Categoria: Educação

  • Festival Caleidoscópio X: Masterclass promove reflexão prática sobre produção cultural e finanças pessoais

    Festival Caleidoscópio X: Masterclass promove reflexão prática sobre produção cultural e finanças pessoais

    No dia 09 de abril, às 14h, será realizada a primeira masterclass do Festival Caleidoscópio 2025, também chamado de Festival Caleidoscópio X, em celebração à sua décima edição.

    A iniciativa é do Instituto Enraizados, com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, viabilizado por meio de uma emenda parlamentar do deputado estadual Andrezinho Ceciliano, atual prefeito de Paracambi.

    O encontro será transmitido ao vivo pelos sites do Festival Caleidoscópio e do Instituto Enraizados, com inscrição gratuita pelo Sympla.

    A atividade faz parte do Curso Prático de Produção de Eventos Culturais (CPPEC) e tem como tema “Os desafios da produção cultural e da gestão financeira na vida real”. A masterclass será dividida em duas aulas de 30 minutos, com Sabrina Azevedo abordando os dilemas e estratégias do dia a dia da produção cultural, e Felipe Guimarães compartilhando caminhos práticos para uma organização financeira mais saudável e possível. Ao final, haverá 30 minutos de interação com o público.

    A proposta é fortalecer o conhecimento e a prática dos participantes, trazendo para o centro do debate a vida real dos produtores e artistas periféricos. Sem fórmulas prontas, a masterclass foca na experiência concreta, abordando temas muitas vezes negligenciados em formações tradicionais, e parte do princípio de que a produção cultural é, antes de tudo, feita por pessoas com trajetórias complexas, que enfrentam múltiplos desafios.

    Público prioritário e inscrições

    A atividade é aberta ao público, mas foi pensada especialmente para jovens a partir dos 18 anos, da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, com foco em pessoas pretas, mulheres e integrantes da comunidade LGBTQIAPN+ — respeitando o compromisso do festival com a diversidade.

    Serão disponibilizadas duas formas de participação: online, com inscrição pelo Sympla, e presencial, com 50 vagas limitadas. Não há nenhum pré-requisito além da vontade de participar.

    Troca real, com pessoas reais

    Mais do que uma palestra, a masterclass quer provocar uma reflexão profunda e prática sobre como as pessoas lidam com o trabalho na cultura e com suas finanças. “A ideia é que os participantes possam aplicar o que aprenderem não só na sua vida pessoal, mas também no desenvolvimento do Festival Caleidoscópio e de outros projetos futuros”, afirma Dudu de Morro Agudo, coordenador do Instituto Enraizados.

    A proposta é que essa e as próximas masterclasses também tenham um impacto transformador — fortalecendo trajetórias e promovendo o crescimento pessoal e coletivo dos participantes.

     

    SERVIÇO:

    Master Class: Os desafios da produção cultural e Gestão financeira
    Palestrantes:
    Sabrina Azevedo e Felipe Guimarães
    Quando:
    09 de abril, às 14 horas.
    Onde: Quilombo Enraizados – Rua Presidente Kennedy, 41, Morro Agudo, Nova Iguaçu, RJ

    INSCRIÇÕES:

    🔹 Presencial – vagas limitadas
    📍 Link de inscrição:
    👉 https://www.sympla.com.br/evento/master-class-desafios-da-producao-cultural-e-gestao-financeira/2899519

    🔹 Online – transmissão ao vivo pela internet
    📍 Link de inscrição:
    👉 https://www.sympla.com.br/evento/master-class-desafios-da-producao-cultural-e-gestao-financeira-on-line/2899561

     

  • Festival Consciências: Roda de Conversa e sessão exclusiva do RapLab no Sesc Nova Iguaçu

    Festival Consciências: Roda de Conversa e sessão exclusiva do RapLab no Sesc Nova Iguaçu

    O Festival Consciências chega à sua segunda edição no Sesc Nova Iguaçu, no dia 22 de fevereiro de 2025 (sábado), das 10h às 19h, com entrada gratuita.

    O evento, que tem como tema “Não há bem-estar social com racismo”, celebra a identidade negra por meio de uma programação diversa, incluindo shows, oficinas, exposições, rodas de conversa e feira de empreendedores negros. O evento trará uma roda de conversa com Lisa Castro, Aline Nascimento e Dudu de Morro Agudo, além de uma sessão do RapLab, reunindo intelectuais, artistas e produtores culturais para fortalecer o debate e a produção artística periférica.

    Realizado pela área de Educação do Sesc RJ, o evento faz parte de uma iniciativa voltada à educação antirracista e ao combate ao racismo estrutural, promovendo representatividade e fortalecimento da cultura negra.

    O Festival Consciências é uma oportunidade de aprofundar o debate sobre identidade, arte e história da Baixada Fluminense, ao mesmo tempo em que fortalece a expressão e criação coletiva por meio do rap. Inscreva-se e participe!

    Roda de Conversa: A Baixada Fluminense como Potência da Negritude

     

    A mesa de diálogos propõe uma reflexão sobre a contribuição da população negra para a construção e manutenção da identidade da Baixada Fluminense. Com a participação de personalidades que vivem e produzem nesse território, a discussão busca dar visibilidade às histórias, lutas e resistências que moldaram a região.

    Participantes:

    Aline Nascimento – Especialista em História da Baixada Fluminense

    Dudu de Morro Agudo – Mestre e doutor em Educação pela UFF e fundador e diretor executivo do Instituto Enraizados

    Lisa Castro – Multiartista da Baixada Fluminense

    📍 Local: Salão Nobre do Sesc Nova Iguaçu
    🕙 Horário: 10h às 12h
    📌 Inscrição: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScWvOeURp_z9EGx_Y0KagK6fKaffJ3_MNZ6g2te1kVgNh2vyw/viewform

    RapLab: Arte, Educação e Tecnologia através do Rap

     

    O RapLab é uma atividade que une expressão artística, aprendizado coletivo e tecnologia para estimular a produção de conhecimento por meio do rap. Estruturado em cinco etapas – Roda de conversas, palavras orientadoras, jogo da composição, musicalização e gravação –, o laboratório promove um ambiente de troca, criatividade e experimentação musical.

    📍 Local: Salão Nobre do Sesc Nova Iguaçu
    🕐 Horário: 13h às 15h
    📌 Inscrição: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfx4ZPLoqIF0rgRd9hoUXHdRnFh5uFhevMJUnZIlptFfznG0A/viewform

    📌 Serviço – Festival Consciências

    📍 Local: Sesc Nova Iguaçu (R. Ewbank da Câmara, 90) – Salão Nobre do Sesc Nova Iguaçu
    📅 Data: 22/02/2025 (sábado)
    🎟 Entrada gratuita (sujeita à lotação) – Ingressos já disponíveis na bilheteria.

  • A universidade rimou: uma tese, muitas histórias

    A universidade rimou: uma tese, muitas histórias

    Nem sei por onde começar. São tantas coisas a dizer, tantos sentimentos que permeiam meu coração, mas vou começar do jeito que dá—transbordando o que sinto, deixando que as palavras fluam.

    Este processo de pesquisa foi, sem dúvida, um grande aprendizado. Aprendi a olhar para lugares que antes não enxergava, a ouvir de forma atenta e afetuosa essa juventude potente que orbita o Quilombo Enraizados e participa das atividades do RapLab e tantas outras, e a refletir sobre nossas próprias práticas e vidas. Mas, acima de tudo, aprendi a inventar mais futuros possíveis para nós.

    Conectei minhas redes a outras redes educativas, e isso expandiu meus horizontes de uma forma que eu jamais imaginei. Lembro-me de uma conversa que tive com minha grande irmã, Lisa Castro, quando ainda estava no mestrado. Ela me perguntou se a universidade tinha me mudado. Na época, respondi que sim, mas que minha presença e de tantos outros iguais a nós, também tinha mudado a universidade de alguma forma.

    Hoje, minha resposta seria diferente. Diria:

    — Sim, minha amiga, entrar para a universidade mudou minha vida. Ou melhor, mudou as nossas vidas, a minha, a sua e de tantos outros que suas redes se cruzam com as nossas.

    Graças a essa jornada acadêmica, conheci pessoas incríveis e me conectei com o grupo de pesquisa Juventudes, Infâncias e Cotidianos (JICs), onde encontrei pessoas que hoje são parte importantíssima do Enraizados. São pessoas que nos ensinam tanto quanto aprendem conosco. Graças a essas conexões, chegamos ao terceiro ano do Curso Popular Enraizados, com contribuições fundamentais da Bia, da Júlia e da Maria, à terceira turma de teatro em parceria com o Projeto Teatro Nômade, graças a Luísa e a toda turma do Projeto Teatro Nômade, e esses projetos não só impactaram minha trajetória, mas também envolveram minha esposa, meu filho e a família da própria Lisa. Hoje, minha irmãzinha cursa pedagogia, minha esposa está prestes a entrar para cursar história na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, aqui em Nova Iguaçu, ambas estudaram no Curso Popular Enraizados. Meu filho, com apenas sete anos, já atuou em duas peças teatrais.

    As redes foram se cruzando, as possibilidades se ampliando, e hoje vejo dezenas de pessoas que tiveram suas vidas transformadas a partir dessas conexões.

    O dia da defesa de doutorado foi um dos mais intensos da minha vida. Organizar transporte, lanches, presentes, preparar slides, ensaiar… Um turbilhão de tarefas. Nada disso seria possível sem a força coletiva de tantos amigos que chegaram e nunca mais saíram.

    Um amigo conseguiu o ônibus, outro a van, e minha esposa preparou cuidadosamente os kits de lanche para todos. Samuca estava mais ansioso que eu, porque percebia que, no meio da produção desse dia, eu não encontrava tempo para ensaiar minha apresentação.

    Antônio Feitosa chegando no Quilombo Enraizados, às 5:30 da manhã

    Baltar, Higor, FML, DMA, Samuca e Kaya

    Enraizados rumo a UFF, de ônibus

    Marcamos a saída para as 5h30 da manhã, e todos chegaram pontualmente ao Quilombo Enraizados. Dorgo seguiu comigo de carro, que já estava carregado com um isopor cheio de bebidas e gelo, projetor, caixa de som, cabos e outros equipamentos. Seguimos viagem cantando para aliviar a tensão, embora eu estivesse em um estado quase mecânico, semelhante ao que senti no dia do nosso show no Rock in Rio. A meta era clara: viver o dia, fazer o que havia sido ensaiado e não improvisar. O famoso “sorria e acene”.

    Mas, como em toda grande história, imprevistos aconteceram.

    Ainda na Avenida Brasil, um carro bateu na traseira do meu. O barulho foi assustador, e saí do carro sem conseguir disfarçar minha insatisfação. O motorista do outro veículo estava visivelmente nervoso, mas, felizmente, não houve grandes danos e seguimos viagem.

    Ao chegar na UFF, outro desafio: o auditório reservado para a defesa estava ocupado por um evento de química. Tivemos que nos adaptar rapidamente e mudar para o auditório do Bloco F. Mesmo com os contratempos, tudo foi resolvido com o apoio das minhas amigas do JICs, que cuidaram da burocracia, do café da manhã, da comunicação da mudança de sala e de mais um monte de coisas. Luísa, Inês, Bia, Andreza, Pedro, Laís, Ravelly, Rebecca… Quase todas e todos  estavam lá. Senti falta da Patrícia, da Clarice, da Maria Fernanda que infelizmente não puderam estar presentes.

    Minha amiga Emília me recebeu com um presente logo na minha chegada —uma linda orquídea e um bolo de rolo, um gesto de carinho que guardarei para sempre. Ana Massa, amiga de quase duas décadas, também estava lá. Foi emocionante perceber que aquela conversa que tivemos anos atrás, em Paris, sobre fazer eu doutorado, quando eu ainda nem tinha começado a graduação, finalmente se concretizava.

    Lista de Presença?
    Valter Filé observando a apresentação de Dudu de Morro Agudo

    Ana Enne, minha querida amiga e professora da UFF, que conheci lá pelos anos de 2010, quando trouxe sua turma de graduandos para conhecer o nosso Pontão de Cultura e nossa rádio web, onde o âncora era uma criança de 11 anos. Ela também esteve presente.

    Cada detalhe foi pensado com amor e dedicação. Higor Cabral e Josy Antunes registraram tudo com filmagens e fotografias, Aclor fez belos registros em vídeo e Baltar criou um flyer incrível para divulgar o grande dia. A presença de tantos amigos, colegas e familiares tornou tudo ainda mais especial.

    A banca era o time dos sonhos. Sou fã de cada membro, tanto por suas trajetórias acadêmicas quanto por seus posicionamentos políticos e ideológicos. Adriana Facina, Adriana Lopes, Valter Filé, João Guerreiro e minha orientadora, Nivea Andrade. Infelizmente, Erica Frazão não pôde estar presente por motivos pessoais, mas sua contribuição na qualificação foi fundamental.

    Banca formada por Adriana Facina, Adriana Lopes, Nivea Andrade, João Guerreiro e Valter Filé, ao lado Dudu de Morro Agudo

    Como homenagem à cultura hip hop, fizemos um zine, inspirado nos coletivos dos anos 90, com o resumo da pesquisa e as letras das músicas “Reflexões que ainda me tiram o sono”—uma criação nascida dentro da universidade, na disciplina Psicologia da Arte, ministrada pela professora Zoia Prestes, a quem sou imensamente grato—e “Jovem Negro Vivo”, a música mais emblemática dos encontros do RapLab.

    Durante a defesa, a banca fez apontamentos valiosos, que renderam discussões até no ônibus de volta para casa.

    Quando chegou minha vez de falar novamente, a emoção tomou conta. As lágrimas vieram, e aquele nó na garganta que sempre aparecia até nos momentos de ensaio da apresentação ou quando simplesmente imaginava o dia da defesa, estava lá, presente. Refletir sobre a própria trajetória é uma viagem cheia de turbulências.

    Ao final, Nivea Andrade fez uma fala emocionante, tecendo palavras sobre minha mãe, meus filhos, minha companheira e os mais velhos do Enraizados. Foi uma homenagem afetuosa e respeitosa, que tocou fundo em todos nós.

    E então, o veredito foi lido: APROVADO.

    Adriana Facina, Adriana Lopes, Nivea Andrade, Dudu de Morro Agudo, João Guerreiro e Valter Filé

    JICs: Rebecca, Ravelly, João, Gabi (agachada), Bia, Nivea, Dudu, Duduzinho, Luísa, Inês (ao meio), Laís (agachada), Andreza e Pedro

    Imperatriz (filha), Lúcia (mãe), Alcione (tia e madrinha) e Milena (prima)

    Fernanda Rocha (esposa) e Dudu de Morro Agudo

    O bonde todo.

    A festa começou. A universidade rimou e rimou. Vieram os abraços, as mensagens inundaram o WhatsApp, as redes sociais explodiram. O Enraizados inteiro se tornava doutor.

     

    Depois, a celebração continuou no Quilombo: cantamos, rimos, choramos, bebemos, comemos, caímos, tomamos banho de chuveiro, dançamos. A felicidade era palpável.

    No dia seguinte, acordei cedo e fui para o Quilombo arrumar tudo, sozinho lavando o quintal e refletindo sobre as últimas 24 horas. Os vizinhos já me chamavam de “doutor”, perguntando quando poderiam ler minha tese. Eu respondia com sorrindo:

    — Logo! Semana que vem estará nas ruas!

    Como se fosse meu novo disco.

    A ficha ainda não caiu completamente, mas sei que este não é o fim —é o início de uma nova e longa jornada. Agora é hora de agradecer, viver o momento e seguir desenhando futuros possíveis.

    Amo cada uma e cada um de vocês!

  • A revolução silenciosa: hip hop e inclusão educacional

    A revolução silenciosa: hip hop e inclusão educacional

    Olá artistas, educadores, amigos e leitores dessa coluna (quase) semanal. rsrsrsr

    No meu texto de hoje quero compartilhar com vocês uma reflexão que venho fazendo sobre hip hop e educação. É um texto que está em aberto, por isso sintam-se a vontade para criticar, pois seus comentários e críticas são extremamente valiosos e contribuirão significativamente para o avanço desta reflexão.

    Vamos nessa???

    Desde os primeiros passos na cultura hip hop, minha jornada tem sido uma imersão profunda em uma escola de vida única. Posso afirmar que a cultura hip hop foi a universidade mais extensa que participei (participo) ao longo da minha vida, afinal são 30 anos dedicados a essa cultura.

    Mais do que uma expressão artística, o hip hop tornou-se um veículo de conhecimento e resistência, moldando não apenas minha visão de mundo, mas também a de muitos outros jovens que, como eu, à época, encontraram nesse movimento uma forma de compreender e questionar a realidade ao seu redor.

    O hip hop, com suas quatro manifestações principais —rap, break, graffiti e DJ— sempre foi mais do que apenas entretenimento. Ele é uma resposta cultural às condições sociais e econômicas das periferias, um espaço de contestação e construção de identidade. Para mim, essa cultura foi uma porta de entrada para um universo de ideias e experiências que a educação formal muitas vezes ignorou ou marginalizou.
    Através do rap, fui apresentado a livros e autores, discos e compositores, que jamais teria conhecido de outra forma.

     

    Alguns autores e seus textos, cantores e suas letras, passaram a fazer parte do meu repertório intelectual, muitas vezes traduzidos e adaptados pelas letras de artistas que admiro, como Mano Brown. Essas influências ajudaram a formar uma consciência crítica sobre as estruturas de poder e desigualdade, tanto locais quanto globais. Essa formação autodidata, impulsionada pela curiosidade e pelo desejo de compreender o mundo, complementou e, em muitos aspectos, superou a educação formal que recebi.

    Não quero com isso afirmar que o hip hop substitui de alguma forma a educação formal, não é isso, minha própria história poderia contradizer tal afirmativa, pois estou prestes a concluir meu doutorado em educação na Universidade Federal Fluminense (UFF), e trabalho de forma muito próxima a universidades e institutos federais, como a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e o Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), e até mesmo universidades internacionais como a Duke University e a North Carolina Central University (NCCU).

    O hip hop me fez valorizar a educação formal e compreender a importância de participar e colaborar com essas instituições. No entanto, essa riqueza cultural e educativa proporcionada pelo hip hop raramente é reconhecida ou valorizada nas instituições de ensino tradicionais. A inclusão de elementos dessa cultura em currículos escolares e em projetos culturais talvez seja uma forma poderosa para engajar estudantes e promover uma educação mais inclusiva e contextualizada. O RapLab, por exemplo, é uma iniciativa que busca explorar o rap como uma forma de produção de conhecimento em rede. Ao debater questões sociais, políticas e culturais de maneira sensível, acessível e relevante para as realidades desses jovens.

    O hip-hop me trouxe de volta à escola, desta vez como um rappereducador. Como alguém que valoriza a diversidade de conhecimentos, meu objetivo é disseminá-los em lares, escolas, ruas, praças, centros culturais, universidades, etc., por meio de escritos, músicas e das vozes poderosas de quem frequentemente não é tido como produtor de conhecimento. O hip-hop tem descolonizado minha mente há 30 anos.

    A integração do hip hop na educação não é apenas uma questão de representar culturas marginalizadas; é uma questão de justiça educacional. Os educadores e as escolas têm a responsabilidade de reconhecer e valorizar as diversas formas de conhecimento e expressão que seus alunos trazem para a sala de aula. Incorporar o hip hop e outras culturas urbanas nos currículos é uma forma de legitimar essas experiências e oferecer uma educação mais significativa e transformadora.

    No final de 2023, tive a oportunidade de liderar duas sessões do RapLab em uma escola em Ramos, no Rio de Janeiro. Foram três dias de interação com pré-adolescentes dessa escola, refletindo sobre questões raciais, com a presença de professores e diretores. No primeiro dia, tivemos um momento para nos conhecermos e ganharmos confiança uns nos outros; no segundo dia, focamos na produção intelectual; e no terceiro dia, infelizmente, foi o dia da despedida.

    Produzimos duas músicas incríveis que se tornaram uma só, pois se completavam devido ao tema. Os estudantes chamaram o diretor da escola e exigiram que aulas de rap fossem incluídas no currículo escolar. Lembro que o diretor comentou que uma pequena revolução havia começado na escola.

    DJ Dorgo ministrando o encontro do RapLab em uma escola de Ramos.
    DJ Dorgo ministrando o encontro do RapLab em uma escola de Ramos.

    Senti uma saudade de algo que ainda não tinha visto nem vivido. Percebi que, se trabalhasse durante um ano com aquelas crianças, poderíamos alcançar resultados incríveis ao final do ano. Imaginei uma sala de aula repleta de referências negras, do hip-hop e das periferias do Rio de Janeiro, com estúdio musical, câmeras de vídeo, jogos e tudo mais que pudesse permitir o máximo desenvolvimento desses jovens.
    Logo, entretanto, tirei essa ideia da mente, pois parecia distante da nossa realidade. No entanto, em março de 2024, tive a oportunidade de viajar para Athens, na Geórgia, Estados Unidos, e conheci uma escola onde o professor era rapper. A sala de aula superava tudo o que eu havia imaginado.

    William Montu I Miller, mais conhecido como Montu, é escritor, poeta, mentor e organizador comunitário, além de professor na Cedar Shoals High School. Ele também é o Embaixador da Comunidade Hip-Hop de Athens.

    Montu é escritor professor na Cedar Shoals High School
    Montu é escritor professor na Cedar Shoals High School
    Travis Willians, Dudu de Morro Agudo e John French na Cedar Shoals High School, em Athens, na Georgia.
    Travis Willians, Dudu de Morro Agudo e John French na Cedar Shoals High School, em Athens, na Georgia.
    Sala de aula da Cedar Shoals High School, em Athens, na Georgia.
    Sala de aula da Cedar Shoals High School, em Athens, na Georgia.

    Os projetos culturais que envolvem o hip hop podem atuar como espaços de resistência e empoderamento. Eles não apenas oferecem aos jovens uma plataforma para expressar suas vozes, mas também os conectam com uma comunidade maior de pensadores e artistas que compartilham suas lutas e aspirações. Esses espaços permitem que os jovens se vejam como agentes de mudança, capazes de transformar suas realidades e contribuir para uma sociedade mais justa.

    Em resumo, o hip hop desempenhou um papel crucial na minha formação e continua a ser uma força vital na educação de muitos jovens. Sua inclusão em currículos escolares e projetos culturais é essencial para construir uma educação que valorize a diversidade, promova a equidade e capacite os estudantes a se tornarem cidadãos críticos e conscientes. É através dessas vivências que podemos vislumbrar um futuro onde todas as formas de conhecimento sejam reconhecidas e celebradas.

    É isso, chegamos ao fim!!!

    Se você discorda, concorda ou tem outras ideias, não deixe de escrever nos comentários e que certamente eu responderei.

    Até mais!!!

  • Curso Popular Enraizados: A Importância das Universidades Negras nos EUA, aula inédita com Dra. Gladys Mitchell-Walthour

    Curso Popular Enraizados: A Importância das Universidades Negras nos EUA, aula inédita com Dra. Gladys Mitchell-Walthour

    Na próxima sexta-feira, às 18 horas, o Curso Popular Enraizados terá o privilégio de receber a professora Dra. Gladys Mitchell-Walthour, da North Carolina Central University, para uma aula inédita.

    A Dra. Mitchell-Walthour abordará a história e a relevância das universidades historicamente negras nos Estados Unidos, destacando sua importância nos dias atuais. Essas universidades desempenham um papel crucial na educação e no empoderamento da população negra americana, oferecendo oportunidades acadêmicas e culturais que muitas vezes não estão disponíveis em outras instituições.

    Em sua apresentação, a Dra. Mitchell-Walthour também discutirá as diferenças nos sistemas de admissão universitária entre os Estados Unidos e o Brasil. Nos EUA, ao contrário do Brasil, a consideração de critérios raciais nas admissões universitárias enfrenta restrições constitucionais e legais significativas. Isso torna o papel dessas universidades ainda mais vital, pois elas continuam a ser um refúgio de inclusão e excelência acadêmica para estudantes negros, numa sociedade onde a equidade racial ainda é um desafio constante.

    Essa aula promete proporcionar uma reflexão sobre como as instituições de ensino podem influenciar a equidade racial e sobre o impacto das universidades negras no cenário educacional e social americano.

    Após a aula haverá o lançamento do filme Hip Hop Pedagogies, gravado na última visita da Dra Gladys Mitchell ao Quilombo Enraizados, em agosto de 2023.

    Gladys Mitchell-Walthour

    Gladys Mitchell-Walthour é uma renomada acadêmica em Ciência Política, ocupando a Cátedra Dan Blue na Universidade Central da Carolina do Norte. Especialista em política racial no Brasil, ela foca suas pesquisas na interseção entre bem-estar social, raça e gênero. Seus estudos revelam que a identidade de grupo entre os negros está positivamente associada ao voto em políticos negros e ao apoio às políticas de ação afirmativa.

    Seu livro “The Politics of Survival: The Political Opinions of Social Welfare Beneficiaries in Brazil and the USA”, explora como as mulheres negras beneficiárias de assistência social utilizam estratégias de sobrevivência, como o trabalho informal, para sustentar suas famílias e enfrentar discriminações múltiplas.

    Mitchell-Walthour é também autora de “The Politics of Blackness” (2018) e co-editora dos volumes “Knowledge Production” (2016) e “Nova Política Racial do Brasil” (2010). Ela já presidiu a Brazil Studies Association (BRASA) e atualmente é co-coordenadora nacional da Rede dos EUA para a Democracia no Brasil.

    Sua carreira inclui inúmeras honrarias, como a bolsa Fulbright (2022) e bolsas de pós-doutorado na Duke University e Johns Hopkins University. Ela também foi Lemann Visiting Scholar no David Rockefeller Center for Latin American Studies da Harvard University. Mitchell-Walthour possui doutorado em Ciência Política pela Universidade de Chicago, um MPP pela Universidade de Michigan-Ann Arbor e um bacharelado pela Duke University.

    Seus principais interesses de pesquisa incluem comportamento político afro-brasileiro, identidade racial negra, discriminação, ação afirmativa e o impacto do programa Bolsa Família.

    North Carolina Central University

    A Universidade Central da Carolina do Norte (NCCU), localizada em Durham, é uma universidade historicamente negra, fundada em 1909 por James E. Shepard. Originalmente iniciada como Escola Nacional de Treinamento Religioso e Chautauqua, a NCCU rapidamente se desenvolveu, tornando-se uma faculdade de artes liberais em 1923, a primeira apoiada pelo estado para estudantes negros nos EUA. Ao longo das décadas de 1930 e 1940, expandiu sua oferta acadêmica com programas de pós-graduação e profissionais, incluindo direito e biblioteconomia.

    Desde 1972, a NCCU faz parte do sistema da Universidade da Carolina do Norte, oferecendo uma ampla gama de programas de bacharelado, mestrado, doutorado e profissional. Seu campus, situado próximo ao centro de Durham e à Universidade de Duke, é notável por seus edifícios neogeorgianos históricos.

    A universidade é reconhecida pelo US News & World Report como uma das melhores instituições historicamente negras e a melhor universidade regional do Sul. A NCCU continua a honrar o legado de seu fundador, James E. Shepard, promovendo excelência acadêmica e formação de caráter entre seus alunos.

    SERVIÇO

    Aula especial com professora Dra Gladys Mitchell-Walthour
    Quando: 21 de junho de 2024, às 18 horas
    Onde: Quilombo Enraizados – Rua Presidente Kennedy, 41, Morro Agudo Nova Iguaçu, RJ
    Retire seu ingresso gratuito aqui:
    https://www.sympla.com.br/evento/universidades-negras-e-equidade-racial/2518156

  • Educação e mobilidade social nos anos 50: Professor Dr John French ministrará aula especial no Quilombo Enraizados na próxima quarta-feira (19)

    Educação e mobilidade social nos anos 50: Professor Dr John French ministrará aula especial no Quilombo Enraizados na próxima quarta-feira (19)

    Na próxima quarta-feira (19), o historiador norte-americano John French, autor do livro “Lula e a Política da Astúcia: Do Metalúrgico a Presidente do Brasil”, estará no Quilombo Enraizados para ministrar a aula “A Família Silva e o Jovem Lula: Educação, Teimosia e Superação” no Curso Popular Enraizados. Ele nos ajudará a entender como a educação era vista como uma ferramenta fundamental para a mobilidade social na São Paulo industrial dos anos 1950 e 1960, especialmente para famílias de origem humilde.

    A aula de John French nos ajudará a compreender o papel central da educação na mobilidade social, analisar os desafios enfrentados por famílias da classe trabalhadora em São Paulo nas décadas de 1950 e 1960, e refletir sobre as aspirações educacionais das famílias trabalhadoras e sua importância na busca por oportunidades de ascensão social. A ideia é refletir junto com John sobre como esses desafios e perspectivas se comparam com as realidades enfrentadas por famílias de trabalhadores hoje.

    Para auxiliar na aula, John French disponibilizou um arquivo com trechos do livro, onde aborda a trajetória de Lula, enfatizando o papel central de sua mãe, Dona Lindu, na busca por oportunidades educacionais e profissionais para seus filhos. Dona Lindu, apesar de não ter instrução formal, dedicou-se intensamente para que seus filhos pudessem frequentar o Senai e adquirir uma formação técnica valorizada na São Paulo industrial dos anos 1950 e 1960. Ela acreditava firmemente que a educação era crucial para a mobilidade social de seus filhos.

    Além disso, o texto explora a percepção dos trabalhadores e suas famílias sobre as perspectivas de ascensão social através da educação e do trabalho técnico. Para muitos, como Dona Lindu, o objetivo era permitir que seus filhos escapassem do trabalho braçal não qualificado e alcançassem um status mais elevado na hierarquia industrial, como torneiros mecânicos, uma profissão altamente valorizada na época.

    Leitura em Português: Páginas 71-82, 88-105, 115-125 em John D. French, *Lula e a Política da Astúcia: De Metalúrgico a Presidente do Brasil* (São Paulo: Editora Expressão Popular e Fundação Perseu Abramo, 2022).
    Download gratuto do livro completo disponível em: https://fpabramo.org.br/publicacoes/estante/lula-e-a-politica-da-astucia-de-metalurgico-a-presidente-do-brasil/

    John French

    John French é um renomado professor de História na Duke University, especializado na história do Brasil e da América Latina, com foco particular no trabalho e na política. Ele possui um extenso currículo acadêmico, incluindo um bacharelado pelo Amherst College e um doutorado pela Yale, orientado pela historiadora brasileira Emília Viotti da Costa. Desde 1979, ele tem se dedicado ao estudo das questões de classe, raça e política na região.

    French é autor de diversas obras importantes, como “The Brazilian Workers ABC” e “Drowning in Laws: Labor Law and Brazilian Political Culture”. Seu livro mais recente, “Lula’s Politics of Cunning: From Trade Unionism to the Presidency in Brazil”, recebeu reconhecimento significativo, incluindo o Prêmio Sérgio Buarque de Holanda da Associação de Estudos Latino-Americanos e o Prêmio Memorial Warren Dean da Conferência sobre História Latino-Americana.

    Além de sua contribuição acadêmica através de artigos e capítulos de livros, French também desempenha papéis de liderança, como diretor do Duke’s Latin American Center e co-diretor da Duke Brazil Initiative. Seu compromisso com a educação inclui orientação de estudantes de doutorado em uma variedade de temas relacionados à América Latina, além de ensino em cursos como “História Moderna da América Latina” e “História e Cultura Afro-Brasileira”.

    SERVIÇO
    AULA “A Família Silva e o Jovem Lula: Educação, Teimosia e Superação”
    QUANDO: 19 de junho de 2024, às 18:00
    ONDE: QUILOMBO ENRAIZADOS – Rua Presidente Kennedy, 41, Morro Agudo, Nova Iguaçu, RJ

  • Alunos da UFRJ destacam Dudu de Morro Agudo e Instituto Enraizados em Semana de Iniciação Científica.

    Alunos da UFRJ destacam Dudu de Morro Agudo e Instituto Enraizados em Semana de Iniciação Científica.

    Na última segunda-feira (08), durante a Semana de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os estudantes orientandos da professora Dra. Adriana Facina surpreenderam ao elegerem Dudu de Morro Agudo e o Instituto Enraizados como temas centrais de suas apresentações.

    Essa escolha revelou uma abordagem inovadora e relevante, destacando iniciativas locais e personalidades que frequentemente não recebem o devido reconhecimento acadêmico.

    A professora Facina destacou o profundo envolvimento dos alunos com o tema após uma entrevista com Dudu de Morro Agudo, que, segundo ela, “os tocou profundamente”. Essa conexão pessoal certamente se refletiu na qualidade e paixão evidente em suas apresentações.

    Ana Laura e Matheus

    Entre os estudantes envolvidos estão Matheus, graduando em História da Arte na UFRJ, seminarista na Baixada Fluminense, e que tem uma história profundamente enraizada em questões sociais e religiosas. Originário de Caxias, desde cedo esteve envolvido com os movimentos de base da igreja e a teologia da libertação; e Ana Laura, moradora de Copacabana e que traz uma experiência como dançarina urbana de break dance.

    O envolvimento de Matheus e Ana Laura ilustra a diversidade de perspectivas que contribuem para uma compreensão mais completa e inclusiva das iniciativas artísticas e comunitárias lideradas por Dudu de Morro Agudo e o Instituto Enraizados. Essa variedade de vozes é fundamental para a construção de narrativas autênticas e representativas das complexidades sociais e culturais do Rio de Janeiro e além.

    A apresentação dos alunos sublinha a importância do engajamento comunitário e da valorização da cultura local como pilares fundamentais para a transformação social. Ao destacar esses aspectos, os estudantes não só reconhecem o impacto positivo dessas iniciativas na comunidade, mas também ressaltam a necessidade de fortalecer e apoiar atividades que promovam o empoderamento e a inclusão social.

    Essa reflexão ampliada sobre a apresentação dos alunos nos leva a considerar não apenas a importância do reconhecimento e apoio a iniciativas como estas, mas também nos instiga a pensar em como podemos todos contribuir para fortalecer e ampliar essas redes de engajamento comunitário e valorização da cultura local em prol de uma sociedade mais justa e inclusiva.

  • De Jay-Z a Palmares: As histórias por trás do “Galo de Luta”

    De Jay-Z a Palmares: As histórias por trás do “Galo de Luta”

    No dia 14 de setembro de 2023, o ativista Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como Paulo Galo ou Galo de Luta, compartilhou parte de sua inspiradora jornada de vida e engajamento social com os jovens membros do Instituto Enraizados, reunidos no Quilombo Enraizados, em Morro Agudo, Nova Iguaçu, RJ. Sua presença marcou um momento de profundo aprendizado e reflexão para todos os presentes.

    O conteúdo desta palestra, que será compartilhado em partes, não apenas nos inspira, mas também desafia os jovens a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades e sociedade como um todo.

    Fique atento às próximas partes deste relato fascinante, que prometem revelar ainda mais insights e lições valiosas extraídas da vida extraordinária de Galo de Luta.

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  • O papel da educação clandestina na formação Política

    O papel da educação clandestina na formação Política

    Ao refletir sobre a ideia “Educação Clandestina”, penso sobre uma abordagem contrária ao ensino formal e oficial. Quando penso no currículo escolar atual, por exemplo, percebo que meu filho tem acesso aos livros adotados pela escola, nos quais ele aprende técnicas para codificar e decodificar símbolos a fim de se comunicar.

    No entanto, transformar essa alfabetização em letramento é uma área na qual a educação brasileira tem falhado se olharmos para as escolas de periferia. Por outro lado, os movimentos sociais estão reunindo uma variedade de conhecimentos, de autores que não estão presentes nessas instituições formais. Esses conhecimentos não se limitam apenas a livros, mas também incluem filmes, podcasts e até encontros entre pessoas, promovendo uma troca que desafia os interesses das elites que controlam o sistema educacional.

    A transformação da alfabetização em letramento envolve não apenas aprender a ler e escrever, mas também compreender criticamente o mundo ao seu redor, questionar as estruturas de poder e desenvolver habilidades para participar ativamente na sociedade. Isso é algo que muitas vezes é negligenciado no ensino formal, pois pode ameaçar o status quo e os privilégios de determinados grupos.

    A “Educação Clandestina” tem o potencial de despertar o sujeito para a realidade concreta. Quando não encontramos autores como Abdias do Nascimento e Clóvis Moura nas escolas, é porque são escritores que abordam questões relacionadas à realidade de pessoas que estão na base da pirâmide social. Se todas essas pessoas se indignarem, o Brasil entra em colapso. Por isso essas pessoas precisam estar anestesiadas, para a roda continuar girando, para que a engrenagem da desigualdade continue funcionando.

    Nossa realidade é tão dura na luta pela sobrevivência, que muitas pessoas entram num processo automático. As pessoas estão vendendo a força de trabalho delas por tão pouco dinheiro, que muitas vezes elas sentem culpa por separar um tempo para pensar sobre a vida. Porque fomos ensinados que a ociosidade, que pensar, que refletir sobre a vida, é “estar à toa”, e ao invés de estarmos à toa, poderíamos estar trabalhando.

    A Educação Clandestina, de forma objetiva, representa o momento central da formação política, que é o da ação, onde as pessoas trocam e se libertam, conforme nos lembra Paulo Freire no livro “Pedagogia do Oprimido”. Algumas pessoas com as quais eu converso dizem que tenho manias de persegiução, que isso parece “teoria da conspiração”.

    Eu respondo que não, pois é a realidade que vivo e vejo. Percebo que algumas pessoas estão presas em um ciclo de repetição. Elas reproduzem o que ouvem sem refletir sobre isso para que possam criar uma nova narrativa, um novo discurso. Estão presas em um processo de espelhamento, o que é perigoso, pois às vezes propagam as ideias do opressor.

    Esses são aspectos que ressaltam a importância da educação clandestina, que vai além do ensino formal e busca capacitar as pessoas para que elas questionem, reflitam e ajam em prol de mudanças sociais. Essa forma de educação permite que as pessoas se identifiquem com as experiências compartilhadas, despertando uma consciência crítica sobre a realidade em que vivem.

    É um processo de formação política continuada, que envolve não apenas absorver conhecimento, mas também agir e influenciar outros ao seu redor. Essa educação clandestina é essencial para romper com a repetição de discursos e padrões estabelecidos, permitindo que as pessoas ocupem espaços de protagonismo e se tornem agentes de transformação na sociedade.

    Alguns conceitos, quando falamos de educação clandestina, ficam abarcados nela, pois a formação política ocorre em camadas. A primeira camada é a do despertar. Em algum momento, por algum motivo, algumas pessoas saem desse estado de anestesia, e o próximo passo, após o despertar, é o de se indignar.

    As pessoas começam a questionar, por exemplo, por que tudo é tão desigual? Por que as coisas estão do jeito que estão? Porque me tratam diferente de outras pessoas?

    Jacques Rancière, no livro “O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual”, acredita que todos têm a capacidade de se emancipar, porque todos têm igual inteligência, reconhecendo que todos têm a capacidade de pensar e contribuir para mudanças sociais. Contudo, algumas pessoas não conseguem acessar espaços para desenvolverem essa inteligência. Estão imersas numa rotina tão profunda e anestésica da realidade que não conseguem participar de movimentos que as levem a esse despertar.

    A próxima camada é o agir, é se misturar com outras pessoas, e ao se misturar com outras pessoas, é onde inicia-se o processo da “educação clandestina”.
    A obviedade da clandestinidade dessa formação reside no fato de que as pessoas percebem que tudo aquilo a que tiveram acesso por vias oficiais até o momento não as fez despertar para a realidade. O despertar, com certeza, foi provocado por alguma atividade que se enquadra no conceito que estamos abordando de educação clandestina, que é essencialmente a ação.

    Portanto, o agir individual e coletivo pode envolver, por exemplo, a produção de uma batalha de rimas na comunidade, a realização de encontros para práticas teatrais, rodas de conversa, pré-vestibulares comunitários, ingresso em universidades, disputa por cargos políticos, até mesmo o próprio RapLab, entre outros.
    Paulo Freire diferencia a tomada de consciência, que é o despertar para a realidade, da conscientização, que envolve a ação concreta para transformar essa realidade. A conscientização é o processo de agir de forma crítica e reflexiva, engajando-se em atividades que promovam mudanças sociais e políticas.

    Essas ações podem variar desde atividades culturais como batalhas de rimas e teatro até engajamento político e acadêmico. Esse processo de conscientização é fundamental para a formação política, pois permite que os indivíduos não apenas reconheçam as injustiças, mas também atuem para combatê-las.

    A formação política é um processo contínuo, por isso acredito que o Rap Lab seja um espaço importante para essa formação, pois reúne pessoas com diferentes experiências e níveis de consciência política. Ao mesmo tempo que há indivíduos que ainda não despertaram, existem outros que estão mais avançados nesse processo. Mas, como nos ensina Jacques Rancière, todos têm o poder da igual inteligência, e, portanto, todos podem se desenvolver coletivamente.

    Quando afirmamos que no RapLab não há certo e errado, queremos dizer que cada pessoa pode participar a partir de sua vivência, da forma como enxerga o mundo. Ela terá que disputar e defender esse ponto de vista dentro da atividade. É um espaço onde o debate é incentivado e a diversidade de perspectivas é valorizada, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento de todos os participantes.

    Eu acreditava que durante a pandemia os encontros do RapLab poderiam não acontecer, devido à necessidade de serem realizados online e de forma contínua. Além de não conseguirmos realizar a fase de gravação da música, não tínhamos ideia de como incentivar os participantes a estarem conosco duas vezes por semana. Como coordenador, eu não conseguia antecipadamente pensar em 156 temas para discutir, já que não dominava tantos assuntos.

    No entanto, ao dividirmos as responsabilidades com os participantes, escolhendo os temas no momento da atividade, as coisas foram acontecendo de forma natural e os encontros ficando mais interessantes para a maioria dos participantes.

    Quando um participante propõe um tema, ele está nos propondo falar sobre aquilo que o afeta naquele momento, e entendendo a realidade dos jovens que estavam inscritos no projeto, acredito que por isso discutimos tantos temas relacionados à “luta de classes”.

    Quando um outro jovem propõe algo relacionado com a questão racial, certamente está enfrentando algum problema relacionado ao tema, e discutir sobre essa questão pode, além de ser importante pra quem propôs, afetar também outras pessoas de forma diferente, gerando grandes debates e produzindo conhecimentos.

    Mas também houve momentos em que não queríamos discutir nada disso, porque já estávamos cansados, e debater esses temas demandava muita energia. Então, optávamos por falar sobre coisas mais leves como “gírias” ou “desenhos animados”, por exemplo.

    Em suma, a reflexão sobre a “Educação Clandestina” revela a necessidade premente de repensar e ampliar os horizontes do sistema educacional tradicional. Ao destacar a importância da conscientização política, da ação crítica e do empoderamento social, esse conceito nos convida a questionar as estruturas de poder e a buscar alternativas que promovam uma educação mais inclusiva, diversa e transformadora. Através da educação clandestina, podemos despertar consciências, ampliar perspectivas e capacitar indivíduos a se tornarem agentes ativos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É imperativo reconhecer o potencial dessa abordagem não convencional e investir em iniciativas que fortaleçam sua prática, permitindo que todos tenham acesso a uma educação que vá além do ensino formal e estimule o pensamento crítico, a criatividade e o engajamento.