quinta-feira, 18 abril, 2024

Como assim não é bandido, ama futebol, mas não é a favor da UPP e da Copa do Mundo?

Olá amigos(as) leitores(as)!!! Estou de volta!!!

Perdoem-me, mas eu não deixaria de escrever sobre a Copa do Mundo às vésperas do evento. Como diriam meus amigos jornalistas, não perderia este gancho por nada, e ainda mais tendo a oportunidade de rechear com as UPPs. Perdoem-me novamente, mas vou pra cima deles.


Como diria Roberto Carlos: – Esse cara – do título – sou eu!
E volto a afirmar: – Não sou bandido e amo futebol, mas não sou a favor da UPP e da Copa do Mundo. 

Coloquei um sinal de interrogação, porque as pessoas com as quais converso, seja “cara a cara” ou via redes sociais, sempre me questionam com um sonoro: – Como assim?

Me faltariam argumentos se eu morasse no bairro com o metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, tivesse tido uma criação que se resumisse em olhar para o meu próprio umbigo e consequentemente achasse que o Estado se resume ao playground do meu prédio.

Mas não, sou de uma parte do Rio de Janeiro onde o azul está desbotado, da galáxia onde moram os motoristas, empregadas domésticas, garçons, pedreiros e tantos outros que são humilhados diariamente no bairro em questão.

E aí você me pergunta:

– DMA, não estou entendendo. O que tem a ver uma coisa com outra?

Simples caro(a) leitor(a).
O mundo não passa despercebido por mim, pois sinto as pessoas.

Esse ano de 2014 é um ano de amadurecimento, pois tudo fica mais claro, parece final de novela.
Sendo assim é importante esclarecer que quando digo que não sou a favor, não quer dizer que sou contra.
Vamos analisar os fatos.

ESCLARECIMENTO 01

Não sou bandido, mas não sou a favor da UPP. Porque?

Você acha que o governador, quando implantou as UPPs, queria proteger os moradores das comunidades dos bandidos que ali estavam durante décadas? Pense um pouco antes de responder.

Ou será que o governador queria proteger os turistas que chegariam aos montes por causa dos mega eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Simplesmente limpar os caminhos e entornos de onde os gringos vão passar.

Mas espere um pouco aí, para onde vão os bandidos depois que instalam as UPPs? 

Talvez por estar na Galaxia Baixada Fluminense, eu sinta minha pele queimar a cada bandido novo que chega na região. A cada toque de recolher, a cada pessoa que morre, a cada novo jovem que se entrega para as drogas.

ESCLARECIMENTO 02

Vamos então analisar a outra parte.
Amo futebol, mas não sou a favor da Copa do Mundo.
Como assim?

Simples. O nosso país tem outras prioridades. A Copa do Mundo foi a oportunidade de algumas pessoas ganharem dinheiro que não conseguirão gastar em 3 vidas. Posso estar sendo leviado em afirmar algumas coisas sem ter provas, mas deixei de ser inocente a algum tempo.

Nossa Copa do Mundo custou cerca de R$30 bilhões, é a mais cara que as três últimas Copas do Mundo JUNTAS!!!

Mas como o Ronaldo disse: – Não se faz Copa do Mundo com hospitais.

Então Ronaldo, foda-se a Copa do Mundo, porque eu quero hospital, escola, emprego…

Como eu havia dito, as UPPs não são pra proteger a população de origem popular do Rio de Janeiro, mas proteger os turistas e seu rico dinheiro e evitar que o filme do Governador seja queimado. Sendo assim, o governo instala as UPPs e não prendem ninguém. Depois o policial truculento reprime o povo e tá tudo dominado.

Esse é o nosso legado!!!

A SOLUÇÃO

O que nós podemos fazer para mudar essa situação?

Primeiramente parar de reproduzir tudo o que os outros falam, parar de compartilhar o que é engraçadinho nas redes sociais sem ao menos analisar antes. Como já disse em outras colunas, não é que sejamos plano B, nós da Baixada Fluminense não estamos nos planos, assim como São Gonçalo não está.

Precisamos mostrar nosso próprio ponto de vista sobre o que acontece no Estado, mostrar nossa força juntos.

Na próxima quinta-feira, dia 12 de junho, começa a Copa do Mundo. Um dia antes (quarta-feira, 11 de junho) eu lanço o videoclipe da música legado, pois essa é a minha forma de dizer que eu não estou de acordo com o que está acontecendo na minha cidade, no meu estado e no meu país. Minha meta é mostrar isso pro mundo, pois nós já estamos cansados de saber.

Se quiser/puder me ajudar a propagar essa ideia, inscreva-se aqui.

Filmar as injustiças e compartilhar não é só arte, é luta!!!

O IDEAL

Porque não sou contra?

Imagine como seria se as UPPs fossem uma política de segurança que visasse os interesses da população, para trazer a paz efetivamente. Como seria se o Brasil fizesse o dever de casa, estivesse com os hospitais em condições de receber a população com um mínimo de dignidade e estando tudo em ordem, recebesse um evento como a Copa do Mundo.

Mas infelizmente o mundo precisa saber, sob a ótica da Baixada Fluminense e de São Gonçalo, o que significa a Copa do Mundo e a política de segurança do Estado para as periferias.

Depois da Copa do Mundo, as coisas tendem a esfriar um pouco, então a hora é essa.

SUGESTÕES PARA COMPARTILHAR:

Agência Papagoiaba – Romário Régis e o bonde
Lurdinha – Heraldo HB e o bonde
Agência #TudoNosso – Petter MC e o bonde

 

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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Este texto reflete sobre o conceito de "Educação Clandestina", destacando sua abordagem contrária ao ensino formal. Explora as lacunas do sistema educacional brasileiro, particularmente em relação à alfabetização e ao letramento nas escolas periféricas. Descreve como movimentos sociais reúnem conhecimentos diversos, ausentes das instituições formais, promovendo uma troca que desafia o status quo. Aponta a importância da conscientização política e da ação crítica na transformação da realidade. Destaca a educação clandestina como um processo contínuo de formação política, capaz de despertar indivíduos para a realidade e capacitá-los a questionar, refletir e agir em prol da mudança social.

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