A tarde desta quarta-feira (16) foi marcada por uma aula histórica no Quilombo Enraizados. A Master Class “Mudanças Climáticas e o Caminho da Água na Baixada”, com a geógrafa Juliana Coutinho e o professor e ambientalista Alex Vieira, não apenas provocou reflexões profundas como também lançou a semente de uma nova frente de ação: a campanha “Emergência Climática: Vidas em Suspenso na Baixada – Entre a Lama e a Torneira Vazia”.
A atividade, que faz parte da formação do CPPEC (Curso Prático de Produção de Eventos Culturais) e da décima edição do Festival Caleidoscópio, reuniu alunos, educadores, artistas e lideranças da região para um debate sobre a crise hídrica e os desastres ambientais que assolam os territórios periféricos. Entre dados, experiências e provocações, ficou evidente que a Baixada Fluminense vive uma emergência climática invisibilizada, onde o racismo ambiental e a negligência do poder público se misturam com o sofrimento cotidiano da população.
Foi a partir dessa aula que nasceu a campanha. O incômodo coletivo virou ação.
Alex Vieira e Juliana Coutinho
Alex Vieira
Juliana Coutinho
Uma campanha para dar nome ao que vivemos
A Campanha Emergência Climática: Vidas em Suspenso na Baixada – Entre a Lama e a Torneira Vazia tem como objetivo mobilizar, sensibilizar e informar a população sobre os impactos diretos das mudanças climáticas em nosso território – com foco nas enchentes, na escassez de água e no sofrimento muitas vezes invisível da saúde mental das famílias.
Entre os principais eixos da campanha, estão:
4 Master Classes com especialistas em clima, território, racismo ambiental e políticas públicas;
Exposição imersiva presencial com fotos, vídeos e relatos sobre as enchentes;
Galeria digital no Instagram, construída com moradores e artistas da Baixada;
Publicações no Facebook, voltadas especialmente para o público dessa rede, que costuma ser o público mais experiente;
Atos simbólicos e intervenções urbanas que estimulem empatia e reflexão;
Lançamento de uma publicação final, com falas, registros e relatos do processo.
Discussão acalorada no CPPEC
Momentos de Networking
Momentos de Networking
Próxima Master Class já é parte da campanha
Na próxima terça-feira, 23 de abril, às 14h, o Quilombo Enraizados recebe mais uma Master Class imperdível do CPPEC – Curso Prático de Produção de Eventos Culturais.
Com o tema “Mudanças Climáticas e Soluções Urgentes”, essa aula vai nos provocar a refletir sobre as transformações climáticas que já estão afetando diretamente nossas vidas, especialmente nas periferias, e pensar juntos quais caminhos podemos trilhar para resistir e agir.
Para esse papo potente, convidamos duas referências em suas áreas de atuação:
🌿 Johari Silva – Ativista LGBTQIAPN+, comunicador, educador popular, mobilizador e pesquisador social, com uma trajetória marcada pelo engajamento nas lutas por justiça climática e direitos humanos. 🏙️ Tainá Michelino – Formada em Arquitetura e Urbanismo, atua com inovação social e projetos urbanos que impactam positivamente as comunidades, especialmente nas periferias de Nova Iguaçu.
Esta atividade integra a a campanha “Emergência Climática: Vidas em Suspenso na Baixada – Entre a Lama e a Torneira Vazia”, que tem como foco discutir os impactos da crise climática na saúde mental das populações periféricas, promovendo informação, cuidado e mobilização coletiva.
Se você mora na Baixada ou área da região metropolitana do Rio de Janeiro, já enfrentou enchente, falta d’água, ou simplesmente quer fortalecer essa luta, participe do grupo da campanha no WhatsApp e ajude a construir coletivamente essa mobilização.
Não é só sobre o clima. É sobre território, memória e sobrevivência. É sobre não deixar que nossas vidas sigam em suspenso entre a lama e a torneira vazia.
Com rimas afiadas e ideias firmes, representantes do Hip Hop carioca mostram que a cultura Hip Hop é a ponte para a transformação social e política
Nos dias 29 e 30 de novembro de 2024, Brasília respirou rima, ritmo e resistência com o Seminário Internacional da Construção Nacional do Hip Hop. Representando o Rio de Janeiro, oito vozes marcantes do movimento cultural mais revolucionário do planeta levaram suas histórias, perspectivas e desejos para o futuro do Hip Hop. O evento não foi só um marco, mas um grito de união, organizado para construir políticas públicas e fortalecer uma cultura que há 50 anos transforma vidas.
As vozes do GT-RJ
De Cabo Frio à Lapa, da CDD à Baixada Fluminense, do basquete de rua às batalhas de rima, os representantes do GT-RJ têm trajetórias que misturam arte, educação e transformação social. Conheça quem são algumas dessas lideranças e o que pensam sobre o impacto do seminário.
Taz Mureb – MC e porta-voz da resistência do interior
Primeira colocada no edital do Ministério da Cultura na região Sudeste, Taz Mureb, de Cabo Frio, é MC, produtora cultural e uma das vozes mais marcantes do GT-RJ. Para ela, o seminário é um divisor de águas para a cultura Hip Hop no Brasil.
“O seminário é um marco. Estamos institucionalizando o Hip Hop como política pública cultural. É mais que música ou dança, é um movimento sociocultural e político. Aqui, a gente abre diálogo com órgãos do governo, empresas e até frentes internacionais. Sonho com o Hip Hop sendo ferramenta de promoção cultural no Brasil e no exterior. É o começo de algo muito maior.”
Taz destacou também a importância de criar um legado para as próximas gerações: “Precisamos transformar iniciativas locais em políticas nacionais e mostrar que o Hip Hop pode mudar o Brasil. É isso que estamos construindo aqui.”
DJ Drika – O coração pulsante da Baixada Fluminense
Adriane Fernandes Freire, ou DJ Drika, carrega a Baixada Fluminense no peito. Fundadora da Roda Cultural do Centenário, ela e sua equipe levam os quatro elementos do Hip Hop para as favelas de Duque de Caxias há seis anos. “Estar aqui no seminário é histórico. É uma vitória da cultura periférica, uma chance de dialogar com o governo e fortalecer o que já fazemos nas comunidades. A cultura Hip Hop precisa de apoio contínuo, e eventos como este abrem caminhos para que nossas vozes sejam ouvidas.”
Drika enfatizou que o Hip Hop não é só arte, mas também resistência: “Nosso movimento nasceu para transformar. Com a parceria do governo federal, podemos ir mais longe e impactar mais vidas.”
MC Rafinha – A força da união
Parceiro de Drika na Roda Cultural do Centenário, Rafael Alves, o MC Rafinha, é um mestre de cerimônias que acredita na força coletiva. Ele vê o seminário como uma plataforma para expandir o trabalho que já realiza com batalhas de rima, grafite e poesia na Baixada Fluminense.
“Esse evento é sobre união. É a chance de estarmos juntos, trocando ideias e mostrando que o Hip Hop vai além das nossas rodas culturais. Aqui, colocamos nossa luta no mapa e mostramos que estamos prontos para construir juntos.”
Para Rafinha, o seminário marca o início de um novo capítulo para o movimento. “O Hip Hop é a voz da periferia. Estar aqui é garantir que essa voz ecoe mais alto.”
Erick CK – Conectando a cena em Niterói
Com sete anos de atuação nas rodas culturais de Niterói, Erick Silva, o CK, sabe o peso de levar o Hip Hop para os palcos e ruas. No seminário, ele viu uma oportunidade de conectar as demandas dos artistas locais com políticas públicas mais amplas.
“É muito importante estarmos aqui. Precisamos discutir os problemas reais do Hip Hop, como falta de patrocínio para DJs e grafiteiros, e a valorização dos produtores que estão sempre nos bastidores. O seminário abre essas portas.”
CK ressaltou a relevância de manter o diálogo aberto para futuras edições: “Que este seja o primeiro de muitos eventos que fortaleçam o movimento em todo o Brasil.”
Anderson Reef – Transformação social em Madureira
Palestrante no painel “Retratos do Brasil: Narrativas Regionais e Potência Construtiva”, Reef é produtor cultural, responsável pela Batalha Marginow, evento semanal, que acontece todas as segundas e tem uma década de trabalho embaixo do Viaduto Madureira, zona norte do Rio. Ele usa o Hip Hop para revitalizar espaços e gerar economia criativa.
“O Hip Hop salva vidas. Aqui em Brasília, mostramos ao governo que nosso movimento vai além da música. Trabalhamos com saúde, educação, teatro e dança. Precisamos de mais estrutura para continuar impactando nossas comunidades.”
Para Reef, o seminário também é um espaço para pensar grande: “Quero ver o próximo evento num lugar maior, com mais gente. O Hip Hop merece ser tratado como prioridade nacional.”
Anderson Reef
Rafa Guze – Uma cineasta na linha de frente
Educadora social e diretora do Instituto BR-55, Rafa Guze acredita no poder do Hip Hop para transformar vulnerabilidades sociais. Para ela, o seminário é uma chance de estruturar
políticas que atendam as bases do movimento.
“O Hip Hop é uma potência global, mas nossas comunidades ainda enfrentam muitas dificuldades. Este evento é sobre construir soluções, criar políticas que combatam fome, genocídio, feminicídio e outras desigualdades. É sobre usar nossa cultura para transformar realidades.”
Rafa destacou a importância de trabalhar em parceria com o governo: “Sabemos como resolver os problemas. Só precisamos de apoio para fazer isso acontecer.”
Lebron – Formando novas gerações
Victor, ou Lebron, é um veterano do basquete de rua e do Hip Hop em Campos dos Goytacazes. Fundador de uma ONG que atua há 18 anos, ele vê o seminário como uma oportunidade de renovar o movimento.
“O Hip Hop me ensinou tudo que sei. Agora, quero retribuir, formando novas gerações de artistas, DJs e produtores culturais. Precisamos de mais eventos assim, que conectem pessoas e ideias para planejar o futuro.”
Para Lebron, o maior desafio é garantir que o movimento continue crescendo de forma sustentável: “Estamos retomando espaços e precisamos de articulação para avançar.”
Bruno Rafael
Bruno Rafael – Liderança que inspira
Com 27 anos de trajetória, Bruno Rafael é uma figura central do Hip Hop carioca. Palestrante no painel “Retratos do Brasil: Narrativas Regionais e Potência Construtiva”, ele destacou o amadurecimento do movimento.
“Esse seminário é fruto de trabalho coletivo. Mostramos que o Hip Hop está politizado e organizado. Hoje, conseguimos dialogar diretamente com ministros e secretários, algo que nunca foi possível antes.”
Para Bruno, o evento é um reflexo da força do movimento: “O Hip Hop tem o poder de transformar vidas. Estamos só começando a mostrar do que somos capazes.”
O impacto do seminário
Entre as falas, há um consenso: o Hip Hop precisa ser reconhecido como política pública prioritária. Os representantes do GT-RJ destacaram que o movimento não é apenas arte, mas uma ferramenta para combater desigualdades, gerar renda e formar futuros líderes culturais. Para os representantes do GT-RJ, dois nomes de peso tiveram grande importância para a realização deste seminário: Claudia Maciel e Rafa Rafuagi.
“A Claudia é pura visão estratégica”, disse Taz Mureb.
Já Rafa Rafuagi, é a ponte que liga cultura e política: “Ele é aquele cara que transforma discurso em ação. Além de ser referência no rap do Sul, ele trouxe a ideia de que o Hip Hop pode e deve dialogar diretamente com o governo, sem perder nossa essência de resistência.”
Para o grupo, Cláudia e Rafa não foram apenas organizadores, mas exemplos vivos de que o Hip Hop é articulação, união e transformação.
Caminhos para o futuro
O Seminário Internacional da Construção Nacional do Hip Hop foi mais do que um evento. Foi um passo firme em direção a um Brasil mais justo e diverso, onde a cultura Hip Hop ocupa o lugar que merece: o de protagonista na transformação social.
Com vozes como as do GT-RJ, o futuro do Hip Hop promete ser brilhante – e revolucionário.
No corre da favela e do asfalto, na batida da vida, todo mundo mandou o papo reto: “O Hip Hop salva vidas!”
O sonho de ser músico e levar sua arte ao mundo está cada vez mais presente entre jovens das periferias.
A música sempre foi uma ferramenta de expressão e resistência, e com as novas tecnologias, qualquer pessoa com acesso à internet pode gravar e distribuir suas faixas em plataformas como Spotify, Apple Music e YouTube. Nesse cenário, surgem empresas como a One RPM, com o serviço OffStep, que promete distribuir músicas em mais de 45 plataformas, mantendo 100% dos royalties.
Mas será que esse modelo é realmente vantajoso para um jovem músico sem financiamento?
O que o OffStep oferece?
O principal atrativo do OffStep é seu baixo custo: 12 dólares por ano para distribuição ilimitada de músicas, mantendo todos os royalties para o artista. Em tempos de crise, isso parece tentador. A plataforma também oferece ferramentas avançadas de marketing e análise de dados nos planos intermediário e avançado, o que promete ajudar os artistas a alcançar mais público e entender o impacto de suas músicas.
Entretanto, jovens de periferia, sem suporte financeiro, precisam analisar essas promessas com cautela.
Ponto positivo: acesso rápido à distribuição
Talvez o maior ponto positivo do OffStep seja a facilidade de uso. Com poucos cliques, você pode cadastrar suas músicas e distribuí-las nas principais plataformas de streaming, sem intermediários ou grandes investimentos iniciais. Para quem está começando do zero, isso pode parecer atraente.
O músico e criador de conteúdo Nando Ramos, que promoveu o serviço, descreve: “A offstep é simples, rápida e intuitiva. Suba e distribua quantas músicas quiser, ou seja, ilimitado”.
Essa simplicidade pode parecer uma vantagem para quem não tem experiência, mas o músico e produtor Gustavo Vasconcelos, da GRV, questiona se essa agilidade realmente beneficia o artista no início da carreira. Segundo ele, “O positivo seria o artista, no início, receber uma informação correta e precisa, ter apoio de alguém. Essa coisa da agilidade é questionável. Prefiro a alternativa que me dá mais segurança”.
Vasconcelos critica a ideia de que agilidade, por si só, seja um benefício, principalmente para músicos que estão começando. Ele afirma que “como estamos falando de obra e música, que são patrimônios criativos do artista, não acho positivo excluir a possibilidade de uma iniciação assistida em troca de agilidade”.
Ponto negativo: custos ocultos
Apesar do baixo valor inicial, é importante lembrar que 12 dólares por ano podem não ser acessíveis para quem vive na periferia, muitas vezes com empregos informais. Além disso, esse valor refere-se apenas ao plano básico, com recursos limitados. Para utilizar ferramentas de marketing e análise mais avançadas, os custos sobem.
Outro ponto a se considerar é que a One RPM, sendo uma multinacional dos EUA, mantém uma relação comercial que pode favorecer a empresa em vez do artista. Planos intermediário e avançado cobram por recursos que podem ser encontrados em plataformas mais baratas ou até gratuitas, criando barreiras para jovens músicos que não têm como arcar com esses custos.
Dependência de empresas estrangeiras
Optar por uma distribuidora estrangeira como a OneRPM pode significar depositar a carreira nas mãos de uma empresa que não compreende as necessidades dos músicos brasileiros.
O mercado musical no Brasil tem suas particularidades, e grandes corporações estrangeiras podem não estar alinhadas à realidade de músicos de periferia, que enfrentam desafios financeiros e de infraestrutura.
Alternativa nacional: a GRV como solução
Uma solução mais adaptada à realidade brasileira é a GRV, uma distribuidora musical nacional que entende as necessidades do mercado local. Fundada em 1993, a GRV oferece suporte para músicos iniciantes e consagrados, com um serviço de distribuição eficiente e foco na música brasileira e independente.
Além de distribuir músicas, a GRV oferece uma assessoria completa, desde o registro de músicas até o suporte jurídico, garantindo que o artista compreenda e proteja seus direitos.
A empresa também está conectada à realidade econômica do país, praticando valores em reais, o que evita as flutuações do dólar, algo vantajoso para quem tem poucos recursos.
GRV: uma solução completa e acessível
A GRV se diferencia por seu atendimento personalizado e uma equipe qualificada que compreende as dificuldades enfrentadas pelos músicos no Brasil. Além da distribuição de fonogramas e vídeos, a GRV oferece:
● Licenciamento e comercialização de obras em mídias digitais e audiovisuais.
● Sincronização e clearance, facilitando o uso das músicas em filmes, séries ou campanhas publicitárias.
● Criação de estratégias de marketing digital, com promoção de músicas em vitrines digitais, pré-saves e campanhas promocionais.
● Transparência na gestão de direitos autorais, com prestação de contas trimestral e acompanhamento detalhado dos ganhos.
Transparência e resultados
Um dos grandes diferenciais da GRV é a transparência. A empresa se responsabiliza pela gestão de direitos autorais, garantindo que o pagamento seja feito diretamente pelas plataformas digitais, sem burocracia para o artista.
Além disso, os relatórios de prestação de contas são disponibilizados trimestralmente na Rede Célula, permitindo que o músico acompanhe suas receitas e entendimentos financeiros com clareza.
OffStep é para você?
Para o jovem músico da periferia, o OffStep pode parecer uma solução rápida, mas é importante avaliar os custos e a real acessibilidade dos recursos oferecidos. O plano básico pode não ser suficiente para impulsionar uma carreira, e os planos mais completos podem se tornar caros, especialmente no cenário econômico brasileiro.
Por outro lado, a GRV oferece uma alternativa mais justa e adequada ao mercado nacional. Com serviços pensados para músicos independentes, a empresa entende as dificuldades de quem não tem financiamento para promover sua arte e oferece soluções acessíveis e transparentes.
Portanto, antes de optar por plataformas internacionais que muitas vezes não priorizam os interesses dos pequenos artistas, vale a pena explorar opções nacionais como a GRV, que proporciona o suporte necessário para construir uma carreira sólida no Brasil.
No dia 14 de setembro de 2023, o ativista Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como Paulo Galo ou Galo de Luta, compartilhou parte de sua inspiradora jornada de vida e engajamento social com os jovens membros do Instituto Enraizados, reunidos no Quilombo Enraizados, em Morro Agudo, Nova Iguaçu, RJ. Sua presença marcou um momento de profundo aprendizado e reflexão para todos os presentes.
O conteúdo desta palestra, que será compartilhado em partes, não apenas nos inspira, mas também desafia os jovens a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades e sociedade como um todo.
Fique atento às próximas partes deste relato fascinante, que prometem revelar ainda mais insights e lições valiosas extraídas da vida extraordinária de Galo de Luta.
Estas perguntas permeiam as novas e as antigas gerações do rap há anos. Desde quando eu comecei a fazer rap ouvia dizer que “esse ano é o ano do rap”. Normalmente algum grupo se destacava, com um estilo novo e diferenciado, e logo depois aparecia uma leva de MCs os imitando. Vi isso acontecer com SNJ, com o Sabotage e com o Pregador Luo, depois com Emicida e Criolo. Mais recentemente com Filipe Ret, Bk e Djonga.
Para responder rapidamente a estas perguntas logo no início do texto, algumas pessoas certamente diriam que sim, é totalmente possível criar uma nova cena de rap nos dias de hoje.
Pois o gênero evoluiu de uma cultura urbana mais frequentemente associada à criminalidade para um estilo musical mais acessível, com letras positivas e refletindo preocupações mais amplas sobre as comunidades de hoje.
Os artistas de rap estão cada vez mais dedicados à produção de conteúdo novo original e à promoção dos seus pontos de vista. O crescimento da internet também tornou mais fácil a produção e distribuição da música dos artistas independentes, o que criou espaço para experimentação e expressão criativa.
Mas, a partir deste texto, desejo aprofundar e complexificar mais esta discussão. Desejo refletir um pouco sobre isso e convido vocês para esse rolézinho. Vamos nessa?
Há tempos tenho percebido que muitos artistas, principalmente os que estão iniciando, mas não somente estes, não tem um planejamento de suas carreiras artísticas e musicais. Muitos não amadurecem seus estilos, copiam o artista que mais gostam, escrevem letras que beiram o plágio e ficam fissurados para entrar logo no estúdio e gravar. Alguns, após essa façanha, se esforçam para gravar um videoclipe, que, ou é cópia do clipe do seu artista favorito ou é ele próprio cantando em frente a câmera, sem ao menos ter se debruçado na elaboração de um roteiro medíocre. Depois disso jogam tudo no youtube e fé!!! Bóra fazer outra música.
Quando eu comecei a rimar, lá pelos anos de 1994, a gente nem tinha acesso a um beat, somente os beats americanos chegavam pra nós. Ao conversar com o MC Marechal durante a bienal da UNE, que aconteceu na Fundição Progresso, no início de fevereiro de 2023, um pouco antes de dividirmos uma mesa sobre educação e cultura, ele me lembrou que era uma prática comum irmos para São Paulo atrás de CDs de beats.
Já participei de eventos onde vários grupos de rap cantavam suas músicas no mesmo beat, que a gente chamava de “base”. Não tinha público também. A gente era limitado, mas bastante criativos. Aqui na Baixada Fluminense, por exemplo, era um celeiro de rappers e grupos de rap. Um diferente de outro. Lembro que tinha o Fator Baixada, o Ultimato a Salvação, o Kappela, o Pêvirguladez, o Slow da BF, o Bob X, o Vozes do Gueto e muitos outros. Cada um com sua singuralidade.
Nosso sonho era gravar um CD. Poucos de nós conseguiu. Mas depois disso, também não tínhamos planos. Normalmente ficávamos com um milheiro de discos encalhados dentro de casa. Muitos de nós vendeu carro, terrenos e outros bens para realizar esse sonho, que logo se tornou um pesadelo de frustrações.
Mas o tempo passou, houve o barateamento tecnológico e a gente teve acesso a vários equipamentos de áudio, muitos de nós montou seu próprio homestudio, aprendeu a usar uns softwares e começou a produzir suas próprias bases e gravar as próprias músicas no quarto de casa. Logo depois as câmeras de fotografia e vídeo ficaram mais acessíveis e os videoclipes explodiram.
A forma de distribuição musical mudou, chegou o Spotify e o Youtube. Eles estão estão aí, são realidades, mas a gente continua com o mesmo modus operandi.
Minha crítica não é musical, pois isso é muito subjetivo, a música que agrada um, desagrada outro. A minha crítica é sobre a forma como nós, artistas, administramos nossas carreiras.
Quantos de nós tem um site, uma rede social bem administrada, um telefone de contato, um email, um release, um mapa de palco e um business rider?
Quantos de nós entende minimamente sobre direitos autorais e direitos conexos, quantos sabem dizer o que é ISRC, quantos sabem dizer a diferença de uma agregadora para uma associação de gestão coletiva? Quantos de nós registra a própria música?
Quantos de nós tem um show decente para apresentar para os fãs? Sim, nós temos fãs. Às vezes a nossa base de fã é pequena, mas merece tanto respeito quanto se fossem milhares de pessoas. Nossos poucos fãs merecem assistir a uma apresentação de qualidade, nossos fãs merecem receber o nosso melhor. Para isso a gente precisa se dedicar, a gente precisa ser profissional. A gente precisa cuidar e administrar essa base de fãs, entender que são eles.
Lembro que no ano de 2010 tinha uma escolinha de hip hop no Enraizados. Muitas pessoas me criticavam dizendo que hip hop não se ensina (e não se aprende), que a gente nasce com o dom e etc. Nem discuto porque realmente tem gente que acredita nisso daí, da mesma forma que tem gente que acredita que futebol não se aprende em escolinha. Enquanto isso a classe média tá tomando o espaço da favela nos times de futebol do Brasil inteiro.
Mas a minha questão é: Que tipo de artista você quer ser?
Vi vários meninos e meninas chegarem no Enraizados sem saberem como se portar no palco. Vários que gaguejavam na frente de uma câmera durante uma entrevista. Mas que com o tempo, a partir de muita prática, muito treino, foram se desenvolvendo. Eu vi esse desenvolvimento em muitos deles. Sem contar que suas rimas e suas poesias ficavam cada vez melhores. Não era um “projeto social” para crianças carentes, era um espaço onde todos nós podíamos nos desenvolver artisticamente.
Infelizmente tivemos que parar com a Escola de Hip Hop Enraizados na Arte, e alguns desses artistas, formados ali, tenho orgulho de dizer que sou fã da arte que produzem até hoje. Inclusive já contratei alguns para se apresentarem nos eventos que produzo. Contratei porque eram bons artistas e tinham o que entregar, não porque eram meus amigos e amigas.
Mas esse barateamento tecnológico, ao mesmo tempo que foi muito bom para a nossa liberdade e desenvolvimento enquanto artistas, nos dando independência pra produzir e gravar a nossa própria música, também formou um monte de artistas que só funcionam dentro de estúdio, que estão produzindo em escala industrial, sem nenhum planejamento. E alguns deles não fazem ideia de como se portar em cima de um palco. Me parece que a única coisa que importa é colocar as os videoclipes no youtube e seguir gravando músicas e mais músicas.
A pergunta é: Pra que? Pra quem?
Durante a pandemia, fui contratado para fazer uma apresentação em uma cidade vizinha. Chamei alguns MCs para me acompanhar nesse show. Antes, propus um ensaio. Me espantou que parte dos artistas não sabia a própria música, cantavam olhando a letra no celular, outros chegaram com o beat no telefone, outros cantavam olhando pro chão. Uma decepção pra mim. Tenho certeza que se tivessem participado da escolinha de hip hop do Enraizados, não se portariam de tal forma.
Outro jovem MC, num outro momento, havia gravado um CD, na época estava na moda gravar EPs. Lembro que três meses depois ele já estava preparando outro disco. Ninguém ainda tinha ouvido o disco de lançamento, a não ser o círculo de amigos, o que nós chamamos hoje de “nossa bolha”. Levei ele pra se apresentar em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e ele ficou maravilhado.
Para não ficar apenas nas críticas e provocações, que nem é o meu objetivo com esse texto, trago também sugestões, pois minha ideia aqui é que possamos praticar reflexões a partir da nossa própria vivência enquanto artistas. Esse texto não é para todo mundo, mas para nós artistas que ainda não estão “hypados”, contudo seguem na luta por um lugar ao sol, desejando trabalhar de forma organizada, pensando suas carreiras e investindo nela.
Importante dizer também que quando falo em investimento não estou falando somente de dinheiro, mas de tempo, de dedicação, de olhar com mais seriedade e respeito para o seu próprio “trabalho” artístico. Há cinco anos, o WSO, junto com vários amigos lançou o melhor videoclipe que já vi por esses lados de cá. O que faltou pra esse clipe explodir? São essas perguntas que devemos tentar responder.
Mano Brown disse que todos os dias trabalha oito horas no seu projeto artístico, ou seja, na sua carreira. É disso que estou falando. Investimento.
Minhas propostas são (e não serve somente para Baixada Fluminense, isso, no meu ponto de vista, serve para qualquer região do Brasil que esteja disposta a se organizar):
Fomentar uma rede dinâmica e de ajuda mútua: Definir um raio geográfico e estabeler parcerias com artistas dessa região, formando um coletivo horizontal, uma espécie de observatório para mapear produtores musicais, beatmakers, proprietários de estúdios, curadores, produtores culturais, fotógrafos, jornalistas, influenciadores, videomakers, cineastas, comunicadores, roteiristas, etc…
Criar um protocolo que sirva como farol para “todos” os artistas da rede:
Ter uma rede social organizada para interação com fãs;
Administração da base de fãs;
Um email profissional;
Um telefone de contato;
Um release produzido por um jornalista ou alguém que saiba o que está fazendo;
Fotografias profissionais para disponibilizar para os contratantes.
Desenvolver uma protótipo de uma “Produtora Cooperativa”: Centralizar todo o “comercial” (venda de shows, produtos, etc) num só lugar. Administrar um calendário com todos os eventos que acontecem na região (não somente de rap, mas saraus e outros), para que os artistas possam se revezar apresentando seus shows.
Olha que interessante.
Lembrando que, para o desenvolvimento do coletivo, também é importante desenvolver o individual, para a máquina funcionar, é necessário que cada engrenagem esteja funcionando bem, por isso digo que o desenvolvimento individual é tão importante quanto o coletivo.
Cada artista precisa desenvolver sua identidade musical, buscar uma música única, a tal batida perfeita que o Marcelo D2 tanto disse. Isso requer um mergulho pra dentro de si. (Mas talvez isso seja um assunto para uma outra coluna).
Quem sabe percorrendo este caminho, a gente não crie uma nova cena musical com uma linha que conecte todos os artistas envolvidos, seja no beat, no flow ou no tema a ser desenvolvido?
Com o desejo de promover, valorizar e dar visibilidade às obras audiovisuais protagonizadas por produtores, diretores e artistas negros e negras na Baixada, os produtores Dudu de Morro Agudo e Monique Rodrigues, moradores de Nova Iguaçu, começaram a desenhar o que seria a Mostra Pretos na Tela, que no próximo sábado exibirá quatro produções que têm essa costura negra.
Monique que é documentarista e faz parte da equipe da Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial, espera que a Mostra seja um incentivo potente ao cinema produzido nesses territórios, ampliando cada vez mais o audiovisual como instrumento antirracista, já o rapper Dudu de Morro Agudo, coordenador executivo do Instituto Enraizados, acredita que diante das notícias estarrecedoras como a do novo presidente da Fundação Palmares, ações como essa tornam-se fundamentais nos dias de hoje.
Certamente a Mostra Pretos na Tela é, além de um espaço de troca onde as produtoras e os produtores negros podem exibir suas obras e ampliar sua rede, também uma fenda de incentivo e motivação para jovens da Baixada que sonham em ingressar no mundo do cinema e do audiovisual.
Nesta primeira edição serão exibidos os curtas “O segredo de Leoa”, de Juliano Viana, “Revolução do livro”, de Travis Knoll. “CoroAção”, do Cineclube Atlântico Negro, e “Echarpe noire”, de Bárbara Fuentes, e após a exibição haverá um bate-papo com os produtores e diretores dos filmes, onde o público poderá fazer perguntas e trocar impressões.
Mas a programação não para por aí, haverão várias atividades que vão além da exibição dos filmes, como a discotecagem com os DJs Imperatriz e TK que comandarão a festa, a Exposição de fotografias Meu Bairro Meu Ambiente, com fotografias de Morro Agudo e a apresentação teatral do Coletivo Via Light, formado por jovens artistas pretxs da Baixada Fluminense e arredores, que elaboram semanalmente experimentações e trocas dentro das artes cênicas, a partir da necessidade de se manter vivo diante do genocídio do povo pretx, de se ver representado ocupando espaços sempre negado.
Este evento faz parte de uma série de atividades que compõem o Festival dos CRIAS, uma iniciativa do Instituto Enraizados que visa desenvolver um espaço de troca entre a juventude preta e pobre da metrópole do Rio, realizando e recebendo atividades durante todo o mês de novembro.
SERVIÇO
A mostra acontece no dia 30, a partir das 16h, na sede do Quilombo Enraizados, na Rua Presidente Kennedy 41, no Morro Agudo, em Nova Iguaçu.
Há uma enorme crescente de debates sobre discriminação racial visto que por meio da internet os negros sofrem ainda mais preconceito e, graças a mesma, se unem, resistem e empoderam para que sejam feitas denúncias e os responsáveis pelos atos criminosos sejam devidamente punidos.
No último ano houveram inúmeros acontecimentos que viralizaram com pessoas de diferentes classes, idades e nacionalidades. O que mostra que o racismo não é exclusivo de um povo ou de um só lugar, e sim historicamente do ser humano. Existem diversos casos conhecidos de segregação racial como o apartheid, nazismo e até mesmo a colonização do Brasil. Com isso conclui-se que está impregnado na sociedade a ponto das pessoas os encararem como um ato normal, decorrente do dia-a-dia.
Pesquisas apontam que no Brasil, aproximadamente, 82 jovens são mortos diariamente, entre eles 77% são negros periféricos. Mesmo que ONG’s e Instituições busquem formas de mudar tais estatísticas, o jovem negro continua sendo vítima do genocídio que acontece nas favelas.
É comum percebê-los sendo ligados à prática de bandidagem, pobreza, de forma pejorativa e com ar de inferioridade. No geral ainda há um espanto ao vê-los em meio a classe dominante como presidentes, protagonistas e de forma heroica.
Por isso, apesar da notória evolução na conscientização humana, ainda há uma forte discriminação racial e a melhor forma de disseminá-la é acabando com a segregação socioespacial, política e cultural socialmente existentes, proporcionando protagonismo a fim de levar representatividade aos negros de todos os lugares.
Olá!
Para contar quem é o personagem da estória de hoje, primeiro citarei Muhhamed Yanus, prêmio Nobel em 2006 e que é um cara ligado na utopia de construir um lugar melhor. As palavras de Yanus são as seguintes:
“Uma questão essencial está na ideia de emprego. Quem disse que nascemos para procurar emprego? A escola? Os professores? Os livros? Sua religião? Seus pais? Alguém colocou isso na cabeça das pessoas. O sistema educacional repete: ‘você tem que trabalhar duro’. Seres humanos não nasceram pra isso. O ser humano é cheio de poder criativo, mas o sistema o reduz a mero trabalhador, capaz de fazer trabalhos repetitivos. Isso é vergonhoso, está errado. As pessoas precisam crescer sabendo que é uma opção se tornar empregado, mas que existe a possibilidade de ser empreendedor, seguir o próprio caminho. É arriscado, incerto, há frustrações, mas é bem mais estimulante. Arrumar emprego é o que é seguro, garantido. Mas sua vida será limitada ao que decidirem por você.”
Aprender a questionar é sem dúvida a maior libertação que um homem pode ter em sua vida. A dúvida, a incerteza, expectativa, todas são combustíveis para a criatividade. Outro grande homem, agora da cultura, teve o seguinte questionamento: “Se tudo tem escola, por qual motivo o Samba não tem?”
Essa dúvida fez com que Ismael Silva, em 1928, fundasse a “Deixa falar” que desfilou pela primeira vez no carnaval de 1929, ao observar, segundo alguns contadores de estória, a escola normal no bairro onde morava.
Anos mais tarde surge a primeira escola de Rap. Ela aparece em Morro Agudo e o seu idealizador é a estória de hoje.
Dudu de Morro Agudo
Flávio Eduardo, “Cabeça” ou simplesmente Dudu de Morro Agudo, é mais do que conhecido aqui no portal, afinal, sem sua lição magnífica de empreendedorismo eu nem estaria escrevendo essa coluna e a nossa vida seria bem menos interessante. Esse cara resolveu seguir os conselhos de um vendedor de picolé em Copacabana, que o esculachou em plena praia, por segundo ele ser um “preto amarelado de escritório”, um cara que não pegava sol, levava esporro do patrão, não via o pôr do sol e não era feliz, só para ter carteira assinada e horário fixo!!
É complicado escrever a estória de um amigo como ele, pois a mesma já foi contada em seu livro “Enraizados: os híbridos glocais”, da coleção Tramas Urbanas, no ano de 2010. Esse cara da periferia, líder desde criança, já teve, como todo jovem brasileiro, exilado, negro e de família com poucos recursos, a necessidade de ter que trabalhar pesado para conseguir dinheiro, já quase foi preso (ele mesmo conta isso hein!), já xingou o patrão, mas teve na arte a força e a qualidade de mobilizar, profissionalizar e entreter milhares de pessoas pelo mundo a fora.
Fora aqueles que suas ideias e projetos, principalmente na Baixada Fluminense, conseguiram salvar de caminhos tortuosos que normalmente são oferecidos a esses jovens.
Hoje, todas as classes sociais, muitos territórios inimagináveis e muitos prêmios foram conquistados. O Enraizados, organização não governamental criada em 1999 como “Movimento Enraizados” dialóga com pessoas de todo o mundo, trocando experiências, produzindo ideias e realizando diversas coisas bacanas.
O Take Back The Mic, uma espécie de “Copa” mundial, coroou seu grupo de rap #CombOIO com o primeiro lugar, conquistado ao custo da mobilização gigantesca na rede mundial de computadores e do talento de Léo da XIII e Marcão Baixada, dois outros caras fenomenais na arte dos “quatro elementos”, e deu uma enorme visibilidade não só a arte, mas também ao bairro que Dudu carrega no nome artistíco, que é Morro Agudo (por sí só resistência, já que Morro Agudo também tem o nome de Comendador Soares, em homenagem ao grande proprietário de terras que no século XIX doou parte de sua área ao Império para a passagem da estrada de ferro que liga Japeri à Central do Brasil, mas que contudo os moradores mais antigos não adotaram, sendo hoje, por isso, adotados os dois nomes pela prefeitura de Nova Iguaçu, município onde se baseia o movimento).
Atualmente Dudu trabalha o #RapLAB, que é “uma metodologia desenvolvida para auxiliar no desenvolvimento cognitivo dos jovens, utilizando o rap como uma ferramenta educacional que permite trabalhar com a inovação tecnológica, a criatividade e a dinamização simultâneamente”, uma forma muito bacana de fazer as pessoas, principalmente os jovens, se unirem em prol da construção de um produto artístico, ainda mais quando utilizado nas escolas, tradicionalmente apoiadas nos princípios tecnicistas onde a hierarquização do aprendizado mata boa parte da criatividade.
Hoje, casado com Fernanda Rocha, outra guerreira fantástica, mais tranquilo e experiente segundo ele, Dudu é um grande exemplo, e uma grande estória que deu certo.
É… aquele vendedor de picolé é um cara que merece muito o nosso respeito!
Sorte de Morro Agudo ter um cara como o Flávio!
E se você leu esse texto é porque gostou da parada!!!!
Antes do barateamento tecnológico que gerou as Lan Houses nos inícios dos anos 2000, existiam os Fliperamas.
Eram espaços próprios, bares ou padarias considerados quase como templo religioso pela molecada e que geralmente eram próximos a escolas, praças e outros locais de grande circulação da juventude (logicamente!).
Grande parte dos meninos dos anos 90 ficavam com os olhos brilhando com ou via o barulho de porradas nos botões em jogos como King of Fighters e o lendário Street Fighter. Por apenas R$0,25 (ou R$ 0,35 dependendo de qual cidade do RJ você é), um mundo de 16 bits se abria para ti e você poderia passear por cada canto da tela, na maioria das vezes pelos eixos X e Y .
Dentro desse convívio do fliperama, acompanhado por um primo ou brother da escola, haviam alguns momentos decisivos e que mostravam muito da sua personalidade e da sua relação com a vida. Um desses momentos é o “contra”! Quando aparace um cara desconhecido, chega do seu lado, insere a ficha na máquina e boom! “Here Comes a New Challenger”! Agora é cada um por si, se levando ao extremo para provar que é o Rei do Camarote Fliperama! E quem perder, tem que aceitar a zoação sem pedir arrego! Esse tipo de situação forma o caráter! É o primeiro tipo de pressão que o mundo pode dar pra um moleque! E a primeira oportunidade de ser respeitado nas ruas por algo que tenha realizado. Assim, o famoso convite “vamo bater um contra?” visto de um adulto de fora, pode ser percebido apenas como diversão, mas pra quem tá dentro é questão de se auto representação, superação, crescimento ou seja vida ou morte!
Hoje em dia o panorama dos fliperamas é outro. Pouquíssimos lugares possuem tal máquinas e esse universo fica apenas preso à mentes nostálgicas como a de quem vos escreve. Mas o video game continua presente nos gráficos assombrosos de consoles como Xbox ou em aplicativos para smartphone. A questão da competitividade continua, e continua até num formato profissional. Existem diversos jovens pelo mundo hoje que ganham grana para jogar video game (e vencer!).
Sou muito grato a cultura de rato de fliperama. Fiz muitos amigos, aprendi que nem sempre se ganha mas que pode ter algum macete. E também que o modo cooperativo é bem melhor do que o “vs mode” e o “arcede mode”.
“Eu queria morar numa favela, o meu sonho é morar numa favela…” Há duas décadas, Gabriel o Pensador, rapper brasileiro, deu voz a um personagem morador de rua que sonhava em morar numa favela. Na música, o jovem Gabriel, ainda aspirante ao sucesso chamava a atenção da sociedade para os moradores de rua, o tratando como um problema de todos.
Hoje – vinte anos depois – eu sonho em morar numa favela! Não entendeu? Não, eu não sou moradora de rua, e não estou aqui me igualando ao personagem sabiamente roteirizado por Gabriel. Hoje, em meio a alguns dos mesmos problemas, surgem novas inquietações. Hoje, tem mais gente querendo, sonhando e desejando morar numa favela! Ou você já viu a Baixada Fluminense ilustrando cartão postal?
Na capital do nosso Rio de Janeiro os investimentos públicos e privados tornam as favelas um celeiro de jovens talentos promissores em variadas áreas de representatividade mundial. Querendo ou não, demonstrando interesse ou não, na favela se dança, se canta, se atua, se joga e se cria. E no final, é claro, se viaja: Nova Iorque, Bélgica, Austrália, França, Berlim… São muitas as possibilidade e muitos os interessados em ver e ouvir o que os “ favelados” têm a dizer. Aí eu pergunto: o que seria a Baixada Fluminense se não uma grande – enooorme – favela?!
Aqui tem tráfico nas esquinas, tem fuzil na mão. Tem criança com fome de pé no chão. Falta saneamento básico em bairros inteiros. Falta acesso a cultura até pro funkeiro.
O esporte e o lazer estão na TV, no bar da esquina. Também tem gente grande aliciando menina. Tem vida e tem morte de braços dados. Tem desejos e sonhos amargurados.
E tem muita inveja da capital. Dos seus gringos e de seu safari social.
Nossa, como eu queria ver um jeep cheio de gringos circulando na minha quebrada!
Até quando estaremos à margem desse contexto?! Até quando seremos vistos como marginais acéfalos desprovidos de talentos para o bem?! Será que em meio a tantos milhões de habitantes nenhuma criança se destaca no futebol?! Nenhum prodigioso ator mirim?! Nenhuma formosa bailarina?!
Confesso que esse confronto com a nossa realidade me entristece… Quase desisto de continuar escrevendo sobre este assunto… Quase desisto.
É frustrante saber que ONGs da Baixada – com trabalhos seríssimos e importantíssimos para inúmeras crianças e jovens – vivem à míngua, enquanto na capital, até mesmo os jovens que claramente e declaradamente não “querem nada” são “obrigados” a permanecerem em projetos inflados de apoio e visibilidade. Enfim.
Uma promessa de que uma Unidade de Policia Pacificadora (UPP) será erguida no meu bairro – Comendador Soares, vulgo Morro Agudo, em Nova iguaçu – nos traz esperança… Quem sabe o comandante não traz consigo um certificado com os dizeres: Parabéns, você acaba de ser promovido a Favela!