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  • A revolução sonora da Rocinha: A história da equipe Status Disco Dance e os bailes que transformaram uma geração

    A revolução sonora da Rocinha: A história da equipe Status Disco Dance e os bailes que transformaram uma geração

    Introdução

    Na vastidão da Rocinha, maior favela da América Latina, uma revolução cultural e musical teve início em 1978, impulsionada pelo som que ecoava das caixas de som da Status Disco Dance.

    Fundada por Ricardo Pereira e seu parceiro Paulo Roberto, conhecido como Beto, a Status Disco Dance não só embalou a vida de milhares de jovens da comunidade, mas também deixou uma marca permanente na história dos bailes populares cariocas. Essa matéria busca resgatar a memória de uma época em que a música, os encontros e a comunidade se uniram para criar um legado que perdura até hoje.

    Rocinha em 1979

    O Início da Jornada

    A história da Status Disco Dance começa com a visão de Ricardo Pereira, que aos 20 anos decidiu criar uma equipe de som que pudesse trazer para a Rocinha o mesmo tipo de som que fazia sucesso nos bailes do Rio de Janeiro. “A Status Disco Dance foi criada em 1978,
    para ser mais exato. Começamos devagar, fazendo as coisas bonitinho. Inicialmente, chamava-se Status Discoteque, mas depois trocamos para Status Disco Dance”, relembra Ricardo.

    O objetivo era claro: levar para a favela o que de melhor havia na música, criando uma alternativa de lazer para os jovens que enfrentavam a dura realidade de viver em uma das áreas mais carentes do Rio de Janeiro.

    Status disco dance 3 Junho de 1984

    Status disco dance – Paulo Roberto (O Beto) em maio de 1981. Salão de Festas no Alto da Boa Vista

    A Criação da Equipe

    O contexto em que a Status Disco Dance nasceu não poderia ser mais desafiador. A Rocinha, conhecida por sua densidade populacional e pela falta de infraestrutura, era também um caldeirão de cultura e resistência.

    “A ideia de criar uma equipe partiu de mim e de um amigo que tenho até hoje, o Paulo Roberto, que a gente chama de Beto. Ele sugeriu: ‘Vamos fazer a nossa equipe, porque o som que está tocando aqui não é o som que toca nos bailes lá fora’. Foi aí que começou a mudança”, explica Ricardo.

    A partir dessa decisão, a dupla começou a construir o que se tornaria uma das mais icônicas equipes de som da história da favela.

    24 de junho de 1986 no antigo barracão do Império da Gávea

    Julho de 1986 – Colégio Paula Brito

    Julho de 1986

    Os Primeiros Passos e os Desafios

    Construir uma equipe de som de sucesso não era uma tarefa fácil. Ricardo e Beto enfrentaram inúmeros desafios, desde a compra de equipamentos até a criação de uma identidade sonora que se destacasse. “Meu único parceiro no desenvolvimento da equipe foi o Beto. Fizemos tudo sozinhos: criamos, compramos materiais, e organizamos os bailes”, conta Ricardo.

    Para garantir que os bailes da Status se diferenciassem, a dupla frequentava regularmente o malódromo, um ponto de encontro icônico no centro do Rio de Janeiro, conhecido por ser o lugar onde os maiores DJs e donos de equipes de som do país adquiriam seus discos importados.

    O Malódromo: O Coração da Música Importada

    Nos anos 80, o malódromo, localizado nas proximidades do Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, era o epicentro do comércio de discos importados no Rio de Janeiro. Ali, vendedores como Machado, mais conhecido como DJ Nazz, operavam verdadeiras lojas a céu aberto, vendendo discos diretamente do chão para quem chegasse primeiro.

    Ricardo relembra a intensidade dessas visitas: “Eu corria muito atrás dos discos. Trabalhava numa empresa e, no meu horário de almoço, ia para as lojas pesquisar”, destaca. Esses discos, que vinham de lugares como Miami e Nova Iorque, eram essenciais para manter a qualidade e a inovação musical dos bailes da Status.

    Esquema de auto-falantes e carimbos da Status Disco Dance.

    O Impacto dos Bailes na Comunidade

    Os bailes da Status Disco Dance rapidamente se tornaram o ponto de encontro preferido dos jovens da Rocinha. Naquela época, a violência e a falta de opções de lazer faziam dos bailes uma válvula de escape crucial. “Naquela época, a Rocinha passava por muita violência e não havia muito o que fazer. A única opção era ir ao baile.

    Os bailes da Rocinha eram tão bons que até hoje encontro pessoas que dizem estar casadas graças ao baile da Status Disco Dance”, diz Ricardo com orgulho.

    Status disco dance

    “Sabe quando uma criança conhece um parque de diversões pela primeira vez? Era assim que eu me sentia na Status Disco Dance”. Ricardo Pereira

    Ricardo Pereira de camisa verde e o DJ Piu, na época o melhor DJ da Rocinha

    Artistas e DJs: A Alma dos Bailes

    O sucesso dos bailes também se deve aos artistas e DJs que passaram pela Status Disco Dance. Além de Ricardo, que comandava as pick-ups, a equipe contava com o talento de DJs como Piu, que era considerado um dos melhores do Rio na época.

    “Além de mim, tinha o DJ Piu, que era praticamente o número 3 dos DJs do Rio de Janeiro na época. Convidamos também o Corello DJ, que fez um show maravilhoso para a gente, além de William DJ (Willian de Oliveira) e DJ Marcão”, lembra Ricardo.

    Os bailes também foram palco para apresentações de artistas consagrados como Paralamas do Sucesso, Silvinho Bláu Bláu, Biquini Cavadão, João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, entre outros que ajudaram a consolidar a Status como um dos principais centros culturais da Rocinha.

    Dj Piu e seu irmão Kinkas da Rua 2 e DJ Wiliam

    DJ Marcão

    Dj Piu

     

     DJ Willian com a camisa da Status

    Quem conhece Willian de Oliveira, conhece também o Willian DJ. Aos sábados e domingos, ao anoitecer, ele se transformava em carregador de caixas e equipamentos de som da equipe Status Disco Dance. Foi essa dedicação que o permitiu entrar para a equipe e, se
    tornar um DJ, passando a comandar os eventos com maestria. Hoje, Willian é uma grande liderança na Rocinha, respeitado por sua trajetória e contribuição à comunidade.

    A Transição Musical

    Ao longo dos anos, a música nos bailes da Status Disco Dance também evoluiu, acompanhando as mudanças na cena musical internacional. “A transição foi muito boa. Começamos com o som do James Brown nos anos 70, passamos pela discoteque, depois para o funk soul, e finalmente, nos anos 80, para o miami bass”, explica Ricardo.

    Essa transição foi importante para manter a relevância da Status e atrair novos públicos, mostrando a capacidade da equipe de se adaptar às novas tendências e manter a animação dos bailes.

    Rádio Imprensa: O Pulso da Cultura Funk

    A expansão da influência da Status Disco Dance não se limitou aos bailes. A partir de 1984, a equipe conquistou as ondas do rádio com dois programas na Rádio Imprensa, uma das emissoras pioneiras no Brasil a dar espaço ao funk carioca. A Rádio Imprensa, que operava na frequência 102,1 MHz, era uma das FMs mais influentes da época, conhecida por ter sido a primeira emissora em frequência modulada instalada na América Latina.

    “Tínhamos dois programas na Rádio Imprensa, de 1984 a 1988. Um era dedicado às músicas dos bailes da Status, das 22h às 23h, e o outro era um programa de flashback, que ia até meia-noite”, conta Ricardo.

    A Rádio Imprensa, fundada em 1955, desempenhou um papel crucial na popularização do funk e de outras vertentes musicais na cidade, abrindo suas portas para locatários como a Status Disco Dance e a própria Furacão 2000.

    O impacto desses programas foi significativo, atraindo patrocínios e consolidando ainda mais a reputação da equipe na Rocinha. “Esses
    programas ajudaram a divulgar os bailes e a fortalecer a marca da Status Disco Dance. Comerciantes locais até queriam que a gente fizesse propaganda para eles”, relembra Ricardo.

    O Fim de uma Era

    Em 1992, Ricardo tomou a difícil decisão de vender a Status Disco Dance, marcando o fim de uma era na Rocinha. “Decidi vender a equipe em 1992. Tinha família e nunca dependi da Status para sustentar meus filhos. Fazia o som como hobby, mas estava vendo meus filhos
    crescerem sem a figura do pai. Por isso, decidi vender tudo”, explica.

    Apesar disso, o legado da Status Disco Dance na Rocinha, continuou a viver através das memórias de quem participou dos bailes. “Até hoje, quando eu vou na Rocinha, encontro pessoas que dizem que conheceram suas esposas nos nossos bailes e estão casadas até hoje”, comenta Ricardo.

    Reflexões Finais

    Olhando para trás, Ricardo Pereira se emociona ao relembrar os momentos vividos com a Status Disco Dance. “Sabe quando uma criança conhece um parque de diversões pela primeira vez? Era assim que eu me sentia na Status Disco Dance”, diz ele.

    A história da Status é um testemunho do poder transformador da música e da cultura popular, especialmente em comunidades como a Rocinha, onde o acesso a espaços de lazer e cultura sempre foi limitado. Hoje, ao revisitar essa trajetória, é possível entender a importância desses movimentos culturais para a formação da identidade de gerações inteiras.

    A história da Status Disco Dance é, acima de tudo, uma história de resistência, criatividade e amor pela música. Ricardo Pereira e Paulo Roberto, com sua visão e determinação, criaram mais do que uma equipe de som; eles criaram um movimento que ressoou por toda a Rocinha e deixou uma marca profunda na cultura popular carioca.

    Para os jovens de hoje, especialmente aqueles que fazem parte da cena do funk e do hip hop, essa é uma história que merece ser conhecida e celebrada, pois é parte fundamental das raízes culturais que ainda sustentam a música nas periferias do Brasil.

    O legado da Status Disco Dance continua vivo, não apenas nas lembranças dos que viveram aquela época, mas também na inspiração que oferece às novas gerações que buscam, através da música, um caminho para transformar suas realidades.

  • DJ Julio Moska: As histórias do hip hop da Baixada Fluminense

    DJ Julio Moska: As histórias do hip hop da Baixada Fluminense

    Me chamo Júlio Cesar de Oliveira da Silva, tenho 40 anos, sou conhecido como DJ Júlio Moska.

    Sou criado em Vigário Geral, radicado na Baixada há muito tempo. Tô aqui há praticamente 20 anos. Eu consegui, junto com os aliados, trazer muita coisa pra cá e fazer uma união maneira na Baixada Fluminense, fortalecendo a cena.

    Em 1998 eu comecei a vir pra Baixada, mas não ficava aqui direto. Minha mãe veio pra cá primeiro e eu continuei lá em Vigário, eu vim pra cá realmente em 2002, mas por questão de adaptação, por que lá tinha algumas facilidades. Mesmo assim eu já vinha pra cá, já conhecia a rapaziada que fazia rap.

    Comecei a ouvir rap em 1993, porque eu gostava muito de rasteiro. Meu tio me apresentou algumas coisas que tocava nos bailes.

    Eu tive muita influência do meu tio porque ele frequentava muito baile soul, e tudo o que tocava no baile tinha na casa dele. Eu chegava lá e sempre tinha um Soul Grand Prix rolando, tinha um Kaskatas.

    Teve uma coleção da Kaskatas que eu não me lembro bem, mas a capa era um muro grafitado, tinha uns caras fazendo posição de break. Ele não sabia explicar o que era, o que era a concepção daquela capa, mas eu pirava na música. Depois de um bom tempo que eu vi as pessoas dançarem break, mas eu não sabia o que era, porque canal de acesso não tinha.

  • Mad: As histórias do hip hop da Baixada Fluminense

    Mad: As histórias do hip hop da Baixada Fluminense

    Eu sou nascido na Baixada Fluminense, nascido em Mesquita. Fui menino de Mesquita nos anos 70, com toda aquela dificuldade, da pobreza mesmo.

    A gente nos anos 70 e 80 era diferente, era muito pobre, todas as famílias eram pobres. A gente tinha uma dificuldade muito grande. Não que a gente não tenha hoje, mas é que as dificuldades eram outras.

    Tem essa questão de ter a família dividida. Num certo momento meu pai foi embora de casa, minha mãe ficou sozinha. Ficamos eu, meus dois irmãos e minha mãe, e nessa época me lembro que minha mãe trabalhava fora… trabalhava pra comprar comida, e a gente só não andava pelado porque minha mãe era costureira.

    Fala-se que a Baixada hoje é violenta, mas eu nunca vivi momento de paz na Baixada. A Baixada de hoje é violenta, mas a Baixada que eu vivi era muito violenta também, e era uma baixada onde existia a ignorância, onde as pessoas não respeitavam aquilo que tava fora do padrão, a mulher era muito desrespeitada, o gay era muito desrespeitado.

    Eu posso falar de Mesquita, da minha área, dos arredores da minha casa, mas acho que a Baixada toda tinha essa questão muito forte dos grupos de extermínio, e a população assinava embaixo.

    Tinha uma máxima que dizia que “ninguém more a toa”.

    Eu também participava dessa máxima. Morreu é porque devia.

    Muito tempo depois eu fui descobrir que isso tudo era mentira, que se morria por muito pouca coisa. Até de você usar um baseado era motivo pros caras te matarem, então era muito latente a violência na Baixada nessa época que eu fui garoto, que eu fui jovem, isso era uma coisa constante aqui.

    Hoje as pessoas romantizam muito… “ah que naquela época…”, naquela época era foda também, era muito violenta e a gente tinha que andar no sapato, porque o risco de morrer por qualquer motivo era constante.

  • Em homenagem aos 80 anos de Marvin Gaye, chega em todas as plataformas digitais o álbum inédito “You’re the man”

    Em homenagem aos 80 anos de Marvin Gaye, chega em todas as plataformas digitais o álbum inédito “You’re the man”

    O extenso catálogo do astro Marvin Gaye ainda reserva surpresas.

    Chega hoje, três dias antes do 80º aniversário do cantor, em todas as plataformas digitais, o álbum inédito “You’re The Man”.

    Com um repertório de 17 músicas, o trabalho foi gravado em 1972. Algumas dessas músicas são apresentadas pela primeira vez, com o melhor dos trabalhos clássicos de composição e produção de artistas da Motown e de nomes como Fonce Mizell e Gloria Jones, além de três remixes de Salaam Remi, produtor de hip-hop e R&B.

    O biógrafo de Marvin Gaye, David Ritz, contextualiza a criação do álbum como um período de profundo conflito pessoal e criatividade intensa e frutífera.

    Ouça e baixe aqui: https://umusicbrazil.lnk.to/YoureTheMan .

  • Seletores de Frequência lançam EP instrumental

    Seletores de Frequência lançam EP instrumental

    Seletores de Frequência, a banda que acompanha o artista BNegão desde seu primeiro disco solo, Enxugando Gelo (2003), apresenta agora um novo show, instrumental e experimental. O grupo carioca compilou versões rearranjadas de canções que estão neste primeiro álbum e naqueles que o sucedem – o premiado Sintoniza Lá (2012) e o mais recente, TransmutAção (2015).

    O setlist também conta com alguns clássicos do groove escolhidos a dedo e temas inéditos que estarão no disco instrumental do grupo (ainda sem data de lançamento).

    Este disco é um desejo antigo dos Seletores, e vinha sendo planejado desde 2014. Mas o lançamento de TransmutAção pelo edital Natura Musical em 2015 acabou postergando os planos. Agora é hora de voltar ao plano original e instrumental, que está a cargo da banda formada por Pedro Selector (trompete), Fabiano Moreno (guitarra), Fabio Kalunga (baixo) e Robson Riva (bateria). E que conta com as participações especiais de Sandro Lustosa (percussão) e Marco Serragrande (trombone), parceiros de longa data.

    Mas atenção: a banda BNegão & Seletores de Frequência continua a todo vapor e com novo vinil na praça. Este lançamento instrumental é o nascimento de um novo projeto!

    No processo de criação das músicas que foram letradas por BNegão, o som sempre surgiu antes da palavra, ou seja, é natural que o grupo orquestre uma apresentação genuinamente instrumental, explorando ainda mais a inventividade de cada um dos músicos.

    Vale lembrar que todos os discos dos Seletores, lançados com BNegão, possuem músicas instrumentais. No primeiro, “No Hay”; no seguinte, “Na Tranquila”; e no terceiro, uma conquista: “Surfin’ Astatke”, composição de Pedro Selector, ficou em 10o lugar na lista das melhores músicas de 2015, pela revista Rolling Stone Brasil.

    Nas influências, tudo aquilo que está no DNA da banda: Funk, Soul, Reggae, Dub, Afro, Jazz, Samba. Mas, acima de tudo, a missão de fazer música livre, sem rótulos. Para o público afinar o passo no compasso desse groove, os Seletores estão lançando um EP com quatro músicas, somente na internet.

    Escute aqui: www.seletores.bandcamp.com

     

  • 4ª edição do Baile Black Bom no SESC Nova Iguaçu

    4ª edição do Baile Black Bom no SESC Nova Iguaçu

    O BAILE BLACK BOM traz uma viagem no tempo da Black Music, com releituras dos maiores clássicos gênero, desde os anos 70 até os dias de hoje executados pela banda Consciência Tranquila. A essência do baile “BLACK BOM” é resgatar os bailes BLACK POWER num belo espetáculo com Banda, DJ, Beat Box, Rap e toda a variedade de expressões artísticas que a Black Music pode oferecer! Completando o time de atrativos, Feira de Afro-empreendedores e Distribuição de kits Literários.

    Nas pickups, agitando a pista, o DJ Flash (vinil / black antigo, funk 70, R & B e Charme)

    O evento será todo último sábado do mês no SESC Nova Iguaçu, que fica na Rua Dom Adriano Hipólito, 10 – Moquetá na altura do km 14,5 da Rodovia Presidente Dutra. Um ambiente classe A, amplo e agradável, do jeitinho que você, nosso convidado merece!! A entrada é gratuita, venha dançar ao som de Michael Jackson, Stevie wonder, Bruno Mars, Alicia Keys, Tim Maia e outros grandes nomes da Black Music.

    FEIRA DE AFRO-EMPREENDEDORES
    O Baile Black Bom tem como proposta fortalecer a Rede de afro-empreendedores e com isso trabalhar a Valorização da Identidade e Estética Afro-brasileira. Confira o melhor da mundo Black com as marcas:

    LITERATURA – Distribuição gratuita de kits Literários do Ceap Centro De Articulação de Populações Marginalizadas, que trará pro evento o Espaço do Conhecimento diversos temas sobre cultura afro-brasileira.

    Serviço
    26 de julho, 18 horas
    EVENTO GRATUITO!!!

    REALIZAÇÃO:
    SESC
    Botacara Produções

    APOIO:
    Centro de Articulação de Populações Marginalizadas – CEAP
    Incubadora Afro-brasileira

  • A Intuitiva Diva do Hip-Hop-Soul-R&B: Hannah Lima

    A Intuitiva Diva do Hip-Hop-Soul-R&B: Hannah Lima

    Ela fez backing vocal para vários artistas como Sidney Magal, Fernanda Abreu e a banda BLITZ. Em 2000, lançou seu primeiro disco, intitulado “Intuitiva”. Disco esse que ganhou as rádios e pistas com as canções “Demorô”, “Periga eu te conquistar” e a canção que dá nome ao disco. Trabalhou em diversas parcerias e teve seu single “Alice no país das armadilhas” lançado nas rádios e tocado nas pistas, em 2004. Dividiu o palco com diversos artistas, dentre eles, o rapper Black Alien. Em 2008, foi a única artista brasileira a se apresentar no Festival “Tudo é Jazz”, em Ouro Preto, MG. Em 2009 lançou o disco “Neguinha”, e foi indicada a um prêmio, como melhor artista solo feminino, e em 2010 abriu o show do cantor Akon em Nova Iguaçu, RJ. Estou falando da intuitiva diva do Hip-Hop-Soul-R&B, rapper, cantora e compositora Hannah Lima. Confira a entrevista:

    Marcão: Como foi seu envolvimento com a música?
    Hannah: Vem desde o útero materno! Minha mãe tocava piano, minha avó tambem, o pai da minha avó, meu bizavô, que nem conheci, era negro e maestro lá na pequena cidade de Espera Feliz, interior de MG. A música vem passando de geração em geração na minha família. Então já nasci envolvida com música. Aprendi a falar cantando uma música que minha mãe compôs pra mim quando nasci, “Botão de Rosa”, e gravei essa musica no meu primeiro CD. Ela costumava tocar piano comigo ainda na barriga, e depois no carrinho e depois, já maiorzinha, e eu ficava do lado cantando e olhando o que ela fazia… Aprendi piano na infância de ouvido mesmo. Depois que minha mãe faleceu, eu ficava vendo minha avó tocar e depois, já na adolescência estudei um pouco de piano na escola de música Villa Lobos. Música é meu refúgio, minha fortaleza. Minha mãe, Maria Célia Lima, faleceu quando eu tinha apenas 5 anos, e a musica tornou minha infância suportável. Profissionalmente, comecei aos 18 anos fazendo backing vocal para o Sidney Magal.

    E como foi fazer backing vocal para o Sidney Magal, e também para Fernanda Abreu e Blitz?
    Foi aprendizado! Especialmente com o Magal, então, aprendi demais vivenciando momentos inéditos até então pra mim, já que foi meu primeiro trabalho. Nunca havia viajado para fazer shows, programas de TV e com ele, foi tipo tudo ao mesmo tempo! Muita TV, Faustão, Gugu, Xuxa, Fantástico, Angélica… e vários outros! Nossa, todos os programas de TV, a gente fazia além, muitos shows e eu ainda crua né!? (Risos). Depois veio a Fernanda Abreu e sua banda que é show de bola, e depois a Blitz, onde entrei pra gravar um CD ao vivo e ficar 6 meses, mas a tour virou e eu fiquei 3 anos! A Blitz é pura magia! O público faz o show cantando tudo! E lá eu tinha uma liberdade criativa total! Desde cantar e dançar á falar com multidões, tocávamos pra 100 mil pessoas muitas vezes, e chegamos a tocar pra 4 milhões de pessoas no réveillon do Rio em Copacabana! Tinha cenários que se moviam, cantei em cima da Lua, com carro entrando no palco, rede de futevôlei, capoeiristas, baleias infláveis caindo do teto, bolas gigantescas que a gente chutava para a plateia! (Risos). Muitos figurinos e mil coisas que aconteciam no palco! A parte cênica e teatral da Blitz era demais! Foi uma escola fundamental para que eu depois estreasse em carreira solo como uma veterana! No meu primeiro CD, o palco já não era nenhuma novidade pra mim !

    Você lançou o disco “Intuitiva”, e se tornou uma das principais representantes da fusão entre Rap e R&B. Qual a importância dessa fusão?
    Me lembro até hoje a emoção que eu senti quando escutei a “DEMORO” no rádio pela primeira vez! Quando peguei o CD “INTUITIVA” na mão, também me lembro! A sensação de estar com meu sonho nas mãos… e depois escutar tocando… Pulei , ri , gritei e depois chorei bastante de alegria, mas também pelo esforço, pela luta, enfim, por tudo afinal, depois de 10 anos trabalhando com outros artistas, eu havia conseguido gravar e prensar o meu primeiro CD com uma boa distribuição! Mas não foi fácil trabalhar um CD autoral nesse estilo. Ninguém na época fazia R&B e ainda mais misturando com rap! Nossa não foi fácil mesmo. A gravadora me enquadrava no pop-rock, pois não havia seguimento Rap, nem Black lá… E a galera do rap mais raíz ainda não interagia nada, nada… Muitos curtiam meu som, mas havia ainda, certo receio… Duvidavam que era eu quem escrevia minhas musicas… Sei lá viu… Foi bem difícil. Me lembro de situações inúmeras onde viam meu pôster e não levavam fé. Achavam que era produto fabricado! Até nas rádios aonde eu chegava me olhavam com descrença e só depois que eu cantava é que ai a coisa mudava de figura!

    Seus sons ganharam as rádios e as pistas. Como foi o retorno disso?
    Tive um retorno bacana pelo fato de tocar em rádio, mas na época, eu era um “produto solitário”, e segundo a gravadora, por isso difícil de trabalhar. Eles achavam que meu CD estava 10 anos adiantado! Eu ficava irritada quando escutava isso deles, pois no fundo, era uma desculpa para não investirem em divulgação. E era mesmo! Mas por outro lado, hoje em dia vejo que fazia sim, algum sentido o que eles diziam, embora não justificasse a incompetência deles na divulgação do “INTUITIVA”. O R&B, o Soul e Funk são a raíz do Rap, então é claro que a mistura é algo natural. Porém não foi fácil, já que no Brasil naquela época uma mulher gravar R&B misturado com rap, compondo por si só e não tendo sido parte de grupo de rap masculino era algo nem sempre visto com bons olhos.

    Você se sentiu com uma grande responsabilidade, sendo a única artista brasileira a se apresentar no “Festival Tudo é Jazz”?
    Na verdade, eu só soube disso exatamente quando já estava lá em Ouro Preto. Soube bem em cima da hora, então nem deu muito pra sentir a responsa, mas foi muito gratificante tocar e ver os artistas que se apresentariam depois de mim me assistindo e curtindo, mesmo sem entender o que eu cantava. Depois de mim, neste palco, subiram mais 4 artistas, todos de New Orleans!

    Você dividiu palco ao lado de artistas, como Black Alien, Nando Reis, Zezé di Camargo e Luciano… Grande parte dos rappers, e as pessoas que escutam rap, ainda enxergam uma espécie de barreira entre os demais gêneros musicais; mas pra você, qual a importância dessa aproximação?
    Olha, eu entendo que existam sim, barreiras, mas elas na verdade existem mais é dentro da cabeça das pessoas. O rap encontra dificuldades por ser música falada e sofre sim preconceito, mas o preconceito existe também entre outros estilos. É roqueiro que não curte Axé, é MPB que detesta Sertanejo, enfim… Mas na minha opinião, o rap é mais afetado por absorver e interiorizar o preconceito que sofre. O Rap deve saber se sentir, se reconhecer e se entender como música! E tomar posse mesmo! Tipo, eu sou um rapper e sou músico! Acho importante também para aqueles que querem viver de música que encontrem um diferencial. Eu, por exemplo, peguei meus primeiros trabalhos em bandas de artistas Pop, não só por que eu cantava, mas sim por que cantava e dançava muito bem! Meu diferencial foi fundamental para que eu me destacasse e fosse escolhida entre dezenas de candidatas para trabalhos onde a dança era fundamental! Então acho importante que a pessoa aprenda outras funções como tocar um instrumento, cantar, dançar… Porque ai você pode ir abrindo mais espaços, pode interagir mais também. Interagir e se aproximar de diferentes estilos musicais é importantíssimo não só para ampliar os horizontes e possibilidades de trabalho, mas também para o aprendizado. Com música a gente aprende sempre especialmente experimentando estilos que não são exatamente os que a gente faz, ou faria num trabalho próprio e autoral!
    Confira o videoclipe da canção “Demorô”, de Hannah Lima:
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    Em 2009, você lançou “Neguinha”, e foi indicada a um prêmio, como melhor artista solo feminino da História do Hip-Hop Brasileiro. Qual foi a reação ao saber da indicação?

    Claro que eu achei bacana, afinal pelo fato de por muitos anos, só existir a categoria Demo Feminina, eu nunca havia concorrido, pois não faço demo e meu primeiro cd é do ano 2000 e na época por ser R&B, e a premiação ser mais fechada no Rap, lógico que nem se lembraram de mim… Depois nos anos seguintes, acabaram com as categorias melhor CD feminino e melhor artista feminino, e acredito que por isso, eu nunca havia concorrido. Por simples falta de categoria, devido ao fato das mulheres não lançarem CDs . Mas sempre contribui com o prêmio, como jurada, torcendo por uma maior visibilidade para as mulheres, porém, sem categorias femininas ficava muito complicado. Então em 2009, eu curti a indicação, mas confesso que não gostei da sensação de estar lá concorrendo! (Risos). Sei lá, me acostumei a ir lá todos os anos torcer pelos amigos e tal, então achei meio desconfortável, embora eu saiba que foi importante, a minha contribuição para a cena feminina especialmente por eu não fazer o rap tradicional puro, e sim ser também e originalmente uma cantora de R&B.

    Atualmente, no Brasil, como está o protaganismo feminino no Rap/R&B?
    Existem muitas rappers com um trabalho de qualidade tanto da antiga, como da nova geração e cantoras de R&B também! Edd Wheller, Livre Ameaça, Rúbia (RPW), Flora Matos, Nicole, Cindy, Quelinah,Negra Li,Lurdes da Luz,Tábata Alves, Nathy Mc,K-milla CDD, Carol Konká, Nega Gizza ,Mc Gra, Poetiza, Lívia Cruz… Entre outras tantas que me perdoem não terem sido citadas aqui e é claro, a eterna Dina Di, sempre! Já no R&B indico escutarem Cidália Castro! Uma diva! Canta muito e compõe lindamente! E também a Izzy Gordon, que tem uma voz fantástica e seu trabalho mistura influências da MPB, Jazz e Soul Music! Só não entendo por que o sucesso das mulheres dentro do Hip-Hop fica sempre limitado, e até hoje tão poucas conseguiram uma maior projeção, e mesmo estas nunca são igualmente respeitadas e valorizadas como os homens que também atingem um maior público.

    Como foi abrir o show do Akon?
    Foi importante para divulgação do meu trabalho, importante por ter sido resultado da aceitação pública da minha música “Por Ser Amor”, lançada pela FM O DIA, importante porque tive a aprovação do Akon, para que a abertura acontecesse. Foi muito bacana, mas abrir um show desse porte é muito complicado, pois o público de um artista como Akon é um público que curte a música da moda, e que está lá impaciente, e exclusivamente para ver o show dele. Foi preciso muita garra e jogo de cintura para segurar, e, na verdade, “ganhar o público” literalmente. Numa situação como essa, um vacilo ou a falta de atitude e da palavra certa num momento crítico, pode colocar tudo a perder! Graças a Deus e a minha experiência profissional deu tudo certíssimo! O público adorou, o pessoal da Rádio FM O Dia também curtiu, e foi bacana demais cantar para a Baixada Fluminense, no estacionamento da Rio Sampa, num evento daquela magnitude. Foi lindo! Mas sinceramente não sei se recomendo que um artista iniciante se coloque nesta situação. É preciso muita experiência de palco pra segurar!

    Algum projeto para 2011?
    Muitos! Em 2011 estou compondo e gravando aos poucos, novas músicas para um novo cd, viajando em tour com o Nando Reis, já que agora eu também sou uma “Infernal”, agitando uma temporada de shows com a minha banda e convidados, no tempo mínimo que sobra na agenda. Também devo participar de alguns CDs e projetos pioneiros, que amigos e personalidades que eu amo e respeito muito!

    Hannah, muito obrigado pela entrevista, gostaria que deixasse uma mensagem aos leitores do Portal Enraizados…
    É sempre muito bom ser entrevistada por esse site que eu adoro, admiro e respeito demais! Muito obrigada! E uma mensagem final seria: “Acreditem no sonho de vocês e trabalhem, lutem , coloquem-se em movimento com humildade, determinação, entusiasmo e muito amor pelo ofício! Não se imponham limites, pois eles não existem! Não interiorizem um preconceito sofrido assim como também não sejam preconceituosos com os diferentes! Não duvidem de suas metas e sonhos! Façam sem buscar os fins, pois fins não existem e sim o que existem são somente os caminhos, a caminhada! Acreditem sempre  pois o impossível é somente mais, uma opinião! Muito Amor, Paz, Saúde, Verdade , Senso de Justiça e Prosperidade a todos!”

    Saiba mais sobre Hannah Lima em: http://www.hannahlima.com/