Tag: Segurança Pública

  • Quanto vale? [Dudu de Morro Agudo]

    Quanto vale? [Dudu de Morro Agudo]

    Desde que me entendo por gente que eles matam a gente
    Violência na terra, fruto de negligência
    Criminalizam o corpo preto historicamente
    Não tem massagem é uma passagem só de penitência

    Nessa viagem eu sou o personagem da resistência
    Porque eu vejo potência no jovem preto desse lugar
    Não vão calar a nossa voz enquanto houver pendência
    Seja qual for o caminho a gente vai cobrar

    A bala que acha se encaixa no corpo mais fraco
    Se aloja na cor do Brasil
    A farda que mata procura o corpo do pardo
    Apaga uma história infantil
    Acorda!!! Amarraram mais quatro
    Pagaram o pato na cidade sem lei
    A corda burguesa que enforca o sonho do pobre
    Balança o filho do rei

    Quanto vale a vida? (Desse lado de cá!)
    Quanto custa a morte? (e quem pode pagar?)
    Segurança pública (Sangue de preto no chão)
    Segurança pública (Corpo preto na prisão)

    Essa violência é tanta e essa negligência espanta
    Tombamos como peças de dominós
    Nesse jogo aqui não tem mão santa
    Nosso grito entala na garganta
    Mas não afeta a esperança
    De nós em nós

    Ná ná ná ná ná ná (scratch)
    Ná ná ná ná ná ná (scratch)
    Segurança pública
    Segurança pública

    Quanto vale a vida? (Desse lado de cá!)
    Quanto custa a morte? (e quem pode pagar?)
    Segurança pública (Sangue de preto no chão)
    Segurança pública (Corpo preto na prisão)

  • Caleidoscópio: todos juntos pela Paz na Baixada Fluminense

    Caleidoscópio: todos juntos pela Paz na Baixada Fluminense

    Hoje é difícil de imaginar que o evento Caleidoscópio começou a partir de “UMA” ação e tomou toda essa proporção, explica Dudu de Morro Agudo, idealizador do projeto.

    “A gente estava muito preocupado com a segurança na região, todos os dias chegavam notícias de que algum morador havia sido roubado ou morto no bairro. Até que um dia um de nós foi baleado. O jovem Jean Lima, mais conhecido como Babu, grafiteiro formado na escola de hip hop do Enraizados levou um tiro enquanto vinha da escola, às 19 horas. Foi a gota d’água”.

    “Em cada ângulo que você olhar, você verá uma arte diferente”. DMA

    Dudu conta que o Movimento Enraizados já tinha o costume de revitalizar a praça de Morro Agudo a cada dois anos, então decidiu fazer uma intervenção de graffiti na comunidade em homenagem ao jovem grafiteiro, para chamar a atenção, não só do poder público, mas também da sociedade civíl, para o grave problema relacionado à segurança, e a partir daí surgiu a campanha permanente #PazNaBF.

    A primeira ação foi o videoeclipe colaborativo da pesada música “Dos Barões ao Extermínio”, que traz em sua letra áspera a visão do rapper sobre os problemas na região, e a imagem de jovens, artistas e militantes socioculturais, exibindo cartazes onde pedem a paz para a Baixada Fluminense.

    Através do Curso de Segurança Pública na Baixada, realizado pela Casa Fluminense e pelo Fórum Grita Baixada, Dudu teve acesso à outras organizações como a Anistia Internacional e o Observatório de Favelas, com os quais falou sobre a campanha #PazNaBF e a homenagem que fariam. Os parceiros e diversos outros artistas da região compraram a ideia e decidiram engrossar o caldo, pois segundo eles, a causa era nobre e todos sofriam com o mesmo problema e precisavam dar visibilidade para essas regiões.

    “Problemas semelhantes existem em regiões como a Zona Oeste, Norte e São Gonçalo”. DMA

    Logo surgiu a ideia do conceito do evento, algo colaborativo, construído por diversos atores. Foi então que lembrou de quando era criança, quando seu pai fazia caleidoscópios pra ele. Os pequenos vidros dentro do tubo, quando separados eram apenas cacos, mas juntos formavam uma imagem incrivelmente linda e única.

    Caleidoscópio

    Caleidoscópio

    Pois é, sabe aquele negócio em forma de tubo com vidrinhos coloridos em seu interior, que quando a gente olha lá dentro tem uma explosão de formas. Então, esse é o conceito do projeto. Pessoas diferentes com uma mesma ideia: transformar o mundo num lugar bem melhor.

    Na prática vai funcionar da seguinte forma:
    Imagine um tubo, onde de uma lado temos “10 da manhã” e do outro “10 da noite”. Dentro, um monte de vidros coloridos que podemos chamar aqui de “vocês”: artistas, parceiros e público em geral; que contribuirão com atividades culturais, campanhas, exposições e olhares, muitos olhares curiosos, durante todo o dia.

    Caleidoscópio é um evento construído por diversas mãos, onde as pessoas se unem para criar algo novo, diferente e muito maior.
    Sem ego inflado e sem nariz em pé, todo mundo do mesmo tamanho em prol de um bem maior: a VALORIZAÇÃO DA VIDA.

     PROGRAMAÇÃO

    * 10:00 às 17:00 – Elaboração de painel de graffite no muro da Praça de Morro Agudo com os grafiteiros Babu, Breno Gonçalves, Dante, Irak, FML, KDO, Marcelo Melo, Léo da XIII, MV Hemp, Oxy, Kajaman, Anarkia, entre outros.
    * 13:00 às 16:00 – Ensaio aberto de Break com CYPHER DE RUA: Organizado pelo DJ Tecnykko.
    * 16:00 às 18:00 – Festival de Rap com pocket show dos grupos NRC, Bruno Guimba, DMT, Tavares, Cleiton Oliveira, Nyl, Bonde 2 Cria e #ComboIO.
    * 18:00 às 19:00 – Discotecagem com DJs Marcão Baixada, Marcelinho MG e Juelz.
    * 19:00 às 20:00 – Batalha dos 10 anos, em comemoração aos 10 anos da Banca de FreeStyle Enraizados:
    WSO; Einstein NRC; Jamall Dubeco; (Convidado Surpresa).
    * 20:00 às 22:00 – Sarauzeira
    Sarau autogestionado, com shows de Marcelo Peregrino e Lisa Castro e participação de dezenas de poetas, de dezenas de saraus.

    AÇÕES/INTERVENÇÕES
    01) “Varal Marginal” com Entretere;
    02) Oficina de “Malabares” com Luiz Herique;
    03) “Exposição de Caleidoscópios” com: Antônio Feitoza e alunos do CIEP 172;
    04) Gravação do documentário “Caleidoscópio” com Bruno Thomassin, da produtora La Casa Loca;
    05) “Livraria Suburbano Na Estrada”, diretamente de São Paulo, com Alessandro Buzo;
    06) “Varal de Fotografias” com o Ambulante Cultural MV Hemp.
    07) Gravação para a série “Minha Rua”, do Canal Futura, com Leandro Firmino;
    08) “Poesia de Segunda Pele” com Camila Senna;
    09) “Poema Fiado”, com Victor Escobar;
    10) Cisane com o projeto “Literatura Infantil”, com distribuição de Gibis para as crianças do bairro;
    11) Contribuições de instituições parceiras com suas campanhas em favor da paz: Observatório de Favelas, Anistia Internacional, Com Causa e Casa Fluminense.

    SERVIÇO
    Onde: Praça de Morro Agudo
    Esquina da Rua Angelo Gregório com a Thomaz Fonseca (Perto da Igreja Católica de São Francisco de Assis)
    Quando: 23 de maio de 2015
    Horário: A partir das 10 da manhã, até às 22 horas
    Interessados em contribuir com ações/intervenções podem entrar em contato:
    contato@hullebrasil.com.br / 21 965 630 554

    Leia uma matéria relacionada ao evento no site da ENTRETERE: 
    http://www.entretere.com.br/experiencia/tem-uma-galera-se-juntando-pra-fazer-o-caleidoscopio-no-dia-25

  • Dudu de Morro Agudo lança vídeo colaborativo da música Dos Barões ao Extermínio

    Dudu de Morro Agudo lança vídeo colaborativo da música Dos Barões ao Extermínio

    Quando o rapper Dudu de Morro Agudo pensou em lançar o vídeo da música Dos Barões ao Extermínio, queria algo diferenciado, por isso propôs à equipe da Hulle Brasil um “Lyric Hulle” – um vídeo com a letra da música – em conjunto com um vídeo colaborativo onde as pessoas pudessem contribuir com imagens pedindo a paz para a Baixada Fluminense.

    Dessa forma nasceu a campanha #PazNaBF.

    As pessoas que participaram do vídeo, enviaram sua contribuição para o email da Hulle Brasil com um vídeo ou fotografia com uma cartaz escrito #PazNaBF ou cantando a música em playback.

    Hoje, dia 02 de abril, é o lançamento do vídeo, mas segundo o rapper, essa discussão está apenas no começo, pois ele pretende ainda este mês fazer uma atividade na Praça de Morro Agudo, chamada #PazNaBF, em homenagem ao grafiteiro Babu, que foi baleado no bairro há cerca de um mês.

    O rapper também afirma que este não é o videoclipe da música, pois o roteiro do clipe está sendo elaborado pelo cineasta Bruno Thomassin, da produtora La Casa Loca.

  • Guitarrista da banda Setor Bronx é assaltado em Bangú

    Guitarrista da banda Setor Bronx é assaltado em Bangú

    Na última quinta-feira (19), após o ensaio da banda Setor Bronx no K Estúdio, situado no Parque Leopoldina, em Bangú, o guitarrista da banda, Vagner Silva (de camiseta branca, à direita), teve sua guitarra roubada. 

    O músico conta que o bandido além de roubar sua guitarra e seu celular, colocou a arma em sua cabeça e apertou o gatilho, mas a arma não disparou.

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    20150319-01-setorbronxO cantor Brutus e o rapper Dudu de Morro Agudo também participaram do ensaio, porque se apresentarão com a banda em um show no próximo dia 28, e durante um bate-papo conversaram a respeito da onda de violência na Baixada Fluminense, por conta da nova música que o rapper lançou: “Dos Barões ao Extermínio”.

    Quando o ensaio acabou, Dudu de Morro Agudo, que ia sentido Nova Iguaçu, deu carona para o baterista Wagner Ignácio e os vocalistas Leandro Nuss e Marcelo, enquanto Brutus ia de moto ao lado. O baixista Sergio Cake ficou no estúdio, e o guitarrista Vagner Silva foi para o ponto de ônibus acompanhado do amigo Diogo, quando tudo ocorreu.

    Mesmo com a tensão, Vagner foi à delegacia realizar o BO, enquanto a banda rapidamente se mobilizou via redes sociais afim de divulgar ao máximo as fotos da guitarra, para se ela aparecer à venda, os amigos contactem o grupo.

    Se você ver essa guitarra, entre em contato com o Setor Bronx

    MAIS FOTOS:

     

     

  • Rapper realiza atividade sobre Segurança Pública em CIEP

    Rapper realiza atividade sobre Segurança Pública em CIEP

    Hoje (17/MAR), Dudu de Morro Agudo esteve no CIEP 172, em Morro Agudo, onde realizou uma atividade chamada ‪#‎PazNaBF‬, onde o rapper troca uma ideia sobre a Segurança Pública e Cultura na Baixada Fluminense com os alunos.

    O objetivo do encontro é trazer a discussão sobre segurança pública para mais perto dos jovens da periferia, que são os principais vitimados da violência na região, desmistificando alguns (pré)conceitos e trazendo dados que permite com que façam comparativos com outras regiões do Estado.

    Segundo dados da Secretaria Nacional de Juventude, Nova Iguaçu é a terceira cidade mais perigosa para um jovem negro, com idade entre 15 e 29 anos viver. E na Baixada Fluminense estão 04 (Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti e Magé) das 13 cidades inclusas como as mais violentas do Estado.

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    Dudu de Morro Agudo conversando com os jovens sobre segurança pública

    A atividade contou com a participação dos jovens Miriã Oliveira, Amanda Américo, Alysson Peterson, Alan Ferreira, Leo Paiva, Fábio Chantre, Daniel Raimundo, Charles Oliveira, Vitória Santos, Samara Freitas, Samara Nascimento, Natally Vianna, Stephanya Bernardo, Tais Alexandra, João Silva, João Silvério, Pablo Macedo, Lucas Nunes e Alex Moraes, e teve total apoio dos educadores Cleber Gonçalves Pacheco e Antonio Feitoza, que já realizam atividades semelhantes com os jovens.

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    Educador Antônio Feitoza, auxiliando os jovens na confecção da faixa

    Ao final DMA captou imagens para o vídeo da música “Dos Barões ao Extermínio” que será lançada no dia 31 de março, quando a chacina da Baixada completa 10 anos. A música é o fio condutor da campanha #PazNaBF, que tem como objetivo amplificar a revolta da juventude da Baixada Fluminense e pressionar o Governo para que sejam implantadas políticas públicas de segurança e de juventude na região.

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    A jovem Miriã foi uma das participantes da atividade

     

    QUER SABER COMO PARTICIPAR DO VÍDEO?
    Acesse: http://bit.ly/1BbBydT

    Baixe a música: http://bit.ly/dosbaroesaoexterminio

  • Segundo dia do Curso de Segurança Pública na Baixada

    Segundo dia do Curso de Segurança Pública na Baixada

    O Curso de Segurança Pública na Baixada está sendo um grande sucesso.

    Em sua segunda atividade, o curso recebeu a intervenção artística do Coletivo Mate com Angú, na presença do polivalente Heraldo HB, que apresentou quatro filmes de curta duração, entre eles o filme “As Justiceiras do Capivari”, que chocou bastante os presentes, logo no primeiro momento, antes das 10 horas da manhã.

    A aula do último sábado (14/mar) ficou por conta de Silvia Ramos, doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz na área temática Violência e Saúde, que trouxe dados sobre violência no Estado do Rio de Janeiro e faz um comparativo com a Baixada Fluminense.

    Dentre os principais pontos da aula, Silvia citou que o Brasil é o quinto país que mais assassina seus jovens, em todo o mundo, e está entre os dez mais violentos do mundo há mais de dez anos. Que no Brasil a violência é cultural, e que está provado que a violência não está diretamente ligada á pobreza, pois na Índia, que também é um país pobre, esse fenômeno não existe. Que tanto no Brasil, quanto na Venezuela, que nos últimos anos diminuíram as suas desigualdades sociais, a violência aumentou.

    Silvia ainda trouxe dados sobre a cor , a idade e a geografia da violência, dizendo que no Leblon a taxa de homicídios é de 2%, como na França, enquanto em bairros como Bangu e Campo Grande, esse número ultrapassa os números de países em guerra.

    Enquanto a violência têm diminuído em todo o Estado do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense esses números só aumentam.

    Na semana anterior, a intervenção ficou por conta do Movimento Enraizados, que é um dos parceiros culturais do curso, e na próxima semana terá intervenção cultural com coletivo Cineclube Buraco do Getúlio. A aula será com o professor José Cláudio Souza Alves, autor do fundamental livro Dos Barões ao Extermínio.

    Este curso é uma realização da Casa Fluminense e do Fórum Grita Baixada, que captou o recurso através de um financiamento coletivo, onde diversas pessoas e instituições colaboraram, inclusive a Hulle Brasil, que está fazendo a cobertura do curso

    Saiba mais:
    Próxima aula: 28 de abril
    Onde: Centro de Formação de Líderes de Nova Iguaçu
    Rua Dom Adriano Hipolito, 8 – Moquetá, Nova Iguaçu – RJ, 26285-330
    (21) 2767-2370

     

  • Dos Barões ao Extermínio: a nova música de Dudu de Morro Agudo

    Dos Barões ao Extermínio: a nova música de Dudu de Morro Agudo

    Incomodado com o alto índice de violência na Baixada Fluminense, o rapper Dudu de Morro Agudo lançou na última sexta-feira (06) a dura música “Dos Barões ao Extermínio” e não poupou ninguém.

    Pra mim o hip hop sempre foi uma ferramenta de protesto, minhas músicas são um grito de desespero de um povo que é historicamente ignorado. Se cada um dos meus amigos e fãs compartilharem a música apenas uma vez, esse grito chegará cada vez mais longe. Isso trará visibilidade para o nosso problema e gerará um grande constrangimento, que acredito que é o que pode trazer mudanças”, desabafa o rapper.

    Paralelamente à música, Dudu inicia a campanha #PazNaBF, onde lançará um vídeo coletivo, com imagens enviadas por qualquer pessoa que também se sinta incomodada com o descaso do poder público para com a região.

    As pessoas podem gravar imagens com qualquer dispositivo (telefone celular, máquina fotográfica, etc), segurando cartazes com hashtag #PazNaBF ou cantando um playback da música. Depois precisam publicar o vídeo em algum servidor como o Mega, 4shared ou Dropbox e enviar o link para hullebrasil@gmail.com.

    As imagens serão editadas pela equipe da Hulle Brasil e o video será lançado no dia 31 de março, dia em que a Chacina da Baixada Fluminense completa dez anos.

    Contamos com seu apoio para compartilhar essa música e participar desse vídeo.

    BAIXE A MÚSICA AQUI

  • Quem será a próxima vítima da violência na Baixada Fluminense?

    Quem será a próxima vítima da violência na Baixada Fluminense?

    Morro Agudo é o bairro onde eu nasci e vivo há 35 anos, onde dedico minha vida trabalhando com meus parceiros em busca de melhoria e oportunidades para a juventude. O lugar que adotei como meu sobrenome, que falo com imenso carinho, e onde trouxe milhares de pessoas, de diversas partes do mundo para conhecer.

    Esse é o meu Morro Agudo.

    Mas vou contar um breve relato, que talvez vocês não saibam:

    Nasci em 1979. Minha infância foi nas ruas, brincando com meus amigos. Entre uma brincadeira e outra, íamos ver os corpos sem vida, às vezes atropelados na Via Dutra, outras assassinados. Muitas vezes pessoas que se conheciam desde a infância se matavam por motivos fúteis.
    Tudo isso fazia parte do meu cotidiano. Quando meus pais chegavam do trabalho, nossa conversa durante a janta – nos intervalos comerciais entre a novela – era sobre os mortos do dia.

    O tempo foi passando, fui crescendo e meus amigos continuaram se matando. Cada vez morrendo mais jovens, todavia os motivos eram sempre os mesmos.

    Quando iniciei minha história no hip hop, comecei a ter um olhar crítico a respeito da minha comunidade. Percebi que em todos esses anos, NUNCA, eu disse NUNCA,  houve sequer uma investigação sobre as mortes violentas que aconteceram na minha comunidade.

    Os anos foram passando e nada mudava. Um vizinho – e camarada – morreu aos 17 anos porque fumava maconha no bairro, outro morreu porque era encrenqueiro, não fazia mal à ninguém, apenas era chato, esse foi o motivo de um amigo de infância tirar sua vida após várias tentativas. Outro morreu com 16 anos por causa de inveja, também morto por um amigo de infância. Atualmente, até esses jovens que mataram, já foram mortos.

    No dia 31 de março de 2005, eu tinha 26 anos, foi quando aconteceu a maior chacina aqui da região, onde 29 pessoas inocentes foram assassinadas em Nova Iguaçu e em Queimados. Eu lembro muito bem o que eu fazia no exato momento da chacina. Estava vindo da rádio comunitária do Fator Baixada, que funcionava na casa do DJ do grupo. Eu andava pela rua, por sorte os assassinos não passaram por essa rua.

    O caso ganhou repercussão mundial, mas acredito que foi somente porque foram 29 mortos de uma só vez, pois se formos contar as mortes violentas de cada mês, esse número certamente ultrapassará essa marca.

    A questão é: Dez anos se passaram. Quais foram as políticas públicas de segurança que foram aplicadas na região?

    Depois da implantação das UPPs nas favelas do Rio de Janeiro a violência na Baixada Fluminense aumentou, os dados comprovam. O aumento de roubo de carros, por exemplo, aumentou muito. Meu tio teve o carro roubado na porta de casa por bandidos armados com fuzil, coisa que não se via por aqui anos antes. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes subiu de 52 para 58, de 2013 para 2014.

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    Grafiteiro Babu

    E quem está nesse fogo cruzado é quem paga muitas vezes com a vida. Pessoas inocentes. Como “quase” foi o caso de um dos meninos que cresceu no Enraizados, na escola de hip hop Enraizados na Arte, e que hoje trabalha ministrando aulas de graffite em uma escola pública do bairro.

    Ele foi baleado na perna, após homens tentarem assassinar um outro jovem do bairro – sabe-se lá por qual motivo. Ele ficou literalmente no meio de um fogo cruzado e levou um tiro na perda, e agora está internado em um hospital público, com a canela quebrada ao meio.

    Alguns dizem que ele deu sorte, pois o tiro poderia ter sido no joelho, no peito ou na cabeça. Mas pra mim ele teve muita falta de sorte, pois estava tentando ir para casa pelo caminho que considerava o menos perigoso, dentre todas as opções que tinha, depois de um dia inteiro de trabalho e de estudo.

    Jean Lima, mais conhecido como grafiteiro Babu, um cara da paz, mais uma vítima da violência da região da Baixada Fluminense.

    Pra mim não importa quem deu o tiro e muito mesmo a quem ele estava endereçado, o que importa realmente é saber porque as pessoas andam armadas aqui e ninguém faz nada? É saber porque um jovem pacífico, que não faz nada de errado, está internado, com um monte de ferro na perna, com sua vida estagnada?

    Sem contar com a paralisação da vida de seus familiares. Você consegue imaginar o que o pai dele sentiu quando recebeu um telefonema dizendo que o filho havia sido baleado enquanto voltada da escola?

    Eu sei o que ele sentiu porque ele me disse: – “Eu achei que isso nunca fosse acontecer com meu filho. Não estava preparado. Perdi o chão”.

    Infelizmente na Baixada Fluminense é assim, todo mundo anda armado. Os assaltantes que roubam de bicicleta e de moto andam armados, os que roubam na passarela andam armados, os que vendem drogas andam armados, o maconheiro não anda armado, mas é alvo (por aqui não tem distinção entre tráfico e usuário), os justiceiros, milicianos e policiais também andam armados.

    Sabe quem não anda armado? Nós!!!

    O que nos resta é rezar para que nenhuma dessa balas nos achem e para que a taxa de homicídios na região não se iguale à de 1989, quando a Baixada conheceu seu mais alto índice de homicídios: 95,55 mortos por 100 mil habitantes.

  • Inscrições abertas para o Curso de Segurança Pública na Baixada

    Inscrições abertas para o Curso de Segurança Pública na Baixada

    Em 2014, a Baixada Fluminense registrou 58,7 homicídios por 100 mil, o que representa um aumento de mais de 10% em relação ao ano anterior (51,8). Para efeito de comparação, o Rio tem 19,7 homicídios por 100 mil. Enquanto o estado apresentou 29,9 para cada 100 mil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera zonas endêmicas de violência locais que superam ou igualam a taxa de dez assassinatos.

    Logo, os dados confirmam a gravidade da situação e escancaram a ineficiência do Estado para reduzir os índices de violência na Baixada Fluminense, uma vez que os esforços, em geral, se concentram na cidade do Rio.

    Financiado na Benfeitoria, o curso de segurança pública na Baixada Fluminense é uma iniciativa da Casa Fluminense em parceria com o Fórum Grita Baixada, além de contar com o apoio de diversas outras organizações.

    O objetivo principal do evento é articular e formar lideranças locais para fomentar o debate sobre segurança na região. A Casa Fluminense acredita que, a partir da mobilização contínua dos próprios moradores, a resolução dos problemas e o diálogo com o Estado são facilitados.

    O curso acontecerá em março e abril. Os encontros serão nos dias sete, 14 e 28 de março, enquanto em abril nos dias 11, 18 e 25 de abril, sempre aos sábados, de 9h a 12h30. O endereço é Rua Dom Adriano Hipólito, 8, Miquetá – Nova Iguaçú, no Centro de Formação de Líderes.

    Serão 40 vagas e as inscrições podem ser feitas através do link: http://goo.gl/f2Kbzr

    ATENÇÃO: O resultado da seleção sairá no dia quatro de março. Confiram seus emails no dia!

    20150225-03-segurança

    PROGRAMAÇÃO

    1 – Os rumos da segurança pública no Brasil.
    Palestrante: Renato Sérgio de Lima – Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)
    Intervenção cultural: Movimento Enraizados

    2 – Políticas de Segurança Pública no Estado do RJ.
    Palestrante: Silvia Ramos – Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)
    Intervenção cultural: Cineclube Mate com Angu

    3 – Crimes e Violência na Baixada.
    Palestrante: José Claudio Souza Alves – Professor de Ciências Sociais UFRRJ / Fórum Grita Baixada.
    Intervenção cultural: Cineclube Buraco do Getúlio

    4 – Violência contra a Juventude Negra.
    Palestrante: Raquel Willadino – Observatório de Favelas.

    5 – Mecanismos de Justiça e guerra às drogas.
    Palestrante: Orlando Zaccone – Delegado da Polícia Civil e membro da LEAP

    6 – Democratização da justiça e garantia dos direitos
    Palestrante: Defensoria Pública Geral do Rio de Janeiro

    Texto originalmente publicado no site da Casa Fluminense: 
    http://casafluminense.org.br/inscricoes-abertas-para-o-curso-de-seguranca-publica-na-baixada

  • DMA participa de grupo, da Casa Fluminense, que entrevistou o coronel Robson Rodrigues

    DMA participa de grupo, da Casa Fluminense, que entrevistou o coronel Robson Rodrigues

    DMA (Dudu de Morro Agudo) fez parte de um time formado por Pedro Strozemberg, Henrique Silveira, Silvia Ramos, Tião Santos, Chris dos Prazeres, André Rodrigues e Anabela Paiva, que ontem (03/02) entrevistou o chefe do Estado-Maior, coronel Robson Rodrigues, para o portal ForumRio.Org, no formato Roda Viva.

    20150204-01-coronelrobsonO Coronel Robson Rodrigues da Silva é formado em Direito pela UERJ e mestre em Antropologia pela UFF. Autor do livro “Entre a caserna e a rua: o dilema do “pato””, uma análise antropológica da identidade policial militar, a partir da Academia Dom João VI. Integrou a PM em 85, e de lá pra cá já comandou o Batalhão Choque, foi Coordenador da Coordenadoria de Análise Criminal (CAC) e Coordenador Geral de Polícia Pacificadora (CPP), ajudando a estruturar e a implantar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) no estado do Rio de Janeiro.

    DMA focou sua pergunta na abordagem da polícia militar, que segundo ele, se diferencia baseada em três fatores: étnico, social e territorial. Exemplificando que uma abordagem a um jovem negro da Baixada Fluminense é sempre mais truculenta do que uma abordagem a um jovem branco da zonal sul do Rio de Janeiro.

    O resultado dessa entrevista será publicado em breve no portal ForumRio.Org, mas você já pode conferir outros artigos muito interessantes do portal.