Na vastidão da Rocinha, maior favela da América Latina, uma revolução cultural e musical teve início em 1978, impulsionada pelo som que ecoava das caixas de som da Status Disco Dance.
Fundada por Ricardo Pereira e seu parceiro Paulo Roberto, conhecido como Beto, a Status Disco Dance não só embalou a vida de milhares de jovens da comunidade, mas também deixou uma marca permanente na história dos bailes populares cariocas. Essa matéria busca resgatar a memória de uma época em que a música, os encontros e a comunidade se uniram para criar um legado que perdura até hoje.
Rocinha em 1979
O Início da Jornada
A história da Status Disco Dance começa com a visão de Ricardo Pereira, que aos 20 anos decidiu criar uma equipe de som que pudesse trazer para a Rocinha o mesmo tipo de som que fazia sucesso nos bailes do Rio de Janeiro. “A Status Disco Dance foi criada em 1978,
para ser mais exato. Começamos devagar, fazendo as coisas bonitinho. Inicialmente, chamava-se Status Discoteque, mas depois trocamos para Status Disco Dance”, relembra Ricardo.
O objetivo era claro: levar para a favela o que de melhor havia na música, criando uma alternativa de lazer para os jovens que enfrentavam a dura realidade de viver em uma das áreas mais carentes do Rio de Janeiro.
Status disco dance 3 Junho de 1984
Status disco dance – Paulo Roberto (O Beto) em maio de 1981. Salão de Festas no Alto da Boa Vista
A Criação da Equipe
O contexto em que a Status Disco Dance nasceu não poderia ser mais desafiador. A Rocinha, conhecida por sua densidade populacional e pela falta de infraestrutura, era também um caldeirão de cultura e resistência.
“A ideia de criar uma equipe partiu de mim e de um amigo que tenho até hoje, o Paulo Roberto, que a gente chama de Beto. Ele sugeriu: ‘Vamos fazer a nossa equipe, porque o som que está tocando aqui não é o som que toca nos bailes lá fora’. Foi aí que começou a mudança”, explica Ricardo.
A partir dessa decisão, a dupla começou a construir o que se tornaria uma das mais icônicas equipes de som da história da favela.
24 de junho de 1986 no antigo barracão do Império da Gávea
Julho de 1986 – Colégio Paula Brito
Julho de 1986
Os Primeiros Passos e os Desafios
Construir uma equipe de som de sucesso não era uma tarefa fácil. Ricardo e Beto enfrentaram inúmeros desafios, desde a compra de equipamentos até a criação de uma identidade sonora que se destacasse. “Meu único parceiro no desenvolvimento da equipe foi o Beto. Fizemos tudo sozinhos: criamos, compramos materiais, e organizamos os bailes”, conta Ricardo.
Para garantir que os bailes da Status se diferenciassem, a dupla frequentava regularmente o malódromo, um ponto de encontro icônico no centro do Rio de Janeiro, conhecido por ser o lugar onde os maiores DJs e donos de equipes de som do país adquiriam seus discos importados.
O Malódromo: O Coração da Música Importada
Nos anos 80, o malódromo, localizado nas proximidades do Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, era o epicentro do comércio de discos importados no Rio de Janeiro. Ali, vendedores como Machado, mais conhecido como DJ Nazz, operavam verdadeiras lojas a céu aberto, vendendo discos diretamente do chão para quem chegasse primeiro.
Ricardo relembra a intensidade dessas visitas: “Eu corria muito atrás dos discos. Trabalhava numa empresa e, no meu horário de almoço, ia para as lojas pesquisar”, destaca. Esses discos, que vinham de lugares como Miami e Nova Iorque, eram essenciais para manter a qualidade e a inovação musical dos bailes da Status.
Esquema de auto-falantes e carimbos da Status Disco Dance.
O Impacto dos Bailes na Comunidade
Os bailes da Status Disco Dance rapidamente se tornaram o ponto de encontro preferido dos jovens da Rocinha. Naquela época, a violência e a falta de opções de lazer faziam dos bailes uma válvula de escape crucial. “Naquela época, a Rocinha passava por muita violência e não havia muito o que fazer. A única opção era ir ao baile.
Os bailes da Rocinha eram tão bons que até hoje encontro pessoas que dizem estar casadas graças ao baile da Status Disco Dance”, diz Ricardo com orgulho.
Status disco dance
“Sabe quando uma criança conhece um parque de diversões pela primeira vez? Era assim que eu me sentia na Status Disco Dance”. Ricardo Pereira
Ricardo Pereira de camisa verde e o DJ Piu, na época o melhor DJ da Rocinha
Artistas e DJs: A Alma dos Bailes
O sucesso dos bailes também se deve aos artistas e DJs que passaram pela Status Disco Dance. Além de Ricardo, que comandava as pick-ups, a equipe contava com o talento de DJs como Piu, que era considerado um dos melhores do Rio na época.
“Além de mim, tinha o DJ Piu, que era praticamente o número 3 dos DJs do Rio de Janeiro na época. Convidamos também o Corello DJ, que fez um show maravilhoso para a gente, além de William DJ (Willian de Oliveira) e DJ Marcão”, lembra Ricardo.
Os bailes também foram palco para apresentações de artistas consagrados como Paralamas do Sucesso, Silvinho Bláu Bláu, Biquini Cavadão, João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, entre outros que ajudaram a consolidar a Status como um dos principais centros culturais da Rocinha.
Dj Piu e seu irmão Kinkas da Rua 2 e DJ Wiliam
DJ Marcão
Dj Piu
DJ Willian com a camisa da Status
Quem conhece Willian de Oliveira, conhece também o Willian DJ. Aos sábados e domingos, ao anoitecer, ele se transformava em carregador de caixas e equipamentos de som da equipe Status Disco Dance. Foi essa dedicação que o permitiu entrar para a equipe e, se
tornar um DJ, passando a comandar os eventos com maestria. Hoje, Willian é uma grande liderança na Rocinha, respeitado por sua trajetória e contribuição à comunidade.
A Transição Musical
Ao longo dos anos, a música nos bailes da Status Disco Dance também evoluiu, acompanhando as mudanças na cena musical internacional. “A transição foi muito boa. Começamos com o som do James Brown nos anos 70, passamos pela discoteque, depois para o funk soul, e finalmente, nos anos 80, para o miami bass”, explica Ricardo.
Essa transição foi importante para manter a relevância da Status e atrair novos públicos, mostrando a capacidade da equipe de se adaptar às novas tendências e manter a animação dos bailes.
Rádio Imprensa: O Pulso da Cultura Funk
A expansão da influência da Status Disco Dance não se limitou aos bailes. A partir de 1984, a equipe conquistou as ondas do rádio com dois programas na Rádio Imprensa, uma das emissoras pioneiras no Brasil a dar espaço ao funk carioca. A Rádio Imprensa, que operava na frequência 102,1 MHz, era uma das FMs mais influentes da época, conhecida por ter sido a primeira emissora em frequência modulada instalada na América Latina.
“Tínhamos dois programas na Rádio Imprensa, de 1984 a 1988. Um era dedicado às músicas dos bailes da Status, das 22h às 23h, e o outro era um programa de flashback, que ia até meia-noite”, conta Ricardo.
A Rádio Imprensa, fundada em 1955, desempenhou um papel crucial na popularização do funk e de outras vertentes musicais na cidade, abrindo suas portas para locatários como a Status Disco Dance e a própria Furacão 2000.
O impacto desses programas foi significativo, atraindo patrocínios e consolidando ainda mais a reputação da equipe na Rocinha. “Esses programas ajudaram a divulgar os bailes e a fortalecer a marca da Status Disco Dance. Comerciantes locais até queriam que a gente fizesse propaganda para eles”, relembra Ricardo.
O Fim de uma Era
Em 1992, Ricardo tomou a difícil decisão de vender a Status Disco Dance, marcando o fim de uma era na Rocinha. “Decidi vender a equipe em 1992. Tinha família e nunca dependi da Status para sustentar meus filhos. Fazia o som como hobby, mas estava vendo meus filhos crescerem sem a figura do pai. Por isso, decidi vender tudo”, explica.
Apesar disso, o legado da Status Disco Dance na Rocinha, continuou a viver através das memórias de quem participou dos bailes. “Até hoje, quando eu vou na Rocinha, encontro pessoas que dizem que conheceram suas esposas nos nossos bailes e estão casadas até hoje”, comenta Ricardo.
Reflexões Finais
Olhando para trás, Ricardo Pereira se emociona ao relembrar os momentos vividos com a Status Disco Dance. “Sabe quando uma criança conhece um parque de diversões pela primeira vez? Era assim que eu me sentia na Status Disco Dance”, diz ele.
A história da Status é um testemunho do poder transformador da música e da cultura popular, especialmente em comunidades como a Rocinha, onde o acesso a espaços de lazer e cultura sempre foi limitado. Hoje, ao revisitar essa trajetória, é possível entender a importância desses movimentos culturais para a formação da identidade de gerações inteiras.
A história da Status Disco Dance é, acima de tudo, uma história de resistência, criatividade e amor pela música. Ricardo Pereira e Paulo Roberto, com sua visão e determinação, criaram mais do que uma equipe de som; eles criaram um movimento que ressoou por toda a Rocinha e deixou uma marca profunda na cultura popular carioca.
Para os jovens de hoje, especialmente aqueles que fazem parte da cena do funk e do hip hop, essa é uma história que merece ser conhecida e celebrada, pois é parte fundamental das raízes culturais que ainda sustentam a música nas periferias do Brasil.
O legado da Status Disco Dance continua vivo, não apenas nas lembranças dos que viveram aquela época, mas também na inspiração que oferece às novas gerações que buscam, através da música, um caminho para transformar suas realidades.
Há cinco anos, o Hip Hop perdeu um de seus talentos mais brilhantes e inovadores, o DJ Tydoz, também conhecido como TDZ. Para marcar esta data, escrevo este artigo em celebração à vida e à obra de Tydoz. Neste relato, revisito alguns dos momentos mais notáveis de sua carreira, suas contribuições para a cultura Hip Hop e o impacto duradouro de sua arte.
O legado de Tydoz é narrado por meio de depoimentos emocionantes de amigos, colegas DJs e figuras importantes do Hip Hop brasileiro. A trajetória de Tydoz vai além do Hip Hop, deixando uma marca profunda na vida de muitas pessoas.
Nesta homenagem, exploro a sua carreira e suas contribuições únicas para a cultura de DJs, desde a criação dos discos para DJs de competição até sua influência na preservação do vinyl. Através dos depoimentos de amigos e colegas, ofereço uma imagem nítida de um artista cuja paixão pela música e pela cultura Hip Hop continua a ecoar.
Convido todos a relembrar e celebrar a herança do DJ Tydoz, um verdadeiro aliado do ritmo que, mesmo após cinco anos de sua partida, mantém viva a arte da discotecagem.
No cenário vivo do Hip Hop brasileiro, poucos nomes se destacam tanto quanto o de DJ Tydoz. Citado várias vezes no livro “Trajetória de Um Guerreiro” de DJ Raffa Santoro, Tydoz tem uma história que se confunde com a própria evolução do movimento Hip Hop no Brasil, especialmente na região do Distrito Federal (DF).
As raízes e o break na Ceilândia
A trajetória deste grande flamenguista começa no efervescente cenário da Ceilândia, um dos berços do breakdance no Brasil. Nos anos 80, a Ceilândia viu o nascimento de grupos lendários como Reforços e DF Zulu Breakers. Tydoz fez parte desse movimento que, apesar das adversidades, manteve viva a chama do breakdance na periferia do DF. Em sua obra, DJ Raffa Santoro destaca que “No grupo, o rapper era o X. No graffitti, o Snupi, Satão, Fokker e Tempo. Os DJs são TDZ e Léo”.
Encontros na igrejinha e a ascensão de um DJ
Outro ponto importante na carreira de Tydoz foi sua participação nos encontros na Igreja São Paulo Apóstolo, também conhecida como Igrejinha, na Quadra E7 do Guará I. Foi lá, em 1985, que muitos dos primeiros b-boys e amantes do funk eletrônico do DF se encontravam.
Raffa Santoro também ressalta que “Um jovem dançarino, que depois se tornou um dos maiores DJs de performance e militantes do movimento Hip Hop nacional, também frequentava a Igrejinha. Era o TDZ. TDZ se especializou em produzir discos de batalhas nacionais para DJs de todo o Brasil, na série Arsenal Sônico. Foi por uma iniciativa dele que a cultura dos DJs e do vinyl permanece viva até hoje”.
Além de brilhar como DJ, TDZ teve ainda um papel fundamental na preservação e promoção da cultura dos DJs e do vinyl no Brasil. O DJ Raffa explica: “A insistência dele fez com que o Dario (dono da loja Porte Ilegal) corresse o risco de apoiar a única fábrica de vinyl do Brasil, a Poly Som, que fica em Belford Roxo, na Baixada Fluminense (RJ), quando a própria fábrica queria encerrar sua produção. TDZ foi o responsável por manter a chama do vinyl acesa”.
Grupo Morte Cerebral
A parceria com Dino Black no grupo Morte Cerebral marcou outra fase significativa na carreira de Tydoz. O grupo era conhecido por suas letras sérias, abordando temas sobre injustiça social. DJ Raffa Santoro menciona em seu livro que “Dino Black e TDZ formavam o grupo Morte Cerebral, que adotou uma linha de trabalho bastante pesada, com letras sérias e conteúdo político-social”.
Colaborações e “DJ Scratch”
Uma das colaborações mais notáveis de Tydoz foi na música “DJ Scratch”, produzida por DJ Raffa Santoro. Em 1990, Raffa criou uma versão original para o disco DF Movimento, que se tornou um marco. Anos depois, Tydoz foi convidado a participar de uma nova versão dessa música, junto com outros DJs renomados.
DJ Raffa relembra: “Convidamos os DJs TDZ (que ainda era do grupo Morte Cerebral, com o Dino Black), Chocolate (que fora campeão brasiliense de um concurso DJs), Dourado (Código Penal) e o Junior Killa, também falecido, para que cada um fizesse uma versão diferente da música comigo. O Genivaldo cedeu o selo para podermos prensar o disco e a capa foi uma homenagem ao grande DJ Zinho, que servirá de inspiração para todos nós”.
Sua trajetória, como narrada por DJ Raffa Santoro, é um exemplo inspirador de como a cultura Hip Hop pode ser um poderoso instrumento de transformação social.
Quando o TDZ pregou uma peça
No início dos anos 2000, as redes sociais começaram a ganhar força, mas nem todos estavam dispostos a embarcar nessa nova onda digital. O ativista Def Yuri foi um desses resistentes, até que uma brincadeira de seu amigo, o DJ Tydoz, mudou tudo. Em um artigo intitulado “Quer Ser Meu Amigo?”, publicado no portal Viva Favela em 3 de fevereiro de 2005, Def Yuri revelou como foi surpreendido e “forçado” a entrar no Orkut.
“Após um ano de muita resistência às inúmeras tentativas feitas por camaradas de trabalho ou não para que eu aceitasse participar de um sistema de comunicação estilo pirâmide, fui surpreendido pelo ato cara-de-pau daquele que considero um dos ícones da cultura Hip Hop e amigo de longa data, falo do Dj Tydoz, também conhecido como TDZ,” escreveu Def Yuri.
A relutância de Def Yuri era bem conhecida por seus amigos, mas o TDZ decidiu tomar uma atitude drástica para ver seu amigo no mundo digital. Sem avisar, ele criou um perfil para Def Yuri no Orkut. Somente depois que o perfil foi descoberto por outras pessoas, Tydoz enviou um e-mail para Def Yuri com a mensagem: “Aí se fudeu! Login: Def Yuri Senha tal! Vê lá… rs”.
Reação e reflexão
Def Yuri admitiu que sua reação inicial não foi das melhores. “Confesso que a primeira reação não foi das melhores, lembram da minha relutância? Porém, o DJ tem salvo conduto”, ele revelou. No entanto, ao acessar seu perfil e ver as mensagens deixadas por amigos e colegas de trabalho, ele não pôde deixar de rir da situação.
Def Yuri concluiu seu texto com uma mistura de humor e seriedade, ressaltando a complexidade da vida e a necessidade de mudança. A história de como foi “forçado” a entrar no Orkut pelo DJ Tydoz serve como um lembrete de que, às vezes, as brincadeiras entre amigos podem nos levar a novas experiências e reflexões importantes.
“Mantendo o Hip Hop vivo! DJ Tydoz ou simplesmente, TDZ, mesmo morto nos mostra a partir do seu legado que isso é possível, na prática.
Não seguia cartilhas e discursos ensaiados.
Não era teatral. Era adepto do faça você mesmo.
Pra mim sempre será a fiel retratação do Hip Hop livre das amarras, do Hip Hop que não beija-mão.
Do Hip Hop plural, mas autêntico, autônomo e indomesticável!”
Def Yuri (Julho de 2024)
X, DEF YURI, AMARELO, TDZ, GOG (2005)
Depoimento de X do Câmbio Negro sobre Tydoz
Em um depoimento carregado de emoção, X da banda Câmbio Negro, um dos nomes mais respeitados do rap nacional, homenageou seu grande amigo e parceiro, DJ Tydoz. Reconhecido como um dos pilares da cena Hip Hop no Brasil, DJ Tydoz foi exaltado por sua dedicação, pesquisa e contribuição significativa para a cultura Hip Hop.
X destacou a excelência de Tydoz como DJ, enfatizando seu compromisso com a arte da discotecagem. “Um DJ de excelência, um cara que pesquisava muito, treinava muito, conhecia muito, buscava sempre a informação, estava sempre garimpando discos, músicas,” disse X.
Ele relembrou o impacto dos discos “Electro Overdose” e a coleção “Arsenal Sônico”, esta última sendo, segundo X, a primeira série de discos de vinyl produzida especificamente para DJs brasileiros, marcando um momento crucial na história do Hip Hop nacional.
O depoimento enfatiza a importância do trabalho de Tydoz na pesquisa e compilação de frases e efeitos para DJs, utilizando vozes de artistas brasileiros, o que representou um marco na cultura Hip Hop. “Foi o responsável por fazer os discos ‘Electro Overdose’, as músicas que a gente dançava break na época dos anos 80 e também por fazer a lendária coleção ‘Arsenal Sônico’”, afirmou X.
Ele ressaltou que, “antes, nós usávamos os discos com frases em inglês, e ele teve todo esse trabalho de pesquisa, de procurar as frases nos discos de rap, para poder colocar isso em vinyl, para que os DJs usassem, além de efeitos scratches e colagens com a voz de artistas brasileiros”.
X também criticou a falta de reconhecimento de Tydoz dentro da cena atual, lamentando que muitos DJs utilizem seus discos sem conhecer a origem ou o valor histórico por trás deles. “Hoje tem muito apertador de botão aí que diz que é DJ, mas não sabe, não valoriza a verdadeira arte da discotecagem. E às vezes tem DJ até utilizando esses discos sem saber quem foi o criador”, desabafou X.
X encerrou sua homenagem afirmando que, apesar da falta que DJ Tydoz faz, seu legado permanece indelével na história do Hip Hop brasileiro. “É só um pouco da história desse grande entusiasta, desse grande DJ. Faz muita falta, mas escreveu o nome dele na história do Hip Hop nacional”, concluiu X, reforçando a imensa contribuição e o impacto duradouro de Tydoz na música e cultura Hip Hop do Brasil.
CÂMBIO NEGRO
Arsenal Sônico: O legado revolucionário de DJ Tydoz na cultura Hip Hop brasileira
“O ano: 2000. O crime, a extinção do vinyl. Mas não existe crime perfeito. E eis que na periferia surge a resistência. Soldados do ritmo lutam incansavelmente contra a tirania do som digital. Um deles, Tydoz, também conhecido como TDZ. Meu parceiro prepara rajadas certeiras. Prepare-se! Porque seu Arsenal Sônico nunca esteve tão abastecido. O resultado é uma batalha sonora. Que vença o vinyl. (Voz: GOG)”
Acima, a abertura do Arsenal Sônico Vol.2. O famoso álbum verde.
Logo após a vinheta de abertura com a voz do X. Só o TDZ para juntar duas das mais poderosas vozes do rap do DF. Peguei esse trecho e mandei o áudio pro GOG que respondeu:
“Que louco, hein, mano. Foi bom relembrar isso aí. É a verdade. Falar sobre o Tydoz, principalmente como profissional, facilita muito. Porque ele foi um precursor, um desbravador, né, mano. Isso trouxe muita consistência pra minha estrada, porque nós estávamos crescendo profissionalmente no mesmo momento. Embora ele fosse mais novo que eu, a evolução do Tydoz era uma coisa impressionante. Ele tava pra além do tempo. Ele nasceu com a mente avançada muitos anos. E a engenharia do Tydoz, essa estrutura que ele montou, já foi pensado né, mano? Em segurar todos os momentos, tanto aqueles que o som tá na pista como também quando a gente tem a escassez da possibilidade do vinyl. E essa fala aí que eu fiz, ela é muito rica em relação a isso. A gente viveu esse momento”. (GOG – 4 julho de 2024 pelo WhatsApp)
Assim, começa o segundo volume da coleção Arsenal Sônico, uma obra-prima de DJ Tydoz que revolucionou a cena do Hip Hop. Este visionário, nascido e criado em Brasília, desafiou as tendências digitais da época e manteve vivo o legado do vinyl com suas produções inovadoras.
A criação do Arsenal Sônico
Em meio à transição do analógico para o digital, DJ Tydoz lançou a coleção Arsenal Sônico, uma série de discos de vinyl projetados especificamente para DJs de competição.
A série rapidamente se tornou uma ferramenta essencial para DJs em todo o Brasil. Marola, parceiro de Tydoz na produção e distribuição da coleção Arsenal Sônico, recorda.
“Eu conheci o TDZ em meados de 2001, através do DJ Beetles, DJ RCD (Firma de Scratches), que eram os caras da cena do vinyl. Eu já conhecia eles há mais tempo, ali o Beetles, da Feira do Rolo, de Ceilândia. E aí, o TDZ tinha lançado o Arsenal Sônico volume 1 e estava lançando volume 2, em parceria com a CD Box. Eu comecei a vender os discos para CD Box, levando para São Paulo, trocando, trazendo outros, fazendo este intercâmbio aí, Brasília-São Paulo. E o Tydoz vendo isso, me convidou para fazer uma parceria para prensar o Arsenal Sônico volume 3. Que foi um sucesso. A gente fez um álbum duplo. Naquela época poucos discos saíam duplos e estourou. Todas as lojas vendendo. Aí ele rompeu com a CD Box e me convidou para distribuir todos os discos dele. Aí veio o volume 4, 5 e o 6. E o TDZ é o seguinte, ele acreditou no meu trabalho, né? Na Marola Discos. Na época, estava nascendo o selo Marola Discos e ele foi uma peça muito importante para mim porque ele acreditou em mim. Através dos discos Arsenal, eu comecei a introduzir os meus CDs também nas lojas, junto com os discos de vinyl. Então o TDZ foi um cara que abriu as portas para mim. Eu já conhecia a Galeria 24 de maio em São Paulo. Depois eu comecei vendendo para outros estados, abastecendo todas as lojas do Brasil. Foi importante as portas que o TDZ abriu. Na época não existia disco de vinyl de batidas e efeitos. Só gringo. O TDZ fez o primeiro disco de batidas e efeitos, junto com Marcelinho, do Câmbio Negro. E aí, era legal porque a Porte Ilegal lançava um em São Paulo, a gente lançava um aqui de Brasília. E aí ficou aquela. Não uma disputa, mas aqueceu o mercado brasileiro, né? Foi da hora. E assim, só agradeço. Só tenho boas lembranças do Tydoz. O cara, que confiou na minha pessoa. Eu tenho uma gratidão enorme. E o Hip Hop, os DJs do Brasil, todos agradecem a contribuição dele, até porque o vinyl dele chegou em boa hora e todos os DJs compraram. Porque facilitava a vida dos DJs. Um disco de batidas de efeitos com frases do rap nacional. Foi muito da hora conhecer o TDZ, mano. O que ele fez pelo Hip Hop brasileiro foi foda.”
Impacto na cultura do DJ
DJ Tydoz, DJ Raffa Santoro, DJ Elyvio Blower, DJ Celsão (Já falecido), DJ Toninho Pop e DJ Leandronik
O Arsenal Sônico não foi apenas uma coleção de discos; foi um movimento que uniu DJs de todas as partes do Brasil. DJ Hool Ramos, fundador do Clube do Vinyl do DF, destaca a contribuição de Tydoz: “O TDZ, com a série de discos do Arsenal Sônico, teve uma grande contribuição para a cultura do DJ, não só do Distrito Federal, mas do Brasil. Por conta da produção dos LP’s. Antes de falecer, estava prevista a produção do Arsenal Sônico volume 7”.
DJ Hool Ramos também relembra momentos significativos compartilhados com Tydoz: “Ele participou do primeiro Clube do Vinyl DF em 2009. Depois ele participou do Clube do Vinyl em 2013 onde nós tivemos a participação do DJ Celsão. Teve também a participação do TDZ no Clube do Vinyl DF de 2012, no qual ele foi homenageado ainda em vida. Se eu não me engano, ele recebeu duas homenagens do Clube do Vinyl. Uma em 2012 e uma em 2013″.
Ele destaca a importância das homenagens póstumas a Tydoz: “Ele foi homenageado também uma terceira vez, pós mortem, onde recebeu das mãos da sua filha e da sua esposa no evento Arte Urbana em Ação em agosto de 2023 em Sobradinho. Um projeto que foi apoiado pelo FAC e coordenado por mim e com apoio do Clube do Vinyl DF e do Alan DEF. O TDZ era um camarada ímpar. Um atleta. Não bebia. Não fumava. E fatidicamente faleceu, mas deixa o seu legado. O homem se foi, mas o legado do artista ficou. Nas suas obras. E por isso não tem como não lembrar dele. Salve o TDZ”.
DJ Nino Leal, uma lenda do Hip Hop no Rio de Janeiro e campeão de diversos títulos nacionais e internacionais, também reconhece a importância de Tydoz: “Eu conheci o Tydoz de nome, né? Esse maluco aí contribuiu demais com a cultura, muita coisa. Vários discos, todos os DJs que são da nossa área usaram os discos dele. Ajudou demais da conta, tudo. Esse cara aí colaborou muito”.
A influência de Tydoz foi sentida profundamente por aqueles que o conheceram pessoalmente. DJ Léo Cabral, importante DJ da cena cultural de Brasília, relembra a generosidade e o impacto do amigo: “Cara, o Tydoz era um ser humano muito sangue bom. Baita DJ. Se fez contribuir muito com a cena dos DJs e o Hip Hop nacionalmente. Fez várias participações com scratch em vários álbuns. Lançou o lendário ‘Arsenal Sônico’, discos de vinyl para DJs. Todos eles chegavam lá em Fortaleza – CE. Na minha época de militância por lá, ele mandava para gente revender nas lojas, tirando uma porcentagem para termos a grana para fazer o Hip Hop acontecer. Ajudou muito!”
Outro testemunho marcante vem de DJ Beetles, também de Brasília, que homenageia Tydoz com carinho: “Hoje, presto homenagem a um amigo que deixou uma marca indelével na cultura Hip Hop. DJ Tydoz apenas não conhecia e tocava músicas, e sim criava experiências únicas, transformando discos em histórias que se tornaram trilhas sonoras de nossas vidas. Sua contribuição vai além da música; seus discos de batidas Arsenal Sônico, uniu pessoas de diferentes origens e estilos sob o mesmo ritmo, mostrando que o Hip Hop é uma forma de expressão e resistência. Seu legado vive em cada um de nós que teve a sorte de conhecê-lo”.
DJ Beetles continua e expressa a profunda influência pessoal de Tydoz: “Tydoz, você nos inspirou a ser autênticos, a buscar nossa própria voz e a nunca desistir de nossos sonhos. Por isso o DJ Scratch Campeonato saiu do papel. Você não foi apenas um DJ, você foi um amigo, mentor e irmão que sempre estará em meu coração. A cultura Hip Hop nunca será a mesma sem você, sou e somos eternamente gratos por tudo que nos deu”.
DJ Erick Jay, um dos poucos DJs do mundo a conquistar cinco campeonatos mundiais, enfatiza a importância dos discos de Tydoz: “Infelizmente, há cinco anos atrás, tivemos essa perda terrível pra cena. O DJ Tydoz era uma pessoa muito importante, um dos pioneiros a fazer os discos nacionais especializados para DJs de competição, o Arsenal Sônico. E eu tenho todos ainda, e guardo com muito carinho. E foi muito importante ele ter feito isso, porque o acesso era difícil da gente, né? O acesso era difícil. O acesso aos discos importados, dos DJs que a gente gosta lá fora. E o Tydoz ajudou demais, demais a cena. O acesso aos efeitos, as frases, ficou mais fácil, entendeu? E ele pegava os arquivos com os efeitos nacionais e os internacionais, as frases dos rappers, entendeu? Que ajuda demais assim na batalha de DJs. Enfim, pra colagem, entendeu? Esse foi um grande. Foi um grande passo. Foi uma grande perda”.
Japão (Viela 17), relembra com carinho o DJ Tydoz: “Ele era um grande DJ de performance, um DJ de grupo de rap. Um grande irmão e flamenguista, né? Um cara massa. Tenho um carinho muito grande por ele”.
Japão comenta a foto acima: “Essa foto aí foi no dia que nós gravamos a música ‘Se Esse Som Estourar’ em SP, com participação do Thaíde e DJ Hum, produção do Fábio Macari. Nesse tempo o Tydoz estava trabalhando com a gente como DJ”.
DJ Ocimar, de Ceilândia, DF, compartilha a saudade e a reverência por Tydoz: “DJ Tydoz foi uma grande referência no DF. Para Brasília. Eu tive a oportunidade de conhecê-lo. Ele era o cara da informação no tempo que a internet não era tão popularizada. Ele sempre foi um cara das informações. Ele falava bem inglês, conseguia traduzir muitas coisas que chegavam por aqui, as músicas e toda aquela situação no mundo dos DJs, dos campeonatos e tudo mais. Ele encomendava muita coisa lá de fora, que chegavam pra ele e ele passava essas informações pra gente. E também, daí ele viu a dificuldade que nós DJ ‘s aqui no Brasil, principalmente no DF, tínhamos de comprar os discos importados de efeitos. A gente via os campeonatos lá de fora, os caras com os discos tudo montadinhos de efeitos para os campeonatos. E aí então, foi onde ele teve essa ideia de fazer e de produzir aqui no Brasil. E aí ele fez uma parceria lá em São Paulo, depois ele fez com o DJ Marola aqui em Brasília, que eram os discos Arsenal Sônicos. Esses discos são raridade. Hoje esses discos custam caro na internet. Muito caro, mesmo! Se você for procurar aí. Foram várias edições. Até o volume seis. Ele também teve programa no rádio. Ele é oficialmente o DJ da DZ Zulu Breakers. O Tydoz então foi uma referência. Ele deixou seu legado pelo Hip Hop DF, pelo Hip Hop no Brasil e no mundo. E a gente devia ter mais ou menos a mesma idade. Então eu, com esses 30 anos de Hip Hop, o DJ Tydoz fez parte dessa história. Fez parte dessa história comigo também. Que ele esteja num bom lugar. Que Deus lhe conceda paz. E para os familiares e amigos que ficaram aqui, o conforto da saudade, né? Quando a gente perde uma pessoa que é importante pro ser humano, pra vida, né, pra esse mundo que veio pra cá e faz seu nome, seu legado. Deixa realmente saudades. É isso. DJ Tydoz, esteja em paz. Foram cinco anos. Vou falar, hein gente. Passou rápido, hein? Que isso? Paz a todos”.
DJ Portela, autor do livro 11 343 Lei Para Prender Os 4Ps, relembra com emoção sua relação com Tydoz: “O cara fez disco de vinyl pra gente tocar e era um professor, né, pra gente. Então assim, ele, além dessa simplicidade e profissionalismo com que ele tratava o Hip Hop já ali em 95 e tudo, e depois quando eu fui conhecê-lo indo ali por 97, 98, ele sempre foi um cara muito, muito tranquilo”.
Portela também destaca a paixão de Tydoz pela escrita: “Uma vez ele falou que queria escrever para um site de Hip Hop. Eu escrevia para o Real Hip Hop e aí arrumei uma coluna pra ele lá e ele ficou muito feliz. E a alegria dele era tanta, parecia uma criança ganhando uma festa. Ele queria escrever sobre o que o DJ pensava. Sobre como fazer discos de vinyl. Queria escrever sobre como a cultura poderia ser profissionalizada, melhorada, encarada como uma cultura de verdade, ser aceita pela mídia, aceita por todos, e eu lembro, que é uma das lembranças que eu tenho dele, dessa felicidade. E eu lembro que eu fiz assim numa simplicidade, e não achava que era tão importante para ele. E foi muito importante para ele escrever e poder falar”.
Portela relembra a generosidade de Tydoz: “E sempre quando a gente se encontrava ele era sempre muito solícito aos meus pedidos. Eu tenho os Arsenais, todos os Arsenais Sônicos. Tenho os discos de batidas e efeitos. Eu não consegui comprar nenhum, né? Porque ele não deixava eu comprar. Ele falava: – Portela, você é moleque nosso. Eu vou te passar aqui. – Portela, chegou Arsenal. Chegou Batidas e Efeitos. Vem aqui pra gente trocar uma ideia sobre os discos. E umas coisas que eu achava massa nele é que ele fazia questão de colocar muitas frases do rap de Brasília dentro dos Arsenais Sônicos e chama assim a prioridade pro Câmbio Negro, que ele gostava. Pela proximidade que ele tinha com X”.
DJ Chiba do grupo Opanijé expressa profunda emoção ao falar sobre DJ Tydoz, destacando sua importância colossal na cultura Hip Hop. Chiba relata ter conhecido Tydoz através do segundo disco de GOG, Vamos Apagá-los com Nosso Raciocínio (1993), onde Tydoz foi co-produtor de algumas faixas. Ele elogia a habilidade técnica excepcional de Tydoz no turntablism, scratch, back-to-back e mixagem, além de seu vasto conhecimento sobre a história e os grupos de Hip Hop.
Chiba menciona: Tydoz “era uma referência muito grande pra todos nós, assim, pra minha geração, principalmente”. Ele acrescenta: “Era um dos DJs diferenciados em todos os sentidos. E assim, na questão de talento, o cara era um absurdo nas técnicas de turntablism, nas técnicas de performance de DJ, de scratch, de back-to-back, de mixagem. O cara era um monstro, o cara era um absurdo, o cara era uma referência muito grande pra todos nós, assim, pra minha geração, principalmente”.
Chiba lembra com carinho da amizade que desenvolveu com Tydoz, destacando sua generosidade e a dedicação em fazer a cena dos DJs brasileiros evoluir. “Eu tive o privilégio de me tornar amigo dele… ele sempre foi uma figura muito generosa comigo,” diz Chiba. A perda de Tydoz foi um golpe profundo para a geração de DJs, mas seu legado perdura entre os verdadeiros amantes e ativistas da cultura Hip Hop. Chiba conclui: “O seu legado não vai ser esquecido jamais pelos verdadeiros amantes da cultura Hip Hop, pelos Hip Hoppers, que são ativistas também. Enfim, é uma figura que não merece ser esquecida e sempre ser lembrada e reverenciada.”
O deputado distrital Max Maciel também prestou homenagem a Tydoz: “O TDZ fez parte de uma história do rap do Brasil e do Distrito Federal. Importante nome de muitos grupos como o próprio GOG e tantos outros grupos no DF que passaram pelas mãos do TDZ, que seguiu a sua caminhada, seu legado, da música. Numa época em que o Hip Hop era muito mais criminalizado. Então fica aqui a memória, o registro, da gente sempre saudar as pessoas e respeitar o legado de cada um em vida, mas sobretudo aqueles que já partiram, já fizeram a passagem. Tydoz na nossa memória sempre”.
“Juntem-se breakers, rappers, grafiteiros do DF, de São Paulo, BH, Goiânia, Maranhão, Piauí, Ceará, unidos nós somos foda o bicho vai pegar.”
(Boicote – Câmbio Negro, 1995)
“Referência valiosa no meu trabalho”
Eu também, DJ Fábio ACM, “durante a década de 2000, adquiri toda a coleção de discos Arsenal Sônico e também a coleção Porte Ilegal. Usei muitos cortes do volume 2 verde do Arsenal no repertório da minha banda de rap, Antizona. Em todos os volumes do Arsenal, o TDZ sempre destacava as vozes do X (Câmbio Negro). Foi de lá que tirei a frase para o scratch da música “Não Pixe! Grafite!”, utilizando a palavra “grafiteiros”, e para a música “Direitos”, usei a frase “o bicho vai pegar”, ambas com a voz do X. Eu já tinha o vinyl “Diário de Um Feto” do Câmbio Negro, mas encontrar frases do Thayde, GOG, Cambio, Racionais, Japão, Baseado nas Ruas, todas no mesmo disco, facilitava muito a vida do DJ. Eu já era fã do TDZ. Até que o Def Yuri, do Ryo Radical Repz nos apresentou. Em 2003, eu e o Def fizemos uma viagem do Rio para Brasília e assistimos a um show do Racionais junto com o TDZ. Ficamos na casa dele, acho que era no Guará. Foi minha primeira vez em Brasília, e nem imaginava que no futuro essa cidade seria meu lar. Na casa dele, o TDZ me mostrou como era o processo de edição que usava para editar as frases e efeitos e construir os álbuns, usando o Acid Pro para cortar os samples e ajustar todos ao mesmo BPM. A influência do TDZ no meu trabalho é clara”.
O Arsenal Sônico não foi apenas uma série de discos, mas uma celebração da cultura Hip Hop brasileira. Tydoz deixou um legado que continuará a influenciar e inspirar DJs e amantes da música por gerações. Como DJ Portela resumiu: “É muita saudade dele porque os bons vão primeiro, e o Tydoz era um desses que deixou saudades”.
Em cada batida e em cada frase, o espírito de Tydoz vive, ecoando a paixão e a resistência que definiram sua vida e obra. Sua dedicação, inovação e amor pela cultura Hip Hop permanecem como uma fonte de inspiração inestimável.
“Peraí TD! Joga pra frente que pra trás é prejú moleque!”
Algumas participações notáveis:
Além de suas próprias produções, DJ Tydoz também deixou sua marca em algumas produções icônicas, onde demonstra suas habilidades nos scratches: 1. “E Se Esse Som Estourar?”
○ Álbum: Prepare – GOG
○ Faixa: 06
○ Ano: 1996
○ Ouça Aqui:
2. “DJ Que é DJ Parte 2”
○ Álbum: Riscando Um – DJ Marcelinho
○ Faixa: 09
○ Ano: 2002
○ Ouça Aqui:
TDZ foi o precursor de livesets de Hip Hop no Brasil.
Este programa “Aliados do Ritmo”, produzido e apresentado por TDZ, foi transmitido no dia 05 de julho de 2014 e apresenta um live-set ao vivo com mais de 2 horas de mixagens. Tydoz foi precursor das transmissões de Hip Hop pela internet, com ensaios e performances com djs de todo mundo. Esta sessão ao vivo foi inovadora para a época, pois a internet brasileira ainda não estava habituada a transmitir performances de DJs ao vivo. Esse tipo de conteúdo só ganhou popularidade após a pandemia da Covid-19, quando as festas presenciais foram suspensas devido ao distanciamento social.
Sua música continua, mesmo após sua partida
Na noite de 9 de julho de 2019, a comunidade Hip Hop ficou de luto com a perda de uma de suas figuras mais icônicas. Aos 46 anos, Tydoz faleceu tragicamente, em um acidente de trânsito no Park Way, Brasília. Ele pilotava sua motocicleta Kawasaki Vulcan quando colidiu de frente com uma caminhonete Mitsubishi L200.
O acidente aconteceu às 22h no viaduto da estação Park Way do BRT, próximo à quadra 14. Segundo relatos, o impacto foi devastador, resultando na morte instantânea de Tydoz. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Corpo de Bombeiros foram acionados, mas não puderam salvar o DJ, que já estava sem vida quando as equipes chegaram.
A notícia de sua morte gerou uma onda de comoção e homenagens. O PCdoB, partido no qual Niquele Moura Siqueira (Tydoz) trabalhava como analista legislativo na Câmara dos Deputados desde 2002, expressou seu pesar e solidariedade à família. Colegas de trabalho lembraram dele como um profissional dedicado, sempre disposto a ajudar e com um espírito alegre.
Na época, em um tributo emocionado, Gil Souza, Gilberto Yoshinaga e Noise D, do site Bocada Forte, destacaram a importância de Tydoz para o turntablism brasileiro. Eles ressaltaram sua influência, tanto através da internet quanto em eventos ao vivo, e sua contribuição imortal para a cultura Hip Hop.
Despedida
O velório de DJ Tydoz foi realizado na quinta-feira, 11 de julho de 2019, na capela 6 do cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, em Brasília, e a cerimônia de cremação ocorreu no dia seguinte na cidade de Valparaíso, em Goiás. Ele deixa sua esposa Bárbara e duas filhas, Alice e Sara, além de um legado que continuará a inspirar futuras gerações de DJs e amantes do Hip Hop.
A perda de DJ Tydoz é sentida profundamente por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo e trabalhar ao seu lado. Sua paixão pela música e dedicação ao Hip Hop asseguram que sua memória permanecerá viva nas batidas e scratches que ele tanto amava.
DJ FÁBIO ACM E DJ TYDOZ
Referências:
– Depoimentos coletados diretamente de entrevistas, fornecendo uma visão abrangente e profunda sobre a vida e o legado de DJ Tydoz.
– RAFFA, Dj. Trajetória de um guerreiro: história do DJ Raffa. Rio de Janeiro: Aeroplano Ed., 2007.
– MIRANDA, E. (2013). A poética híbrida da pós-modernidade nos RAPs de GOG: Poeta periferia (Tese de Mestrado). Universidade de Brasília, Brasília.
– Viva Favela: Quer Ser Meu Amigo? Artigo por Def Yuri. 03 de fevereiro de 2005.
– Jornal do Rap. Sexta Nostálgica: 10 anos da morte do Mano Thutão. Artigo por Jefferson 25 de junho de 2016.
– Bom Dia DF, Globo. “Acidente Fatal no Park Way.” Acesso em 10 de julho de 2019.
– Correio Braziliense. “Motociclista Morre em Acidente de Trânsito no Park Way.” Publicado em 9 de julho de 2019.
– Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados. “Homenagem a Niquele Moura Siqueira.” Publicado em 10 de julho de 2019.
– Bocada Forte. “Turntablism Brasileiro Está de Luto por DJ Tydoz, um dos Mais Importantes DJs do Brasil.” Escrito por Gil Souza, Gilberto Yoshinaga e Noise D, em 10 de julho de 2019.
– Correio Braziliense. “Morre DJ Tydoz, Pioneiro e Referência na Cena Hip Hop do DF, aos 46 anos.” Publicado em 11 de julho de 2019.
Bom, a Copa do Mundo mal acabou e muitos estão falando do “Legado” que ela deixou para o Brasil, para o Rio de Janeiro e outros estados. E muitos já estão pensando no “próximo” legado que virá: O das Olimpíadas em 2016 na cidade do Rio de Janeiro.
A turma de 2014 do Rio de Encontros escolheu este tema para ser abordado no encontro do dia 12 de Agosto, na última terça-feira, que aconteceu lá na Casa do Saber. E para isso, foram convidados os atletas olímpicos Flávio Canto e Isabel Salgado; Agusto Ivan, assessor especial da Empresa Olímpica Municipal e Mário Andrada, diretor de comunicação do Comitê Organizador Rio 2016.A mediação do encontro ficou por conta de Pedro Strozenberg, diretor da Associação Casa Fluminense. Herança? A pergunta inicial foi “Que legado a Copa deixou para o Rio de Janeiro?” O atleta Flávio Canto disse que o legado foi o clima de paz que reinou no Rio de Janeiro durante o período de Copa, mas tive que lembrá-lo que durante a Copa, inúmeras operações policiais ocorreram, muitas delas no Morro do Chapadão, em Costa Barros, perto da onde moro por sinal. E que essas operações resultaram em baixas civis, mais uma vez. O jovem Igor, morador do Borel também relatou que houveram confrontos entre bandidos e policiais da UPP situada na favela.
E essa é uma herança que não veio da Copa, mas que está aí há anos e que deixa a população assolada por não parecer ter solução.
Equipamentos
Muitas pessoas presentes se mostraram preocupadas em relação aos equipamentos que serão utilizados nas Olimpíadas e disseram que a Barra seria o local mais beneficiado com as Olimpíadas devido ao fato de boa parte dos eventos acontecerem lá; mas Augusto Ivan rebateu dizendo que serão 16 modalidades na Barra e 15 em Deodoro, além de outros locais. Mas já há inúmeros boatos a respeito da especulação imobiliária na Barra.
Um dos jovens presentes questionou o fato de que o Maracanã foi reformado para a Copa e que vai ser reformado novamente para as Olimpíadas e por que já não pensaram em uma reforma que beneficiasse ambas as competições.
E na Baixada?
Augusto foi bem direto quando perguntei quais seriam os impactos das Olimpíadas da Baixada Fluminense: “O BRT está funcionando. Empregos serão gerados além dos que forem trabalhar como voluntários. O impacto não será direto, mas haverá. Competições que vão acontecer em Deodoro, a gente pode chegar perto mas não passar do limite”. Me mostrei compreensivo pois sei que as Olimpíadas acontecerão no município do Rio. Mas me questiono se o Estado tem algum plano de ação esportiva pra ser aplicado na nossa região. Como muitos sabem, as Vilas Olímpicas em nossa região estão sucateadas, algumas estão em obras que não terminam e outras funcionam mesmo sem as obras terem terminado. Não são todos os CIEPs que funcionam em período integral e isso impede a prática de atividades extra-curriculares como prática de esportes específicos. Mas isso é assunto pra outra coluna… Daqui a 2 anos a gente tira as conclusões.
Mas e pra você? Qual vai ser o legado das Olimpíadas?
Em primeiro lugar queremos agradecer a todos e todas que assistiram ao videoclipe #Legado, que compartilharam, exibiram e deram sua opinião, seja concordando ou não.
Dudu de Morro Agudo, como sempre faz, colocou a cara a tapa e fez a música, indo na contra-mão, enquanto muitos artistas fizeram “belas” músicas, ele a utilizou como ferramenta de protesto, recebendo muitas elogios, mas também muitas críticas.
Nossa meta com esse vídeo era atingir 3.000 views no youtube até o final da copa. Nossa missão termina aqui, com quase 2.500 views, e acreditando que até o fim do dia cheguemos ao nosso objetivo.
É certo de que conseguimos muito mais do que simplesmente views, conseguimos mostrar um outro olhar, o nosso olhar, e dar ao mundo um choque de realidade.
Pra nós a Copa do Mundo no Brasil não poderia ter sido melhor, as máscaras caíram.
Já sei! Você leu o título da coluna de hoje e pensou: não falei? Mulher escrevendo coluna no Portal Enraizados… Lá vem receitinha… Também!
No final do texto haverá uma receitinha de petisco para acompanhar a cervejinha nos dias de jogos do “Braseu”. Porém, a parada agora é outra.
Amanhã começa a Copa do Mundo de futebol POR AQUI e nosso país está cheio, ou melhor, lotado de visitantes. Mais ou menos como nos dias que sua “cria” diz que uns amigos vêm pro almoço no final de semana e, de repente, chega um bonde pesadão com uma dezena de jovens. Quem nunca mandou essa pros pais?! Nesse momento bate o desespero.
Aquele papo de pôr mais água no feijão já não resolve. Esse truque já está sendo usado no dia a dia, né? Encrementar com uma saladinha de tomates, nem se fala. Está tudo “pela hora da morte” como diz minha mãe. O arroz, o feijão, o leite… Dentre outros itens do nosso cardápio, tiveram reajuste em mais de cem por cento em um ano. E não digo isso me baseando em nenhuma pesquisa desse ou daquele órgão, ou na fala de nenhum economista renomado. Minha afirmação está pautada no cotidiano. Daí eu penso: será que até pra isso houve um plano?!
O aumento no valor dos alimentos essenciais à mesa de todo e qualquer brasileiro também foi pensado para o período de copa?! Me responda você: O que os gringos vão comer no período da Copa em nosso país senão o nosso bom e velho arroz e feijão? Os visitantes, ao pedirem uma típica feijoada regada a caipirinha, sabem lá quanto está custando o quilo do nosso feijão?! E o empresariado? Donos das grandes redes de hóteis e restaurantes de luxo, sabem?! Mas nós sabemos. Eu e você, homem ou mulher, provedores em nossos lares, sabemos o quão difícil está sobreviver nesses tempos.
Se já não bastasse a ausência de todos os outros fatores e serviços necessários e de direito à vida e à existência de nós cidadãos brasileiros, agora comer também é um desafio. Não que antes não fosse. A miséria e a fome da maioria de nossa população sempre nos assombrou, mas agora, apesar de famintos, esperam que sejamos sorridentes, corteses.
Ok. Estou tendenciando para uma teoria de conspiração contra a classe C, admito.
Mas se não houve um plano para que nossas vidas se tornassem mais difíceis nesses dias, foi uma coincidência bem a calhar, não acha? Porque, meus queridos, se de alguma maneira você planejou passar por esses dias com um mínimo de dignidade, alguém parece estar trabalhando para que o contrário aconteça. Ou será que não? Sei lá!
Pode ser que seja apenas recalque da minha parte, porque não vou estar com minha grande família nos estádios nos dias de jogos. Pode ser também que, seja porque a mim caberá apenas estar na cozinha em dias de “Copa”, preparando petiscos deliciosamente práticos e econômicos para acompanhar a cervejinha gelada, enquanto na tela a bola rola e o mundo gira no país do futebol.
Sejamos francos: em tempos de Copa, quanto mais econômicos, mais saborosos serão os petiscos. Ah, falando nisso, abaixo segue aquela receitinha, como prometido.
Ovos cozidos coloridos:
Utilize corante alimentício artificial na cor desejada (verde e amarelo). A proporção é de cerca de 20 gotas por 2 litros de água. Deixe a água ferver com o corante e, então, coloque os ovos por 15 minutos para cozinhar e pegar cor. Sirva a seguir ou deixe esfriar. Para a clara dos ovo ficar “manchada”, é preciso que a casca esteja rachada durante o cozimento do ovo.
Ué, esperava o quê? Bolinho de feijoada? Com o preço do feijão? Há!
No próximo dia 11 de junho, um dia antes do início da copa do mundo, não por coincidência, o rapper Dudu de Morro Agudo lançará seu mais novo videoclipe, da música #Legado.
O objetivo do clipe – que será legendado em inglês – é questionar sobre o legado que ficará para a população dos subúrbios, abordando principalmente temas como a violência urbana e o tratamento diferenciado das autoridades aos moradores das periferias.
Você pode ajudar a promover o vídeo e ainda ganhar uma caneca exclusiva com o workart da música (saiba como aqui). A ideia do rapper é mostrar, principalmente para que está fora do Brasil, que nem tudo por aqui são flores.
Perdoem-me, mas eu não deixaria de escrever sobre a Copa do Mundo às vésperas do evento. Como diriam meus amigos jornalistas, não perderia este gancho por nada, e ainda mais tendo a oportunidade de rechear com as UPPs. Perdoem-me novamente, mas vou pra cima deles.
Como diria Roberto Carlos: – Esse cara – do título – sou eu! E volto a afirmar: – Não sou bandido e amo futebol, mas não sou a favor da UPP e da Copa do Mundo.
Coloquei um sinal de interrogação, porque as pessoas com as quais converso, seja “cara a cara” ou via redes sociais, sempre me questionam com um sonoro: – Como assim?
Me faltariam argumentos se eu morasse no bairro com o metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, tivesse tido uma criação que se resumisse em olhar para o meu próprio umbigo e consequentemente achasse que o Estado se resume ao playground do meu prédio.
Mas não, sou de uma parte do Rio de Janeiro onde o azul está desbotado, da galáxia onde moram os motoristas, empregadas domésticas, garçons, pedreiros e tantos outros que são humilhados diariamente no bairro em questão.
E aí você me pergunta:
– DMA, não estou entendendo. O que tem a ver uma coisa com outra?
Simples caro(a) leitor(a).
O mundo não passa despercebido por mim, pois sinto as pessoas.
Esse ano de 2014 é um ano de amadurecimento, pois tudo fica mais claro, parece final de novela.
Sendo assim é importante esclarecer que quando digo que não sou a favor, não quer dizer que sou contra.
Vamos analisar os fatos.
ESCLARECIMENTO 01
Não sou bandido, mas não sou a favor da UPP. Porque?
Você acha que o governador, quando implantou as UPPs, queria proteger os moradores das comunidades dos bandidos que ali estavam durante décadas? Pense um pouco antes de responder.
Ou será que o governador queria proteger os turistas que chegariam aos montes por causa dos mega eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Simplesmente limpar os caminhos e entornos de onde os gringos vão passar.
Mas espere um pouco aí, para onde vão os bandidos depois que instalam as UPPs?
Talvez por estar na Galaxia Baixada Fluminense, eu sinta minha pele queimar a cada bandido novo que chega na região. A cada toque de recolher, a cada pessoa que morre, a cada novo jovem que se entrega para as drogas.
ESCLARECIMENTO 02
Vamos então analisar a outra parte.
Amo futebol, mas não sou a favor da Copa do Mundo.
Como assim?
Simples. O nosso país tem outras prioridades. A Copa do Mundo foi a oportunidade de algumas pessoas ganharem dinheiro que não conseguirão gastar em 3 vidas. Posso estar sendo leviado em afirmar algumas coisas sem ter provas, mas deixei de ser inocente a algum tempo.
Nossa Copa do Mundo custou cerca de R$30 bilhões, é a mais cara que as três últimas Copas do Mundo JUNTAS!!!
Mas como o Ronaldo disse: – Não se faz Copa do Mundo com hospitais.
Então Ronaldo, foda-se a Copa do Mundo, porque eu quero hospital, escola, emprego…
Como eu havia dito, as UPPs não são pra proteger a população de origem popular do Rio de Janeiro, mas proteger os turistas e seu rico dinheiro e evitar que o filme do Governador seja queimado. Sendo assim, o governo instala as UPPs e não prendem ninguém. Depois o policial truculento reprime o povo e tá tudo dominado.
Esse é o nosso legado!!!
A SOLUÇÃO
O que nós podemos fazer para mudar essa situação?
Primeiramente parar de reproduzir tudo o que os outros falam, parar de compartilhar o que é engraçadinho nas redes sociais sem ao menos analisar antes. Como já disse em outras colunas, não é que sejamos plano B, nós da Baixada Fluminense não estamos nos planos, assim como São Gonçalo não está.
Precisamos mostrar nosso próprio ponto de vista sobre o que acontece no Estado, mostrar nossa força juntos.
Na próxima quinta-feira, dia 12 de junho, começa a Copa do Mundo. Um dia antes (quarta-feira, 11 de junho) eulanço o videoclipe da música legado, pois essa é a minha forma de dizer que eu não estou de acordo com o que está acontecendo na minha cidade, no meu estado e no meu país. Minha meta é mostrar isso pro mundo, pois nós já estamos cansados de saber.
Se quiser/puder me ajudar a propagar essa ideia, inscreva-se aqui.
Filmar as injustiças e compartilhar não é só arte, é luta!!!
O IDEAL
Porque não sou contra?
Imagine como seria se as UPPs fossem uma política de segurança que visasse os interesses da população, para trazer a paz efetivamente. Como seria se o Brasil fizesse o dever de casa, estivesse com os hospitais em condições de receber a população com um mínimo de dignidade e estando tudo em ordem, recebesse um evento como a Copa do Mundo.
Mas infelizmente o mundo precisa saber, sob a ótica da Baixada Fluminense e de São Gonçalo, o que significa a Copa do Mundo e a política de segurança do Estado para as periferias.
Depois da Copa do Mundo, as coisas tendem a esfriar um pouco, então a hora é essa.
Essa, por incrível que pareça, tem sido a orientação, em forma de cartilha, que vários países “civilizados” estão disponibilizando a seus “cidadãos de bem” que virão ao mundial de futebol.
Já que, segundo eles, nossa nação é composta apenas por ladrões, traficantes, cafetões, infectados, drogados, criminosos de toda a espécie, aproveitadores, endemoniados… enfim, toda essa espécie de gente boa que nós estamos carecas de conhecer, mas o que incomoda é que a comunidade internacional está nivelando todos por baixo e aceita numa boa. E quem são eles para julgar alguma nação, já que, quando na posição de colonizadores, foram protagonistas dos mais odiosos absurdos e calamidades.
A Alemanha, por exemplo, tem a seguinte orientação: Levem dinheiro de sobra pois provavelmente vocês serão assaltados, então separem o dinheiro do assalto.
Os canadenses orientaram a evitar qualquer contato físico com pessoas, mesmo em locais públicos, e ainda evitar os animais de rua.
Os americanos orientam: – Máximo cuidado com carteiras e objetos de valor, evite andar sozinho, desconfie de tudo e de todos, pois quando você menos esperar, você sofrerá algum ataque.
Nossos hermanos argentinos indicam: – Evite andar a noite, estabeleça uma rota confiável, e nunca, NUNCA confie em quem se oferecer para ajudar em algo, caso precise, procure uma autoridade policial.
O Reino Unido declara: – Consuma água somente mineral engarrafada, coma somente em locais confiáveis como grandes restaurantes ou hotéis e em caso de tiroteio procure se abrigar e tenha em mãos o número do telefone do consulado, e caso tenha alguma emergência médica, procure as clínicas particulares e evitem as públicas, e em hipótese alguma suba em uma favela, principalmente a noite. E vão mais além dizem: – Esse país recentemente está recebendo uma grande quantidade de refugiados Haitianos, isso pode se tornar um perigo, já que podem transmitir, Ebola, HIV e outras doenças perigosas altamente transmissíveis. Procurem demonstrar o mínimo para que não seja reconhecido logo como estrangeiro, já que sempre cobram preços exorbitantes dos turistas estrangeiros, não aceite nada, principalmente se for comida ou bebida, pois eles são alegres e carismáticos, e vão utilizar isso contra você, e se mantenha discreto, se possível, caso esteja em um grupo, solicitar um guia credenciado pela empresa de turismo, ou do próprio hotel, já que esses guias estão familiarizados com o ambiente e com a violência desenfreada principalmente no RJ e SP.
Acho que podemos dar um nome para essas cartilhas: “Guia de sobrevivência no inferno”; o pior é que o governo não está nem aí para esse absurdo, agem como se fosse a Wonderland, e tudo é possível, infelizmente essas merdas não passam no horário nobre, muito menos nos meios de comunicação oficiais.
A CBF e os governos, estão mais preocupados em cumprir os prazos que já estão se esgotando, dizem amém a tudo que a FIFA manda, e contam com a aprovação do povo, que é o que fatalmente irá acontecer quando a bola começar a rolar, e então tudo irá se dissipar, a cerveja gelada vai reinar, o país vai entrar em Standby por um mês na base do empurrômetro e quem criticar essa situação será taxado de xiita e antipatriota, já que estamos vivendo num governo desgovernado !!
Enquanto a pelota vai rolando, a Baixada Fluminense continua agonizando no Hospital da Posse !! E AÍ VAMOS TOMAR A PÍLULA VERMELHA?