Olá leitores e leitoras da minha coluna no Portal Enraizados, hoje vou tratar de um assunto que já venho falando há algum tempo: “o rumo que o rap tá tomando”.
Sem querer bancar o paizão ou o dono da verdade, mas sinceramente acho que minha opinião tem que valer alguma coisa, pois já são 20 anos da minha vida que me dedico a essa cultura e fico triste em presenciar algumas coisas que vão contra o que aprendi no hip hop, principalmente os valores dessa cultura.
Hoje, dando um rolé pelo feed do twitter vi uma postagem de um mano da antiga falando sobre uma briga entre rappers numa festa do Rio de Janeiro. Depois de um tempo ví o vídeo da tal briga no facebook, onde um rapaz narrava euforicamente que o BK estava colocando o Costa Gold pra ralar. Depois ele gritava: – Rala São Paulo, rala São Paulo.
Logo depois li que o BK e o cara do Costa Gold disseram que nem estavam na tal festa ou na tal briga, contudo a briga rolou e o nome deles estava sendo citado, o que indica que já rola alguma treta. Na minha época de pista, se rolasse esse tipo de treta, metade tava morto e metade tava preso. O rap é pra ter respeito pelo outro, é coisa de “sujeito homem” ou “sujeita mulher”, ou seja, lugar de quem tem compromisso.
Outro dia um louco falou merda do Dexter e ele foi atras pra cobrar, pra tirar satisfação.
Outro dia meu nome tava rolando em grupinho de WhatsApp e fui atrás pra cobrar também, mas como sempre não passava de recalque. E é sempre a mesma história, quem fala merda pela internet, quando chega no cara a cara amarela.
Mas a imaturidade desse tipo de atitude pode gerar um mal-estar muito grande dentro do movimento, além de prejudicar o trabalho de quem realmente tá levando o negócio a sério.
Enquanto isso o Brasil tá vivendo um caos e parece que parte do hip hop tá vivendo na Matrix, no “Fantástico mundo de Bob”.
Mano Brown disse em uma entrevista que ele não é pessimista, e sim realista. Ele se posiciona e toma porrada o tempo todo. O Emicida se mantém longe das tretas e sempre se posiciona por aquilo que realmente é relevante, o coletivo, e toma porrada o tempo todo.
A gente tinha que estar mais unido, respeitando e fortalecendo os nosso irmãos, principalmente os que estão trabalhando em prol da cultura.
Mas a maioria tá buscando cliques e views, e às vezes coloca os pés pelas mãos, querem ser descolados(as) e se mostram racistas. Atos racistas dentro do hip hop!!! Inimaginável há tempos atrás.
Nesse caos gravo meu novo disco, cujo o nome provisório é “O Dever Me Chama”, previsto pra ser lançado no dia 06 de março, onde defendendo meu ponto de vista, e mostro que estou pronto pra lutar pelo que acredito.
Principalmente porque o parte do rap está brigando ao invés de lutar.
No dia 22 de outubro minha time line do facebook ficou movimentada por conta do programa Profissão Repórter que foi veiculado no último dia 21 de outubro, na Rede Globo, onde o tema era o sempre polêmico Rap.
Muitas mensagens de protesto foram postadas contra o programa, porém também foram postadas muitas outras mensagens de apoio ao rap, que está cada vez mais presente nas telinhas.
Mas uma pergunta não quer calar:
– Será que o povo do rap dá o devido valor às conquistas que o movimento tem nos grandes meios de comunicação?
Já vi e ouvi críticas ferrenhas ao Programa Esquenta, da Regina Casé, que abriu as portas não só para o rap, mas para toda uma estética totalmente diferente do perfil da emissora. Lembro que no programa já se apresentaram Edi Rock – o que causou um mau estar no fãs do Racionais – e o Emicida algumas vezes.
Em São Paulo tem o Manos e Minas, na TV Cultura, no ar desde 2008, apresentado atualmente pelo MC Max BO, mas que já teve os rappers Rappin Hood e Thaíde no comando. Centenas de MCs já passaram pelo programa, que teve seu fim decretado em 2010, mas devido a muitos protestos nas redes sociais o programa retornou e continua firme até hoje, acompanhando a produção atual da música urbana em suas várias vertentes (rap, funk, soul, reggae, samba, MPB), além de mostrar iniciativas e realizações da cultura de periferia e hip-hop em seus diversos segmentos.
Pioneiro do hip hop no Brasil,Thaíde, que hoje faz sucesso no programa A Liga, da Band, já é um veterano das telinhas, começando na MTV, apresentando o programa “Yo! MTV Raps” e propagando o videoclipe de milhares de grupos do país.
Não posso deixar de citar o MV Bill e a Nega Gizza, com o importante programa Aglomerado, na TV Brasil.
Lembro-me que o Emicida também atuou como repórter do programa Manos e Minas, e o escritor Alessandro Buzo iniciou o seu quadro Buzão Circular Periférico dentro do mesmo programa e por lá ficou durante 03 anos até ser contratado pela Rede Globo, para apresentar um quadro sobre cultura de periferia, o SP Cultura.
Durante os últimos 03 anos, todos os sábados, foi ao ar no SP Cultura alguma iniciativa cultural da periferia de São Paulo e o rap e o hip hop quase sempre estiveram presentes, com seus artistas e toda a sua complexidade. Alessandro Buzo comandava essas visitas com maestria e bom senso, gerando oportunidades e atendendo a todos, na maioria “anônimos”, o que sempre o diferenciou, por exemplo, de programas como o Esquenta, onde o valor maior está entre os já consagrados e famosos.
Há cerca de um mês o quadro saiu do ar. Ninguém sabe se volta ou não. Mas o que realmente me impressionou é que NÃO VI NAS REDES SOCIAIS UM MOVIMENTO #FicaSPCultura, como aconteceu no Manos e Minas.
Algumas pessoas dizem que são contra a Rede Globo e contra o rap na TV, acredito que temos que respeitar os que tem essa opinião.
Mas e os que não são contra?E os que se beneficiaram com os quase 150 quadros que foram ao ar? E as centenas de artistas, de iniciativas, de projetos e de comunidades que ganharam visibilidade justamente porque o quadro era em uma emissora do porte da Rede Globo? Porque esses não iniciaram esse movimento #FicaSPCultura?
Eu, apesar de não morar em São Paulo, assim como muitas outras pessoas pelo Brasil, assisti pela internet cada um dos 147 quadros que foram ao ar e por causa deles aprendi muito sobre a cultura da periferia de São Paulo e seus fazedores. Fico orgulhoso por um cara da periferia e com representatividade dentro do movimento ser o apresentador. Seria um sonho ter um programa parecido aqui no Rio de Janeiro, seria um avanço para periferia, uma grande oportunidade para o hip hop.
Mas e aí, vamos deixar escorrer por nosso dedos um dos canais mais importantes para o hip hop paulista e brasileiro?
Já pararam pra pensar quem realmente ganha quando o rap não está na TV?
Minha entrevista dessa semana é com o escritor Alessandro Buzo. Hoje em dia é difícil definí-lo (ou rotulá-lo) somente como escritor, pois ele também é empresário, produtor de eventos, jornalista, cineasta e… “sabe-se lá Deusmais o que”. Nessa entrevista procurei trazer para o leitor as multifaces deste incansável produtor de cultura urbana.
Senhoras e senhores, com vocês… ALESSANDRO BUZO!!!
DMA – Atualmente quantos livros você tem publicado?
Alessandro Buzo: Em junho de 21012 lancei PROFISSÃO MC pela NVersos Editora, meu décimo livro, que foi inspirado no meu filme de mesmo nome. Além desses 10 livros, publiquei outros seis, que são 05 volumes da coletânea PELAS PERIFERIAS DO BRASIL e 1 volume do POETAS DO SARAU SUBURBANO.
Destes, qual é o seu livro de maior sucesso em vendas e repercussão?
Difícil falar com precisão, sempre vende um pouco de cada, geralmente o que mais vende é o ultimo, mas O TREM é um dos que deu maior repercussão.
Capa do livro Profissão MC
Você faz o evento Favela Toma Conta a quantos anos?
Desde 2004, nos primeiros anos eram 3 ou 4 edições por ano, agora uma ou duas.
Com isso foram realizadas 26 edições, 22 no Itaim Paulista (Zona Leste de SP), 03 em São Miguel Paulista (vizinho do Itaim, também na Zona Leste) e uma na cidade de Ribeirão Preto, interior de SP. Poucos (não sei precisar outro) eventos de hip hop (de graça e na rua) tiveram tantas
edições.
O evento Favela Toma Conta já é uma festa tradicional onde passaram artistas consagrados como Thaide, Criolo, Dexter, Emicida, entre outros. Porque você acha que ainda assim o estado não patrocina o evento e o coloca no calendário da cidade?
Falta planejamento cultural, tanto do estado quanto da prefeitura. Com isso eu fico sempre sofrendo pra conseguir estrutura (palco, som, gerador e iluminação), na ultima edição – Dia das Crianças 2012 – a liberação veio a poucos dias do evento. Isso atrapalha o cronograma, como pensar nas atrações, brindes, etc…
Um sofrimento.
Porque você mantém o evento acontecendo tudos os anos mesmo com tanta dificuldade?
Já dizia o Sabotage: – Rap é Compromisso.
O Favela Toma Conta é o meu compromisso com o RAP e com o Itaim Paulista. Amo o evento e não tenho ele com intuito de ter lucro, não dando prejuízo já é lucro.
Quando você decidiu fazer o filme Profissão MC?
Desde 2007, quando passei a trabalhar na Produtora DGT FILMES, eu dizia que queria fazer um filme na minha quebrada, mas eles sempre respondiam que precisava roteiro (eu só tinha o argumento), que precisava captar dinheiro.
De tanto eu falar, o Toni Nogueira – dono da DGT – me disse: – Vamos fazer eu e você!
Fizemos sem captar um único real, com uma câmera pequena que filma em HD, na raça e na coragem.
Alessandro Buzo
Quais os melhores retornos que o filme te proporcionou?
O sucesso de público e crítica, a medalha GALGO ALADO, no Festival de Gramado, os 400 mil acessos no Youtube, o fato de o filme já ter 03 anos e seguir sendo exibido.
Além do sucesso, na vida real, do protagonista CRIOLO, mesmo não estando ligado diretamente ao filme e sim ao seu talento, mas foi bom ter feito parte da história de vida dele.
Agora você prepara o filme Profissão MC II, onde o Dexter é o protagonista. Porque escolheu o Dexter? Quem mais participa do filme?
Escolhi o Dexter porque além de um grande talento ele tem a personalidade forte. Porque a trama do filme é parecida com a tragetória dele na vida real (crime, cadeia e superação através do RAP), mas não é a história dele, assim como o primeiro filme é uma ficção.
Vi que você estava tentando recurso para o realizar o filme através crowdfunding (financiamento coletivo), como está a arrecadação? Como os interessados podem contribuir?
Colocamos no CATARSE pra tentar arrumar 90 mil em 2 meses, mas não deu certo. Se cada pessoa que viu o primeiro filme no youtube de graça tivesse dado 01 real, iria sobrar dinheiro, mas ficou a lição. Sei que depois de pronto a primeira coisa que vão perguntar é se vou disponibilizar gratuitamente?
Mas na boa, o filme vai acontecer, estamos montando o projeto profissionalmente e vamos tentar os editais de cinema.
Alessandro Buzo e Tony Nogueira gravando.
Sua carreira como repórter começou com um quadro na TV Cultura, no programa Manos e Minas. Como surgiu a oportunidade de trabalhar no SPTV, da Rede Globo?
Fiquei 03 anos na TV Cultura, sei que meu quadro chamou a atenção da Globo, estive na emissora fazendo uma palestra e posteriormente surgiu o convite. Achei incrível a possibilidade de mostrar a cena cultural da periferia com a audiência que o telejornal SPTV 1a edição tem.
Conversamos e entrei na estréia do novo formato do SPTV, que passava a ter o César Tralli de ancora.
Você sofreu algum tipo de preconceito das pessoas do hip hop por causa desse seu trabalho na Rede Globo?
Nenhum, ou muito pouco. Sabia que o trabalho bem feito iria falar por si só e é o que está acontecendo, o quadro completou 01 ano, mais de 50 quadros exibidos e é um sucesso.
Além de todas essas atribuições, você ainda é proprietário de uma livraria Suburbano Convicto, no Centro de São Paulo. A primeira especializada em Literatura Marginal no Brasil. Como consegue administrar a livraria?
É complicado porque ela ou fica no vermelho ou empata. Quando fecha o mês no azul é bem pouca grana. Não poderia viver da livraria, como não vivo, mantenho ela porque muito mais que um comércio é meu escritório e um centro cultural, além do mais é a única do Brasil especializada em Literatura Marginal.
É na livraria Suburbano Convicto que toda terça acontece o Sarau Suburbano. Ela hoje pertence ao movimento literário e ao Hip Hop, eu só administro porque alguém tem que fazer isso. Mas ela é muito mais que um comércio.
Alessandro Buzo no Programa do Jô
A pouco tempo você participou do Programa do Jô. Como foi a experiência?
Bacana pela audiência e repercussão. As pessoas fazem um castelo, pra muita gente foi importante me ver no Jô, então quem sou eu pra pensar o contrário.
Um vizinho meu no Itaim Paulista me disse: – Fiquei orgulhoso de te ver sentado no sofá do Jô e agora olha você aqui, sentado na minha calçada.
Familia Buzo. Alessandro Buzo, Evandro e Marilda Borges.
Sua esposa Marilda Borges é sua assessora e fotografa, como é trabalhar com a esposa ?
Não é fácil, porque ela tem o temperamento forte, mas ela enxerga as coisas que as vezes eu deixo passar batido. Mas além disso, ela é companheira e auxilia em tudo, sem ela eu não teria o Blog mais atualizado do Brasil, fotos de todo lugar que eu vou.
As vezes o contratante não quer pagar a passagem dela, pensa que quero levá-la pra fazer turismo. Já paguei do meu bolso pra ela ir comigo em alguns lugares. Agora não, minha equipe são duas pessoas, se não rolar nem vou, a não ser que o cachê seja irrecusável, caso contrário
ou somos nós dois ou nada. Recentemente uma feira do livro disse não, então eu disse que não iria e eles voltaram atrás.
O que você acha das Redes Sociais ?
Eu mesmo administro, mas algumas pessoas pensam que tem uma equipe e tal, mas sou eu mesmo. Gosto muito do Twitter (onde tenho 6 mil seguidores), uso como ferramenta de trabalho. O facebook é a versão atualizada e renovada do ORKUT, todo mundo tem, o Twitter é mais para
pessoas do meio artistico e do Hip Hop, uso e abuso dessa ferramenta.
Já o face tenho por “obrigação” mas é um saco, tenho 3 perfis (cada um “só cabe” 5 mil pessoas), e duas fã-pages, uma minha e outra da Suburbano, mas não gosto.
Alessandro Buzo no SPTV.
Como mantém a anos um Blog atualizado diariamente ?
Porque não tenho ele por obrigação e sim porque gosto, sempre quis ter um lugar pra falar o que eu quisesse e divulgar minhas atividades. Já tive fanzine, jornal e agora o blog, desde 2001. Amo o meu blog.
Seu time vai mal das pernas, você é palmeirense convicto?
Time é igual casamento, precisa ser na alegria e na tristeza.
Eu sou palmeirense desde criancinha e vou ser mesmo que ele caia (não acredito) de novo pra série B, me orgulho de meu filho ser palmeirense, o pior desgosto de um pai torcedor é ver o filho torcer pro adversário, meu filho é tão ou mais “porco” que eu.
Planos pro futuro ?
Seguir meu trabalho na TV, seguir publicando livros, seguir sendo um bom pai e marido, e produzir e realizar meu novo filme. O futuro a Deus pertence.