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  • Entre o Real Querer e a Vontade Transitória

    Entre o Real Querer e a Vontade Transitória

    “Somente as lições dos séculos poderão proporcionar ou aquilatar o real querer da juventude, pois somente esta, com sua força empregada na construção da sociedade, poderão traçar o destino do porvir.”

    Me lembro como se fosse hoje da minha primeira greve geral, eu estava na primeira série do segundo gráu, quando entrou em sala uma senhora da coordenação da Escola Técnica João Luis do Nascimento em Nova Iguaçu, onde eu estudava (década de 80 – não me lembro bem a data). Com uma cara brava e um jeito completamente autoritário ela nos olhou de cima para baixo e com toda a arrogância que era peculiar daquela época aos chamados professores, decretou: _ A partir de agora não serão permitidos as meninas virem de saias curtas para a escola.

    Eu nem me lembro mais se ela proibiu de vez a saia ou se não podia vir apenas de saias curtas, mas sinceramente, não me interessava se as meninas viriam de saias curtas ou não, o problema era o autoritarismo predominante, isso era irritante. Eu que sempre fui tímido e reprimido até então, não consegui me conter, mandei a pergunta: _ E as professoras, poderão vir de saia?

    Nem sequer me preocupei com a professora que estava dando aula, eu me lembro bem dela (uma professora que tinha o desprezo geral da turma, mas eu gostava dela). A resposta foi tão seca e autoritária quanto a ordem anterior: _ As professoras poderão vir do jeito que elas quiserem, afinal elas já se formaram, vocês é quem precisam se submeter às nossas regras.

    A segunda pergunta então surgiu tão automática quanto a primeira: Quer dizer que a gente não pode mais ver as perninhas bonitinhas das meninas, mas somos obrigados a ver as pernas feias e cheias de varizes das professoras?

    Então a mulher autoritária deu um sorriso contido no canto da boca e disse: _ Sim, é isso mesmo, amanhã serão barrados todos os alunos que vierem sem o uniforme completo e as meninas que vierem de saia curta também!

    Logo que ela acabou de falar o que quis, nos deu as costas e foi embora, impondo-nos a sua marcha de marechal. Naquele momento, cresceu uma revolta no meu peito tão grande que eu não consegui me conter, uma revolta que não tinha nada a ver com saias e calças, mas com um autoritarismo repugnante. Levantei a voz e comecei a falar contra aquela atitude, logo, logo, outros alunos me seguiram e começamos um motim que começou nas turmas de primeiro ano e contaminou a escola toda.

    No dia seguinte ninguém entrou, fizemos um piquete na frente da escola, mas a coisa já tinha saído do meu controle, parece que existia alguma força política exterior que tinha organizado aquilo tudo, eu servi apenas para acender o pavio, então me retirei e me isolei. Quando acalmou tudo eu escrevi o manifesto acima, baseado em um texto que eu li não me lembro onde. Depois disso me chamaram diversas vezes para vários partidos na minha adolescência, mas apesar da Diretora da Escola me chamar descaradamente de petista, o que pra ela significava o mesmo que baderneiro, eu nunca havia me filiado a partido algum até então.

    O episódio passou, mas a vontade de mudar o mundo nunca saiu do meu coração e aquela revolta deu origem a uma reação em cadeia que me levou a estar aqui hoje escrevendo essas linhas, formou o meu caráter e minha personalidade acida e tácita, me fez trilhar caminhos diferentes da maioria das pessoas que eu conheci, até que eu consegui, finalmente conciliar o meu verdadeiro querer com a minha real vocação, acalmando o meu coração com reflexos em toda a minha vida (Ocupação, Religião e Família) – depois falaremos mais sobre essa base tripartite.

    Quanto ao manifesto da minha adolescência, trago-a a tona hoje para identificar duas coisas distintas, mas que para algumas pessoas parecem a mesma coisa. O “real querer” e a “vontade transitória”.

    Antes de iniciar qualquer empreendimento, sugiro a você que está acompanhando essa série sobre empreendedorismo cultural a buscar em seu mais íntimo querer, o que realmente você deseja. Pergunte a si mesmo, faça-se um interrogatório e demore o tempo que precisar, mas descubra o que realmente te inspira. Comece, investigando o que você mais gosta de fazer e tente associar isso ao mercado de trabalho, busque o que tem a ver com a sua área de interesse. Lembre-se, tudo o que fazemos com amor e inspiração, fazemos melhor, e se fazemos bem, podemos ganhar dinheiro com isso.

    Esse é o primeiro exercício para você que acompanha essa coluna, acredita em mim e tem verdadeiro interesse em montar o seu próprio negócio. Não comece o seu negócio pelo o que dá mais dinheiro, esse é um erro fatal que te levará diretamente ao tédio, ao enfado e ao desinteresse do seu próprio negócio, culminando em muitas das vezes com a falência, ou quando nada, a uma vida infeliz e sem realizações que te engrandeça. Comece o seu negócio, investigando a si mesmo, buscando o seu verdadeiro interesse nas coisas, capacite-se nisso, seja o melhor que você conhece na realização disso e o dinheiro virá naturalmente a medida em que você se auto-realizar naquilo que faz de melhor e se sente plenamente feliz e capaz.

    Vou terminar a explanação de hoje com uma coletânea de frases de internet sobre esse seu primeiro passo. Isso pode servir de inspiração e te ajudar a começar uma nova trajetória. Lembrando que o objetivo dessa colagem é apenas servir como fonte de inspiração e não ser um compêndio ou algo parecido que sirva de referência de coisa alguma, portanto eu não saí conferindo se as referências estão corretas e nem me preocupei de colocar links pra nenhum lugar, pois o objetivo aqui passa longe da investigação.

    Como eu creio que a fé é essencial para uma vida plena, fico com a frase do pastor Luther King das que eu elegí pra hoje, escolha a sua também.

    Continuamos na próxima semana.

    Paz e sucesso, sempre!

    Frases retiradas da Inernet.

    – Se você acredita que pode, você tem razão. Se você acredita que não pode, também tem razão. (by Henry Ford).

    – Tente Mover o Mundo. O primeiro passo será mover a si mesmo. (By Platão).

    – O primeiro passo para atingir o sucesso é acreditar que ele é possível (by Evandro Almeida).

    – Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer (by Mahatma Gandhi).

    – Acreditar que pode acontecer é o primeiro passo para algo ser realizado (sem referência de autoria).

    – Não espere o incentivo dos outros, o primeiro a acreditar no seu sonho tem que ser você! (sem referência de autoria).

    – Parei de esperar que deem o primeiro passo em minha direção, se quero, vou eu de encontro ao desejo (by Cristina Deutsch).

    – Não fique contando as prováveis dificuldades que vai encontrar, pois é possível que desista antes mesmo de começar… (sem referência de autor).

    – O primeiro passo para chegar em algum lugar é decidir que você não quer ficar mais onde está (sem referência de autora).

    – Quando o caminho a sua frente parecer longo e difícil, lembre-se: As mais longas trajetórias começam com um primeiro passo (sem referência de autoria).

    – Acreditar é o primeiro passo para fazer acontecer (sem referência de autoria).

    – Dê o primeiro passo na fé. Você não precisa ver a escada inteira. Apenas dê o primeiro passo. (by Martin Luther King Jr.).

    – O primeiro paso é sempre o mais difícil ( sem referência de autoria).

     

  • Anonymous + Militância + Repressão = Revolução

    Anonymous + Militância + Repressão = Revolução

    Estou ouvindo muita gente desesperada pelo o que está acontecendo com o Brasil, e não vejo motivos para tanto desespero. A causa é simples, os motivos são simples e a ação é simples.

    Me parece que só depois do dia 17 de Junho de 2013 que a maioria esmagadora da população se deu conta da gravidade do que está acontecendo no país. E o Governo agora está desesperado porque não tem uma explicação plausível, segundo eles, para tanto alvoroço, tanta mobilização, tanta força popular. As direitas/esquerdas até agora sempre viram as redes sociais como uma rede de desocupados, que só querem se divertir um pouco mais sem riscos. Agora eles estão acordando para aquilo que parece ser mais uma revolução do que uma ferramenta. Dentre os motivos, a principal causa de desespero deles é a falta de bandeiras e uniformes de militância nas manifestações. Os partidos e sindicatos, treinaram muito até que dominaram de vez a técnica de fazer política pelas ferramentas antigas, mas, essa nova tecnologia, eles não entendem nada, até mesmo porque perderam o tempo precioso deles fazendo e aperfeiçoando os métodos políticos da antiga forma.

    Uma vez eu fui em uma palestra do Wladimir Palmeiras (líder da antiga passeata dos 100 mil) e ele falou sobre a aversão da juventude aos partidos políticos e da forma como eles fazem política, e disse que eles (os partidos) ainda precisavam aprender muito sobre essa nova forma dos jovens verem a política, porque os partidos estão sendo esvaziados em sua militância. Os jovens preferem discutir política usando a cultura que militando por uma causa partidária.

    Eu faço militância cultural e cibermilitância a muito tempo e sempre me perguntavam o que era essa tal de militância cultural, eu sempre respondi dessa forma: Usamos a arte para atrair a juventude para discutir políticas públicas, principalmente a da nossa cidade. E quando me perguntavam o que era cibermilitância eu sempre respondia: É usar a internet para disseminar, propagar e discutir a militância cultural, orientando e criando novas formas de ser, agir e pensar.Me parece que esse discurso havia ficado velho, ou desgastado quando ninguém mais falava de cibermilitância e somente algumas organizações ainda usavam o termo militância cultural, mas a grande maioria, mesmo sem saber não somente usava, como faziam e fazem, e usam, tanto uma quanto a outra formas organizativas. Aquilo que os partidos sempre temeram, na verdade é simplesmente o efeito castata de uma série de coisas que se unem formando uma coisa só enorme e plural.

    Cabe ressaltar aqui que existe ainda uma militância autônoma que sempre foi feita em relação a apropriação de tecnologias, uma militância autônoma e sem rosto, muitas vezes, uma militância que está presente no mundo dos hakers e crakers, que são anônimos e por isso podem ser desde um garoto que nem chegou a sua puberdade, até um engenheiro bem posicionado na vida, que pelo simples motivo de não concordar de que tudo no mundo sempre tem que ter um dono, militam anonimamente por um mundo mais justo e melhor. Essa é a militância dos Anonymous, que no início começa com poucas pessoas e que pelo seu caráter desbravador e tomado de uma forte compreenção daquilo que é e de onde quer chegar, é capaz de traçar linhas claras, definidas e complexas sobre as suas diferentes formas organizativas, e por isso se espalha pelo mundo todo. No mundo anonymous não há rostos, nem nomes, apenas uma ideologia e uma política de convivência pacífica e de respeito ao indivíduo, sem detrimento da causa coletiva. Não há liderança claramente definida, as idéias que se somam aos ideais o fazem pela simples conexão natural com o objetivo final e se molda numa idéia comum. Desta forma, a luta fica mais forte, porque os objetivos, a meta e as diretrizes são claras na cabeça de cada anonymous e não precisam, de todo, ser verbalizada, mas quando precisa, tudo bem também, ninguém fica chateadinho porque a sua idéia não foi posta em prática pelo coletivo, simplesmente porque ninguém vai saber que a idéia foi sua, dessa forma não há melindres. O melhor é que se pode colaborar, sendo ou não um anonymous, mas nunca as regras são burladas, ninguém fica sabendo quem é você. Por causa dessa característica, alguns ficam aterrorizados com a idéia de que pode haver um manipulador que está levando as pessoas a fazerem isso ou aqui, mas essa idéia é um medo, como aquele medo do desconhecido que todos os animais tem. Não se justifica a medida em que todos sabem qual é o alvo e quais são as metas.

    Pra quem não conhece é aterrorizante, confesso, eu mesmo me senti confuso e repleto de medos que foram se dissipando a medida em que os objetivos e metas se colocaram e ninguém impõe nada a ninguém, se quiser fazer, faça, caso contrário, tudo bem, se quiser ficar, fique, caso contrário, tudo bem também.

    Muitos jovens que estão hoje nas universidades, foram formados por instituições e militantes culturais individuais que sempre discutiram politica misturada com a arte. E essa forma de fazer política, sempre nos pareceu a melhor forma, pois algum dia, a força dessa inquietação que estava sendo passada e repassada para essa geração iria se manifestar, só não sabíamos como. Até que uma série de eventos emergiram e nos favoreceu de forma supreendente. A antiga forma organizativa dos estudantes que sempre mobilizaram o nosso país começa a se articular, os anonymous se juntam para divulgar e fomentar a discução, os militantes culturais e cibermilitantes de diferentes vertentes se juntam e formam um bloco mais ou menos coeso, até que vem o tiro no pé dos políticos ignorantes, que não sabiam e não sabem ainda com quem estão lidando, e reprime os manifestantes, pronto, foi essa a maravilhosa gota d’agua que estava faltando para que a sociedade se levantasse, e com ela a mídia (que também foi reprimida), as pessoas comuns começaram a se perguntar:“Porque eu estou apoiando uma ditadura disfarçada de democracia?”. Sim, se perguntaram, porque houve uma reflexão do seguinte ponto de vista: “Se eu não faço nada eu dou força pra quem reprime, além disso o meu filho, o meu irmão, o meu amigo, o meu parente está tomando porrada da polícia e eu ainda que não queira ir tomar porrada também, como posso ajudar?”. A resposta é óbvia, e então começaram os milhões de compartilhamentos, pelas redes sociais, principalmente o Facebook, por uma série de fatores que não é  motivo dessa reflexão, e o movimento que era de estudantes, começa a ser de uma Nação, e as demandas estudantis, dão lugar as demandas de um Povo que está de saco cheio da “Política do Pão e Circo” utilizada pelos Romanos a séculos atrás e que sempre foi utlizada pelos políticos brasileiros maximizados pela dobradinha: Assistencialismo vs Grandes Eventos (BolsaFamília vs CopaDoMundo etc).

    Tem muita coisa errada no Brasil, e é preciso uma força descomunal para parar essa roda que gira num efeito vicioso para que ela gire ao contrário naquele tão sonhado efeito virtuoso. Muita coisa ainda vai acontecer, estão chamando precipitadamente esse movimento de Revolta do Vinagre, pois eu digo que não se trata de revolta, mas sim de uma REVOLUÇÃO e não tem nada a ver com vinagre, essa é a REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA MODERNA.

    Tópicos interessantes relacionados:

    Um texto interessante de alunos sobre o Anonymous – http://tocqueville.richmond.edu/digitalamerica/?p=1942

    Sobre o Anonymous brasil – https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/info

    Uma reflexão séria de um dos maiores pensadores do Brasil – http://www.luizeduardosoares.com/?p=1098

    Texto original