terça-feira, 16 abril, 2024

Produtores, artistas e poder público se organizam para fortalecer as ‘Rodas de Rima’ de Nova Iguaçu

Não é novidade que as Rodas Culturais – ou também conhecidas como Rodas de Rima – são um fenômeno em todo o estado do Rio de Janeiro, principalmente para as juventudes das periferias. Um fenômeno que surge a partir da necessidade de a juventude se expressar, se divertir e driblar a miséria social.

Nota-se que com o sucesso da atividade vieram também uma série de problemas que nem sempre está ao alcance de quem produz, resolver.

Lembro-me que há um ano, ou um pouco mais, tentei iniciar uma discussão cujo a finalidade era enumerar as diversas demandas do hip hop local, culminando num Fórum de Hip Hop da Baixada Fluminense, pontuando nossas fraquezas, mas também nossas forças, pois acreditava – e ainda acredito – que na Baixada existe um mercado de cultura urbana auto-suficiente que ainda não foi explorado.

Juntos percebemos que em algumas rodas havia um consumo excessivo de drogas; a estrutura do local não era adequada; havia uma resistência do poder público em conceder as autorizações para ocupação do espaço; a segurança era nula; entre outros problemas. Por outro lado estávamos mais profissionais, mais organizados, o diálogo entre os produtores e artistas estava satisfatório e o público estava satisfeito com os eventos.

Nossos encontros que começaram com cerca de 50 pessoas foi definhando até o ponto onde só haviam pessoas ligadas ao Enraizados, então joguei a toalha, pois acreditei que as pessoas não queriam fazer a parte chata do dever de casa e pra mim não fazia nexo criar um Fórum de Hip Hop da Baixada Fluminense somente com integrantes do Enraizados, seria mais fácil criar um Fórum de Hip Hop do Enraizados. O que estou muito tentado a fazer.

Roda de conversa na Casa de Cultura de Nova Iguaçu
Roda de conversa na Casa de Cultura de Nova Iguaçu

Contudo, no dia 29 de julho, sábado, surgiu uma luz no fim do túnel. Aconteceu uma reunião com as Rodas de Rima de Nova Iguaçu, convocada pela Secretaria de Cultura da Cidade. Compareceram representantes de 05, das cerca de 15 rodas, e também representantes de Rodas de Rimas de outras regiões, além do Capitão Pacífico, da Polícia Militar.

Após uma roda de apresentação, foi colocado em pauta as fragilidades das Rodas de Rima da cidade, que nada se diferenciavam das identificadas nas reuniões anteriores, contudo desta vez parecia que parte da solução estava presente, pois a Secretaria de Cultura se comprometeu em, junto com os produtores, criar um Circuito de Rodas de Rima, com uma agenda única, para facilitar a liberação dos locais por parte do poder público (essa liberação será solicitada pela própria Secretaria de Cultura) e também um mapeamento dos locais que precisam de reparos, pois através do projeto Praça Viva, da própria Secretaria de Cultura, é possível revitalizar as praças para que receba melhor os eventos.

O capitão Pacífico por sua vez disse que o diálogo com os produtores fica mais fácil quando os mesmos estão organizados e que a polícia atualmente chega reprimindo as rodas de rima porque sempre há denúncias relacionadas ao uso e venda de drogas nos eventos, mas se a conversa partir de forma organizada e com a prefeitura como parceiro, o policiamento será preventivo.

Eu, Dudu de Morro Agudo, saí bastante animado da reunião, e disposto a colaborar com a Roda Cultural de Morro Agudo, com a Batalha do Federa, com a Roda Cultura de Rima de Santa Eugênia e tantas outras. E ainda convenci a galera do Portal Enraizados a criar um mapa com todas as Rodas de Rima da Baixada Fluminense, para que fique mais fácil para nós agendarmos a nossa diversão da semana.

Certamente que com os produtores, os artistas e o poder público jogando no mesmo time, as Rodas de Rima da cidade saem fortalecidas.

 

Sobre Dudu de Morro Agudo

Rapper, educador popular, produtor cultural, escritor, mestre e doutorando em Educação (UFF). Dudu de Morro Agudo lançou os discos "Rolo Compressor" (2010) e "O Dever Me Chama" (2018); é autor do livro "Enraizados: Os Híbridos Glocais"; Diretor dos documentários "Mães do Hip Hop" (2010) e "O Custo da Oportunidade" (2017). Atualmente atua como diretor geral do Instituto Enraizados; CEO da Hulle Brasil; coordenador do Curso Popular Enraizados.

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