quinta-feira, 28 março, 2024

O pior cego, é o que não quer ver

Não é novidade que sempre botamos o dedo na ferida, apontamos erros e denunciamos quem quer que seja, mas também precisamos mostrar experiências exitosas, como o caso da Colômbia, que chegou a ser considerada como extremamente perigosa, principalmente na época em que reinavam traficantes do calibre de Pablo Escobar (80/90), entre outros, na América do Sul.

Porta de saída de grande parte da cocaína exportada para a Europa e os EUA, esse país tinha uma posição estratégica no escoamento da produção da coca, produto esse muito valorizado devido a sua pureza em relação a outros países produtores e a facilidade de ser transportada e produzida.

A quantidade era tão extensa, que havia coca suficiente para cada habitante sul-americano cheirar, tanto que as negociações com os distribuidores eram feitas em toneladas devido as fronteiras com pouca fiscalização, densas florestas e altas taxas de corrupção dos agentes envolvidos.

Uma profunda reforma precisou acontecer na estrutura da polícia para que os resultados começassem a aparecer, pois todos os comandantes tinham ligações diretas com os narcotraficantes.

A crise chegou a tal ponto que os EUA chegaram a negar o visto de entrada para o presidente Ernesto Samper, na época, acusado de receber dinheiro do tráfico.

Após essa crise, 6 anos se passaram para que as mudanças surgissem, lideradas pelo General Serrano, após as ações, a confiança da população na polícia saltou de 11% para 80%.

Foi feito um intenso trabalho para restaurar a confiança na polícia, isso incluiu a formação dos policiais que tiveram uma nova rotina e preparação, e imersão nos problemas crônicos que viviam.

Muitas dessas formações eram feitas nas universidades, para aproximá-los da juventude.

Várias ações foram implantadas, como: Ações educativas nas escolas, criação de escolas de segurança cidadã, frentes de segurança comunitárias que capacitavam as populações em maior risco social, guarda comunitária.

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O tráfico também tinha seus métodos pedagógicos, eles aliciavam jovens sem perspectivas, os treinava e os tornava criminosos perigosos, a cada policial morto era pago uma recompensa, ainda haviam os assassinos de aluguel denominados “Sicários”, e com toda essa problemática a segurança tinha que combater traficantes, gangues e grupos paramilitares como: FARC, ELN, AUC, M-19; e conviver com a COMUNA 13, um conglomerado de 25 favelas gigantes que parecia um país independente dentro da Colômbia.

O exército precisou tomar uma medida extrema, ocupou essas favelas criando bases próprias e se instalando permanentemente.

Somente as ações de força causaria uma guerra civil, então várias decisões complementares foram adotadas como: nos eventos com jovens não poderiam haver bebida alcoólica, as casas noturnas tinham que fechar a 01:00 da manhã, a lei seca foi implantada, os shows eram controlados e a circulação a noite era monitorada, as casas de jogos, bares e prostíbulos eram controlados com mão de ferro.

Mas o que mais impactou e foi fundamental para mudar aquela realidade, foram ações que motivavam e mostraram às crianças e jovens, que uma mudança era possível, então o foco foi na base do povo, as estruturas e as bases de conhecimento foram orientadas a trilhar um caminho voltado à paz e a cultura, com esse foco as ações educativas eram absorvidas mais facilmente sem medo e de uma forma saudável sem imposição, a convivência se fortaleceu dentro dos guetos devidos as atividades nos centros culturais, e as comunidades se sentiam donas dos espaços, pois lá recebiam também, assistência médica, social, praticando esportes e entendendo que não é pela punição severa ou o colocando em um depósito de criminosos que se vai reeducar um jovem infrator, basta querer fazer que as coisas acontecem, tanto que o que realmente surtiu efeito foram as ações que aumentaram a auto estima do povo, não o extermínio por si só, não é uma fórmula mágica, mas são coisas simples e objetivas que surtem os melhores resultados.

Se os gestores das capitais e da Baixada Fluminense pensassem um pouquinho em realmente mudar a realidade da população, isso já teria começado, mas a única coisa que eles pensam é em fortalecer suas contas bancárias, exemplos existem, muita gente boa com ótimos projetos a serem desenvolvidos podem contribuir nesse processo, então senhor gestor, basta querer enxergar!!

Sobre Samuca Azevedo

O coteúdo deste texto não reflete a opinião do Portal Enraizados ou do Instituto Enraizados, e é de inteira responsabilidade do autor. Samuel Azevedo é ator e produtor cultural, atualmente é Presidente do Instituto Enraizados.

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