Pela petrificação e inércia diante dessa barbárie diária, que tem dizimado a raça humana em todos os cantos deste planeta.

    Link: http://www.vagalume.com.br/gabriel-pensador/patria-que-me-pariu.html#ixzz38EqTHz00

     

  • E quando o ‘justiceiro’ erra na ‘justiça’?!

    E quando o ‘justiceiro’ erra na ‘justiça’?!

    Apareceram ali, uns 5/6 jovens tentando me assaltar. Mas senti que o assalto parecia apenas a desculpa para algo mais violento. Corri. E a uns cinco metros apareceu um cara caminhando com uma bicicleta do lado. Ele me acertou o pé nos peitos, eu voei pra rua na hora que o ônibus passou. Me jogou longe mas não passou em cima de mim.”

    O trecho acima foi retirado de um depoimento postado recentemente numa rede social. Um amigo, ao sofrer uma tentativa de assalto, correu pela avenida. Enquanto corria, entrou no campo de visão de um transeunte que de nada sabia. A partir daí, passou da condição de mocinho para possível malfeitor. Foi brutalmente agredido. Moral da história: se livrou da agressão dos assaltantes, mas não se safou da implacável e cruel violência de um “justiceiro”.

    Partindo da moral dessa história eu lanço a pergunta: somos capazes de julgar e condenar alguém em frações de segundos? Se a sua resposta for positiva, de que servem os inúmeros processos de investigação instaurados e julgados pelo nosso judiciário?! Pense bem antes de responder. Não seja injusto! Já pensou no quão tênue é a linha que separa o ser justo do que faz a justiça?! Um julgamento errado pode ter suas consequências julgadas?

    E ainda que a acusação proceda, que o réu seja de fato culpado, qual ser humano merece ser espancado, torturado, violentado?! Aaahhh! Já sei: um assassino merece ser assassinado. E um estuprador merece ser estuprado. Mas, e se esse assassino em questão for seu filho? Se o estuprador em questão for seu filho?

    Se seu filho, ou filha, ou irmão, ou irmã sofrem uma violência sexual? Morte ao abusador. Se uma vida é levada por alguns ou por muitos trocados? Morte ao malfeitor. Mas pera aí: a mesma razão que te infla de direitos sobre o destino dos que fazem o mal não seria a que move o mal? Como romper esse ciclo? Olho por olho e dente por dente não legitima a ação do malfeitor no momento em que, de algum modo, por alguma de nossas mazelas sociais, ele se sente injustiçado?!

    E se for você no lugar do outro?!

    E se…

    E se…

    Na dúvida, a única certeza que nós  temos é de que a vida é uma só e não aceita reparação ou retratação em cima de vidas perdidas.

    Não, meu caro leitor. Eu não sou santa. Sou mãe, mulher e reflexiva quanto aos males desse nosso mundo.

    Castigos e punições são de fato necessários quando o intuito é de reprimir o erro e evitar a reincidência. Espancar, torturar e matar é só o jeito mais fácil de se isentar das responsabilidades sociais.

    Então, parceiro… Antes de julgar, apontar, e principalmente: antes de condenar alguém por algo, tenha tempo para ter certeza da necessidade de punição. E antes de punir, pense que essa mesma punição poderá um dia ser aplicada a você ou a outro de sua família.

     
    Se liga nesta passagem bíblica em Mt 7, 1-2:
    Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.”