Um final de semana de estórias

Diva Guimarães falou com o coração. A estória que ela conta é fácil de se encontrar em qualquer estória de criança preta, que sofre ao nascer por conta do racismo estrutural que mantém o privilégio de uma parcela da população economicamente dominante do país e que não deseja abrir mão deste.

Numa sala de aula comum você verá várias assim, mas por ter dito na Flip, com um público majoritário desta classe privilegiada, letrada e reflexiva, certamente se tornou o mais memorável de todo o evento. Ela falou o que sente na hora “H”, no dia “D”. Mostrou sua potência de fala, representou, pegou um amplificador de voz. O próprio Lázaro Ramos se embaralhou na emoção. Não, Lázaro, ela não reclamou de ser professora, ela explanou a situação de ser preto, como eu, como você. Ser professor ficou num plano secundário, embora também importante.

Diva fala o que precisamos falar e nem sempre temos espaço, imagino. Quando temos somos censurados com às manifestações “mimimi” “foi passado” “até tenho um amigo preto” “preto de alma branca”. Nosso racismo nefasto calou aquela mulher durante décadas, mas se soltou pulmão a fora naquela “festa” que horas depois com o auxílio da rede chegou ao conhecimento de mais de 5 milhões de espectadores e que vai ser visto por muitos outros milhares. Diva tem uma estória como a nossa, preta, sofrida, sem herança positiva, acusada de preguiça, de revolta, incomoda para alguns, mas necessária.

A estória de Diva é de Cleber, a de Alan C. é a de Dandara, de Milena, de Sandro… mas sua repercussão vai ganhar cada vez mais força.

Diva na Flip 

Sobre Cleber Gonçalves

Cleber Gonçalves é geógrafo, professor no CIEP 172.

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