Rompendo com a Pseudo Superioridade: A decadência da antiga classe média de Morro Agudo
Rompendo com a Pseudo Superioridade: A decadência da antiga classe média de Morro Agudo

Rompendo com a Pseudo Superioridade: A decadência da antiga classe média de Morro Agudo

Antigamente, Morro Agudo via a classe média como rica, porque, por exemplo, eram duas ou três famílias na rua em que eu moro que tinham um carro decente, um emprego digno e um casa com pintura externa, enquanto a pobreza era evidente em diversos aspectos da comunidade. No entanto, ao longo dos anos, as oportunidades proporcionadas pelas políticas públicas começaram a transformar essa realidade de forma significativa.

A minha vida foi impactada por essas oportunidades, decorrentes de experiências como o Fórum Social Mundial, que tive o privilégio de participar no ano de 2003, e a implementação de políticas públicas nos governos Lula. Essas oportunidades abriram meus olhos para uma realidade além das limitações impostas pela desigualdade social. Testemunhei o impacto positivo dessas políticas em minha comunidade, com amigos encontrando a chance de estudar, trabalhar e a pobreza dissipando-se gradualmente, diminuindo aquela diferença gritante que saltava aos olhos.

No entanto, alguns membros da antiga classe média, mesmo percebendo que muitas pessoas do bairro também melhoraram seu poder aquisitivo, por exempo, ainda se consideram superiores. Embora a pobreza continue presente, especialmente agravada pela chegada da pandemia, essa antiga classe média, composta por poucas famílias, não detém mais a exclusividade, precisando compartilhar o título conosco, os ex-pobres, a nova classe média morragudense. No entanto, eles relutam em abandonar sua posição de privilégio, o que revela um apego feio ao passado.

Gosto de ressaltar que continuo pobre, mas não miserável como antes, consigo viver dignamente, pois meu recurso financeiro, apesar de não ser abundante, me permite não gastar todo ele para suprir minhas necessiades básicas.

Recentemente, tive uma discussão com um conhecido que ainda me enxergava como a criança extremamente pobre da infância. A criança que concordava com tudo o que ele dizia, pois não tinha acesso a informações, bens culturais ou dinheiro. No entanto, os tempos mudaram: viajei por alguns países pelo mundo, estou cursando um doutorado em uma universidade pública e construí uma carreira com muito esforço.

Esse conhecido faz parte de uma classe média frustrada que insiste em não abrir mão de um privilégio que, ao longo da vida, consideraram um direito. Embora os tempos tenham mudado, ainda há muito trabalho a ser feito para combater as desigualdades persistentes. É necessário um compromisso contínuo para garantir que todas as comunidades tenham acesso a oportunidades e recursos adequados.

A minha jornada em Morro Agudo é um exemplo vivo de como as oportunidades podem transformar vidas. Estou determinado a lutar por um futuro mais justo e inclusivo, onde cada indivíduo possa alcançar seu potencial e contribuir para o bem-estar coletivo. Unidos, podemos construir uma sociedade mais igualitária e próspera, aproveitando o poder das oportunidades para romper as barreiras que nos limitam. É assim que construiremos um Brasil melhor para as próximas gerações de Morro Agudo e além.

Diante do exposto, fica evidente que as políticas públicas e as oportunidades proporcionadas ao longo dos anos foram capazes de transformar a realidade de Morro Agudo de forma significativa. A implementação dessas medidas possibilitou o surgimento de uma nova classe média, composta por ex-pobres que tiveram a chance de estudar, trabalhar e melhorar seu poder aquisitivo. No entanto, mesmo diante desse avanço, há ainda uma resistência por parte de alguns membros da antiga classe média em abandonar seu privilégio e reconhecer essa nova realidade.

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

Deixe um comentário