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  • [27-MAI] Rio de Encontros: Como o Rio vota?

    [27-MAI] Rio de Encontros: Como o Rio vota?

    Como a mobilização da juventude, hoje, nas ruas vai impactar as urnas?

    Qual será a influência das redes sociais  no processo eleitoral?

    Qual é o papel dos partidos no cenário político da cidade? O perfil do eleitor do Rio está mudando?

    Para conversar sobre esses temas e suas implicações, o Rio de Encontros convidou especialmente  para o papel de provocações na terceira edição de 2014, o professor do Departamento de Ciências Sociais da UERJ e coordenador geral de pesquisa  e Editoração da Fundação Biblioteca Nacional, José Eisenberg; o antropólogo e diretor do instituto de pesquisa mapear, Claudio Gama; e o jornalista de política do jornal O Globo, Alexandre Rodrigues.

     

    Saiba mais:
    Dia 27/05, das 9h às 12h, na Casa do Saber Rio O Globo, Av. Epitácio pessoa, 1.164 – Lagoa.

    Instituto Contemporâneo de Projetos e Pesquisa
    Rua da Assembléia, 10/2512, Centro
    Rio de Janeiro – RJ
    Tel: +55 21 2221-0018
    www.oinstituto.org.br

  • Como a imprensa carioca e fluminense enxergam a Baixada Fluminense

    Como a imprensa carioca e fluminense enxergam a Baixada Fluminense

    Olá amigos que sempre dedicam um tempinho lendo minhas colunas aqui no Enraizados. A de hoje é importante, espero que gostem e comentem.

    Hoje, assim que acordei, como faço todos os domingos, fui ao jornaleiro e comprei todos os “principais” jornais. O Dia, O Globo e o Extra.

    Já havia conversado com alguns amigos jornalistas e com outros amigos que trabalham com comunicação de uma forma mais ampla, e já expus a minha insatisfação com o fato de ter um caderno Baixada. Acho que é mais uma forma de nos segregar, pois nossa arte fica limitada na nossa região, quando poderia chegar a um número maior de pessoas.

    Mas alguns deles não concordaram comigo e disseram que era uma forma de valorizar e dar visibilidade para a região. Outros concordaram comigo, mas acharam normal, pois “sempre” foi assim, o que acontece na Baixada não interessa para o restante do Estado. Ops… O que acontece culturalmente não interessa, pois a nossa desgraça vende.

    Vocês já repararam que a Baixada só aparece na capa dos jornais ou em grandes matérias quando o assunto em questão é a violência?
    Quase sempre, alguns de nós, artistas, ficamos segregados até mesmo dentro do caderno Baixada, pois como já mostrei hoje – em minhas potagens no facebook, só mostra eventos pagos, de produtores de médio porte, casas de shows grandes ou com influências político partidárias. Isso me faz questionar de forma dura a real intenção – ou função – da imprensa carioca e fluminense.

    Se você acha que estou mentindo ou exagerando, faça um exercício, compre os jornais, todos os que puder comprar e faça um trabalho de recorte, relembrando as épocas de crianças, das aulas de educação artística.

    Recorte todas as matérias do jornal que falem da Baixada Fluminense. Faça seu caderno Baixada, recorte apenas as notícias dos eventos que são gratuitos ou dos que não façam propaganda para as empresas da cidade, restaurantes, lojas de carro, etc, e os que não façam a descarada propaganda político partidária.

    Veja o que nós da Baixada Fluminense representamos para a imprensa carioca e fluminense.

    Nesta semana estive em um evento de música alternativa (rap, rock e reggae) no Nativo Bar Clube, em Miguel Couto, na quinta feira, estive também em outro, cujo o nome é MusicAção na Pista, no sábado, que integrou ao festival internacional Grito Rock, aconteceu na Praça de Skate de Nova Iguaçu e reuniu mais de 200 jovens e mais de 10 artistas se apresentaram, muitos deles ainda adolescentes. Hoje, domingo, está acontecendo um evento no Ananias Bar, que reúne bandas de Rock da cidade e libera o microfone para que outros artistas possam se apresentar, e também aconteceu uma roda de samba no Marko II, na rua.

    Sabe o que todos esses eventos tem em comum?
    Eu respondo. Todos são gratuitos.
    Sabe de outra coisa em comum?
    Não saiu nenhuma nota, de nenhum deles, em nenhum dos “grandes” jornais e nem mesmo no segregador caderno “Baixada”.

    Pra que serve esse caderno Baixada?

  • [O Globo] História de sucesso em três cartas

    [O Globo] História de sucesso em três cartas

    No jornal O Glogo de hoje uma matéria falando sobre o lançamento do livro de Dudu de Morro Agudo. A matéria foi feita pela jornalista Fernanda Thurler (@fethurler) que merece todo o respeito da galera que faz cultura na periferia, tanto a rapa do hip hop quanto da literatura marginal.

    Tentamos conseguir o link da matéria, mas como não conseguimos estamos postando-a na íntegra, mas lembrando que o crédito é do Jornal O Globo (Extra) e da Fernanda Thurler.

    DMA no lançamento do seu livro "Enraizados: os híbridos glocais"

    O Rapper Dudu de Morro Agudo lança livro que fala sobre o Enraizados no Brasil e no mundo

    Tudo começou com três cartas e a necessidade de expor suas angústias e sentimentos. Assim era Flávio Eduardo, aos 18 anos, quando, sem imaginar, criara o Movimento Enraizados. Hoje, ele é o rapper Dudu de Morro Agudo, de 31 anos, autor do livro “Enraizados: os híbridos glocais”, lançado na última quinta-feira, e que conta a história de sucesso do movimento, que , atualmente, conta com militantes em 18 estados brasileiros e em mais 11 países.

    – O livro é o resultado de uma história de perseverança. Mostra que, quando as pessoas têm um sonho em comum e lutam para realizá-lo, é possível chegar lá. É um exemplo de que a arte é capaz de mudar a realidade do lugar onde vive – diz Dudu, que recebeu o convite de Heloisa Buarque de Hollanda para escrever o livro.

    Dudu nasceu em Morro Agudo, bairro de Nova Iguaçu. Como muitos jovens do seu bairro, tinha uma infância difícil e com poucas oportunidades. Tudo mudou quando, aos 14 anos, achou uma fita K7 com músicas de um rapper de São Paulo. Ali seu destino mudaria.

    – Encontrei ali respostas para tudo que eu sentia. E quis aprender mais sobre o Hip Hop. Foi quando escrevi três cartas para a revista Rap Brasil. Recebi 30 como resposta. Mais mais 30, recebi 90. Foi quando resolvi criar um portal na internet para publicar as cartas da galera. Acabou saindo uma união dos rappers – explica Dudu, acrescentando que o nome Enraizados veio de uma música do rapper americano 2Pac que diz: “Quanto mais escura é a pele, mais profundas são as raízes”.

    Em 2001, ele organizou uma coletânea com 13 grupos de hip hop, para gerar renda e divulgar o trabalho de cada um. Aos poucos, o movimento foi crescendo, mas nunca perdeu a essência.

    – Mudar a realidade das pessoas do bairro. Dar às crianças a oportunidade que eu nunca tive – conclui.

  • Enraizados no O Globo: Na periferia, a Tropicália dos excluídos

    Enraizados no O Globo: Na periferia, a Tropicália dos excluídos

    Veja a matéria que saiu no O Globo domingo passado:

    Arte e militância se misturam fora do perímetro da Zona Sul em coletivos de cinema, teatro, música e literatura
    Karla Monteiro

    Fora do perímetro da Zona Sul, arte e militância estão — cada vez mais — se misturando. E dando caldo. A coisa acontece em grupo, apoiada em redes, que botam em contato a periferia do Rio com os subúrbios de grandes cidades do mundo inteiro.

    Uma, digamos, Tropicália dos excluídos — em nível internacional.

    A história é assim: a galera se junta e, na parceria, “na firmeza”, faz arte de qualidade.

    O objetivo nunca é apenas produzir uma obra, mas interferir, mudar comportamentos, falar para pessoas que, de outra maneira, não teriam acesso à cultura.

    São dezenas de coletivos espalhados pelo estado. Nós fomos conhecer o trabalho de três: Mate com Angu, em Caxias; Enraizados, em Morro Agudo, Nova Iguaçu; e Cia. do Invisível, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Em cada um deles, muita história para contar.

    No galpão do Mate com Angu, bem no centro de Caxias, o papo é cinema. A turma realiza mostras e produz curtas-metragens, muitos deles premiados em festivais importantes. Do dia 18 ao dia 24 acontece a mostra Angu à Francesa, com a exibição de 12 filmes feitos na periferia de Paris e de dez obras locais.

    A galera do Enraizados, com braços em 17 estados, faz música, cinema, artes plásticas, literatura e política. Eles mantêm um trabalho social que atende 600 adolescentes e 120 crianças em Morro do Agudo.

    Em dezembro, o grupo lança uma biografia, com a curadoria da professora Heloísa Buarque de Hollanda. Já na Cia. do Invisível a onda é teatro. E uma nova moda: apresentar as peças na sala da casa das pessoas. O anfitrião tem um único compromisso: chamar os vizinhos. No momento, a companhia está circulando pela Zona Oeste com o projeto Café com Machado.

    — Era lugar-comum dizer que havia mais vida de rua nos subúrbios do que nos bairros de elite — diz o antropólogo Hermano Vianna. — Isso mudou com a violência. Grades agora existem em qualquer lugar.

    O surgimento dos coletivos é uma tendência contrária a essa imposição do isolamento e da separação. Todo mundo cria junto, todo mundo quer ficar junto. E isso tem a ver com um entendimento e um uso ousado dos recursos de criação colaborativa no mundo pós-internet, pós-web 2.0, pós-lan houses. Não faz muito tempo, o Mate com Angu convidou o (site colaborativo) Overmundo para escolher alguns vídeos disponíveis no site para uma mostra em Duque de Caxias. Teve festa, DJ legal, eu fui. Nada surpreendente que essa ideia inovadora tenha vindo da Baixada, e não da Zona Sul. A periferia é muito mais voraz diante do novo do que o velho Centro.

    Sede de novidade e política
    Ex-diretor de teatro, Marcus Vinicius Faustini, autor do “Guia afetivo da periferia”, já fez parte de muitos coletivos do gênero. Para ele, a arte que vem dos subúrbios é mais do que sede de novidade. É essencialmente política.

    — A cultura de periferia não quer só criar representação. Ela quer interferir de fato. Para o menino de um coletivo, é tão importante estar no palco quanto militar. A separação entre arte e vida não existe. A principal característica é a rede, que se expressa nos blogs, nos saraus, nos encontros internacionais — comenta Faustini.

    — Vai ter que haver uma ampliação das categorias estéticas da arte. É outra categoria estética que está em jogo. A crítica, a academia, ainda não dá conta de olhar para isso como arte, porque está muito enquadrada.

    Encaixa as obras oriundas desses movimentos no amador.

    Não é amador. É superprofissional.

    Algo que se pega no ar, com sutileza. Uma interpretação do mundo contemporâneo muito sutil. A cultura de periferia é pura arte contemporânea.

    Chegamos a Caixas no início da tarde de sexta-feira. Sol a pino, calor de esmorecer. A sede do Mate com Angu ocupa um galpão coberto com telha de amianto, descaradamente improvisado.

    Em frente, um boteco pé-sujo, com cerveja gelada.

    Pouco a pouco, vão chegando alguns integrantes, todos com latinha na mão. Igor Barradas dirigiu o curta “Queimados”, selecionado para o Festival de Brasília.

    O filme também vai estar na mostra Angu à Francesa. Segundo ele, todas as produções do Mate com Angu são fruto do suor de todos. Ninguém cobra pelos serviços, seja direção de arte ou captação de recursos — no caso, a captação se dá entre amigos e simpatizantes. Não há patrocínios. “Queimados” foi o primeiro filme do Mate com Angu feito em película. Custou R$ 20 mil. Ao todo, a galera tem mais de 30 curtas no currículo.

    — Meu primeiro filme foi “Progresso Primavera”, sobre o bairro de Caxias onde nasci. No lançamento, a galera se juntou e falou: “Vamos criar um coletivo, organizar nossas mostras.” Isso foi o embrião da ideia, em 2002. O Mate nasceu na onda do digital: fazer filme barato e dar um jeito de mostrar — diz Igor. — Com “Queimados”, eu quis experimentar película. Fiz com o apoio da gente mesmo. E com as minhas economias. Deixei de comprar um carro e fiz um filme.

    Heraldo HB é uma espécie de porta-voz da turma. De acordo com ele, o nome Mate com Angu é uma referência a uma escola histórica de Caxias, a primeira a ter horário integral, rádio de estudantes e merenda: mate e angu. Quando o coletivo nasceu — hoje são mais de 20 integrantes —, há oito anos, só organizava mostras, com filmes colhidos por aí. Um ano depois, em 2003, iniciou a produção de curtas. O primeiro filme a fazer sucesso foi “Um ano e um dia”.

    Ganhou festivais e, em 2008, acabou numa mostra em Paris.

    O diretor é Cacau Amaral, um dos diretores de “’5xFavela — Agora por nós mesmos”. Com a ida de “Um ano e um dia” para a França, o grupo começou um “intercâmbio” com coletivos do subúrbio de Paris. O resultado da conversa é a mostra Angu à Francesa.

    — Vão vir quatro diretores franceses e várias pessoas que trabalham na produção de filmes no subúrbio de Paris. Uma das características do Mate é conseguir lotar os eventos. A mostra vai acontecer no Sesc Caxias — diz Heraldo. — Nós trabalhamos com um público que nem sabe o que é um filme de curta-metragem. A intervenção social é muito clara. Estamos trazendo uma estética para mexer. Quando começamos, não existia nada em Caxias.

    Do centro de Caxias seguimos para Morro Agudo, em Nova Iguaçu, onde o desamparo é mais latente, mais na cara.

    Os Enraizados espalham-se por um grande terreno, rodeado por pequenas construções, com um pátio interno de terra batida protegido por uma velha mangueira. Por todos os cantos, crianças e adolescentes em oficinas. Tudo o que se ensina ali aplica-se na prática.

    Os alunos de design, por exemplo, aprendem a fazer capas de disco, filipetas etc. Os líderes do pedaço são Dudu de Morro Agudo e Luiz Dumontt. Dudu é a voz da galera. Ele conta que a coisa toda surgiu a partir dele.

    Em 1999, Dudu comprou uma revista de hip-hop e passou a mandar cartas paras os leitores da seção de correspondências.

    Mentia: dizia que tinha um grupo no Rio chamado Enraizados.

    Tirou o nome de uma música. A troca de cartas cresceu tanto que ele se viu na obrigação de transformar a mentira em verdade. Em 2001, reuniu músicas que recebia via e-mail e pelo correio. E lançou muuma pioneira coletânea de rap nacional, com grupos de oito estados. Daí para a frente, a coisa cresceu. Os Enraizados estão em 17 estados, com cerca de 200 “militantes”.

    — Lançamos três coletâneas de rap e um disco na França com grupos de lá.

    Agora estamos começando o processo de lançar artistas solo. Vamos fazendo um artista e, com o dinheiro, investindo em outro. Depois que começamos a ter visibilidade, dou palestras em organizações, faço muitos shows…

    Tudo o que é arrecadado vai para o projeto — diz Dudu.

    — No começo a gente não discutia nada. Só reclamava de tudo: preconceito social, falta de oportunidade… Depois fomos nos engajando.

    Lançamos discos o tempo inteiro, fazemos filmes… As pessoas vêm para gravar um disco e no final todo mundo estuda, discute… Não praticamos arte pela arte.

    Do local para o universal
    Em Santa Cruz, a turma da Cia. do Invisível também não.

    Composta por seis artistas formados pela Escola de Teatro Martins Pena, todos moradores das redondezas, a companhia monta peças que cabem na sala de qualquer vizinho. Agora estão em turnê — ou de porta em porta — com uma adaptação do conto “O caso da vara”. Depois de cada apresentação, tem — literalmente — Café com Machado.

    A família ganha uma obra do autor. E um professor de literatura abre o debate.

    — Não moramos longe. Longe de quê? Podemos discutir o nosso próprio universo. Do local para ser universal. Temos tido um resultado muito interessante.

    As pessoas ficam fascinadas — diz Alexandre Damascena, diretor da Cia. do Invisível.

    — O fato de sermos da periferia já nos torna invisíveis, o que pode ser bom: se não sabem quem somos, também não esperam nada da gente. Isso significa que podemos ser o que quisermos, fazer do nosso jeito.